quarta-feira, 17 de maio de 2023

ALGO EM COMUM

 

ALGO EM COMUM

De: Marcondys França

Personagens:
CAIO
SABRRINA

(Ouve-se a campanhia, as luzes ascende-se. O público vê uma sala com decora moderna e de bom tom. Na parede central uma tela ilustrando um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo)

CAIO:

- Pois não?


SABRINA:

 -Boa noite?


CAIO:

- Boa.


SABRINA:

-Me desculpe, mas será que eu poderia falar com você?. (Há um certo nervosismo na voz dela)


CAIO:

- Nos conhecemos?


SABRINA:

- Acredito que não!


CAIO:

- O que você deseja então?



SABRINA:

- Ah, desculpe-me! É que estou tão, nervosa...


CAIO: (Ele não entende)


SABRINA:

-Você é o Caio...


CAIO:

- Como sabe meu nome?


SABRINA:

- Ah, que falta de educação minha! Sou Sabrina.


CAIO:

- Não estou entendendo.


SABRINA:

- Posso entrar?


CAIO:

- Talvez você esteja me confundindo com outra pessoa.


SABRINA:

- Pode está certo que não.


CAIO:

- Algum tipo de brincadeira?


SABRINA:

- Esteja certo que não.

CAIO:

- Me desculpe mas...


SABRINA:

- Temos alguém em comum.


CAIO:

-Como é que é?


SABRINA:

- Posso entrar?


CAIO:

- Acho melhor não!


SABRINA:

- Não seria conveniente conversamos aqui na porta.


CAIO:

- Acho que não temos o que conversar.


SABRINA:

- Será que não mesmo? Você não tem nenhum interesse em saber quem sou?


CAIO:

- Por que deveria?


SABRINA:

- Sempre quis saber quem era.


CAIO:

- Por favor. (Mostra o caminho)

SABRINA:

- Obrigada.

CAIO:

- Bebe algo?

SABRINA:

- Uma soda por gentileza.

CAIO:

- Com gelo?

SABRINA:

- Por favor.

CAIO: (Prepara a soda e faz para si um wisky)

SABRINA: (Observando a tela na parede)

- Um bonito quadro.

CAIO:

- Gosto de arte.

SABRINA:

- Este é diferente.

CAIO:

- Gosto de coisas diferentes...

SABRINA:

- Ousadas...

CAIO:

- Ás vezes.

SABRINA:

- Você que escolheu a decoração?

 

CAIO:

 - Tive ajuda.

SABRINA:

- É um estilo inconfundível.

CAIO:

- Olha...

SABRINA: (Pega um porta retrato com a foto de Caio e seu amor)

- Onde foi tirada essa foto?

CAIO:

- Numa viagem a Natal.

SABRINA:

- É um lugar encantador. Lua de Mel?

CAIO:

- Talvez.

SABRINA:

- Minha Lua de mel foi incrível. Você o ama?

CAIO:

- No que mudaria?

SABRINA:

- No que mudaria?!... Seria tão mais fácil se as pessoas fossem honestas umas com as outras. Não acha?

CAIO:

- Acredito que primeiro é preciso que sejamos honestos com nós mesmo.

SABRINA:

- Uma questão de escolha?

CAIO:

- Talvez de opinião...

 

SABRINA:

- Nem sempre podemos escolher o que desejamos.

CAIO:

 - E isso causa sofrimento.

SABRINA:

- Contentamento. Aprendemos a aceitar a vida como ela é...

CAIO:

- Não seria como a fazemos?


SABRINA:

- Medo da solidão...

CAIO:

- Nem sempre está no meio da multidão é está acompanhado.

SABRINA:

- Dói!

 

CAIO:

- O que?

SABRINA:

- A solidão a dois.

CAIO:

- Acredito que sim.

SABRINA:

- Não sente?

CAIO:

- O que?

 

SABRINA:

 - Solidão...

CAIO:

- Não quando tenho certeza que vai voltar.

SABRINA:

- É constante?

CAIO:

- O que?

SABRINA:

- Esta certeza?

CAIO:

- Acredito no amor.

SABRINA:

- Nas juras?

 

CAIO:

 - No olhar.

SABRINA:

- O olhar é fogo que queima, arde, sem tocar.

CAIO:

- Nos gestos simples, mais verdadeiros.

