quarta-feira, 17 de maio de 2023

O CORPO

 

O CORPO (ATO I)

PERSONAGENS:

EGÍDIO: Deputado Federal Candidato ao Cargo de Governador.

MARA: Mulher de Egídio, Socialite Conservadora e Completamente Ligada as aparências.

TÂNIA: Filha Mais Velha Vive um casamento Infeliz.

EDNALDO: Marido de Tânia, braço direito de Egídio.

MARINA: Filha Mais Nova, Problemática, Dependente Química, Se Prostitui Para Manter o Vício.

MARCOS: Filho do Meio, misterioso.

DONA LIZ: Mãe de Mara, Religiosa, Coordena Projetos Sociais.

NANCÍ: Governanta de Confiança.

SELMA: Empregada de Pouca Confiança, Vende Informações à Imprensa.

TERESA: Empregada Recém Contratada.

LUDIMILA: Ex midelo, Alpinista Social, Mãe de Isabel.

ISABEL: Noiva de Marcos.

CLÓVIS: Mordomo de Ludimila.

RODRIGUES: Detetive de Polícia.

NILTON: Delegado.

MÔNICA: Jornalista Investigativa.

TÁCIO: Fotografo Jornalista.

JOÃO MANOEL: Chefe Redator, Homossexual Discreto.

JÚNIOR: Amante de Marcos.

PENÉLOPE: Travestir amigo de Júnior e Marcos.

HÉLIO: Amigo de Infância de Marcos.

VIRGÍNIA: Mulher de Hélio.

PRIMEIRO ATO

Cena I

Há uma grande movimentação de pessoas, barulhos de sirenes e helicópteros. Um corpo embrulhado em um saco preto é carregado.

MÔNICA: - (Para o fotografo) Registre tudo. Não deixe escapar um só detalhe...

DETETIVE: - Epá! Espere ai... Onde pensa que vai?

MÔNICA: - Imprensa!

DETETIVE: - Polícia.

MÔNICA: - Tá com medo que descobrimos a verdade antes de você?

DETETIVE: - Não. Apenas desejo que o local seja preservado. Suas mentiras para vender jornais não problema meu.

MÔNICA: - Então deixe-nos fazer nosso trabalho.

DETETIVE: - Deixo-nos fazer o nosso. Por favor senhorita, atrás da fita de isolamento.

MÔNICA: - Engraçado, né? Nos filmes os policiais são mais ágeis. 

DETETIVE: - E os jornalistas são mais inteligentes.

MÔNICA: - Como sempre, atrasados!

DETETIVE: - Posso lhe enquadrar como desacato.

MÔNICA: - E o direito de imprensa?

DETETIVE: - Não atrapalhe nosso trabalho, moça.

MÔNICA: - O que temos aqui? Homicídio?

DETETIVE: - Poe enquanto... Só um presunto.

MÔNICA: - Engano seu. Não me parece um presunto qualquer... Olha só... Um corpo! Por mais insignificante que pareça, esse corpo tem uma história. E á atrás dessa história que iremos.

DETETIVE: - Sensacionalismo! Esse é seu negócio. Transformar as desgraças alheia em um grande espetáculo. Um grande show de horror! E como sempre, você a mocinha e nos, a polícia, os vilões.

MÔNICA: - Dou a notícia. Julgamento, deixo por conta dos leitores, e já quanto as desculpas esfarrapadas, deixo por conta da polícia. (Para o fotografo) 

DETETIVE: - Não passe da fita!

MÔNICA: - (Para o fotografo) Fotografe. Então detetive... Que temos aqui?

DETETIVE: - Por enquanto não temos muitas informações. 

MÔNICA: - Há, para... Alguma coisa sabe. Quebra essa vai...

DETETIVE: - Se eu lhe disse o que sei, promete me deixar em paz?

MÔNICA: - Dou minha palavra!

DETETIVE: - A vítima foi encontrada há mais ou menos uma hora, por um jovem que alega está passeando, a esta hora, nesta mata... Estranho, não?

MÔNICA: - Realmente. Passar por essa trilha a esta hora... Mas fazer trilha é considerado um esporte.

DETETIVE: - (Irônico) Conhece a história dessa trilha?

MÔNICA: - Adoraria.

DETETIVE: - Esta louquinha pra saber, não? Mas vou deixar como dever de casa pra você pesquisar. Divirta-se!

MÔNICA: - Hei! E quanto ao cadáver?

DETETIVE: - Homem, branco, alto, bem trajado, aparentando entre 20 a 25 anos de idade e sem identificação.

MÔNICA: - Causa da morte?

DETETIVE: - Não sabemos ao certo. Mas há sinal de perfuração na região do tórax. Maiores esclarecimentos só depois que a perícia terminar a autopsia.

MÔNICA: - Suspeitos?

DETETIVE: - Ainda é cedo.

MÔNICA: - Posso dá uma olhada?

DETETIVE: - Não.

MÔNICA: - Serei quase invisível!

DETETIVE: - Impossível. Se eu fosse a moça não...

MÔNICA: - Hí! Já vi coisas que até o diabo duvida.

DETETIVE: - Escuta aqui... Pra não dizer que sou mal. Vou abrir uma exceção. Um minuto.

MÔNICA: - Claro!

DETETIVE: - Ele fica. Sem fotos.

MÔNICA: - Sem fotos.

DETETIVE: - Venha.

MÔNICA: - Nossa! Que estrago. Ei?

DETETIVE: - Que foi? Vai desmaiar?

MÔNICA: - Imagina! Mas, esse rosto... Me parece conhecido.

DETETIVE: - Todos presuntos são parecidos.

MÔNICA: - Não seja insensível. Esse rosto não é estranho.

DETETIVE: - (Fecha o zíper) Você que é estranha.

MÔNICA: - Jura? Tenho um pressentimento que esse caso será um grande furo.

DETETIVE: - A sete palmos! Agora retirem esse corpo daqui. Com licença!

MÔNICA: - Toda. (Para o fotografo) Consegui uma foto.

FOTOGRAFO: - Como mulher?

MÔNICA: - Celular, meu bem! Agora vamos que temos muito trabalho pela frente. 

(Saem. Apagam-se as luzes)

CENA II

MARA: - Alguma notícia Nanci?

NANCI: - Não senhora. Por enquanto nenhuma.

MARA: - Ah, meu Deus! Por onde andará este irresponsável?

NANCI: - Isto é coisa de jovem. A senhora vai ver, logo, logo, seu Marcos entrará por esta porta, como nada estivesse acontecido, e tudo se esclarecera.

MARA: - Sei não, Nanci... Deus te ouça! Mas, algo me diz...

NANCI: - Não dona Mara. Pelo amor de Deus! Não pense bobagens. Vamos pensar em coisas positivas. Vai vê que seu querido filho está por ai, farrando com os amigos.

MARA: - Infelizmente, Nanci... Meu coração de mãe esta me dizendo que algo ruim está se aproximando. Sabe, quando você sente aquele aperto... Sei lá... Intuição de mãe.

NANCI: - Não diga uma coisa dessa! Pelo amor de Deus!

MARA: - Eu sinto Nanci! Algo de ruim aconteceu com meu filho.

NANCI: - Não... Que isso? A senhora está nervosa. Vamos rezar. Deus há de proteger seu Marcos.

MARA: - E a polícia? Bando de inúteis! Incompetentes... Por que não localizam logo meu filho?

NANCI: - Calma!

MARA: - Que calma?! Como posso ter calma. Meu filho está sumido e você me pede calma?

(Entra Tânia)

TÂNIA – Mãe... Viemos o mais rápido que podemos. Como está?

MARA: - Uma pilha de nervos.

TÂNIA – Por gentileza Nanci... Providencie um chá. (Nanci sai) E a polícia? Alguma novidade?

NANCI: - Nada. Só que estão trabalhando com várias hipóteses.

MARA: - Sequestro?

TÂNIA – Pago que for preciso pra ter meu filho de volta.

MARA: - E terá. Tenho certeza que papai vai mobilizar meio mundo para encontrar o Marcos.

TÂNIA – A única coisa que mobiliza seu pai... É essa maldita campanha. Política! Sempre em primeiro lugar.

NANCI: - Mãe, é a carreira dele. Também é importante pra ele.

MARA: - Nada neste mundo deveria ser mais importante que a família.

TÂNIA – Oh, mãe!

MARA: - Sabe filha... Fui criada numa família humilde. Éramos tão pobres... Mas o laço familiar que nos unia, era tão forte, mas tão firme, que não existia problemas ou dificuldades que nos abalasse, a ponto de ceder nossa estrutura familiar. Mas, quando vejo nossa família, temos tudo... Menos o principal.

TÂNIA – Temos amor.

MARA: - Mas nos falta união. Não sei onde errei. Não fui capaz de protegê-los.

TÂNIA – Mãe... Não gostaria de falar de meus problemas. Não foi pra isso que vim até aqui...

MARA: - Juro, que meu desejo é vê você feliz.

TÂNIA – Eu sou.

MARA: - Não. Não é...

TÂNIA – Felicidade... São momentos. E eu os tenho, nem que seja de vez em quando.

MARA: - Filha... Não se sabote. Mentir pra si mesma, é sempre a pior e mais dolorosa mentira. Sua infelicidade está estampada em seus olhos.

TÂNIA – E Marina?

MARA: - Não sei. Não faço ideia. Faz dois dias que a destrambelhada da sua irmã não aparece. Que não é novidade!

TÂNIA – Mãe, já disse que deveríamos interna-la numa clínica de recuperação.

MARA: - Pra que? Pra fugir novamente? Enquanto ela não se convencer que precisa de ajuda, pra se livrar desse maldito vício, nada poderemos fazer, a não ser vê-la se autodestruindo. 

TÂNIA – Acho tão triste...

MARA: - Uma coisa por vez. Agora minha preocupação é esse sumiço do seu irmão.

TÂNIA – E vó?

MARA: - No quarto.

TÂNIA – Como está reagindo a tudo isto?

MARA: - Não contamos ainda.

TÂNIA – Não sentiu falta?

MARA: - Disse-lhe que estava viajando com alguns amigos.

TÂNIA – E Isabel?

MARA: - Está a beira de um ataque de nervos.

TÂNIA – Também, pudera. Marcos a trata como uma estranha.

MARA: - A relação dos dois não vai bem.

TÂNIA – Que pena! É uma mulher extraordinária.

MARA: - Mas trás junto, a encostada da mãe como pacote. Não suporto aquela mulher... Uma alpinista social!

TÂNIA – Uma coisa não podemos negar... Isabel ama verdadeiramente o Marcos.

MARA: - Isso é verdade.

TÂNIA – E esse chá que não vem? Vou apressar Nanci e aproveito pra vê a vó.

MARA: - Vai sim filha. Mas cuidado... Por enquanto é melhor que ela não perceba nada.

TÂNIA – Pode deixar. Fica tranquila. (Sai)

(Mara anda de um lado a outro preocupada. Apagam-se as luzes)

CENA III

(No escritório)

SECRETÁRIA: - Sr. Deputado?

EGÍGIO: - Pois não?

SECRETÁRIA: - Detetive Rodrigues...

EGÍGIO: - Por favor, peça que entre.

SECRETÁRIA: - Sim senhor. Com licença. (Sai e retorna) Por favor...

EGÍGIO: - Feche a porta.

SECRETÁRIA: - Sim senhor.

RODRIGUES: - Bom dia deputado.

EGÍGIO: - Por favor, sente-se.

RODRIGUES: - Obrigado.

EGÍGIO: - Alguma novidade?

RODRIGUES: - Estamos fazendo o possível.

EGÍGIO: - Pois faça o impossível. Não poupe nenhum esforço para encontrar meu filho.

RODRIGUES: - Lhe garanto que estamos fazendo tudo que esta ao nosso alcance. Mas trabalhamos com todas as hipóteses, todas. Até mesmo com... a hipótese de assassinato.

EGÍGIO: - Que esta querendo dizer?

RODRIGUES: - Que não podemos descartar nada. Numa cidade como esta, onde a violência esta generalizada, tudo é possível. Sequestro, assalto, prostituição, drogas, assassinato...

EGÍGIO: - Simplifique. Meu tempo vale dinheiro.

RODRIGUES: - Claro!

EGÍGIO: - O que lhe trouxe aqui.

RODRIGUES: - Sei que não será fácil...

EGÍGIO: - Seja objetivo.

RODRIGUES: - Temos três cadáveres. 

EGÍGIO: - Que?

RODRIGUES: - As características são muito próximas...

EGÍGIO: - Cadáver?

RODRIGUES: - Exatamente, senhor.

EGÍGIO: - Meu Deus!

RODRIGUES: - Por enquanto é só uma suspeita. Pra nós, são cadáveres. Apenas três corpos a espera de identificação. Preciso que o senhor ou alguém da família, me acompanhe até o IML para fazer este reconhecimento.

EGÍGIO: - Meu Deus!

RODRIGUES: - Calma, senhor Deputado. Pode ser apenas uma triste coincidência.

EGÍGIO: - (Pega o telefone) Senhora Eliane...

SECRETÁRIA: - Senhor?

EGÍGIO: - Avise ao senhor Ednaldo que precisei sair.

SECRETÁRIA: - Sim senhor.

EGÍGIO: - Por favor... (Para o detetive)

RODRIGUES: - O senhor não prefere ir acompanhado?

EGÍGIO: - Não. (Saem)

SECRETÁRIA: - Que clima! (Sai)

CENA IV

LUDIMILA – Quem ele pensa que é? Desaparece, assim, sem dar uma notícia.

ISABEL: - Mãe...

LUDIMILA – Isabel, você é a noiva dele. Noiva! E o mínimo que ele tinha que fazer, como forma de respeito, é dar satisfações.

ISABEL: - Mãe... Marcos, está desaparecido.

LUDIMILA – Desaparecido!

ISABEL: - Pode ter sido sequestrado.

LUDIMILA – Sequestrado!

ISABEL: - Sabe Deus o que está acontecendo. Pode até acontecer o pior.

LUDIMILA – Tomara. Tomara... Porque se não for isso... Eu mesmo vou esganá-lo com minhas próprias mãos.

ISABEL: - Pelo amor de Deus mamãe... Eu estou aqui, uma pilha de nervos, preocupada com o sumiço do Marcos e você ao invés de me tranquilizar me deixa mais tensa.

LUDIMILA – Isabel, minha querida. Abra seus olhos... Se não seguir minhas orientações você vai acabar perdendo este homem. Tá cheio de vagabundas ai querendo encontrar um idiota, igual a seu noivo, e lhe aplicar o golpe da barriga de ouro. Coisa que você devia ter feito, a muito tempo.

ISABEL: - Eu amo o Marcos. Será que você entende isso?

LUDIMILA – Entendo. Com amor, seria até mais fácil. Meu bem, essa história de amor, é linda, nos livros. Mas na vida real, só funciona quando a falta de dinheiro, as dificuldades mina qualquer relacionamento.

ISABEL: - Ainda que o Marcos fosse um pé rapado, eu o amaria mesmo assim.

LUDIMILA – Definitivamente! Você não é minha filha. Foi trocada na maternidade... Só pode!

ISABEL: - É uma hipótese provável!

LUDIMILA – Acorda, bela adormecida! Acorda antes que lhe ofereçam uma maçã. Minha filha, a vida não é um conto de fadas. Na maioria das vezes, ela é muito cruel.

ISABEL: - Por que acha que todos vão passar pelas mesmas coisas que você.

LUDIMILA – Não admito que fale assim. Você não pode imaginar um terço das coisas que tive que passar pra sobreviver. 

ISABEL: - Desculpe-me mamãe.

LUDIMILA – Você está preste a se casar com o filho de um grande figurão... Logo seu noivo será apresentado a política, e poderá herdar o lugar do pai.

ISABEL: - Não é seu desejo.

LUDIMILA – Deus só dá asas pra quem não deseja voar.

ISABEL: - As vezes penso que a senhora gostaria de está no meu lugar.

LUDIMILA – Não tive esta oportunidade. Se tivesse, teria aproveitado ao máximo!

ISABEL: - Sei que sim.

LUDIMILA – Seria a noiva mais feliz do mundo!

ISABEL: - Mas não é.

LUDIMILA – Infelizmente.

ISABEL: - Acho que Marcos não me ama.

LUDIMILA – Que baixa estima!

ISABEL: - Me sinto insegura.

LUDIMILA – A família te aceita. E isto é um grande passo... A aceitação da família do seu noivo.

ISABEL: - Mas não é com a família dele que eu vou me casar.

LUDIMILA – Você quem pensa! Ah, minha menina... Tem muito que aprender.

ISABEL: - Oh, mãe! 

LUDIMILA – Segue os conselhos da mamãe... Hein? Segue?

ISABEL: - Que quer que eu faça?

LUDIMILA – Dê um filho a este homem.

ISABEL: - Não acredito nisso. É obsessão!

LUDIMILA – Não meu bem. Quando chegar a minha idade você vai entender. Meu anjo, o maior arrependimento que sinto, é não ter aproveitado mais a minha beleza e juventude, garantindo o meu futuro.

ISABEL: - Não sou modelo.

LUDIMILA – Se fosse, talvez seria mais esperta. 

ISABEL: - Vou a mansão... Quem sabe já teem notícias.

LUDIMILA – Espere.

ISABEL: - Não mãe.

LUDIMILA – Acha mesmo que vou perder esta? Vou com você.

ISABEL: - Mãe?

LUDIMILA – Solidariedade meu bem! (Pega a bolsa) Agora podemos ir. Estou pronta!

