quarta-feira, 17 de maio de 2023

BETH & LOW 5

 BETH & LOW 5

Episódio: Onde Está Seu Deus?

De Marcondys França

CENA I

CAMERA FAZ PANORÂMICA DO CENTRO DE SÃO PAULO, CORTANDO PARA FÁRIOS TAKES DO COTIANO DO BAIRRO CENTRAL ATÉ FECHAR NO PRÉDIO DE BETH.

INTERNA - DIA – SALA – APARTAMENTO

BETH: - Meu Deus! Minhas chaves!

LOW: - Já vai sair Beth?

BETH: - Meu celular... Meu Deus! Minha vida parece um dé jàvu... 

LOW: - Fiz uma pergunta!

BETH: - Já... Já vou. Tenho uma consulta daqui a uma hora, e já estou atrasada!

LOW: - Sabe, estava pensando...

BETH: - Pensa rápido que estou com pressa! Achei! (O celular) Minha bolsa?

LOW: - Vi no quarto...

BETH: - Ah, legal!

LOW: - Calma ai... Escuta.

BETH: - Depois Low, depois... Pode ser?

LOW: - É rapidinho.

BETH: - Rosa não vem hoje... Que caos! A casa está uma bagunça. Aproveita que está com disponibilidade e dá um tapa na casa.

LOW: - Tudo isso só porque estou temporariamente fora de área!

BETH: - Quebra essa, vai!?

LOW: - Mas, sobre aquele assunto...?

BETH: - Depois Low (pega a bolsa) Quando eu voltar, a gente conversa. Beijinhos da Beth!

LOW: - Então tá, né? (Arruma as almofadas)

CENA II

CÂMERA FAZ PANORAMA DA CIDADE, É EXIBIDA A FAXADA DE UM HOSPITAL COM MOVIMENTOS DO DIA A DIA DE UM CORREDOR DE UM HOSPITAL.

INTERNA – DIA – HOSPITAL - CORREDOR

(Beth passa por um corredor quando vê Sunamita chorando inconsolavelmente)

BETH: - Oi?!

SUNAMITA: - (Não responde. Tem o corpo encolhido, como se quisesse se proteger)

BETH: - Você está se sentindo mal? Há algo que eu possa fazer? Quem sabe chamar um médico...

SUNAMITA: - Estou bem. Que dizer, em orações... Tentando manter a fé, para não desabar. Deus nunca abandona os seus!

BETH: - Não mesmo. Posso pegar um copo com água pra você?

SUNAMITA: - Não, não precisa. Estou bem... Não precisa se incomodar.

BETH: - Que isso! Incomodo algum... Também não vai me cair as mãos. (sai) (pega a água)

SUNAMITA: - Obrigada. (Beth pega a água)

BETH: - Aqui está.

SUNAMITA: - Obrigada, Deus a abençoe.

BETH: - Amém!

SUNAMITA: - Minha filha está internada. A situação dela parece grave. O médico disse que o quadro é grave... Mas, Deus não vai deixar que nada aconteça com ela.

BETH: - E você está sozinha?

SUNAMITA: - Foi tudo tão rápido...

BETH: - Tem alguém que queira avisar... (Pega o celular) Posso ligar pra você.

SUNAMITA: - Não. Tudo bem... O meu marido está vindo... No mais, não temos celular, Ezequiel diz que o uso desses aparelhos desvia nossa atenção e nos afasta do nosso senhor Jesus...

BETH: - Mas a tecnologia faz parte da nossa vida, ela aliada ao bom senso não faz mal a ninguém.

DR. PAULO: - Quem é a acompanhante da paciente Midiã?

SUNAMITA: - Sou eu doutor. Como está minha filha?

DR. PAULO: - O estado da menina não é nada bom, estamos fazendo o máximo, tudo que está ao nosso alcance. Mas, a menina precisa passar por uma cirurgia...

SUNAMITA: - Cirurgia? Oh, meu Deus!

DR. PAULO: - Sim. Mas a paciente apresenta um quadro de anemia profunda e precisa de uma transfusão de sangue, é um procedimento seguro e neste caso eficaz para controlar a grave anemia que a paciente apresenta.

SUNAMITA: - Isso é impossível!

BETH: - Por que?

SUNAMITA: - Somos cristãos e nossa religião não permite esse tipo de coisa.

BETH: - Mesmo que a vida de sua filha esteja em risco?