SABRINA:

- E a velhice? Sabe algo sobre Amistedã?

CAIO:

- Projetos!

SABRINA:

- União?

CAIO:

- Respeito.

SABRINA:

- Sente-se inseguro?

CAIO:

- Me previno.

SABRINA:

- Da vida?

CAIO:

- A vida é cheia de incertezas. Mesmo não sabendo quando, a única certeza que temos é que um dia temos que partir.

SABRINA:

- Seguro?

 

CAIO:

- Previdência.

SABRINA:

- Ah! Negócios...

CAIO:

- Investimento.

SABRINA:

- É sábio de sua parte.

CAIO:

- Acordo comum.

SABRINA:

- Sente-se amado?

CAIO:

- O amor é uma renovação.

SABRINA:

- Gostaria de me sentir como nos conhecemos...

CAIO:

- Não podemos frear o tempo.

SABRINA:

- Éramos tão jovens.

CAIO:

- O tempo passa.

SABRINA:

- E com ele tudo mudou.

CAIO:

- Você sabia.

 

SABRINA:

- Nunca tive certeza! O amor me cegou.

CAIO:

- Ou fechou os olhos para não enxergar o que via.

SABRINA:

- Medo de perder.

CAIO:

- É preciso recuar para permanecer.

SABRINA:

- Faço isso todos os dias.

CAIO:

- Um campo minado!

SABRINA:

- Por isso não enfrento.

CAIO:

- E sofre outros tipos de retaliações.

SABRINA:

- Este é o preço que tenho que pagar.

CAIO:

- Precisa de ajuda.

SABRINA:

- Eu preciso de amor.

CAIO:

- Não se é amado quando se omite...

 

 

SABRINA:

- A omissão é uma forma de permanecer bem, diante de todos.

CAIO:

- É pior...

SABRINA:

- No começo falávamos de filhos...

CAIO:

- E por que não tiveram?

SABRINA:

- Medo.

CAIO:

- Medo?

SABRINA:

- Medo.

CAIO:

- Do que?

SABRINA:

- Queríamos um casal.

CAIO:

- Talvez vocês não se sentissem preparados!

SABRINA:

- Nunca soube dividir meus sentimentos com mais de uma pessoa.

CAIO:

- Talvez sua vida tivesse outro sentido.

 

SABRINA:

- O medo não deixou.

CAIO:

- Se não enfrentamos nossos medos não sairemos do lugar.

SABRINA:

- Me sinto imóvel! Estática... Entende?

CAIO:

- É preciso estímulo para se chegar a algum lugar.

SABRINA:

- É uma coisa interna.

CAIO:

- Que precisa é de uma força interna.

SABRINA:

- Tinha medo que meu filho fosse igual ao pai.

CAIO:

- Seria íntegro.

SABRINA:

- Mas faria alguém sofrer como sofro.

CAIO:

- Nem todos agem da mesma forma.

SABRINA:

- Questão de modelos.

CAIO:

- Temos o livre arbítrio.

 

SABRINA:

- Nem sempre. Escolhas trazem consequências.

CAIO:

- Comodismo também. É preciso tentar.

SABRINA:

- Só sei o que é sofrer.

CAIO:

- Então não seria a hora de saber o que é ser feliz.

SABRINA:

- Vê-lo voltando pra casa todas as noites.

CAIO:

- Mesmo sabendo que é pela metade?

SABRINA:

- Uma gota de água no deserto faz milagres.

CAIO:

- Quando não mata.

SABRINA:

- É melhor morrer com a sensação de ser saciada, que esta sede que sinto.

CAIO:

- Procure ajuda profissional.

SABRINA:

- Nunca quis uma filha. A rejeição é um sentimento que castiga nossa alma.

CAIO:

- Medo de que passasse por isso?

SABRINA:

- Ou que fosse mais feliz que eu...

CAIO:

- Esse é o desejo de toda mãe.

SABRINA:

- Não sei.

CAIO:

- Ainda é tempo.

SABRINA:

- Como ser mãe se nem mesmo sabe-se o que é ser mulher?

CAIO:

- Encontre alguém que lhe desperte esta sensação.

SABRINA:

- Sexo...

CAIO:

- Desculpe?...

SABRINA:

- Tem uma vida ativa?

CAIO:

- Fugaz.

SABRINA:

- Quem é?...