ISABEL: - Se eu pedir...

LUDIMILA – Não. (Saem)

CENA VI

(Na Mansão)

SELMA – Você acha que aconteceu alguma coisa com seu Marcos?

TERESA: - Num conheço ainda bem a rotina da casa. Tô aqui poucas semanas e pouco vi seu Marcos.

SELMA – Seu Marcos nunca foi de sumir assim.

TERESA: - E o que acha?

SELMA – Ou são cegos ou se fazem. Quem sabe seu Marcos num encontrou o amor da sua vida... Tomou coragem! È, caiu fora.

TERESA: - Coragem de que?

SELMA – Deixa pra lá. Boca calada num entra mosca.

TERESA: - Só se fosse muito louco! Deixá uma casa dessa, cheia de conforto. Tem gente que e mermo bobo, num sabe dar valor ao que tem.

SELMA – Não seja idiota mulé. Num se deixe enganar pelas aparências. Por trás dessa beleza toda tem muita insatisfação, infelicidade...

NANCI: - Mas que paga o teu salário. E paga pra fazer o teu trabalho, não pra ficar de conversa fiada. Quanto a você Teresa vai na onda dessa não. Não se esqueça que você ainda está na experiência, e pelo que me falou precisa desse emprego. No mais, se fosse Dona Mara que tivesse escutado estes infelizes comentários, as duas estavam na rua. Agora voltem ao trabalho. E de preferencia caladas.

CENA VII

(NO IML)

MÔNICA - Fotografou o carro?

TÁRCIO: - Claro.

MÔNICA – Oficial. Quem será? Que veio fazer aqui?

TÁRCIO: - Não vai ser fácil descobrir.

MÔNICA – Bom, acho melhor eu ir lá dentro, vê se eu descubro algo... Enquanto isso, você tenta tirar alguma informação do motorista.

TÁRCIO: - Eu?

MÔNICA – tá vendo mais alguém aqui? Claro.

TÁRCIO: - Mas eu sou só um fotografo.

MÔNICA – Use seu charme!

TÁRCIO: - Menos!

MÔNICA – Desculpe-me! Escapou.

TÁRCIO: - Não gosto desse tipo de brincadeira.

MÔNICA – Foi mal. Prometo que não se repetira. Hei? Ah! Não vai ficar agora assim... De bico! Desculpa vai...

TÁRCIO: - Tá bom. Mas que isso não se repita.

MÔNICA – Tem razão. Eu respeito. Juro. Juro que respeito. Perdoada?

TÁRCIO: - Perdoada.

MÔNICA – Ah que bom. Que alívio! Agora eu vou lá.

TÁRCIO: - Vai... Vai nessa.

MÔNICA – Então... Vou...

TÁRCIO: - Eu farei o máximo.

MÔNICA – Parceiros?

TÁRCIO: - Parceiros. (Saem)

CENA VII

DETETIVE – Mas isso que o senhor está me pedindo é...

EGÍDIO: - Escute...

DETETIVE – O senhor quer que eu...

EGÍDIO: - Exatamente.

DETETIVE – O senhor me perdoe, mas não posso.

EGÍDIO: - Não sabe o quanto isso poderá me prejudicar.

DETETIVE – Mas não posso fazer o que está me pedindo. É fraude.

EGÍDIO: - Não lhe peço isso como Deputado, mas como um pai desesperado, na tentativa de preservar a minha família.

MÔNICA – Hora, Hora... Se não é o detetive Rodrigues!?

DETETIVE – Posso saber o que faz aqui?

MÔNICA – Meu trabalho! Agora o que o ilustríssimo Deputado faz aqui é o que é curioso.

EGÍDIO – Acho que não lhe diz respeito.

MÔNICA – Como não? O senhor é um homem público e eu sou da impressa. O senhor me dá os fatos e eu publico.

EGÍDIO: - Pois então a moça perdeu a viagem.

MÔNICA – Tem haver com o corpo encontrado no bosque?

DETETIVE – Por favor, agora não.

EGÍDIO: - Preciso ir... (Sai)

MÔNICA – Então?

DETETIVE – Não vai desistir.

MÔNICA – Pode ter certeza que não.

DETETIVE – Em off.

MÔNICA – Em off.

DETETIVE – Acho que tem um furo.

MÔNICA – Sabia! O rapaz era conhecido do Deputado?

DETETIVE – Homicídio.

MÔNICA – Isso eu já sei. Qual a ligação entre o Deputado e o corpo encontrado?

DETETIVE – Uma bomba. E você vai ficar me devendo esta.

MÔNICA – Sou todo, ouvidos!

DETETIVE – Filho.

MÔNICA – Que merda é essa? Filho?

DETETIVE – Isso mesmo que você ouviu. O rapaz foi identificado, e é filho do Deputado.

MÔNICA – Meu Deus! Então... Primeira página! (Pega o celular) Oi... Chefinho!? Reune toda equipe. Tenho uma bomba! Escuta cara... Um super furo! É... Não estou dizendo? É... É sobre o corpo que foi encontrado hoje. Calma... Escuta. Reserva a primeira página... Por que? Como por que? Chefe, o corpo encontrado, ou seja, o cadáver, nada mais é que filho de um figurão. Maiores detalhes, conto na redação, ou melhor, entrego junto com a matéria. Por que isso seria primeira página? Meu querido, segundo minhas fontes, esse rapaz, o presunto, tinha uma vida oculta. Bom, agora eu vou confirmar com os peritos a causa da morte e todos aqueles detalhes necessários para depois levantar toda vida desse rapaz. Me dá um tempo e terás uma história incrível em sua mesa.

DETETIVE – Escuta... Meu nome não pode aparecer.

MÔNICA – Não se preocupe. Nunca revelo minhas fontes. Obrigado, meu querido.

DETETIVE – Hei, espera ai.

MÔNICA – Te devo essa.

DETETIVE – E vou te cobrar.

MÔNICA – Deixa eu ir. Tenho uma matéria para escrever. Há! Detetive... Obrigado!

(Saem)

 

O CORPO (ATO II)

 ATO IIo corpoteatro

ATO II – CENA I


EGÍDIO: - Nanci...?

NANCI: - Sim, senhor.

EGÍDIO: - Mara?

NANCI: - Dona Mara está no quarto. Alguma notícia do menino?

EGÍDIO: - Som Nanci. E não é das melhores.

NANCI: - Meu Deus! O senhor quer que eu chame Dona Mara?

EGÍDIO: - Não... Não, precisa. Eu vou até lá.

EGÍDIO – Não. Pode deixar! Eu vou até lá.

NANCI: - Sim senhor.

EGÍDIO – Não. Pode deixar! Eu vou até lá.

NANCI: - Sim senhor.

TÂNIA – Pai...

EGÍDIO – Só um momento Tânia. (Sai)

TÂNIA – O que está acontecendo Nanci?

NANCI – Não se não senhora.

TÂNIA – O que lhe disse?

NANCI – Não sei se entendi bem.

TÂNIA – Que disse?

NANCI – Que as notícias... Não são boas.

TÂNIA – Meu Deus! (Sai)

NANCI – Minha Santa Maria!

SELMA – Que foi mulher?

NANCI – Larga de ser enxerida! Volte pro teus afazeres.

SELMA – Credo!

NANCI – Selma.

SELMA – Sim ama?

NANCI – Dispenso as brincadeiras. Prepare alguns calmantes

SELMA – Calmantes?

NANCI – Não me ouviu?

SELMA – Mas que aconteceu?

NANCI – Ainda não sei... Mas pela cara do patrão... Vem trovoadas! Vá. Anda menina. (Selma sai) (Toca a Campanhia)

ISABEL – Boa tarde, Nanci.

NANCI – Boa tarde senhora.

ISABEL – Onde estão todos?

NANCI – Lá em cima.

LUDIMILA – Como somos quase da família, creio que Mara não se importará...

NANCI – Se não fosse esse quase, talvez, realmente não se importasse. Mas como ainda não são, não posso permitir.

ISABEL – Que isso Nanci?

LUDIMILA – Que atrevimento! Uma serviçal se colocando como uma... Vou me queixar com seus patrões por sua falta de educação.

NANCI – A senhora invade a casa e eu é que sou má educada? Estou apenas cumprindo com meu papel...

LUDIMILA – De serviçal.

NANCI – Que seja! E daqui a senhora não passa.

ISABEL – Mãe... Nanci, não se preocupe. Esperaremos aqui. Apenas queremos saber notícias. E Marcos? Já sabem de alguma coisa sobre seu paradeiro?

NANCI – Doutor Egídio está conversando com Dona Mara. 

ISABEL – Então deve ter notícias.

LUDIMILA – É o cúmulo! A empregada saber mais sobre seu noivo que você.

NANCI – É o cúmulo a senhora está mais apressada com este casamento que sua filha. Por que será?

LUDIMILA – Ora... Não seja insolente.

NANCI – Basta não ser desagradável. Bebem alguma coisa?

ISABEL – Água.

LUDIMILA – Vodka com gelo.

NANCI – Teresa...

TERESA: – Senhora?

LUDIMILA – Senhora! Só o que faltava.

ISABEL – Mãe!

NANCI – Traga água a para Dona Isabel e uma vodka pra sua mãe.

TERESA: – Sim senhora. Com licença. (Sai)

NANCI – Fiquem a vontade. Se precisarem de alguma coisa é só chamar. 

ISABEL – Esperaremos no jardim.

LUDIMILA – Vou derreter lá fora.

ISABEL – Só lhe peço para avisar a Dona Mara que estamos aqui.

NANCI – Avisarei. (Sai)

LUDIMILA – Isso não está me cheirando bem.

ISABEL – Será que aconteceu algo de ruim com Marcos? 

LUDIMILA – Que Deus permita que não!

ISABEL – Estou com um mau pressentimento.

LUDIMILA – Se tivesse me ouvido...

TERESA – Senhoras... As bebidas.

LUDIMILA – Oh, minha filha, que droga de bebida é essa?

TERESA – A vodka que a senhora pediu.

ILUDIMILA – O que esperar de uma incompetente como você? Pedi vodka com gelo, não gelo com vodka. (Joga a bebida na empregada)

ISABEL – Mãe! Oh, desculpe... é que estamos com os nervos a flor da pele.

TERESA – Tem sorte que eu estou no meu emprego. Caso contrário faria você engolir esse copo.

ILUDIMILA – Insolente.

ISABEL – Mãe, chega. (A emprega sai) Que pensa que está fazendo? Que Nanci chame os seguranças e nos põe pra fora? Por que é isso que vai acontecer.

TERESA – Senhora, com licença... Preparei outra. Espero que esteja a seu gosto... (Esbarra) Perdão senhora!

ILUDIMILA – Ah! Que isso?

TERESA – Perdão! Foi um acidente.

ILUDIMILA – Acidente coisa nenhuma. Fez por que quis.

TÂNIA – Que est acontecendo aqui?

ILUDIMILA – Essa empregada.

TERESA – Foi sem querer senhora.

ISABEL – Foi um acidente.

ILUDIMILA – Coisa nenhuma. 

TÂNIA – Traga outra bebida pra Dona Ludmila.

TERESA – sim senhora. (Sai)

ILUDIMILA – Não precisa. Perdi a vontade.

ISABEL – Alguma novidade?

TÂNIA – Creio que sim. Mas não sei ao certo. Papai se trancou no quarto com minha mãe...

ISABEL – Então só nos resta esperar.

TÂNIA – Nos parece a única opção neste momento.

ISABEL – Mãe, acho melhor irmos para casa...

ILUDIMILA – Claro que não. Viemos saber notícias...

ISABEL – Mãe... Talvez a família precise de privacidade.

ILUDIMILA – Família? Mas somos da família... Não é mesmo Tânia?

TÂNIA: – Claro.

ISABEL – Vamos pra casa. Assim que tiver alguma notícia você me liga.

TÂNIA: – Ligo sim.

ISABEL – Até mais.

TÂNIA: – Até.

ILUDIMILA – Estaremos aguardando. Pode ligar qualquer hora.

TÂNIA: – Darei notícias. (Saem)

ATO II – CENA II

EDINALDO – Animada esta hoje!

TÂNIA – Ainda bem que essa... Mulherzinha, inconveniente se foi.

EDINALDO – Notícias do filho pródigo?

TÂNIA – Pela cara do meu pai... Algo muito grava aconteceu.

EDINALDO – Que novidade! 

TÂNIA – Não é momento pra brincadeiras. Estou aflita!

EDINALDO – É minha querida... Não duvido nada que seu papaizinho esteja por trás disso tudo que está acontecendo.

TÂNIA – Chega! Já não basta toda essa atenção? Vai colocar mais lenha nesta fogueira

EDINALDO – Seu pai pensa que pode manipular todos! A única que o interessa é o poder! O grande poderoso! O dono do mundo!

TÂNIA – Chega! Basta. 

EDINALDO – Pensei que pudéssemos compartilhar pensamentos...

TÂNIA – Não seja cruel. Estamos passando por um momento difícil.

EDINALDO – Não duvido nada que teu irmãozinho seja encontrado numa sarjeta.

TÂNIA – Meu Deus! Como pode ser tão insensível? Isola.

EDINALDO – Já parou pra pensar que teu irmão pode está hora ter virado um presunto?

TÂNIA – Chega? Que tortura é essa? Se não pode ajudar... Então não atrapalha.

EDINALDO – Eu? Torturando? Essa especialidade é do seu pai.

TÂNIA – Você é cruel.

EDINALDO – Mas tenho minhas mãos limpas.

TÂNIA – Esta insinuando que meu pai é um assassino?

EDINALDO – Que nunca suja as mãos. Basta um telefonema e alguns reais.

TÂNIA – Chega! Papai jamais faria isso.

EDINALDO – Teu irmão está morto.

TÂNIA – Que?

EDINALDO – Isso mesmo. 

TÂNIA – Não... (Lágrimas)

EDINALDO – Encontraram o corpo.

TÂNIA – Como foi isso?

EDINALDO – Pergunte a seu pai. Ele sabe bem como se faz este tipo de coisa.

TÂNIA – Meu pai jamais seria capaz de matar alguém. Ainda mais... Marcos. Seu filho.

EDINALDO – Marcos era gay.

TÂNIA – Que absurdo é este?

EDINALDO – Sempre desconfiei que havia algo de errado com ele.

TÂNIA – Mas como isso é possível. Estava noivo, ia se casar...

EDINALDO – Teatro! Aposto que estava combinado com aquelas golpistas.

TÂNIA – Nada isso faz sentido.

EDINALDO – Vai se preparando. Tem muita poeira escondida debaixo deste tapete.

TÂNIA – Meu irmão! Meu Deus! Meu irmãozinho...

EDINALDO – Um gay. Condição que seu pai jamais aceitaria. Isto é muito ruim para a imagem do futuro candidato ao senado. Um homem que está acima do bem e do mal. O defensor dos bons costumes e da moral.

TÂNIA – Não! (Rompante) Meu pai não é nenhum assassino.

EDINALDO – Isto é só uma bombinha. O pior, ainda está por vir. Está casa esta cercada de minas... Qualquer passo em falso... Bum! (Sai)

TÂNIA – Não... Meu irmão morto! Não pode ser... Marcos. Meu Deus! (Entra Nanci)

NANCI – Que foi minha menina? Que foi? (Abraça) 

TÂNIA – Marcos...

NANCI – Não...

TÂNIA – Está morto. Morto!

NANCI – Oh, minha querida! Acalma-se. Vou pegar um calmante.

TÂNIA – Não... Por favor... Fique.

(Entra Dona Liz vestida de luto segurando uma rosa vermelha)

NANCI – Dona Liz?

TÂNIA – Vó? Que faz aqui?

LIZ: – Precisam de mim.

NANCI – Devia está no seu quarto...

LIZ: – Será mesmo? Ainda sou a matriarca desta casa. 

TÂNIA – Vó...

LIZ: – Sou mais forte que todos você juntos. Posso está velha, mas a velhice não me fez ficar apática as situações. Quero participar dos acontecimentos desta casa, desta família. Só desejo que não me ignorem, não me tratem feito uma demente. Estou viva, tão viva quanto está rosa. Rosa esta que pode enfeitar tanto os momentos felizes, quanto os infelizes. A vida meu anjo é como essa rosa, bela, mas cheia de espinhos, e só depende de nós, remover os espinhos.

TÂNIA – Não a ignoramos vó. Apenas queremos lhe poupar.

LIZ: – A tentativa de me pouparem me fazem sentir como se eu morresse cada dia um pouquinho mais. É como se me enterrassem viva.

TÂNIA – Perdão vó. Na tentativa de acertar, erramos.

LIZ: – Sinto que a morte está rondando esta casa.

TÂNIA – Por isso esta vestida assim?

LIZ: – Meu coração está de luto. Meu menino se foi, não é?

TÂNIA – Vó. (Se abraçam)

LIZ: – Seja forte minha querida. Ele está bem. Sei que está.

TÂNIA – Nanci... Acho que vamos precisar do Dr. Onofre.

NANCI – Vou ligar pra ele.

LIZ: – Mara vai precisar. (Saem)

ATO II – CENA III

(Na delegacia)

DELEGADO: - Rodrigues...

RODRIGUES: - Pois não chefe?I

DELEGADO: - Desta vez tiramos a sorte grande! Todos os holofotes estão sobre nós. (Risos) Veja. (Entrega uma pasta)

RODRIGUES: - É a conclusão da perícia.