DR. PAULO: - Precisamos realizar uma cirurgia para tratamento de úlcera péptica. É uma cirurgia que trás um certo risco, porém necessária para tratar uma ou mais feridas na parede do estômago ou do duodeno, que é a parte inicial do intestino delgado.

BETH: - Então é um caso grave.

DR. PAULO: - Sim, é.  Cada minuto que perdemos, mais a situação da menina se agrava.

BETH: - É a vida de sua filha que está em risco.

SUNAMITA: - Não posso fazer nada sem antes consultar meu marido. Não posso decidir isso sozinha. (Pega a bíblia e senta-se desolada)

CENA III

CÂMERA FAZ UMA PANORÂMICA DE UMA AVENIDA, ENTRA TAKES DE CRIANÇAS BRINCANDO, JOVEM ANDANDO DE SKAT, PESSOAS FAZENDO COPER...

DIA – EXTERNA - PRAÇA

LOW: - Fala Tonhão!

TONHÃO: - E ai meu amigo, belezinha, belezinha?

LOW: - Beleza!

TONHÃO: - Então, já pensou na proposta?

LOW: - Já. Só preciso, ainda, conversar com minha mulher.

TONHÃO: - Assim você me quebra mano! Ter que pedir permissão a patroa é foda!

LOW: - Lá em casa é assim, a mulher manda, eu obedeço.

TONHÃO: - Daqui a pouco mano, só falta a mulher bater, é você gritar: “Mata o rato, mato o rato...” (Riem)

LOW: - Também não é pra tanto! Somos avessos a violência.

TONHÃO: - Bom, a caranga está a disposição. Basta soltar o bufufa, aqui ó, nas mãos do papai... E sabe como é, essa coisa de motorista de aplicativo, está em alta. Mas também, se você dé pra trás, já passo pra outro. Pois estpu em expansão, e o negócio, vai bem, obrigado!

LOW: - Calma! Calma ai... Vai dar tudo certo. Quer dizer, já deu! Só me dar mais um dia. Mais um dia e rosolvo.

TONHÃO: - Beleza! Vou então aguardar sua ligação... Melhor, vou amanhã até sua casa. Pode ser?

LOW: - Claro! Fechou.

TONHÃO: - Fechou! Vou nessa que o tempo voa, e dinheiro não dar em árvore. E eu tenho ai uns negócios para fechar... Vou nessa!

LOW: - Vai lá... (Ele sai) Vai... Não posso perder esse negócio.

CENA IV

CÂMERA FAZ PANORAMA DA CIDADE, É EXIBIDA A FAXADA DE UM HOSPITAL COM MOVIMENTOS DO DIA A DIA DE UM CORREDOR DE UM HOSPITAL.

DIA – INTERNA - HOSPITAL

EZEQUIAS: - Como ela está?

SUNAMITA: - Nada bem.

EZEQUIAS: - Então temos que orar...

SUNAMITA: - Já orei, muito.

EZEQUIAS: - Isso tudo é uma grande provação. Deus está testando a nossa fé. Precisamos ser fortes e firmes.

SUNAMITA: - Ela precisa fazer uma cirurgia...

EZEQUIAS: - E qual problema?

SUNAMITA: - Tem que receber uma transfusão de sangue...

EZEQUIAS: - Que?

SUNAMITA: - Escuta...

EZEQUIAS: - Escutar o que?

SUNAMITA: - O médico disse que se ela não for operada o quanto antes...

EZEQUIAS: - Consegue se ouvi? Não... Creio que não! O inimigo está colocando em tua boca essas baboseiras todas...

SUNAMITA: - E minha filha que está naquela cama, entre a vida e a morte.

EZEQUIAS: - Mulher de pouca fé, não crê no teu criador?

SUNAMITA: - Eu creio. Mas, não posso suportar a ideia de perder minha filha. É minha filha homem...

EZEQUIAS: - Então proste-se diante de teu Deus, dobre seus joelhos, e com tua face no chão clame ao senhor.

SUNAMITA: - Que pensa que tenho feito todo esse tempo?

EZEQUIAS: - Então, ore mais... (Saindo)

SUNAMITA: - Escuta homem, temos que autorizar a cirurgia. O médico está esperando nossa autorização.

EZEQUIAS: - Eu espero em Deus que é o médico dos médicos. (Saindo)

SUNAMITA: - Ezequias...