CAIO:

- Não entro em detalhes. Esta é minha intimidade.

 

SABRINA:

- Desculpe-me. Você me acha interessante?

CAIO:

- Um prato cheio pra quem tem fome.

SABRINA:

- Isso responde a minha pergunta?

CAIO:

- Acredito que sim.

SABRINA:

- Se não... Você se sentiria atraído por mim?

CAIO:

- Talvez. Como posso saber!

SABRINA:

- Ele tem um bom gosto.

CAIO:

- Obrigado.

SABRINA:

- Você também.

CAIO:

- Acredito que sim.

SABRINA:

- Ah meu Deus! O que há de errado comigo? (CHORA)
(Caio levanta-se e pegar um copo com água)

CAIO:

- Beba.

SABRINA:

- Obrigada. Desculpe-me. Me descontrolei.

CAIO:

- Todos perdemos o controle de vez enquanto.

SABRINA:

-Você parece uma boa pessoa.

CAIO:

- Tento.

SABRINA:

- É cheguei a te odiar.

CAIO:

- Talvez em seu lugar me odiaria também.

SABRINA:

- Que alívio! Pensei que fosse o começo da loucura.

CAIO:

- Esta passando por um momento difícil.

SABRINA:

- As vezes sinto que me ama.

CAIO:

- Talvez não queira magoa-la.

SABRINA:

- Proteger?

CAIO:

- Muitas vezes na tentativa de proteger acabamos ferindo, pessoas queridas.

SABRINA:

- Mentir.

CAIO:

- Omitir.

SABRINA:

- A mentira passa a ser uma verdade quando a verdade é uma mentira.

CAIO:

- Mas o sofrimento é real.

SABRINA:

- Num mundo de lágrimas falsas.

CAIO:

- E o futuro?

SABRINA:

- Então não pensa.

CAIO:

- Vivo o presente. Projeto o futuro. É algo tão longe que às vezes foge entre nossos dedos como água, antes mesmo de chegar.

SABRINA: (Vê outra foto)

- Posso?

CAIO:

- Claro.

SABRINA:

- É muito bonita!

CAIO:

- Minha ex.

 

SABRINA:

- Você a amava?

CAIO:

- Sim...

SABRINA:

- Então por que a deixou?

CAIO:

- Foi preciso.

SABRINA:

- Honestidade?

CAIO:

- Carinho.

SABRINA:

- Como soube?

CAIO:

- Por mim.

SABRINA:

- Soube sozinha.

CAIO:

- Sofre?

SABRINA:

- Tento compreender.

CAIO:

- Por isso se sente perdida.

SABRINA:

- Talvez.

 

CAIO:

- Não conseguiria salvar.

SABRINA:

- Não quero salvar. Não é isso que me motiva.

CAIO:

- Alta piedade?

SABRINA:

- Amor.

CAIO:

- Amor sem paixão é amizade.

SABRINA:

- É contentamento.

CAIO:

- Até quando?

SABRINA:

- Até que volte.

CAIO:

- E se não voltar?

SABRINA:

- Irei junto.

CAIO:

- Se o caminho não for o mesmo?

SABRINA:

- Sempre voltou. Precisa de mim.

CAIO:

- E você do que precisa?

 

SABRINA:

- Da certeza.

CAIO:

- Um contrato.

SABRINA:

- É temos.

CAIO:

- Pode ser recendido.

SABRINA:

- A multa seria alta.

CAIO:

- Consequências.

SABRINA:

- Sei a hora de avançar.

CAIO:

- Sente dificuldades de recuar?

SABRINA:

- Não sou mulher de desistir.

CAIO:

- Por isso sofre.

SABRINA:

- Todos sofremos. Até mesmo os mais fortes como você.

CAIO:

- Como pode saber?

SABRINA:

- Amor e egoísmo andam lado-a-lado.

 

CAIO:

- Existem situações que temos ceder.


SABRINA:

- O medo de quem cede é o da perda total.

CAIO:

- Muitas vezes depois de uma grande perda, reconstruímos nossas vidas com grande vitória.

SABRINA:

- Ás vezes as incertezas nos paralisa.

CAIO:

- Bebe mais?

SABRINA:

- Por favor. wisky.

CAIO:

- Com gelo?