DELEGADO: - Isso mesmo! Temos um trabalho em tanto pela frente.

RODRIGUES: - É peixe grande.

DELEGADO: - Exatamente. A minha experiência me diz que o papaizinho vai querer abafar o caso.

RODRIGUES: - Ainda sem suspeitos!

DELEGADO: - Trate de arrumar um. Casos como esse são raros e quando vem parar em nossas mãos, não podemos facilitar e desperdiçar a visibilidade que podemos ter na mídia. Meu caro, casos como esses, geralmente é nosso passaporte para uma boa promoção.

RODRIGUES: - Aqui diz a vítima foi morto por um objeto pontiagudo, mas que não se trata de faca ou punhal.

DELEGADO: - E o que está esperando? Vá atrás de pistas.

RODRIGUES: - Sim senhor.

DELEGADO: - Quero um relatório amanhã cedo em cima da minha mesa. E de preferencia com novidades. Amanhã isso aqui vai está cercado por reportes! A fama nos espera.

RODRIGUES: - E quanto aquela reporte?

DELEGADO: - Aquela xereta?

RODRIGUES: - Exatamente.

DELEGADO: - Diga que estamos investigando e que assim que tivermos novidades vamos convocar uma coletiva. Coletiva!

RODRIGUES: - Sim senhor.

DELEGADO: - Bom meu caro. Vamos nos preparando para nosso minuto de fama. Há! Convoque, família, amigos, inimigos... Quero depoimentos. Temos que ter um suspeito.

RODRIGUES: - Sim senhor.

DELEGADO: - Essa bichona é nosso passaporte para ascensão profissional. Vi a página dois? Diz que a vítima manteve relações sexuais antes do falecimento. Tava queimando a rosca! (Risos) Afinal, já diz o ditado: Pra que guardar se a terra há de comer! (Risos)

RODRIGUES: - Bom... O papo está divertido... Mas preciso ir. Tenho que trabalhar.

DELEGADO: - Sei que dará o melhor neste caso. Dará! Dará não. Fará. (Risos. Saem)

ATO II – CENA IV

(Entra Mara amparada por Egídio. Todos estão reunidos na sala)

MARA: - Oh, filha! (Abraça Tânia)

TÂNIA: - Oh, mãe! Sinto muito.

ISABEL: - Por favor... Não escondam nada de mim. Seja lá o que está acontecendo... Quero saber.

EGÍDIO: - Saberá.

LUDIMIRA: - Por Deus! Quanto mistério! Assim nos mata de tanta curiosidade.

ISABEL: - Encontraram Marcos?

EGÍDIO: - Sim, encontramos.

LUDIMIRA: - E onde está?

EDINALDO: - Está morto.

ISABEL: - Que?

LUDIMIRA: - Calma filhinha!

MARA: - Mataram meu filho.

ISABEL: - Calma mãe.

LUDIMIRA: - Lá se vão os anéis com os dedos.

EDINALDO: - Pra sua infelicidade.

ISABEL: - Mãe... Não pode ser... Meu Marcos... Oh, meu Deus! Meu noivo mãe...

LUDIMIRA: - Sente-se filha. Mantenha a calma!

TÂNIA: - Selma? (Entra Selma) Traga um copo com água.

LUDIMIRA: - Mas como foi isso? Assalto?

EGÍDIO: - Ainda não se sabe ao certo. Mas a polícia está investigando.

MARA: - Quero que este assassino pague. Este crime não pode ficar impune.

EGÍDIO: - E não ficará.

EDINALDO: - A imprensa está toda de campana na frente da mansão.

EGÍDIO: - Não temos nada a declarar.

TÂNIA: - Será que nem num momento desses não nos dão paz?

ISABEL: - E agora? O que será de mim?

LUDIMIRA: - Calma filha! Mamãe está ao seu lado. E também Egídio não a deixará desamparada, ainda mais se tratando de uma situação tão delicada. Não é mesmo Egídio?

EGÍDIO: - Claro.

MARA: - E Marina? 

TÂNIA: - Só Deus sabe!

MARA: - Localizem Marina...

EDINALDO: - Posso providenciar isto. Não se preocupe.

EGÍDIO: - E dona Liz? Quem dará a notícia?

TÂNIA: - Creio que já saiba. Mas não se preocupem... Dr. Alfredo está vindo pra cá.

EGÍDIO: - Preciso providenciar o funeral.

LUDIMIRA: - Não queremos atrapalhar... Filha, acho melhor irmos pra casa. 

ISABEL: - Mas mãe?!

LUDIMIRA: - Muita gente atrapalha! Agora vamos. Se precisarem de qualquer coisa... É só ligar.

EDINALDO: - Claro!

LUDIMIRA: - Mara... Meus pêsames!

MARA: - Obrigada.

LUDIMIRA: - Vamos filha! (Se abraçam e saem)

EDINALDO: - O celular da Marina está fora de área.

TÂNIA: - Como se fosse novidade! Meu Deus! Quando é que essa garota vai ter responsabilidade?

MARA: - Não vamos agora se preocupar com isto. Marina logo aparecerá.

EGÍDIO: - Bando de abutres! Continuam de plantão lá fora.

EDINALDO: - E o que diremos?

EGÍDIO: - O de sempre.

EDINALDO: - Nada a declarar.

MARA: - Teu irmão... Morto! Como foi?

EGÍDIO: - Não falamos nisso agora.

TÂNIA: - É melhor que saiba por nós.

MARA: - Saiba o que?

EGÍDIO: - Nada.

TÂNIA: - Pai.

MARA: - Egídio?

EGÍDIO: - Marcos foi encontrado morto dentro de um matagal.

MARA: - Meu Deus!

EGÍDIO: - É muito importante que tenhamos uma mesma versão para a morte de Marcos. Muitas versões estão circulando na imprensa. Mas vamos afirmas com toda firmeza, que Marcos era um homem integro.

TÂNIA: - Por que está dizendo isto pai?

EDINALDO: - Pra abafar o caso.

MARA: - Como assim abafar?

EGÍDIO: - Parece que estava envolvido com que não devia.

TÂNIA: - Não posso acreditar. Meu irmão não é nenhum criminoso. E vocês falam como se...

EGÍDIO: - Há algo de obscuro nesta história. 

EDINALDO: - E por isso temos que estar preparados.

MARA: - Assassinato!

EGÍDIO: - Vamos alegar sequestro.

EDINALDO: - Vamos dizer que houve uma tentativa de pedido de resgate.

MARA: - Parem com isso... Que está acontecendo aqui?

EGÍDIO: - Fora o fato de termos uma filha viciada em drogas, que não mede esforços para conseguir seus entorpecentes... Agora descubro que tinha um filho com uma vida obscura.

TÂNIA: - Não estou entendendo nada.

EDINALDO: - Seu irmão era gay.

MARA: - Como se atreve?

EGÍDIO: - É a mais pura realidade.

TÂNIA: - E Isabel?

EDINALDO: - Ou estava de combinação com ele, ou foi tão enganada quanto nós.

MARA: - Meu Deus!

EGÍDIO: - Isso não pode vazar na imprensa. Se isso for publicado. Minha candidatura estará arruinada.

TÂNIA: - Se preocupa mais com essa sua carreira que a vida do seu próprio filho?

EGÍDIO: - Que vida? Está morto. Morreu fazendo sem vergonhasse.

MARA: - Não... Meu filho não era isso... (Saem)

EDINALDO: - Que Deus me perdoe! Mas se ele não estivesse morto. Seu pai o mataria.

TÂNIA: - Não diga tolices! Meu pai jamais seria capaz...

EDINALDO: - O ser humano é imprevisível! Capaz de coisa que até o diabo duvida. (Saem)

ATO II – CENA V

SELMA: - Mas que coisa, né?

TERESA: - Tá espantada porque?

SELMA: - Como pode um rapaz tão jovem, tão bonito, morrer assim...

TERESA: - É, é realmente uma coisa chocante.

SELMA: - Você fala com tanta naturalidade de uma situação tão triste.

TERESA: - Ainda dizem que dinheiro trás felicidade.

SELMA: - Pode não traze. Mas ajuda.

TERESA: - Não impediu a morte do seu Marcos.

SELMA: - Você fala com tanta naturalidade! Até parece que não sentiu a morte do rapaz.

TERESA: - Antes ele que eu. 

SELMA: - Credo!

TERESA: - Acha que fosse eu ou você, ou até mesmo a puxa saco da Nanci, alguém ia chorar nossa morte? Ah, minha queridinha! Não se iluda.

SELMA: - Credo. É uma vida que foi tirada. 

TERESA: - Quantas vidas são tiradas todos os dias e ninguém se quer se dar ao trabalho de jogar uma flor durante o sepultamento.

SELMA: - Mas seu Marcos... Filho do deputado... Primeira página!

TERESA: - Não saiu nada no jornal. Nada além da notícia sobre a morte... Tava escrito lá, que seu Marcos estava sequestrado e foi morto.

SELMA: - Barela! Tudo isso só pra calar os maus comentários. Doutor Egídio comprou os jornalistas. Quem pode, pode!

TERESA: - É sempre assim... Se fosse um qualquer sairia na primeira página: Suspeito de envolvimento com o tráfico!

SELMA: - Num vê o caso da vadia da Marina? Essa hora deve está trepando feito uma vaca. Tudo isso pra manter o seu maldito vício.

TERESA: - Tenho pena desta moça. Dependência química é uma desgraça.

SELMA: - Que pode ser evitada. Basta dizer não.

TERESA: - Mas tem gente que é fraca.

SELMA: - Se trabalhasse como nós, não tinha tempo pra isso não.

TERESA: - É como dizia minha velha mãe: Cabeça vazia, morado do diabo!

SELMA: - Coitado do capeta. Tudo que as pessoas fazem de ruim, a culpa é dele.

TERESA: - E não é?

SELMA: - E o livre arbítrio?

TERESA: - Tenho pena. É gente de cabeça fraca.

SELMA: - Entrou nessa por que nunca teve um bom corretivo. Sempre passaram a mão na cabeça dela. Se logo no começo tivessem quebrado ela toda na bancada...

TERESA: - Se bancada resolvesse, não haveria tantas clínicas...

SELMA: - Dinheiro jogado no lixo! E olha que um tratamento desse vale uma fortuna. Pra que? Pra depois vê a desgraçada dizer: Foi mal, tive uma recaída. E que paga a conta? Eu, você, o povo... Por que o dinheiro que o deputado usa é público, nosso. Agora te pergunto: E se fosse teu filho, ou meu... Sabe qual tratamento receberia? De choque! Rico drogado é dependente químico, pobre é bandido.

TERESA: - Isso é verdade...

SELMA: - Pensa que somos cegas. Seu Marcos num era chegado na fruta...

TERESA: - Que?

SELMA: - A fruta que ele gosta, eu chupo até o caroço! (Riem)

TERESA: - Quero morrer tua amiga.

SELMA: - E olha que as amigas são as piores inimigas. Sabem todos nossos podres!

TERESA: - Isso é verdade.

SELMA: - E a outra? Além de estéreo é a mulher mais infeliz que conheço. 

TERESA: - Com toda essa grana?

SELMA: - Má amada. O marido só tá com ela por causa do dinheiro. Um picareta!

TERESA: - Coitada!

SELMA: - Bem aquela história... Pobre menina rica! E você que se cuide.

TERESA: - Por que?

SELMA: - Edinaldo não passa de um tremendo galinha!

TERESA: - Deus me livre!

SELMA: - Basta manter as pernas fechadas!

TERESA: - Credo!

SELMA: - E eu num vi como ele olha pra tu?!

TERESA: - Impressão tua.

SELMA: - Nasci ontem não. E se Nanci perceber. Te coloca no olho da rua.

TERESA: - De confusão eu quero distância. (Telefone Toca)

SELMA: - Residência dos Melo de Andrede! Bom dia. Bem, aqui quem fala é a empregada... Sim... entendo... Um minuto por favor. É da polícia.

TERESA: - Me dá isso aqui. Alô? Pois não... Pode falar... Sei... No momento não será possível... Isto. Estão no velório. Pode deixar. Darei o recado. Peraí... (Pra Selma) Papel e caneta. Pode falar... Tudo bem. Sim. Anotei. Darei o recado... O senhor pode ficar despreocupado. Pro senhor também.

SELMA: - Que foi?

TERESA: - Apareceu a margarida!

SELMA: - Do que tá falando mulé?

TERESA: - Marina. Presa.

SELMA: - Presa?

TERESA: - Não é a primeira e nem será a ultima vez.

SELMA: - Que família!

TERESA: - Se fosse o pai dela deixava morfar na cadeia pra vê se aprende.

SELMA: - Seria um escândalo.

TERESA: - E isso é o que seu Egídio menos deseja.

SELMA: - Vamos voltar a nosso serviço que hoje o dia promete

TERESA: - Oh! E se promete! (Saem)

ATO II – CENA VI

(Na redação do jornal)

MÔNICA: - É um absurdo! Proibir a imprensa de acompanhar o velório?

TÁRCIO: - Também acho. Mas é um momento tão doloroso para os familiares.

MÔNICA: - Mas a questão aqui, não é apenas dor. Querem deixar a sujeira debaixo do tapete.

TÁRCIO: - Sabe o que acho?

MÔNICA: - Que?

TÁRCIO: - Que a polícia esta escondendo todos os detalhes sórdidos desta história.

MÔNICA: - Sabe que também tive esta impressão! Aquela nota meia boca divulgada pelo assessor de imprensa do deputado... “Sequestro no qual terminou na morte da vítima”. Não colou. Veja bem, o rapaz era filho de um grande figurão, valia uma grana alta, eles não seriam burros de se livrar de um refém tão valioso sem receber o resgate. Esta história está muito má contada.

TÁRCIO: - Má contada ou não... Nosso trabalho neste caso terminou. A nota é oficial.

MÔNICA: - Se está má contada e nossa obrigação conta-la da forma correta, com todos seus pontos e vírgulas nos seus devidos lugares.

TÁRCIO: - Ah, não! Não vai me dizer...

MÔNICA: - (Pega a bolsa) Isso mesmo! Vamos a campo... Temos uma investigação a fazer.

TÁRCIO: - E onde vamos, posso saber?

MÔNICA: - Vamos não. Você vai.

TÁRCIO: - Eu?

MÔNICA: - É.

TÁRCIO: - Não estou entendendo.

MÔNICA: - Meu amor... Você vai voltar aquele lugar...

TÁRCIO: - Lugar? Que lugar?

MÔNICA: - Onde o corpo foi encontrado.

TÁRCIO: - Por que eu?

MÔNICA: - Uma mulher, não nada atrativo, para o público que ali frequenta.

TÁRCIO: - Não estou gostando nada disso!

MÔNICA: - Ah! Mais vai gostar. Olha pelo lado positivo... Você vai unir trabalho com prazer. E quem sabe você não encontra um bofe maravilhoso!

TÁRCIO: - Já disso que não gosto desse tipo de brincadeira.

MÔNICA: - Tá bom homem sério! Agora vamos ao trabalho.

TÁRCIO: - Me mete em cada uma!

MÔNICA: - Que seria de mim sem você, hein?

ATO II – CENA VII

(No apartamento de Ludmila)

LUDMILA: - Que ódio!

ISABEL: - Não imaginava que gostasse tanto do Marcos.

LUDMILA: - Minhas lágrimas são de ódio!

ISABEL: - Ora mãe! Não tenho saco pra seus chiliques hoje!

LUDMILA: - Desgraçado! Tinha que morrer antes do casamento?

ISABEL: - Você não tem coração?

LUDMILA: - Oh! Tô vendo a hora enfartar de tanta raiva.

ISABEL: - Não percebe o quanto estou sofrendo?

LUDMILA: - Eu também. Está tão perto!

ISABEL: - Perdi o homem que amava. E você pensa neste porcaria de fortuna...

LUDMILA: - Foi o que ficou. E não foi para você filhinha...

ISABEL: - Pro inferno o dinheiro.

LUDMILA: - Inferno se tornará nossa vida. Ou você acredita mesmo que o mão de vaca do deputado Egídio vai continuar sendo generoso conosco?

ISABEL: - Não somos aleijadas, podemos trabalhar.

LUDMILA: - Não faça-me rir! Acha mesmo que com um misero salário vamos poder sustentar esse padrão de vida?

ISABEL: - Posso viver com muito menos.

LUDMILA: - Esse é seu pior defeito! Desejar sempre menos.

ISABEL: - que queria que eu fizesse?

LUDMILA: - Que devia ter feito. Devia ter engravidado... Teria garantido o nosso futuro.

ISABEL: - Meu Deus! Não acredito nisso.

LUDMILA: - Pois pode acreditar. Você perdeu a maior oportunidade de sua vida.

ISABEL: - Não mãe... Não perdi uma oportunidade. Perdi o homem que amava.

LUDMILA: - Homem! (Meio riso)

ISABEL: - Para mãe... Por favor, não me torture mais...

LUDMILA: - Ele se foi, e levou com ele toda esperança que eu depositava no nosso futuro... Acha que vai ser fácil daqui pra frente? Estamos com dinheiro contado, joias penhoradas, e não faltará muito para sermos despejadas daqui.

ISABEL: - Que culpa tenho se você não soube guardar o que meu pai nos deixou?

LUDMILA: - Um verme! Seu pai era um fracassado. Nos deixou uma ninharia.

ISABEL: - Se é tão esperta, por que está passando por isso?

LUDMILA: - Fiz a burrada de engravidar de um bosta! E burrada maior, foi não ter abortado como das outras vezes. Apostei muito em você, e olha o resultado.