EZEQUIAS: - Ore. (sai de cena)

CENA V

PANORAMICA CIDADE EM MOVIMENTO, CORTE PARA O PRÉDIO DE BETH.

DIA – INTERNA – APARTAMENTO - SALA

LOW: - Oi Rosa...

ROSA: - Oi!

LOW: - Pensei que não vinha hoje.

ROSA: - E não vinha. Tava mal pra caramba. Ah seu Low, pensei até que ia dessa pra melhor. Pra melhor sim, porque lá no céu e cheio de anjos, e se for como a gente vê na teve, é realmente o paraíso, cada homem! Eu tombo todos. Mas, minha tia que é do balacobaco, Fez uma garrafada, que por Deus, é tiro e queda! Levanta até defunto.

LOW: - Rosa você não sabe a alegria que sinto de vê-la aqui. Tornou meu dia muito mais feliz!

ROSA: - Mesmo?

LOW: - Mesmo. Me salvou!

ROSA: - Então tá, né! É bom saber que as pessoas se importam com nossa saúde.

LOW: - Bom já que você está em casa, vou aproveitar pra resolver umas paradas ai...

ROSA: - Seu Low, e dona Beth?

LOW: - Foi ao médico.

ROSA: - Tadinha! Tá doente?

LOW: - Não... Deve ser exames de rotina.

ROSA: - Ah!

LOW: - Fui!

ROSA: - Foi. (Olha pra casa)Devia ter tirado o dia.

CENA VI

CÂMERA FAZ PANORAMA DA CIDADE, É EXIBIDA A FAXADA DE UM HOSPITAL COM MOVIMENTOS DO DIA A DIA DE UM CORREDOR DE UM HOSPITAL.

DIA – INTERNA - HOSPITAL

BETH: - Oi?

SUNAMITA: - Oi.

BETH: - Como você está?

SUNAMITA: - Sei lá... São tantos sentimentos ao mesmo tempo.

BETH: - Conversou com seu marido?

SUNAMITA: - Sim. Mas, sem sucesso... Ezequias é um homem muito teimoso, cabeça dura... Não aceita nem pensar na possibilidade de permitir a transfusão de sangue...

BETH: - E o que vai fazer?

SUNAMITA: - Tenho orado bastante para Deus me mostrar um caminho...

BETH: - Mas como assim? Deus já mostrou o caminho...

SUNAMITA: - Se nós aprovarmos essa transfusão de sangue para que essa cirurgia seja realizada, estaremos traindo a nossa fé.

BETH: - Não consigo entender! Me desculpe, mas, lhe ouvindo falar, parece até que lhe fizeram uma lavagem cerebral. Sem querer ofender.

SUNAMITA: - Estou tão confusa Beth. É como eu estivesse tendo a minha fé, minhas convicções testadas.

BETH: - Escuta, Deus é vida, é amor, ele jamais iria permitir que uma mãe sofresse com a morte de sua filha, se ela tem em suas mãos a chance de salvá-la.

SUNAMITA: - Beth, se eu autorizar sem o consentimento do meu marido, além de sofrer punições por parte da igreja, corro o risco de ficar também sem meu marido.

BETH: - E vai perder sua filha? A vida de sua filha é menos importante? Que esse teu relacionamento truculento e abusivo?

SUNAMITA: - Não.(Ímpeto) Não...

BETH: - Então pense bem no que vai fazer. (Sunamita senta, põe as mãos no rosto) A decisão será sua... Então, Sunamita... Você terá que ser muito forte.

SUNAMITA: - (Levanta) Meu Deus eu preciso orar!

BETH: - Não. (Levanta) Você precisa decidir. Lembre-se, é a vida de sua filha que está em jogo.

SUNAMITA: - Vou tentar conversar com Ezequiel...

BETH: - Às vezes o silêncio diz muito mais que nossos ouvidos precisam ouvir. Consulte seu coração de mãe. Tenho a máxima certeza que ele lhe guiará corretamente. Sabe, eu não tenho filhos, meu maior desejo era poder ter sido mãe. Mas, Deus não me permitiu, não o julgo por isso, e nem me sinto rancorosa, amargurada ou injustiçada... Essas coisas! Mas se fosse minha filha naquele leito, juro por tudo que é mais sagrado, eu virava esse mundo de cabeça pra baixo com o propósito de salvá-la. Converse com seu Deus. (Sai) Mas seja honesta com ele, e com você. (Sunamita com lágrimas senta e ora. Beth sai)

CENA VII

É CIBIDA VÁRIOS PONTOS DA CIDADE DE SÃO PAULO EM MOVIMENTO.