SABRINA:

- Sim. (levanta e olha novamente o quadro. Caio se aproxima com o copo)

CAIO:

 - Tesão?

SABRINA:

- Passa.

CAIO:

- Sintonia. Quando se sabe sintonizar...

SABRINA:

- Odeio...

CAIO:

- Eu sei.

SABRINA:

- Não sabe.

CAIO:

- Odeia o amor que sente.

SABRINA:

- Dizem que tem alma feminina.

CAIO:

- Nem todos os lados opostos se atraem.

SABRINA:

- O mau e o bem.

CAIO:

- Controle.

SABRINA:

- Nunca se descontrola?

CAIO:

- Temos nosso dia ruim.

SABRINA:

- Quando percebo o descontrole, me tranco no banheiro e passo horas me maquiando.

CAIO:

- Máscara!


SABRINA:

- E o que vejo é um estranho no banheiro.

CAIO:

- Fuja.

 

SABRINA:

- Fecho os olhos e penso. É uma fase, assim como esta maquiagem, logo que lavada, some.

CAIO:

- E some?

SABRINA:

- Eu fico.

CAIO:

- E por que não vai?

SABRINA:

- Não sei o caminho.

CAIO:

- Medo.

SABRINA:

-Vingança.

CAIO:

- Preferi sofrer ao deixar partir?

SABRINA:

- O ódio é alimentado pela presença.

CAIO:

- A ausência pode ser a cura.

SABRINA:

- Existem feridas que são incuráveis.

CAIO:

- E o que quer?

SABRINA:

- O que tem.

CAIO:

- Não percebe a diferença.

SABRINA:

- Não me importaria de ser igual.

CAIO:

- É um mundo a parte.

SABRINA:

- Dentro do meu.

CAIO:

- Sinto muito.

SABRINA:

- Deixe-o.

CAIO:

- Para outro?

SABRINA:

- Seria menos um.

CAIO:

- E você teria mais um.

SABRINA:

- Sou incansável.

CAIO:

- Nem todas batalhas podemos vencer.

 

SABRINA:

- Se não posso vencer posso ao menos me aliar.

CAIO:

- É loucura.

SABRINA:

- Todos somos.

CAIO:

- Não te ama.

SABRINA:

- Não importa. Eu o amo.

CAIO:

- Isto é doença.

SABRINA:

- É amor.

CAIO:

- Ilusão.

SABRINA:

- Somos felizes mesmo distantes!


CAIO:

- A distância é um m protesto para manter a paz.


SABRINA:

- O inferno esta aqui!

CAIO:

- É por isso que há fogo. O paraíso te incomoda.

SABRINA:

- É monótono.

CAIO:

- Converse.


SABRINA:

- Sei a resposta.


CAIO:

- Por que foge?


SABRINA:

- Pra não mais me ferir.


CAIO:

- Prefiro o sonho. Surge sem programação

.
SABRINA:

- Pesadelos também.


CAIO:

- A luz espanta a escuridão.


SABRINA:

- A novidade expulsa o amor. (Pega a bolsa, levanta-se)


CAIO:

- O perdão reconstrói uma vida.

 

SABRINA:

- Deixe-o.


CAIO:

- Se quiser ficar...


SABRINA:

- É meu.


CAIO:

- Não é propriedade.


SABRINA:

- Você é como o tempo...


CAIO:

- Pretendo deixar boas marcas.


SABRINA:

- Não te quero mal.


CAIO:

- Nem eu a você. Por que veio?


SABRINA:

- Pra pedir.


CAIO:

- O que ha fez pensar que seria atendida.



SABRINA:

- Mais de dois passos me motivaram.

CAIO:

- Um só bastaria para entender que não há acordo.

SABRINA:

- Negociações.

CAIO:

- Não a vida não é um contrato.

SABRINA:

- Passa.

CAIO:

- O que é bom e real fica.

SABRINA:

- Ruim e frustrante também.

CAIO:

 - Procura não cultivar.

SABRINA:

- É como mato, nasce sem permissão. (Sabrina saindo)

CAIO:

- Por favor... (Ela vira-se em direção a ele) Não volte mais aqui. (Ela sai, ele tranca a porta, respira fundo)

FIM

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE...

   ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE...               de Marcondys França PERSONAGENS: CANDIDA MATILDE: Irmã de Cândida. ISABEL: Filha de Cândida. M...