ISABEL: - Apostou errado! Não pedi para nascer. Não sou um investimento. Nem tão pouco uma prostituta pra você me vender ao primeiro homem rico que apareça. Jamais faria o golpe da barriga para segurar o marcos ou qualquer outro homem. Não sou como você...

LUDMILA: - Que tem eu?

ISABEL: - Uma prostituta de luxo!

LUDMILA: - (Tapa na cara) Você é o pior erro que cometi na minha vida. 

ISABEL: - Então é hora de reparar este erro...

LUDMILA: - Teria reparado se tivesse sido mais esperta.

ISABEL: - Me deixe em paz! (Sai)

LUDMILA: - Ingrata! Além de burra, ingrata. (Anda de um lado para o outro) Preciso encontrar um jeito de convencer o deputado a continuar nos ajudando. Mas como? Pense Ludmila... Pense! Ah, por que não pensei nisso? Uma gravidez... Sempre funcionou. E Mara estando fragilizada não rejeitaria a vinda de um neto... A continuação da família. Um herdeiro! Ha, deputado!... (Sai)

ATO II – CENA VIII

(Na Mansão)

MARA: - Acabou... Acabou.

DONA LIZ: - Só nos resta nos conformar.

MARA: - Nos conformar mamãe? Como posso me conformar com uma situação como esta? É tudo tão... Surreal. Como isso pode acontecer? Meu filho? Meu menino... Morto. Mãe, tiraram a vida do meu filho. Não dá pra se conformar. Só vou me conformar, se isso for possível, quando este assassino estiver atrás das grades.

TÂNIA: - Calma mãe! Sei que as coisas estão difíceis... Mas estamos aqui. Somos uma família, e vamos ficar unidas.

EGÍDIO: - Tânia tem razão. Não vamos nos exceder. Precisamos manter a calma, o inevitável, já aconteceu. Agora só nos resta esperar... Logo a polícia descobrirá quem cometeu tão cruel crime. Quem fez isso com nosso filho, irá pagar muito caro. Não medirei nenhum esforço.

MARA: - E esse bando de abutres? Nos cerca como carniças!

EDINALDO: - Quanto a imprensa... Deixem comigo. Eu cuido disso. Nada será publicado sem o consentimento da família.

MARA: - Mas do que você está falando?

DONA LIZ: - Você não contou a ela?

MARA: - O que estão escondendo de mim? Egídio?

EGÍDIO: - Nada meu bem. A polícia ainda está investigando...

MARA: - Não foi um assalto... Foi uma execução.

TÂNIA: - Mãe, nada esta esclarecido. Não temos como dizer-lhe exatamente o que aconteceu. Não sabemos. Não é papai?

EGÍDIO: - Exatamente.

MARA: - Se sabem de alguma coisa... Por favor, me contem.

DONA LIZ: - Não sabemos nada além do que você sabe minha querida. No mais, hoje foi um dia intenso, cansativo... Vamos descansar um pouco.

MARA: - Nanci?

NANCI: - Senhora?

MARA: - Acompanhe mamãe até seu quarto.

NANCI: - Sim senhora. Vamos Dona Liz...

DONA LIZ: - Que mania! Parem de me tratar como se eu fosse uma invalida. (Sai)

EGÍDIO: - Vamos querida. 

TÂNIA: - Mãe... Se quiser... Posso ficar.

MARA: - Não querida, não será preciso. (Sai)

EDINALDO: - Ainda acho que deveriam conta-lhe a verdade.

TÂNIA: - Tenho medo. Talvez não suportasse.

EDINALDO: - Saber que o filho era gay!

TÂNIA: - Que desagradável.

(Entra Marina)

MARINA: - Está feliz agora?

TÂNIA: - Marina...

MARINA: - Meu irmão está morto!

TÂNIA: - Sinto muito.

MARINA: - Sente muito? Fala sério!

TÂNIA: - Também estou sofrendo. Todos estamos sofrendo.

MARINA: - Dá pra vê o sofrimento na cara do teu macho.

TÂNIA: - Chega!

MARINA: - Esse inútil nunca foi com a cara de Marcos.

TÂNIA: - Cala a boca!

MARINA: - Um sangue suga! A única coisa que deseja é teu dinheiro...

TÂNIA: - Para com isso. 

MARINA: - Por que não pega o inútil deste teu marido e dar o fora daqui?! 

TÂNIA: - Por que está casa ainda é minha também.

MARINA: - Volta lá pro seu ninho de amor e infidelidade.

TÂNIA: - (Esbofeteia) Não admito que fale assim comigo. 

MARINA: - Por que? Por que a verdade dói né? Que saber maninha, esse tapa doeu menos que a dor que a frustação deste casamento.

TÂNIA: - Respeite nossa dor. 

MARINA: - Dor? Que dor? Fala sério garota. Papai está aliviado por se livrar do problemão que seria ter um filho gay, desfilando por ai. Olha só que família... Um filho gay assassinado, uma filha drogada e uma outra enfiada num casamento por interesses, infeliz.

EDINALDO: - Agora chega sua vadia.

MARINA: - Olha! Não que ele fala.

TÂNIA: - Não Edinaldo. Por favor...

EDINALDO: - Não vou admitir que nos trate deste jeito.

MARINA: - Você é desprezível! Você são desprezível.

EGÍDIO: - Que faz aqui?

MARINA: - Olha! Chegou o poderoso chefão.

EGÍDIO: - Não tenho tempo para suas infantilidades.

MARINA: - Tá feliz né? Não... Nem tento. Claro! Desejava que fosse eu. Ah, Alcapone! Como vê... Não desta vez.

EGÍDIO: - Ednaldo...

EDINALDO: - Senhor...

EGÍDIO: - Chame a segurança.

MARINA: - Isso capacho! Chama! Vai... Vou fazer um escândalo que vai entra pra história. Amanhã todos os jornais vão publicar o poderoso chefão escorraça sua filha após velório do irmão.

MARINA: - Papai...

MARA: - Que está acontecendo aqui?

MARINA: - Pergunte pra esses hipócritas!

MARA: - Não há espaço para suas infantilidades neste momento minha filha. Ao menos hoje, respeite nossa dor.

MARINA: - Respeito? Será que alguém aqui sabe o que significa está palavra? (Saindo)

MARA: - Marina... Fique.

MARINA: - Não. Não posso compartilhar desse teatrinho.

MARA: - Não diga isto filha.

MARINA: - Esta casa é um palco. Todos vivem encenando. Nada aqui é real, nunca foi. Você mataram meu irmão. (Sai)

MARA: - Não... Isso não é verdade.

EGÍDIO: - Leve sua mãe.

TÂNIA: - Vamos mãe... (Saem)

EGÍDIO: - Quero que encontre uma clínica bem longe e interne esta irresponsável. Não importa quanto custe, mas quero-a bem longe desta casa.

EDINALDO: - Não se preocupe senhor. Hoje mesmo vou providenciar tudo.

EGÍDIO: - Você viu aquele rapaz?

EDINALDO: - Rapaz?

EGÍDIO: - Sim. Um branco, franzino.

EDINALDO: - O que estava acompanhado de um casal? Se não me engano, amigos de Marcos.

EGÍDIO: - Não parava de chorar.

EDINALDO: - Parecia em choque. Inconformado.

EGÍDIO: - Você já o tinha visto antes?

EDINALDO: - Não senhor.

EGÍDIO: - Por que chorava tanto?

EDINALDO: - Talvez... 

EGÍDIO: - Talvez?

EDINALDO: - Um amigo de faculdade. Quem sabe?

EGÍDIO: - É.

EDINALDO: - Bom, vou providenciar...

EGÍDIO: - Claro. (Sai)

EDINALDO: - Amigo?! (Sai)

ATO II – CENA IX

VIRGÍNIA: - Sente-se.

JÚNIOR: - Estou bem.

HÉLIO: - Não, não está.

VIRGÍNIA: - Não precisa dar uma de super homem. Sabemos o quanto está sofrendo.

JÚNIOR: - É duro cara.

HÉLIO: - Posso imaginar!

VIRGÍNIA: - Ao menos conseguiu ir ao velório. Se despediu de Marcos.

JÚNIOR: - Graças a vocês. Serei eternamente grato.

HÉLIO: - Não fizemos nada mais que nossa obrigação. Afinal, somos amigos, e amigos são para todos os momentos.

VIRGÍNIA: - Sabemos o quanto vocês se amavam e não poderíamos negar isto a você. Tenho certeza que Marcos gostaria que fosse assim.

JÚNIOR: - As vezes me pergunto, se ele me amava tanto quanto dizia...

VIRGÍNIA: - Meu amigo. Perdoe a fraqueza dele.

JÚNIOR: - Ia casar-se. Não entendo... Se era eu que o satisfazia. Meu Deus! Que estou fazendo?

HÉLIO: - Desabafando. 

VIRGÍNIA: - Muitas dúvidas irão surgir... E isso é compreensivo. 

HÉLIO: - Mas nunca duvida. Ele te amava.

VIRGÍNIA: - E sou testemunha.

JÚNIOR: - Será que alguém desconfiou. Sinto muito... Não consegui segurar...

HÉLIO: - Dói muito perder alguém.

VIRGÍNIA: - Mas creio que ninguém percebeu nada.

HÉLIO: - Mas aquele detetive não tirou o olho de você.

JÚNIOR: - Detetive?

HÉLIO: - É. O que está investigando a morte de Marcos.

VIRGÍNIA: - Mas é natural. Não olhou só para você. Parecia vigiar a todos. 

JÚNIOR: - Não sei o que fazer...

HÉLIO: - Com que?

VIRGÍNIA: - Com nossas coisas, nosso apê.

VIRGÍNIA: - Meu querido... Não é hora de pensar nisso. Amanhã você pensa nisso. Agora procure descansar.

JÚNIOR: - Não quero incomodar.

HÉLIO: - Incomodo algum.

VIRGÍNIA: - Pode ficar aqui o tempo que for preciso.

JÚNIOR: - Obrigado! Nem sei como agradecer.

HÉLIO: - tomando um belo de um banho e descansando.

JÚNIOR: - Há se todos tivessem a felicidade de ter amigos como vocês.

HÉLIO: - Amizade é uma conquista. E nossos sentimentos são recíproca. 

JÚNIOR: - Vou tomar uma ducha!

HÉLIO: - Vou pegar uma roupa pra você. (Sai)

VIRGÍNIA: - Se quiser conversar... Não se acanhe.

JÚNIOR: - Obrigado! Agora preciso de um banho. (Sai)

HÉLIO: - Já foi?

VIRGÍNIA: - Já. Estou preocupada.

HÉLIO: - Por que?

VIRGÍNIA: - Aquele detetive. Não tirou o olho do Júnior.

HÉLIO: - Que acha?

VIRGÍNIA: - Que vai revirar a vida do marcos de cabeça pra baixo e vai acabar chegando no Junior.

HÉLIO: - Será que terão Junior como suspeito?

VIRGÍNIA: - Embora eu espere que não... Mas já pensei nessa possibilidade. Marcos traiu o Júnior... E isso é considerável.

HÉLIO: - Nem lembrava deste fato.

VIRGÍNIA: - Traição. Pra polícia, é motivação para se cometer um crime.

HÉLIO: - Mas Junior não é capaz de matar uma mosca.

VIRGÍNIA: - A psicologia diz que amor e ódio, andam juntos. E o ciúme é capaz de nos motivar a fazer coisas que até o diabo duvida.

HÉLIO: - Que balaio de gato!

VIRGÍNIA: - E só está começando. Vamos vê se precisa de alguma coisa. (Saem)

ATO II – CENA X

(Na redação)

TÁRCIO: - E então o que temos?

MÔNICA: - Ei calma! Agente chega lá.

TÁRCIO: - Nosso chefinho tá daquele jeito... Uma pilha!

MÔNICA: - Uma pilha, estou eu.

TÁRCIO: - É hoje!

MÔNICA: - Você viu a primeira página?

TÁRCIO: - Não.

MÔNICA: - Então veja!

TÁRCIO: - Daqui... Que merda é essa?

MÔNICA: - Filho da puta! Abafou caso.

TÁRCIO: - Não... Não posso acreditar. Então... Não. É muito louco!

MÔNICA: - Louco? Não. Corrupção. Nosso chefe se vendeu.

TÁRCIO: - Será?

MÔNICA: - Como explicar isso? Merda! Descartou minha matéria.

TÁRCIO: - Quem sabe foi ameaçado.

MÔNICA: - Não. As coisas hoje em dia são bem diferentes. A imprensa tem muito mais força. Mas se pensa que vai ficar assim...

TÁRCIO: - Que vai fazer?

MÔNICA: - Me aguarde... Quem viver verá.

TÁRCIO: - Não vai fazer besteira.

MÔNICA: - Não. Agora vou a fundo. Vou investigar este caso até chegar nos culpados.

TÁRCIO: - Não sei por que, mas sinto cheiro de confusão.

MÔNICA: - Confusão ou não... Agora é pessoal.

TÁRCIO: - Se realmente ele foi comprado... Não vai publicar os resultados de suas investigações.

MÔNICA: - Já ouviu falar em blog?

TÁRCIO: - Ai! Já vi gente morrer por publicar sujeiras dos outros em blog.

MÔNICA: - Sou jornalista investigativa. E ser jornalista investigativa tem seus perigos.

TÁRCIO: - Desiste disso mulher!

MÔNICA: - Não. Vamos a campo.

TÁRCIO: - Como assim?

MÔNICA: - Eu fico com a polícia... Você volta aquela mata...

TÁRCIO: - No parque?

MÔNICA: - Meu bem. O que eles querem não tenho.

TÁRCIO: - Hei...

MÔNICA: - Usa esse corpinho em prol do nosso sucesso.

TÁRCIO: - Que amiga! Se tiver um assassino psicopata que extermina gays?!

MÔNICA: - Então você não corre este risco. Você é macho! (Riem) Agora vai.

TÁRCIO: - Que me pede rindo que não faço chorando? 

MÔNICA: - Vamos... Vamos nessa! (Saem)

ATO II – CENA XI

TÂNIA: - Onde esteve?

EDINALDO: - Cuidando de negócios.

TÂNIA: - Que tipo de negócios?

EDINALDO: - Ah, pelo amor de Deus! Não vai começar...

TÂNIA: - Me desculpe! Estou com os nervos a flor da pele. (Abraça)

EDINALDO: - Eu sei meu bem.

TÂNIA: - (Sente um perfume diferente no marido) Que perfume é este?

EDINALDO: - Perfume... Que perfume?

TÂNIA: - Este perfume que está empreguinado em sua roupa.

EDINALDO: - O de sempre.

TÂNIA: - Não. Conheço bem seu perfume. E não é este.

EDINALDO: - Ah, não começa.

TÂNIA: - Não me trate como seu eu fosse idiota.

EDINALDO: - Então não haja como se fosse.

TÂNIA: - Estou cansada.

EDINALDO: - Imagina eu... Acha que é fácil suportar...

TÂNIA: - Suportar o que?

EDINALDO: - Tudo isto... Inclusive este casamento.

TÂNIA: - É um fardo pra você?

EDINALDO: - Não torne esse fardo mais pesado.

TÂNIA: - Por que ainda está aqui?

EDINALDO: - Sabe bem por que.

TÂNIA: - Nunca me amou.

EDINALDO: - Você é paranoica.

TÂNIA: - Sempre com essas vagabundas...

EDINALDO: - Por que será?

TÂNIA: - Por que sou tola... Fraca. Não consigo viver sem você. Mesmo sabendo de toda suas aventuras... Esperando suas migalhas... Por amá-lo.

EDINALDO: - Então se contente com que tem. Agora preciso tomar um banho. (Sai)

TÂNIA: - Canalha!

 

O CORPO (ATO III)

 ATO IIIo corpoteatro

ATO III – CENA I


PENELOPE: - Hei gato!? Vem sempre aqui?

TÁRCIO: - De vez em quando.

PENELOPE: - Engraçado! Conheço todos. Nunca te vi aqui.

TÁRCIO: - É que dou sempre uma passada rápida.

PENELOPE: - Ah, entendi. É daqueles que curti só uma rapidinha. (Pega na genitália dele) Nossa! Que mala!

TÁRCIO: - Ah!

PENELOPE: - Que foi? 

TÁRCIO: - Sou tímido.

PENELOPE: - Sei como acabar com qualquer timidez. Faço uma gulosa como ninguém! E ai?

TÁRCIO: - O que?

PENELOPE: - Que procura?

TÁRCIO: - Vendo o movimento.

PENELOPE: - Só vendo? Pra que só vê se pode fazer... Você é um cara muito interessante.

TÁRCIO: - Obrigado. Mas só quero no momento... Ficar olhando.

PENELOPE: - Não sabe o que esta perdendo. Então?

TÁRCIO: - O que?

PENELOPE: - Que curte?

TÁRCIO: - Natureza.

PENELOPE: - Ishi! Sou quase natural. Algumas pequenas mudanças. Ativo ou passivo?

TÁRCIO: - Que?

PENELOPE: - Come ou dá? Já sei... Compreensivo. Total flex.

TÁRCIO: - Aqui é calmo né?

PENELOPE: - É. As vezes o bicho pega. Que foi? Tá com medo?

TÁRCIO: - Medo? Não.

PENELOPE: - Então... Que quer fazer?

TÁRCIO: - Eu?

PENELOPE: - Você.

TÁRCIO: - Eu...

PENELOPE: - O que decidir eu topo.

TÁRCIO: - É que...

PENELOPE: - Já sei. Está esperando alguém.

TÁRCIO: - É. Estou.

PENELOPE: - Namorado?

TÁRCIO: - Não.

PENELOPE: - Então tenho chance.

TÁRCIO: - Mais ou menos. Estamos nos conhecendo.

PENELOPE: - Se conhecendo aqui? Hum! Bafon... Sabe, te achei uma graça. 

TÁRCIO: - Aqui é sempre assim tão calmo?

PENELOPE: - Que nada. Geralmente aqui ferve. Mas como teve uma morte recentemente...

TÁRCIO: - Morte?

PENELOPE: - Mataram um carinha. As bibas estão todas receosas.

TÁRCIO: - E como esse cara foi morto?

PENELOPE: - O gayzinho fazia a alegria de muita gente aqui... Passava o rodo geral

TÁRCIO: - Você o conhecia?

PENELOPE: - Só de vista.

TÁRCIO: - Por que acha que o matara?

PENELOPE: - Sei lá... Também meu bem, nem quero saber. 

TÁRCIO: - Mas era conhecido?

PENELOPE: - Oh! Muito.

TÁRCIO: - Você o conhecia?

PENELOPE: - Na verdade sim.

TÁRCIO: - Então você ficou muito abalado.

PENELOPE: - Abalada. No dia que ele morreu ainda conversamos um pouco.

TÁRCIO: - É? E sobre o que conversaram?

PENELOPE: - Homens, meu bem. Necas! O casinho dele é uma graça.

TÁRCIO: - Então ele tinha um caso?

PENELOPE: - Ôh! De anos.

TÁRCIO: - O caso dele também frequentava aqui?

PENELOPE: - Não. O coitado nem desconfiava.

TÁRCIO: - Você conhece o caso dele?

PENELOPE: - Hei? Que interesse é esse no falecido? Você é da polícia?

TÁRCIO: - Não... Não. Claro que não. Só curiosidade.

PENELOPE: - Ah, que bom! Que susto.

TÁRCIO: - É que fiquei curioso.

PENELOPE: - Ih! Vai chover...

TÁRCIO: - Que pena.

PENELOPE: - Vem comigo...

TÁRCIO: - Pra onde?

PENELOPE: - Moro aqui próximo. Vem...

TÁRCIO: - Não sei.

PENELOPE: - Hei cara. Só um pouco.

TÁRCIO: - É... Um pouco. 

PENELOPE: - Não vai tirar nenhum pedaço.

TÁRCIO: - Então tá.

PENELOPE: - Venha.

TÁRCIO: - Seja lá o que Deus quiser.

ATO III – CENA III

EDNALDO: - Escuta. Ouve bem que vou lhe dizer... Não estou mais suportando... Está demais pra mim...

TÂNIA: - Que está querendo dizer?

EDNALDO: - Que qualquer dia desses não suportarei mais, ai...

TÂNIA: - Ai?

EDNALDO: - Você deverá se preocupar.

TÂNIA: - Não estou entendo.

EDNALDO: - Não de se estranhar.

TÂNIA: - Não zombe de mim.

EDNALDO: - Mimada. Isso que você é.

TÂNIA: - Não. Sou a sua tábua de salvação. Se não fosse por mim não seria o que é.

EDNALDO: - Você não passa de uma pobre menina rica... Menina não. Já deixou de ser a muito tempo. Agora não passa de uma velha esquizofrênica. 

TÂNIA: - Que vai fazer?

EDNALDO: - Me dá nojo ficar aqui olhando pra essa tua cara de pobre coitada.

TÂNIA: - Perdão amor, perdão! Você está certo. Tem toda razão. Tem acontecido tanta coisa... Acho que a morte do meu irmão tem me deixado assim, com os nervos a flor da pele. 

EDNALDO: - Tenho pena de você.

TÂNIA: - Vou melhorar. Juro!

EDNALDO: - Você é doente.

TÂNIA: - Serei boazinha... Como sempre fui.

EDNALDO: - Te enxerga... (A pega pelo braço e a leva para o espelho) Olha pra você. Se veja. Olha a que ponto chegou. Você é ridícula.

TÂNIA: - Me sinto tão carente. Mas, prometo... Vou melhorar.

EDNALDO: - Vou embora desta casa.

TÂNIA: - se sair por esta porta... Me mato! Eu me mato.

EDNALDO: - Louca.

TÂNIA: - Sim... Sou louca. Louca por você. Não sei viver sem você.

EDNALDO: - Vou dormir no quarto de hospedes.

TÂNIA: - Não... Por favor, fique. Não me deixe sozinha.

EDNALDO: - Estou cansado. 

TÂNIA: - Amor...

EDNALDO: - Tânia, não piore as coisas. (Sai)

TÂNIA: - Meu Deus! Que foi que eu fiz?

ATO III – CENA IV

PENELOPE: - Hei gato... Entra.

TÁRCIO: - Obrigado.

PENELOPE: - Ah, me parece tão tenso... Relaxa gato!

TÁRCIO: - Tô bem.

PENELOPE: - Hum, é tímido! Sabe que gosto... Os tímidos na cama são...

TÁRCIO: - Tem água?

PENELOPE: - Água? Claro. Só um pouquinho... (Sai)

TÁRCIO: - Ah, meu Deus! Que enrascada.

PENELOPE: - Aqui está gato.

TÁRCIO: - Você disse que conhecia o cara que morreu no parque...

PENELOPE: - Pois é menino! Que pena! Um desperdiço. Que pedaço!

TÁRCIO: - Você o viu no dia que...

PENELOPE: - Hei... Espera ai... Você não é da polícia não é?

TÁRCIO: - Claro que não. Só tô começando...

PENELOPE: - É?

TÁRCIO: - É temos que ter certos cuidados...

PENELOPE: - Coitado. Sempre ia lá. Nessa dia o vi com um cara bonito, musculoso. Então pensei: Que cara de sorte! Ah, eu no meio daqueles dois pedaços!

TÁRCIO: - Você acha que foi esse cara?

PENELOPE: - Não. Esse cara vive lá. É um tremendo pegador. Só escolhes os tops. Agente meu bem, vê com os olhos e lambe com a testa.

TÁRCIO: - E depois?

PENELOPE: - Vamos mudar de assunto? Vamos falar de você.

TÁRCIO: - Eu?

PENELOPE: - É.

TÁRCIO: - Como lhe disse. Levei bolo.

PENELOPE: - Mais ficou com o docinho aqui. E por sinal, bem recheado.

TÁRCIO: - Bom, acho que chegou minha hora.

PENELOPE: - Mas já?

TÁRCIO: - Pois é.

PENELOPE: - E vai me deixar aqui, assim?

TÁRCIO: - Eu volto outro dia.

PENELOPE: - Já sabe o caminho.

TÁRCIO: - Então até... logo...

PENELOPE: - Até. Puta que pariu... Que bunda!

ATO III – CENA V

(Na mansão)

TERESA: - Nossa! Dona Mara está arrasada.

SELMA: - Também não é pra menos.

TERESA: - Como Dona Marisa é diferente de dona Tânia.

SELMA: - As duas juntas não valem uma. Deus me livre, nunca vi uma família tão complicada quanto esta!

TERESA: - Acho seu Edinaldo tão frio com a mulher.

SELMA: - Não viu nada!

TERESA: - Por que?

SELMA: - Um cafajeste. Faz da coitada, gato e sapato. O que segura este casamento, é a grana. 

TERESA: - Será?

NANCI – Estão ai... 

TERESA: - Sim senhora.

NANCI: - Fazendo futrica.

TERESA: - Aconteceu mais alguma coisa Nanci?

NANCI: - Menina, vira essa boca pra lá.

TERESA: - Do jeito que as coisas andam nesta casa... Se eu fosse dona Mara, mandava era tirar um ebô!

NANCI: - Mas graças a Deus não é. Bom, seu Egídio pediu pra avisá-las que, como vocês trabalham na casa, assim como os demais empregados, serão convocados para depor.

TERESA: - Tenho que ir na delegacia?

SELMA: - Nunca nem passei na porta de uma.

TERESA: - Mas por que nós?

SELMA: - Por nós sabemos muito... Empregados sempre sabem de coisas... Já vi num filme.

TERESA: - Temos que dizer o que sabemos?

NANCI: - Muito pelo contrário meninas. Vão dizer apenas que como funcionários nosso contato com a família é apenas profissional, e não nos envolvemos na pessoal de nossos patrões. 

TERESA: - Temos que mentir?

NANCI: - Não. Apenas omiti. Não sei, não vi e não ouvi nada. Entenderam?

SELMA: - Sim senhora.

TERESA: - E o delegado vai engolir isto?

NANCI: - Você sabe de algo que não sabemos?

TERESA: - Eu? Não... Claro que não. Não senhora...

NANCI: - Foi o que pensei. Também não se esqueçam que está cheio de jornalistas lá fora... Então, não falem mais do que devem. Agora voltem a seu trabalho. (Saem)

ATO III – CENA VI

MARINA: - Teresa...

TERESA: - Ai! Que susto! Assim você me mata, Marina.

MARINA: - Preciso de um favor seu.

TERESA: - Pode falar.

MARINA: - Me empresta cinquenta reais.

TERESA: - Fala sério! É brincadeira, né? Mesmo por que se eu tivesse cinquentinha, tava rica.

MARINA: - Me dá o que você tem.

TERESA: - Um real, serve?

MARINA: - Tá brincando.

TERESA: - Sério. Pra que a senhora quer esse dinheiro?

MARINA: - Pagar uma dívida.

TERESA: - No que a senhora se meteu?

MARINA: - Um caras ai...

TERESA: - Cuidado dona Marina... Essa gente é perigosa.

MARINA: - Por isso que tô te pedindo.

TERESA: - Então por que a senhora não pede a seu pai? Pra ele isso não é nada.

MARINA: - Jamais me daria. Pensaria que é pra comprar...

TERESA: - E não é?

MARINA: - Tô limpa. Faz um mês. Um mês. Tô limpa!

TERESA: - Olha aqui Marisa... Não nasci ontem. Dá pra perceber que você tá na maior fissura.

MARINA: - Você é igual a todo mundo... Igualzinha! Oh... Mas fica esperta, tá?! (Sai)

TERESA: - Essa não tem jeito.

ATO III – CENA VII

LUDIMILA: - Filhinha... Olha que chegou...

ISABEL: - Que?

LUDIMILA: - Uma intimação.

ISABEL: - Intimação?

LUDIMILA: - Temos que comparecer a delegacia para depor.

ISABEL: - Mas por que?

LUDIMILA: - Como por que? Você era noiva do Marcos.

ISABEL: - E?

LUDIMILA: - E... Se fosse mais esperta teria subido ao alta com ele, e agora meu bem, você seria uma jovem, bela e rica viúva.

ISABEL: -Não começa mãe.

LUDIMILA: - Se pelo menos tivesse engravidado... Teria garantido o teu futuro.
garantido o teu futuro.

ISABEL: - Não sou obrigada a ouvi tantas asneiras...

LUDIMILA: - Era só ter um filho e pronto.

ISABEL: - Como você fez com meu pai?

LUDIMILA: - Não diga bobagem. Não seja injusta. Amava seu pai.

ISABEL: - Todo mundo sabe o que lhe interessava no meu pai...

LUDIMILA: - Não diga o que não sabe.

ISABEL: - Mas deu tudo errado né? Ele faliu. 

LUDIMILA: - É o que recebo por lhe dar o melhor...

ISABEL: - Não adianta tentar jogar a culpa de seus devaneios em cima de mim. Não vou me sentir culpada. Não sou e jamais serei como você, uma alpinista social. (Bofetada)

LUDIMILA: - Meças suas palavras... Não admito que fale assim comigo. Que sempre quis é o seu bem.

ISABEL: - Me jogando nos braços de qualquer homem que tenha a conta bancaria maior que seu caráter.

LUDIMILA: - Não despeje em mim, seu fracasso minha filha.

ISABEL: - Fracasso?

LUDIMILA: - É... Fracasso.

ISABEL: - Do que está falando?

LUDIMILA: - Vamos parar por aqui... Se não vamos entrar em um terreno muito perigoso.

ISABEL: - Tarde demais. Agora, fale.

LUDIMILA: - Não. Melhor não.

ISABEL: - Não tem coragem... A verdade dói né? 

LUDIMILA: - Cala a boca. 

ISABEL: - O que há de errado com você?

LUDIMILA: - Ao contrário do que você pensa, nunca tive nada de mãos beijadas.

ISABEL: - Por isso precisava se vender?

LUDIMILA: - Que disse?

ISABEL: - Todo mundo sabe... Não se casou por amor. 

LUDIMILA: - Amor? Que sabe de amor? Não se iluda menina... Só os tolos acreditam em amor. Resisti as dificuldades do dia-a-dia. Queria vê você se entregar a um homem que não é capaz de lhe dar nem o básico, viver uma vida de privações. Sorrir com estomago vazio, roncando de fome. Amor? O que é o amor com o bolso vazio, sem mesmo alguns centavos para comprar um pãozinho...

ISABEL: - Amava o Marcos. Não me importava sua fortuna. Por esse amor seria capaz de qualquer coisa.

LUDIMILA: - Grande coisa. Lhe trocou por um...

ISABEL: - Como você é má. Você é cruel. 

LUDIMILA: - A vida é cruel.

ISABEL: - Nada está provado. É só especulação.

LUDIMILA: - O pior cego é aquele que não quer enxergar.

ISABEL: - Por que? Por que mãe... Por que fez isso comigo? (Chora)

LUDIMILA: - Sinto muito filhinha! Mamãe está aqui.

ISABEL: - Eu o amava mãe.

LUDIMILA: - Eu sei meu anjo. 

ISABEL: - E agora?

LUDIMILA: - O tempo não volta... Mas podemos reparar.

ISABEL: - Que?

LUDIMILA: - Temos que dá um jeito...

ISABEL: - Do que está falando agora?

LUDIMILA: - Não podemos sair de mãos abanando dessa história.

ISABEL: - Mãe...

LUDIMILA: - Descanse filha. Deixa tudo com a mamãe. Eu cuidarei de você. (Saem)

ATO III – CENA VIII

EGÍDIO: - Ednaldo...

EDINALDO: - Senhor.

EGÍDIO: - Temos que abafar o caso...

EDINALDO: - Sei disso senhor...

EGÍDIO: - Não podemos deixar essa história vazar.

EDINALDO: - Seria um grande escândalo.

EGÍDIO: - Aqui reportezinha de quinta! Cada vez chega mais perto da verdade.

EDINALDO: - Isto seria muito ruim para sua campanha.

EGÍDIO: - Temos que convencer esta mulherzinha insolente a desistir de publicar o que sabe sobre o caso.

EDINALDO: - Suborno?

EGÍDIO: - Se for preciso.

MARA: - Por que subornar alguém para não contar a verdade?

EGÍDIO: - Mara?

MARA: - Perdão! Foi inevitável ouvir a conversa.

EDINALDO: - Com licença. (Sai)

MARA: - O que esta escondendo de mim Egidio?

EGÍDIO: - Eu... Escondendo? Nada, nada...

MARA: - Não me traga como idiota. Não subestime minha inteligência...

EGÍDIO: - Não querida...

MARA: - Chega Egídio. Que mesmo que eu descubra a verdade através dos jornais?

EGÍDIO: - De que verdade você esta falando?

MARA: - A verdade que me esconde. O que realmente aconteceu com meu filho?

EGÍDIO: - Mara...

MARA: - Vai continuar mentindo pra mim?

EGÍDIO: - Não. Que mesmo saber?

MARA: - Quero.

EGÍDIO: - Nosso filho foi assassinado.

MARA: - Já imaginava. 

EGÍDIO: - Foi isso.

MARA: - Por que?

EGÍDIO: - A polícia continua...

MARA: - Não me venha com essa baboseira de que estão investigando. Você sabe muito mais que isso...

EGÍDIO: - Seu filho eu um pederasta, estava naquele lugar se encontrando com outros homens...

MARA: - Outros homens?

EGÍDIO: - Para praticar sexo... 

MARA: - Não pode ser...

EGÍDIO: - Vê por que não queria que soubesse? É vergonhoso para nossa família.

MARA: - Por que o mataro?

EGÍDIO: - Isso ainda não sabemos.

MARA: - Estava noivo.

EGÍDIO: - Sempre foi contra. Este noivado aceitou só de fachada.

MARA: - Não faz sentido.

EGÍDIO: - Sei que é um choque. Mas tem que aceitar os fatos por piores que sejam... Ainda descobriremos muito mais... Coisas que serão difíceis aceitar.

MARA: - Por que nunca nos disse?

EGÍDIO: - Por que é vergonhoso.

MARA: - Era meu filho.

EGÍDIO: - Mas está morto. E nós temos que prosseguir. Almoça comigo?

MARA: - Não me sinto bem. Quero ir pra casa.

EGÍDIO: - Pedirei ao nosso motorista para leva-la. 

MARA: - Obrigado! (Saem)

ATO III – CENA XI

(Num bar)

RODRIGUES: - Pensei que não viesse...

MÔNICA: - Espero não me arrepender.

RODRIGUES: - Tenho certeza que não se arrependerá.

MÔNICA: - O que tem pra mim?

RODRIGUES: - Hei, calma! Relaxa.

MÔNICA: - Não acha que só por que vim até aqui vai conseguir levar pra cama...

RODRIGUES: - Que pensamento fértil!

MÔNICA: - Não é atoa que sou jornalista.

RODRIGUES: - Sabe que não é uma má ideia.

MÔNICA: - Péssima!

RODRIGUES: - Ao menos um drink você bebe comigo...

MÔNICA: - Não bebo em serviço.

RODRIGUES: - Não estamos em serviço.

MÔNICA: - Eu estou. Preciso finalizar esta matéria o quanto antes.

RODRIGUES: - Não tem medo?

MÔNICA: - Na minha profissão não há espaço para medos...

RODRIGUES: - Está mexendo com gente graúda.

MÔNICA: - Me interesso pela verdade. E é isso que pretendo publicar.

RODRIGUES: - E por isso seria capaz de qualquer coisa...

MÔNICA: - Menos ir pra cama com você.

RODRIGUES: - Sou tão repugnante assim?

MÔNICA: - Sinceramente? Não. Mas não confundo trabalho com diversão.

RODRIGUES: - Então tenho uma chance?

MÔNICA: - Quem sabe!

RODRIGUES: - O rapaz tinha um relacionamento.

MÔNICA: - Disso eu já sei. Aliás, dois. 

RODRIGUES: - Já tenho o endereço do cara com quem o defunto se relacionava.

MÔNICA: - Isso é bom. É quente?

RODRIGUES: - Quentíssimo!

MÔNICA: - Então me passa...

RODRIGUES: - Que recebo em troca?

MÔNICA: - Quanto vale?

RODRIGUES: - Apenas um beijo teu.

MÔNICA: - Isso é golpe baixo.

RODRIGUES: - Pegar ou largar.

MÔNICA: - No rosto.

RODRIGUES: - Sendo assim... Rasgo no meio...

MÔNICA: - Não! Tá bom... Eu beijo...

RODRIGUES: - Ótimo. (Ela o beija) Nossa! Que frio. Por um instante pensei que estivesse beijando um cadáver.

MÔNICA: - Queria o que meu bem, um beijo apaixonado?

RODRIGUES: - Não... No mínimo caloroso. 

MÔNICA: - O endereço...

RODRIGUES: - Acho bom caprichar! (Ela o beija)

MÔNICA: - Satisfeito?

RODRIGUES: - É... Não foi o que eu imaginava, mas já é um começo... (Entrega o papel) Aqui...

MÔNICA: - Valeu!

RODRIGUES: - Hei... Boa noite pra você também...

MÔNICA: - Boa! (De longe)

RODRIGUES: - Ainda te pego de jeito! (Bebe e sai)

ATO III – CENA X

(Na mansão)

SELMA: - Bom dia...

LUDIMILA: - Preciso falar com Mara.

SELMA: - Perdão senhora. Mas Dona Mara não está.

LUDIMILA: - Não tem problema eu espero.

SELMA: - Mas senhora...

LUDIMILA: - Que faz ai parada? Sirva-nos alguma coisa...

NANCÍ: - O que está acontecendo aqui Selma?

ISABEL: - Desculpe-nos Nanci, já estamos de saída. Vamos mamãe?

LUDIMILA: - Engano seu filhinha. Viemos conversar com Mara...

NANCÍ: - Dona Mara não está.

LUDIMILA: - Sendo assim... Não vejo outra opção, a não ser esperar.

NANCÍ: - Creio que não seja uma boa idéia.

LUDIMILA: - Você não é paga pra crer e sim pra obedecer. Por tanto se ponha na sua condição de...

ISABEL: - Mamãe!

LUDIMILA: - Empregada. E como boa empregada que deva ser. Peça a sua subordinada para nos servir um drink.

NANCÍ: - Como boa empregada... Só sigo ordens dos meus patrões. E só não peço para os seguranças lhe arrastarem daqui pra fora em respeito a sua filha que é um doce. 

LUDIMILA: - escute aqui sua insolente...

ISABEL: - Mamãe, chega!

NANCÍ: - Se deseja espera... Que espere. Vamos Selma. (Saem)

ISABEL: - Que desagradável mamãe.

LUDIMILA: - Essa empregadinha má educada não perde por esperar... Deixa você entrar de vez pra essa família.

ISABEL: - Não viaja mãe. Acabou! Será que não percebeu? Marcos está morto.

LUDIMILA: - Escuta aqui sua imbecil... Eu falo, você fica calada. Vê se não estraga tudo. 

ISABEL: - Que está planejando desta vez?

LUDIMILA: - O teu futuro.

ISABEL: - Não vou ficar aqui pra presenciar esse circo de horrores...

LUDIMILA: - Melhor mesmo. Vá... Em casa conversamos.

ISABEL: - Nancí?

NANCI: - Senhora?

ISABEL: - você pode abrir a porta pra mim?

NANCI: - Sim senhora. (Isabel sai. Voltando, campanhia toca) Dona Mara... Ludimila esta a sua espera.

LUDIMILA: - Mara querida!

MARA: - Como vai?

LUDIMILA: - Melhor agora...

MARA: - Pena que não estou em condições de lhe dar atenção minha querida...

LUDIMILA: - Há que pena! Pois o assunto que me trás aqui é muito importante...

MARA: - Em outro momento.

LUDIMILA: - O sobre o Marcos.

MARA: - Meu filho?

LUDIMILA: - Sim. Tenho boas novas...

MARA: - Não entendi.

LUDIMILA: - Vamos ser avós.

MARA: - Que?

LUDIMILA: - Isso mesmo! Não é maravilhoso? Isabel está grávida.

MARA: - Grávida?

LUDIMILA: - É grávida. 

MARA: - Não entendo...

LUDIMILA: - Como não? Cinco anos de namoro... 

MARA: - Então, meu filho ia ser pai?

LUDIMILA: - Exatamente. Estou tão radiante! Isabel se sentiu mal, então a levei ao hospital e o médico confirmou... Claro que é bem recente. Mas de certo modo, Marcos continuará entre nós através deste filho.

MARA: - Estou surpresa.

LUDIMILA: - Também fiquei. Mas confesso, estou feliz.

MARA: - Meu filho... Ia ser pai.

LUDIMILA: - Achei que tinha que lhe dar esta notícia...

MARA: - Vez bem. E Isabel?

LUDIMILA: - Sentiu-se mal. Então achei melhor que fosse pra casa. Sabe como é... Gravidez, no começo... Indisposição, enjoo... Bem mas agora que lhe dei a notícia, deixa eu ir... Isabel precisa dos meus cuidados.

MARA: - Isabel terá toda assistência que precisar...

LUDIMILA: - Quanto a isso, não tenho nenhuma dúvida. Beijos querida!

MARA: - Nanci, acompanhe-a... (Ludimila sai) Isabel grávida!

NANCI: - Senhora acredita nesse mulher?

MARA: - Você não?

NANCI: - Essa mulher é tinhosa. Capaz de tudo pra se dar bem.

MARA: - Até mesmo articular uma história como essa?

NANCI: - Ela é capaz de coisas que até o diabo duvida.

MARA: - Se for uma invenção, será logo desmascara.

NANCI: - isso lhe trouxe esperança.

MARA: - Filho do meu filho!

NANCI: - Se fosse a senhora pedia DNA.

MARA: - Não tenha dúvida. Egídio irá exigir.

NANCI: - Certo ele. Nessa gente não dá pra confiar.

MARA: - Vou para meu quarto. Estou um pouco indisposta.

NANCI: - Se precisar de alguma coisa... 

MARA: - Obrigada, minha querida. (Saem)

ATO III – CENA XI

(Na delegacia)

RODRIGUES: - O senhor mandou me chamar?

NILTON: - Sim... Veja.

RODRIGUES: - Que é?

NILTON: - O laudo definitivo.

RODRIGUES: - Então... A causa da morte... Algo perfurante, possível material ponte agudo de superfície plástica. Suposto assassino canhoto...

NILTON: - Exatamente. Isso elimina muitos suspeitos.

RODRIGUES: - Quando começamos a ouvir a família e amigos?

NILTON: - A partir de amanhã.

RODRIGUES: - Ótimo. Mas o que vamos fazer quando descobrir a verdade?

NILTON: - O que tem que ser feito.

RODRIGUES: - Arquivar o processo?

NILTON: - Exatamente. Há muitos interesses por trás desse caso.

RODRIGUES: - Entendi. Mas se tudo deve ficar como está, porque ouvi as testemunhas?

NILTON: - Seguir protocolos, meu caro. 

RODRIGUES: - Frustrante!

NILTON: - É a lei do poder. Manda quem pode, obedece quem é inteligente.

RODRIGUES: - Com licença.

NILTON: - Toda.

ATO III – CENA XII

(Mônica vai a casa de Júnior)

MÔNICA: - Olá...

JÚNIOR: - Posso ajuda-la?

MÔNICA: - Creio que sim. Há, sou Mônica...

JÚNIOR: - Nos conhecemos?

MÔNICA: - Ainda não. Posso entrar?

JÚNIOR: - Claro.

MÔNICA: - Obrigada. Aconchegante seu ap.

JÚNIOR: - Obrigado.

MÔNICA: - Você e o Marcos?

JÚNIOR: - Você o conhecia?

MÔNICA: - Infelizmente só conheci, depois de morto.

JÚNIOR: - Você é dá polícia?

MÔNICA: - Não. 

JÚNIOR: - Então o que quer?

MÔNICA: - Apenas conversar com você...

JÚNIOR: - Conversar? Não entendo...

MÔNICA: - Júnior... Como sabe, será investigado... A polícia já sabe de sua ligação com o Marcos...

JÚNIOR: - Quem é você?

MÔNICA: - Hei, calma. Sou apenas uma jornalista investigativa...

JÚNIOR: - Não tenho nada a lhe dizer. Por favor saia.

MÔNICA: - Sabe que será um dos suspeitos...

JÚNIOR: - Não.

MÔNICA: - Você e Marcos estavam juntos a quanto tempo?

JÚNIOR: - Não é da sua conta.

MÔNICA: - Posso lhe ajudar.

JÚNIOR: - Não preciso de sua ajuda.

MÔNICA: - Acha mesmo que a família do Marcos vai aceitar sua versão numa boa?

JÚNIOR: - Não me interessa a opinião deles. Nunca me interessou.

MÔNICA: - Meu caro, você será o primeiro suspeito... Vão deduzir que ele queria cair fora e você não aceitando poderia ter o matado.

JÚNIOR: - Isso não é verdade. Estávamos muito bem.

MÔNICA: - Mesmo?

JÚNIOR: - Ele iria acabar o noivado e vinha morar comigo.

MÔNICA: - Então amam-se de verdade.

JÚNIOR: - Claro. Só não estávamos morando juntos por causa da família. Marcos tinha medo que descobrissem e esse escândalo acabasse interferindo na vida pública do pai.

MÔNICA: - Então sacrificava-se pela família.

JÚNIOR: - A família era tudo pra ele.

MÔNICA: - E você aceitava numa boa ser colocando em segundo plano?

JÚNIOR: - Nunca fui posto em segundo plano. Os momentos que tínhamos juntos eram plenos. Eu era amado tanto quanto amava.

MÔNICA: - acho bonito isso. Imagino o quanto era difícil pra você dividir o homem que amava com uma mulher.

JÚNIOR: - Tranquilo. Eles não tinham intimidades.

MÔNICA: - Você está me dizendo que eles não transavam?

JÚNIOR: - Exatamente.

MÔNICA: - Então, era um noivado de fachada?

JÚNIOR: - Não exatamente.

MÔNICA: - Como assim?

JÚNIOR: - Ela não sabia que ele era gay.

MÔNICA: - Então, ela era enganada.

JÚNIOR: - Não sei, acho que queria se enganar. Cinco anos... E nada.

MÔNICA: - Tem casal que quer se preservar até o casamento.

JÚNIOR: - Fala sério! Só cego não vê o que é obvio!

MÔNICA: - Como soube da morte?

JÚNIOR: - Notícia ruim corre rápido. Vi na teve.

MÔNICA: - deve ter sido um golpe duro.

JÚNIOR: - Foi. Mas o pior é ir aquele velório e não poder me despedir dele como o grande amor da minha vida.

MÔNICA: - Percebi teu sofrimento... Confesso que estranhei.

JÚNIOR: - Está sendo muito duro continuar sem ele.

MÔNICA: - ele que o mantinha?

JÚNIOR: - Não. Trabalho. Vivo do meu trabalho. Construímos isto juntos.

MÔNICA: - Bom gosto.

JÚNIOR: - Vai escrever sobre ele?

MÔNICA: - Pretendo.

JÚNIOR: - Sabe que se falar sobre nós... Destruirá a imagem que a sociedade tem sobre ele.

MÔNICA: - Prefere que esta vida de mentirinha que ele criou em torno de vocês permaneça?

JÚNIOR: - Muitos sofrerão com a verdade.

MÔNICA: - E sua dor, não importa?

JÚNIOR: - Posso lidar com ela.

MÔNICA: - Por que você acha que o mataram?

JÚNIOR: - Não sei. Não faço ideia. Marcos era gente boa, pacato, não tinha inimigos.

MÔNICA: - você tem certeza que a noiva e a família dele não sabiam de nada?

JÚNIOR: - Pelo menos, acho que não.

MÔNICA: - Obrigado por conversar comigo.

JÚNIOR: - Mônica...

MÔNICA: - Sim?

JÚNIOR: - Não publica nada, não.

MÔNICA: - Quando for publicar... Te aviso.

JÚNIOR: - É justo.

MÔNICA: - Obrigada por me receber.

JÚNIOR: - Obrigado por ouvir minha versão.

MÔNICA: - Fico feliz que tenha tido uma linda história de amor. 

JÚNIOR: - A mais linda, acredite.

MÔNICA: - Acredito. Bom, bom nessa... Até.

JÚNIOR: - Até. (Sai)

ATO III – CENA XIII

(No apartamento de Ludimila)

ISABEL: - Até que enfim...

LUDIMILA: - A sorte foi lançada.

ISABEL: - Do que está falando? Que você andou aprontando desta vez?

LUDIMILA: - Isso é jeito de se falar com sua mãe? Me prepara um drink.

ISABEL: - Não tem.

LUDIMILA: - Como não?

ISABEL: - Acabou.

LUDIMILA: - Droga! Mas isso é por pouco tempo...

ISABEL: - É? Posso saber por que?

LUDIMILA: - Por que, depois da conversa que tive com Mara...

ISABEL: - Tenho até medo de perguntar o teor desta conversa...

LUDIMILA: - Claro que foi sobre você...

ISABEL: - Eu?

LUDIMILA: - Claro. Tinha que resolver sua situação.

ISABEL: - Que situação.

LUDIMILA: - Filha! Você é viúva de um dos caras mais ricos desta cidade...

ISABEL: - Não sou viúva, não éramos casados.

LUDIMILA: - Mas tem que cuidar do bebê.

ISABEL: - Que bebê?

LUDIMILA: - Deste bebê que esta esperando.

ISABEL: - Ficou louca? 

LUDIMILA: - Não filhinha! Esta é nossa cartada final.

ISABEL: - Não acredito que...

LUDIMILA: - Fique feliz! Você será a mãe do ano.

ISABEL: - Você é louca!

LUDIMILA: - Mara ficou feliz.

ISABEL: - Vou procura-la e desfazer esta história criada por sua cabeça doentia.

LUDIMILA: - Preste atenção... Você vai querer viver uma vidinha medíocre o resto de sua existência. Está é sua única chance...

ISABEL: - Você é louca. Não estou grávida.

LUDIMILA: - Mas pode ficar.

ISABEL: - Que?

LUDIMILA: - Isso não é difícil.

ISABEL: - Não acredito no que estou ouvindo da minha própria mãe.

LUDIMILA: - Quero providenciar o seu futuro...

ISABEL: - Será que você é tão burra? Ainda que eu apareça grávida... Vão pedir teste de DNA.

LUDIMILA: - Isso agente dá um jeito.

ISABEL: - Que jeito?

LUDIMILA: - Compramos um.

ISABEL: - Você é louca. Não farei parte disso.

LUDIMILA: - Fará sim. Me deve isso. Renunciei minha vida por você.

ISABEL: - Não... Não farei. (Sai)

LUDIMILA: - Há, fará. Se fará. Ou não me chamo Ludimila. (Sai)

 

O CORPO (ATO 4)

 ATO 4o corpoteatro

ATO IV – CENA I


(Na redação)

SELMA: - Boa tarde!

TÁCIO: - Boa. Em que posso ajuda-la?

SELMA: - Tenho uma informação bombástica!

TÁCIO: - Não diga! Sobre o que?

SELMA: - Acha que sou trouxa? Vim negociar... 

TÁCIO: - E o que você tem que possa nos interessar?

SELMA: - Você não parece jornalista.

TÁCIO: - E não sou. Sou fotografo.

SELMA: - Quero falar com a Mônica...

TÁCIO: - Posso saber o que?

SELMA: - Sigiloso.

TÁCIO: - Ela é muito ocupada...

SELMA: - Se não quer a informação... Vendo pra outro jornal...

TÁCIO: - Espere. É sobre o corpo encontrado...

SELMA: - Marcos. O corpo tem nome... Marcos!

TÁCIO: - O que sabe sobre ele?

SELMA: - Só falo com essa talzinha...

TÁCIO: - Tá bom... Só um minuto. Vou localizá-la.

SELMA: - Ótimo.

TÁCIO: - Tudo bem... Só um minuto. (Pega o celular) Mônica? Escuta... Onde está? Que bom. Sobe. Tem aqui uma moça que diz ter informações bombásticas sobre o Marcos... Como que Marcos? O falecido. Quem é? (Pra Selma) Quer saber quem é você.

SELMA: - Diz a ela que sou empregada na mansão...

TÁCIO: - É empregada da Mansão do Dr. Egídio. Tudo bem... (Desliga) Já esta vindo.

SELMA: - Vai demorar muito? 

TÁCIO: - Não. Está no anda de baixo.

SELMA: - Espero que não demore. Tenho pressa.

MÔNICA: - Oi?!

SELMA: - Mônica?

MÔNICA: - A própria.

TÁCIO: - Bom... Vou pegar uma água... (Sai)

SELMA: - Não acha estranho não sair nada além de um assalto seguido de morte nos jornais...

MÔNICA: - Por que será? Tenho a impressão que sabe de algo...

SELMA: - Muito mais que imagina.

MÔNICA: - Como o que?

SELMA: - A vida oculta do falecido que a família faz tanta questão de esconder.

MÔNICA: - Que sabe além do fato do falecido ser homossexual?

SELMA: - Como sabe?

MÔNICA: - Sou jornalista. Meu trabalho é investigar. Seu nome é?

SELMA: - Selma.

MÔNICA: - Selma... Creio que foi contratada por ser uma pessoa de confiança. O que está fazendo é crime...

SELMA: - Crime?

MÔNICA: - Usar de informações confidenciais, invadir a vida alheia, pra se beneficiar... Que será que o Sr Egídio diria ou faria se soubesse?

SELMA: - Por favor... Não diga nada.

MÔNICA: - Cai fora daqui. (Selma sai)

TÁCIO: - E?

MÔNICA: - Nada demais. É só uma idiota se achando esperta. Agora vamos trabalhar. (Saem)



ATO IV – CENA II

TERESA: - Bom dia. 

HÉLIO: - Bom dia.

TERESA: - Dona Mara os espera. Por aqui por favor...

HÉLIO: - Obrigado.

MARA: - Boa tarde meus queridos.

HÉLIO: - Boa tarde.

VIRGÍNIA: - Como vai dona Mara?

HÉLIO: - E a senhora Dona Liz?

DONA LIZ: - Dentro do possível, bem.

MARA: - Sentem-se, por favor.

HÉLIO: - Obrigado.

VIRGÍNIA: - Com licença.

DONA LIZ: - Fiquem a vontade.

MARA: - Teresa, sirva-nos um chá.

TERESA: - Sim senhora.

HÉLIO: - Sentimos muito...

MARA: - Sabemos que sim. Vocês eram os melhores amigos do Marcos.

DONA LIZ: - Eram sempre presentes na vida do meu neto.

MARA: - Por isso os chamamos aqui.

HÉLIO: - Se for algo possamos ajudar...

MARA: - Mãe... Não acha melhor subir...

DONA LIZ: - Não me trate como se eu fosse uma inútil... Não subestime a minha inteligência. 

MARA: - Mamãe...

DONA LIZ: - Meu jovens... O que minha filha deseja saber é sobre os segredos do Marcos.

HÉLIO: - Segredos?

MARA: - A vida oculta do meu filho.

VIRGÍNIA: - Vida oculta?

MARA: - Sim. Foi por causa desse segredo que meu filho está morto.

HÉLIO: - Não entendi.

DONA LIZ: - Entendeu sim. Marcos era gay.

MARA: - Admiro sua lealdade... Mas precisam nos ajudar.

VIRGÍNIA: - Dona Mara...

MARA: - Sei que davam cobertura a vida dupla que ele vivia.

HÉLIO: - Como podemos ajuda-la?

MARA: - Quem era o rapaz... que...

DONA LIZ: - O namorado do Marcos.

VIRGÍNIA: - Não sabemos muito...

DONA LIZ: - Não precisam mentir. Sabemos que sabem.

MARA: - Só gostaria de conhecer essa pessoa.

HÉLIO: - Não sei se posso fazer isso...

MARA: - Quem é ele?

VIRGÍNIA: - Por que a senhora que conhecê-lo.

MARA: - Se meu filho o amou e foi feliz... É que ele deve ser uma pessoa muito especial.

VIRGÍNIA: - E é. 

MARA: - Quero falar com ele. Preciso conhecer essa parte da vida do meu filho que eu não participei.

HÉLIO: - Dona Mara, com todo respeito... Não podemos fazer isso... É a intimidade dele...

VIRGÍNIA: - Deixe-nos consulta-lo primeiro. Se ele nos permitir...

DONA LIZ: - É justo.

MARA: - Por favor...

HÉLIO: - Agora vamos...

VIRGÍNIA: - Obrigada pelo chá.

MARA: - Espero que nos ajude. 

DONA LIZ: - É muito importante para nós.

HÉLIO: - Logo tenha resposta... Ligo pra senhora.

VIRGÍNIA: - Até logo.

MARA: - Eu os acompanho.

VIRGÍNIA: - Até mais.

MARA: - Até. (Saem)

DONA LIZ: - Acha que vão nos ajudar a encontrar esse rapaz.

MARA: - Estou bem confiante mamãe. Agora venha, é hora do seu remédio. (Saem)

ATO IV CENAIII

(Marina é presa por porte de drogas)

TÂNIA: - Boa noite...

NILTON: - Só aguardar ser chamados.

EDNALDO: - Gostaríamos de falar com o delegado.

NILTON: - Só aguardar...

EDNALDO: - (Pega o celular) Alô... Dr. Egídio?

NILTON: - Espere... O senhor disse, dr. Egígio?

EDNALDO: - Exatamente.

NILTON: - Por favor... Sentem-se.

EDNALDO: - Podemos falar com o delegado?

NILTON: - Dr. Ednaldo... Delegado.

EDNALDO: - Prazer.

NILTON: - O senhor?

EDNALDO: - Assessor do Dr. Egídio.

NILTON: - Claro. Então já sabem...

EDNALDO: - Sim... E nos sentimos completamente envergonhados...

NILTON: - Imagino. Um prato cheio pra imprensa.

TÂNIA: - Então, todos já sabem?

NILTON: - Não. Logo que soube de quem era filha o elemento...

TÂNIA: - Marina.

NILTON: - Perdão. Mas a moça foi pega com uma quantidade razoável de droga. Enquadrada como traficante.

TÂNIA: - Marina não é traficante.

EDNALDO: - Uma irresponsável. Doutor, que podemos fazer?

NILTON: - Em nome do Dr. Egídio, posso dar um jeito...

EDNALDO: - Imagino que isso terá um custo.

NILTON: - Sobre isso conversaremos depois.

TÂNIA: - Posso ver minha irmã.

NILTON: - Claro! Rodrigues...

RODRIGUES: - Senhor?

NILTON: - Traga a moça.

RODRIGUES: - É pra já.

TÂNIA: - Como ela está?

NILTON: - Esquenta não... A moça teve tratamento vip.

MARINA: - Vieram zombar da minha cara?

EDNALDO: - Por mim apodreceria aqui.

MARINA: - Babaca!

TÂNIA: - Que pensa que esta fazendo?

MARINA: - Vivendo.

TÂNIA: - E isso é lá vida?

MARINA: - O que é vida? Isto que você vive ao lado desse encostado?

EDNALDO: - Cala a boca.

MARINA: - Quem vai fazer calar? Você?

EDNALDO: - Deveriam deixar você apodrecer numa cela. Quem sabe assim você aprenderia.

MARINA: - Sou a única que tem a coragem de dizer a verdade. Nesta família ninguém presta... São todos mascarados... 

EDNALDO: - Cala essa boca. Você não passa de uma vadia drogada!

TÂNIA: - Chega vocês dois. Temos que sair daqui... Daqui a pouco a imprensa chega e teremos outro escândalo. 

MARINA: - Escândalo? É essa vidinha de mentirinha que vocês vivem... Um casal perfeito, só diante da plateia, por que na cama... (Rir)

TÂNIA: - Agora chega! (Esbofeteia) Já passou do limite.

MARINA: - Prefiro apodrecer aqui do que ir com vocês...

EDNALDO: - Não seja por isso...

TÂNIA: - Não. Marina, por favor.

NILTON: - Vamos fazer o seguinte... Eu peço que o detetive Rodrigues acompanhe a moça até sua casa.

MARINA: - Praquela casa não volto. Nunca mais!

NILTON: - A moça volta sim... Nem que eu tenha que lhe entregar algemada.

MARINA: - Vou lhe denunciar...

NILTON: - Primeiro responderá ao processo. Você não é primaria... Por isso não poderá responder em liberdade. A escolha é sua.

TÂNIA: - Marina...

MARINA: - Já entendi.

EDNALDO: - Não sei como lhe agradecer.

NILTON: - Depois conversamos.

EDNALDO: - Vamos Tânia.

TÂNIA: - Marina...

MARINA: - Esquece que eu existo.

NILTON: - Detetive leve-a. (Saem)

ATO IV CENA IV

(No escritório)

LUDIMILA: - Que bom que você pode me receber.

EGÍDIO: - Espero que seja breve.

LUDIMILA: - Mara já deve ter adiantado o assunto.

EGÍDIO: - Espero que não seja um golpe.

LUDIMILA: - assim você me ofende e ofende a honra da minha filha.

EGÍDIO: -Então Isabel está grávida?

LUDIMILA: - Fiquei surpresa, porém feliz.

EGÍDIO: - Não seja idiota. Meu filho era gay.

LUDIMILA: - Não seja ridículo. Se ele fosse gay não teria engravidado minha filha.

EGÍDIO: - Seu golpe deu errado. 

LUDIMILA: - Não me ofenda. 

EGÍDIO: - Você que esta subestimando minha inteligência.

LUDIMILA: - Isabel está grávida.

EGÍDIO: - Se está grávida não é do meu filho.

LUDIMILA: - Posso lhe processar...

EGÍDIO: - Primeiro terá que provar a paternidade... Já ouviu falar em teste de DNA?

LUDIMILA: - Vou esfregar o resultado na sua cara.

EGÍDIO: - Sai do meu escritório...

LUDIMILA: - Vou pedir tudo que for necessário para minha filha.

EGÍDIO: - Deus permita que sua filha esteja grávida... E que seja do Marcos. Caso contrário, lhe meto numa boa cela.

LUDIMILA: - Vai engolir cada palavra. (Sai)

EGÍDIO: - Vadia! 

ATO IV CENAVI

(Laudo final da morte)

RODRIGUES: - Com licença...

NILTON: - Chega ai... (Dá a pasta) Ai está.

RODRIGUES: - Que é?

NILTON: - Como que é? Está a tempo empenhado neste caso...

RODRIGUES: - (Lê) Então essa foi a causa de sua morte?

NILTON: - Agora é definitivo. O laudo é incontestável.

RODRIGUES: - Possível arma... Objeto pontiagudo não identificado... Possivelmente material plástico. Material plástico? 

NILTON: - E se dê uma lida mais abaixo vai vê que o possível criminoso tinha entre um metro e cinquenta a um metro e sessenta e cinco. Pela força aplicada e a forma que atingiu a vítima, suspeita-se que seja uma mulher, e que esta mulher é canhota.

RODRIGUES: - Isso já limita o número de suspeitos.

NILTON: - Exatamente.

RODRIGUES: - Então vamos começar o nosso trabalho...

NILTON: - Espera ai rapaz.

RODRIGUES: - Que foi?

NILTON: - Caso encerrado. 

RODRIGUES: - como assim? Estamos a um passo de desvendar este mistério...

NILTON: - Doutor Egídio já providenciou tudo. O secretário de segurança pública a pedido do ministro da justiça, acabou de me ligar pedindo o arquivamento do caso.

RODRIGUES: - Isso é foda! Puta que pariu! Tanto trabalho pra que?

NILTON: - É o poder. Manda quem tem obedece quem é inteligente.

RODRIGUES: - Isso não está certo.

NILTON: - Não há certo, ou errado... O que há é que o poder é podre, e quando se mexe com os poderosos, fede... Liberado para um próximo caso.

RODRIGUES: - É revoltante!

NILTON: - É a realidade. (Sai)

RODRIGUES: - Se eu não posso fazer nada... Sei quem pode desmascarar estes malditos corruptos. (Pega o celular) Alô... Mônica? Tudo bem? Tenho uma bomba pra você... Isso mesmo. Posso te encontrar? Onde? Positivo! (Sai)

ATO IV CENAVII

(Na redação)

MÔNICA: - Vamos trabalhar?

TÁCIO: - Do que tá falando mulher?

MÔNICA: - Consegui...

TÁCIO: - O que?

MÔNICA: - Aqui tem tudo sobre o que provocou a morte do Marcos.

TÁCIO: - Isso não que dizer nada.

MÔNICA: - Não?

TÁCIO: - Não.

MÔNICA: - E se eu lhe disser que há uma grande possibilidade de quem matou o Marcos foi uma mulher.

TÁCIO: - Uma mulher? Naquele lugar? 

MÔNICA: - Exatamente.

TÁCIO: - Diria que impossível. Surreal.

MÔNICA: - Não... O assassino... É uma pessoa próxima.

TÁCIO: - Será? 

MÔNICA: - Vamos investigar todas as pessoas próximas do Marcos, mulheres entre 1.50m a 1.65 e que seja canhota.

TÁCIO: - Como faremos isso?

MÔNICA: - Começamos pela família... Depois amigos...

TÁCIO: - E você acha mesmo que a família dele vai deixar você pisar naquela casa?

MÔNICA: - Conheço alguém que possa nos ajudar... Lá de dentro.

TÁCIO: - A empregada?

MÔNICA: - Exatamente.

TÁCIO: - Não vai aceitar. Esqueceu do último encontro?

MÔNICA: - Vou usar a mesma arma que ela...

TÁCIO: - Extorsão?

MÔNICA: - Não. Troca de favores. Ela me ajuda, eu não conto que ela me procurou com informações em troca de dinheiro.

TÁCIO: - você é cruel.

MÔNICA: - Não meu querido. Eu sou viva! Agora vamos. 

TÁCIO: - Espera... (Saem)

ATO IV CENAVIII

(Mara vai a casa de junior)

MARA: - Bom dia.

JÚNIOR: - Bom dia.

MARA: - Eu sou...

JÚNIOR: - sei quem é a senhora. Dona Mara... Mae do marcos.

MARA: - Exatamente.

JÚNIOR: - Por favor entre.

MARA: - Com licença.

JÚNIOR: - Fique a vontade. Sente-se por favor.

MARA: - Obrigada.

JÚNIOR: - A senhora aceita...

MARA: - Não... Não precisa se preocupar... Estou bem...

JÚNIOR: - Claro.

MARA: - Então, era aqui... Aqui que meu filho se refugiava...

JÚNIOR: - Não. Aqui era o segundo lar do seu filho.

MARA: - Por que nos escondeu?

JÚNIOR: - Não queria lhes magoar.

MARA: - Talvez tudo seria diferente. 

JÚNIOR: - Também creio nisso.

MARA: - de muito bom gosto.

JÚNIOR: - Foi ele que me ajudou a decorar.

MARA: - Meu filho tinha bom gosto. (Vê uma foto do filho. Chora) Meu filho...

JÚNIOR: - Vou pegar uma água.

MARA: - Não precisa. (Júnior sai) Meu filho... Que saudade!

JÚNIOR: - Aqui. Beba.

MARA: - Obrigada. Você o amava?

JÚNIOR: - Muito. (Sem jeito)

MARA: - Foram felizes?

JÚNIOR: - Sempre.

MARA: - E a noiva?

JÚNIOR: - Sabia que era só faixada.

MARA: - Que?

JÚNIOR: - Não devia ter dito...

MARA: - Faixada?

JÚNIOR: - Só estava com ela, por vocês.

MARA: - Mas ela está grávida.

JÚNIOR: - Impossível.

MARA: - Que quer dizer?

JÚNIOR: - Que seu filho nunca teve nada com esta moça.

MARA: - Eram noivos.

JÚNIOR: - Marcos nunca transou com ela. 

MARA: - Como sabe?

JÚNIOR: - Não mentiria pra mim. Não sobre isso.

MARA: - Então o que fazia naquele lugar? Dizem...

JÚNIOR: - Que era um lugar de pregação...

MARA: - Suspeito.

JÚNIOR: - Tínhamos brigado. Foi uma briga muito feia... Exigi que ele terminasse o noivado e assumisse de vez a nossa relação. Então se sentiu pressionado e foi...

MARA: - parar naquele lugar.

JÚNIOR: - Exatamente.

MARA: - Se ele não teve nada com ela... 

JÚNIOR: - Posso lhe garantir.

MARA: - Então a gravidez... 

JÚNIOR: - O pai não é o Marcos. Isso lhe garanto.

MARA: - Vamos deixar esta conversa de lado. Vim pra falar sobre vocês... E agora? O que pretende fazer?

JÚNIOR: - Tenho que continuar... 

MARA: - Precisa de ajuda?

JÚNIOR: - Não, obrigado. Tenho minha profissão...

MARA: - E o que faz?

JÚNIOR: - Sou cabelereiro. Tenho um salão...

MARA: - Entendo. Bom, Júnior... Obrigada por me receber. 

JÚNIOR: - Que isso! Foi um prazer.

MARA: - Se precisar de alguma coisa...

JÚNIOR: - Obrigado. (Ela sai) Caraca!

ATO IV CENA IX

(NO APARTAMENTO DE LUDIMILA)

LUDIMILA: - Como está se sentindo?

ISABEL: - Como estou me sentindo? Péssima!

LUDIMILA: - Um dia vai me agradecer...

ISABEL: - Você é um monstro. Que tipo de mãe dopa a filha e entrega a um estranho? 

LUDIMILA: - O Sérgio é um cara de muita confiança...

ISABEL: - E se este cara estiver doente?

LUDIMILA: - Tá louca menina?

ISABEL: - Claro... Transou comigo sem preservativo. E se ele tiver alguma doença infecto contagiosa.

LUDIMILA: - Não tem. Dá pra parar de ser melodramática? Em algumas semanas você estará gravida. 

ISABEL: - E se não estiver?

LUDIMILA: - Tentamos outra vez. Você tem um mês para engravidar.

ISABEL: - Você é doente.

LUDIMILA: - Não meu bem... Estou cuidando da nossa previdência. (Campanhia) Ah, não... O que quer aqui?

MÔNICA: - Seria educado me deixar entrar.

LUDIMILA: - Não preciso ser educada com você... Se insistir, chamo a polícia.

MÔNICA: - Ótimo. Chama! Sabe o que tenho aqui em minhas mãos? Tudo sobre a sua vida.

LUDIMILA: - Fofocas. Coisas dessas revistas de mexericos... 

MÔNICA: - Que será que vão achar quando souber que você foi suspeitar de matar um milhionário envenenado em 77?

LUDIMILA: - Cala-se. Fui inocentada.

MÔNICA: - Posso?

LUDIMILA: - Entra. (Furiosa)

MÔNICA: - Prometo ser breve. Como vai Isabel?

ISABEL: - Bem...

MÔNICA: - Não me parece bem.

LUDIMILA: - Ela está cansada. 

MÔNICA: - Você não me oferece uma água.

LUDIMILA: - Não.

ISABEL: - Eu pego.

MÔNICA: - Que gentil.

LUDIMILA: - Que quer?

MÔNICA: - Conhece os amigos do Marcos?

LUDIMILA: - Amigos?

MÔNICA: - Mulheres.

LUDIMILA: - Mulheres? Que isso?

MÔNICA: - É o que desejo.

LUDIMILA: - Por que não pergunta a família dele?

MÔNICA: - Acha mesmo que me receberiam.

LUDIMILA: - Preciso responder?

ISABEL: - Aqui está. (Entrega o copo)

MÔNICA: - Hei? 

ISABEL: - Que foi?

MÔNICA: - Você é canhota?

ISABEL: - Sou.

MÔNICA: - Olha que coincidência... Minha mãe também era.

LUDIMILA: - Você não veio aqui só por isso...

MÔNICA: - Por que Isabel não seguiu a mesma carreira que você?

ISABEL: - Não tenho altura.

MÔNICA: - Mede quanto?

ISABEL: - Um sete.

MÔNICA: - Interessante. Poderia ser modelo fotográfica. Tem um rosto bonito vai por mim.

LUDIMILA: - Que uma manchete? Então escreva neste jornaleco, que minha filha, está grávida.

MÔNICA: - Grávida? 

LUDIMILA: - Exatamente. Minha filha terá o futuro herdeiro... Filho do Marcos.

ISABEL: - Mãe?

MÔNICA: - Isabel, não parece feliz...

LUDIMILA: - Ainda está abalada com a morte do seu grande amor.

ISABEL: - Eu estou cansada... Com licença. (Sai)

MÔNICA: - Essa menina não está bem. 

LUDIMILA: - Ficará.

MÔNICA: - Boa cartada! Mas o jogo ainda não terminou. Bem... Preciso ir. Obrigada pela hospitalidade. (Sai)

LUDIMILA: - Vai carniça!

ATO IV CENA X

MARINA: - O que você quer?

DONA LIZ: - Filha, não fale assim com sua mãe.

MARINA: - Não tenho mãe.

DONA LIZ: - Não diga isto.

MARINA: - Será que não percebe que não é bem vinda?

MARA: - Então é aqui que você vive.

MARINA: - É. E aqui sou feliz.

MARA: - Vive?! (Risos) Se é que pode chamar isso de viver...

MARINA: - Acha mesmo que vida só há debaixo do conforto? 

DONA LIZ: - Marina... Isso não é lugar pra você.

MARINA: - Não? Onde é lugar pra mim? Naquela mansão mal assombrada... De tantas mágoas, mentiras, infelicidade e desamor...

MARA: - Eu vim lhe propor uma trégua...

MARINA: - Faça-me rir.

DONA LIZ: - Escute sua mãe.

MARINA: - Que palhaçada é está?

MARA: - Você tem razão Marina...

MARINA: - Do que está falando, agora?

DONA LIZ: - Escute filha...

MARINA: - Fala, vai... Mas fala logo que estou compressa.

MARA: - Falhei como mãe. Falhei... Reconheço. Na tentativa de proteger meus filhos, eu os expos aos piores sofrimentos...

MARINA: - Que lindo! Vai ganhar o óscar por sua interpretação.

DONA LIZ: - Não seja sarcástica.

MARINA: - Vai... Segue enfrente com seu teatrinho...

MARA: - Você... Entregue a estes entorpecentes... Teu irmão, perdeu a vida por esconder... Que...

MARINA: - Era gay.

MARA: - Gay. Tua irmã...

MARINA: - A mulher mais infeliz do mundo. Vive num casamento sem amor... Onde o marido a faz de gato e sapato... A coloca mais baixo que a sola de um sapato...

MARA: - Quero consertar as coisas...

MARINA: - Não há mais jeito. Não percebe?

DONA LIZ: - pra tudo há um jeito.

MARINA: - Vão fazer o que? Me internar novamente numa dessas clínicas? Vai dá uma de Jesus Cristo? Vai ressuscitar Marcos? Vai tirar minha irmã daquele casamento infeliz? Arrancando do coração dela todo amor que ela sente por aquele crápula? Hein?

MARA: - Quero que me ajude...

MARINA: - Lhe ajudar? 

MARA: - É filha. Me ajudar... Sou eu quem preciso de você.

MARINA: - Sinto muito mamãe... Eu... morrei. Estou morta. Você me mataram...

DONA LIZ: - Não diga bobagem menina!

MARINA: - Agora saiam...

DONA LIZ: - Não se trata assim a família.

MARINA: - Família? Eu não tenho família.

DONA LIZ: - Olha aqui menina...

MARA: - Deixe mamãe, deixe.

DONA LIZ: - Mimada! O que precisa...

MARINA: - Não podem me dar. Nunca puderam...

MARA: - Filha...

MARINA: - Saiam.

MARA: - Vamos mamãe. (Saem)

ATO IV CENA XI

MÔNICA: - Que bom que veio...

DETETIVE: - Tinha dúvida?

MÔNICA: - Sem piadinhas, por favor...

DETETIVE: - Nossa! Quanta seriedade...

MÔNICA: - Tenho um suspeito...

DETETIVE: - Você não esquece isso mesmo...

MÔNICA: - Jamais. Vou publicar essa matéria.

DETETIVE: - Se fosse você não confiava muito nisso...

MÔNICA: - Não nadei tanto pra morrer na praia.

DETETIVE: - Que descobriu?

MÔNICA: - Tenho quase certeza de quem assassinou o Marcos.

DETETIVE: - Quem é sua aposta?

MÔNICA: - Alguém muito próximo.

DETETIVE: - O frutinha?

MÔNICA: - O Júnior? Não.

DETETIVE: - Quem?

MÔNICA: - A noivinha.

DETETIVE: - Tá brincando.

MÔNICA: - Não. Tudo bate.

DETETIVE: - Mas ainda falta a arma do crime.

MÔNICA: - Meu fotografo... Encontrou isso...

DETETIVE: - Que isso?

MÔNICA: - Um prendedor de cabelo japonês. 

DETETIVE: - Como sabe que isso foi arma usada?

MÔNICA: - Só pode ter sido. Como lá só há um... Que dizer que quem matou, tem o outro.

DETETIVE: - E o que quer fazer com isso?

MÔNICA: - Nem parece que é dá polícia. Precisamos que este objeto seja periciado.

DETETIVE: - Tenho um amigo na perícia.

MÔNICA: - Pode fazer isso?

DETETIVE: - Por você... Mas vai ter um preço.

MÔNICA: - Ah, é? Qual?

DETETIVE: - No momento certo você saberá.

MÔNICA: - Bom... Preciso ir. 

DETETIVE: - Mas já?

MÔNICA: - É.

DETETIVE: - Por que será que tenho sempre a impressão que você está fugindo de mim?

MÔNICA: - Por que gosto de brincar de gata e rato. (Sai)

DETETIVE: - Tchaú... (Sai)

ATO IV CENA XII

(Todos na mansão)

EGÍDIO: -Nanci...

NANCI: - Senhor?

EGÍDIO: - Mara?

NANCI: - Deuma saída senhor

EGÍDIO: - Mara sabe que detesto que atrase o jantar.

NANCI: - Mas já deve está voltando...

EDNALDO: - Egídio... Desculpe-nos o atraso.

EGÍDIO: - Que bom que chegaram.

TÂNIA: - Papai...

EGÍDIO: - Filha... Que marca é está?

TÂNIA: - Me machuquei. Escorreguei... E bati o rosto.

EDNALDO: - Já pedi pra ter cuidado... Mas sabe como é sua filha.

NANCÍ: - Doutor... é que Dona Ludimila...

EGÍDIO: - Essa mulher não...

EDNALDO: - Quer que eu dê um jeito?

LUDIMILA: - Que maravilha! A família reunida... Não há nada mais incrível que a família unida. Não é mesmo Egídio?

EGÍDIO: - o que você quer?

LUDIMILA: - Sem cerimonias meu caro... Somos parentes.

EGÍDIO: - Nanci... Coloque mais um lugar há mesa.

NANCÍ: - Sim senhor.

EGÍDIO: - Até que enfim...

MARA: - Fui vê Marina.

TÂNIA: - E ela? Como está?

DONA LIZ: - Como sempre. Só faltou nos enxotar...

LUDIMILA: - Ainda bem que minha Isabel não me dá este trabalho.

DONA LIZ: - Você está sendo desagradável. (Campanhia)

SELMA: - Eu atendo.

LUDIMILA: - Estou apenas participando da conversa... Afinal de contas somos da família.

MARA: - Quem disse que somos da família? 

DONA LIZ: - Ora, Isabel terá um filho...

MARA: - Filho?

LUDIMILA: - Isso já não é novidade... É?

MARA: - Marcos nunca se deitou com sua filha.

LUDIMILA: - Que? Que absurdo é este?

DONA LIZ: - Meu neto nunca transou com sua filha. 

EGÍDIO: -

MARA: - Meu filho era gay. E você sabe disso. Se tua filha esta grávida, não é do meu...

ISABEL: - Não estou grávida.

LUDIMILA: - Cala boca.

ISABEL: - Fiz o exame...

LUDIMILA: - Cala-se...

ISABEL: - E graça a você... 

LUDIMILA: - Cale essa boca.

ISABEL: - Eu estou contaminada...

TÂNIA: - Que?

EDNALDO: - Deixe ela falar

ISABEL: - estou com o vírus da aids...

DONA LIZ: - Meu Deus!

LUDIMILA: - Isso não é verdade.

ISABEL: - O seu amiguinho... É portador do vírus. Satisfeita agora?

EGÍDIO: - que me explicar o que está acontecendo aqui?

DONA LIZ: - Você cale essa boca. Não diga mais nada.

ISABEL: - Tire essa suas mãos sujas de mim.

DONA LIZ: - Que isso... Sou tua mãe.

ISABEL: - Mãe? Sabe o que significa ser mãe? (Para todos) Essa mulher que aqui está... Essa que se diz ser minha mãe... Foi capaz de me dopar... É, é isso mesmo... Me dopou e me entregou a um estranho... Tudo isso, sabe por que? Pra dá um golpe em vocês... Tudo por dinheiro. Esse maldito dinheiro! Agora olha eu aqui... Estou contaminada...

TERESA: - Com licença... É que tem um detetive ai fora...

EGÍDIO: - Detetive?

TERESA: - É.

MARA: - Peça para ele entrar.

EGÍDIO: - Não.

MARA: - eu quero ouvi o que este detetive tem a dizer.

DETETIVE: - Boa noite.

EGÍDIO: - O que o trás aqui senhor detetive?

DETETIVE: - Estava a procura da senhorita Isabel.

LUDIMILA: - Isabel?

ISABEL: - Eu?

DETETIVE: - Sabe por que estou aqui, não sabe?

ISABEL: - Sei.

LUDIMILA: - Não. Filha... Não diga nada, não responda nada, vou providenciar um advogado...

ISABEL: - Minha vida acabou mãe... Sou uma infeliz! É isso mesmo, sou a pessoa mais infeliz da face da terra.

TÂNIA: - Que está dizendo Isabel...

ISABEL: - Fui trocada por meu noivo por outro homem... Todos esses anos... E nunca se quer meu noivo me tocou... Não sentia nada, nada, nada... Nada além de pena de mim. Eu? Eu era apenas um estandarte, um troféu, que servia de enfeite... Deste modo ninguém desconfiaria que ele... Ele tinha, um amante... Um amante não... Um marido. Um homem, que o satisfazia do modo que eu... Eu não podia...

TÂNIA: - Meu Deus!

DETETIVE: - Isto lhe pertence?

LUDIMILA: - Não.

ISABEL: - Sim. 

DONA LIZ: - Isabel... Que você fez?

ISABEL: - Naquela noite ele me deixou em casa como sempre... Me deu um beijo no rosto... Me deu até logo e entrou no carro... Eu já desconfiava. Então peguei meu carro e o segui. E ele estava lá... Agarrado com outro homem... Ele o beijava de tal jeito que nunca... Nunca, jamais me bejou...

LUDIMILA: - Chega filha.

ISABEL: - Cale-se.

MARA: - Continue.

EDNALDO: - Que aconteceu?

ISABEL: - Me percebeu... Tentou se explicar... Explicar!? Então me confessou... Que não sentia nada por mim, que eu... era apenas uma amiga... e que jamais poderia se casar comigo... Eu fiquei louca! Comecei a bater nele. Ele me segurou forte... Então, peguei meu prendedor de cabelo, e o atingi...

MARA: - Você matou meu filho.

DONA LIZ: - Meu Deus!

TÂNIA: - Assassina! Matou meu irmão.

DETETIVE: - É melhor vir comigo.

ISABEL: - Eu juro que não queria... Foi um acidente... Aconteceu. Ninguém, mais amou o Marcos que eu.

MARA: - Quem ama não mata.

ISABEL: - Mata. Vocês matou Marina...

DETETIVE: - Vamos...

LUDIMILA: - Filha...

ISABEL: - Você me matou.

EGÍDIO: - Vai mofar numa cela.

ISABEL: - Já sou uma morta. Morta! Morri, no dia que tirei a vida di homem que eu amava. (Saem)

EGÍDIO: - Quanto a você sua vagabunda... Sai desta casa.

MARA: - Ludimila... Sua vigarista, nossos advogados vão lhe processar. (Ludimila sai)

TÂNIA: - Papai... Me ajude...

EDNALDO: - Que isso Tânia?

DONA LIZ: - Siga enfrente... Esse é o momento.

TÂNIA: - Quero me divorciar.

EDNALDO: - Ficou louca?

TÂNIA: - Eu não cai papai...

EDNALDO: - Cale-se.

EGÍDIO: - Foi...?

TÂNIA: - Sim papai. Foi ele... me bateu.

EDNALDO: - Hei, calma ai... Foi só uma briguinha...

EGÍDIO: - Sai desta casa.

EDNALDO: - Não vai fazer isso...

EGÍDIO: - Duvida?

EDNALDO: - Sabe que sei...

EGÍDIO: - E você do que sou capaz. Agora saia...

EDNALDO: - Você vem comigo...

TÂNIA: - Não. Nunca mais você vai tocar em mim. Acabou.

EDNALDO: - Idiota.

TÂNIA: - Fui.

DONA LIZ: - saia daqui rapaz. Não ouviu? (Edinaldo sai)

MARA: - Filha... Você foi muito corajosa.

TÂNIA: - Mamãe... E agora?

MARA: - Você vai ter a chance de recomeçar.

EGÍDIO: - acho que não há mais clima para jantar...

MARA: - Nós vamos lá pra cima...

EGÍDIO: - Vou dar alguns telefonemas... (Saem)

CENA FINAL

DETETIVE: - Bom... Conseguimos.

MÔNICA: - É conseguimos.

DETETIVE: - E agora?

MÔNICA: - Agora? Vim lhe mostrar isto.

DETETIVE: - Um livro?

MÔNICA: - É. Meu primeiro livro!

DETETIVE: - Sugestivo...

MÔNICA: - Gostou do titulo?

DETETIVE: - O corpo!

MÔNICA: - O corpo.

DETETIVE: - Não vão deixar lançar...

MÔNICA: - Troquei os nomes... Transformei a realidade em ficção... Então? Ninguém pode me proibir de lançar meu livro.

DETETIVE: - Você é demais...

MÔNICA: - Você acha.

DETETIVE: - Acho.

MÔNICA: - E é só isso?

DETETIVE: - Que que ouvir?

MÔNICA: - Pensei que ia me convidar...

DETETIVE: - Te convidar?

MÔNICA: - Pra um lugarzinho mais tranquilo... Mais íntimo...

DETETIVE: - Isso é um convite?

MÔNICA: - Convite? Não. Uma intimação.

DETETIVE: - Opa! Só se for agora. (A pega nos braços e saem de cena)

FIM

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