DIA – INTERNA - APARTAMENTO

BETH: - Oi Rosa?!

ROSA: - Oi Dona Beth.

BETH: - Pensei que não viria hoje.

ROSA: - Melhorei! Tomei um chá de pau-tenente e estou maravilhosa, novinha em folha!

BETH: - É o que?

ROSA: - Pau-tenente, Dona Beth! É um santo remédio.

BETH: - Cada uma!

ROSA: - Um chazinho. Tradição de família. Levanta até defunto! Minha tia que o diga... Quando tio Genivaldo, conhecido como jumento, não me pergunte por que, mas é isso mesmo que está pnsando... Pense na lapa! Pau tenente não falha. Deixa qualquer um em prontidão. Eu provo e aprovo!

BETH: - Tá bom Rosa... E Low?

ROSA: - Seu Low? Saiu.

BETH: - Não disse onde ia, né?

ROSA: - Não senhora. Também, eu não sou xereta, né dona Beth?!

BETH: - Tá bom Rosa. Vou tomar um banho. Sabe se tem toalha limpa?

ROSA: - Tem sim senhora. Vou buscar. (Sai)

CENA VIII

CÂMERA GERAL FAZ UMA PANORAMICA DE UMA COMUNIDADE VISTA DO ALTO.

NOITE – SALA – CASA

SUNAMITA: - Onde você estava?

EZEQUIEL: - Misericórdia! Que pergunta? Hoje o culto foi uma benção...

SUNAMITA: - Como consegue? Nossa filha está lá naquela cama de hospital, toda intubada, lutando pela vida...

EZEQUIEL: - Vou relevar por saber que está nervosa.

SUNAMITA: - Nervosa? Eu estou é desesperada. A qualquer momento posso perder minha filha...

EZEQUIEL: - Ore! Onde está sua fé?

SUNAMITA: - Minha fé? (Silêncio)

EZEQUIEL: - Por isso vos digo, que tudo o que pedires, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis. Marcos 11:24.  Vamos orar.

SUNAMITA: - Não consigo...

EZEQUIEL: - Ore, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se vê.

SUNAMITA: - Escuta homem... Nossa filha está morrendo. Só depende de nós para que se faça a cirurgia...

EZEQUIEL: - Diz em salmos: “... a ti clamei por socorro, e tu me curaste.” É o que devemos fazer. Clamar a Deus!

SUNAMITA: - Se Deus fala conosco através da fé, então está me dizendo, o que devo fazer...

EZEQUIEL: - Cuidado mulher. O inimigo tem o dom da enganação, e pode está tentando lhe confundir.

SUNAMITA: - Vamos deixar nossa filha morrer?

EZEQUIEL: - Não há uma folha que caia se não for pela vontade só senhor.

SUNAMITA: - (Pega a bolsa)

EZEQUIEL: - Onde vai?

SUNAMITA: - Enquanto não fica clara, qual a vontade do senhor... Vou ficar com minha.

EZEQUIEL: - É tarde... Pra onde vais assim? Misericórdia!

SUNAMITA: - Ora, Ezequiel! Porque se alguma coisa acontecer com minha filha, eu nunca vou perdoá-lo. (Sai)

PANORÃMICA DA CIDADE COM TODA SUA MOVINEMTAÇÃO DE TRÂSITO, METRO, PONTOS DE ÔNIBUS E CONSGESTIONAMANTO.

CENA IX

NOITE – APARTAMENTO – SALA - COZINHA

BETH: - Agora Low?

LOW: - Por que não. Mas, trago boas novas!

BETH: - Vou preparar um lanche, quer que eu faça um pra você?

LOW: - Pode ser.

BETH: - Hoje você queria me dizer algo...

LOW: - Essa é a boa nova!

BETH: - Ah, é? Que é?

LOW: - Arrumei um trampo.

BETH: - Legal! E que vai fazer?

LOW: - Minha mulherzinha vai ficar muito orgulhosa do seu marido...

BETH: - Toma Low. (Dá o lanche) Então fala marido! (Ri)

LOW: - Hum! Bom!(Elogia o lanche)

BETH: - Fala logo, vai... Que trampo é esse que você arrumou?

LOW: - Vou ser motorista...

BETH: - Motorista?

LOW: - É. De aplicativo.

BETH: - Mas com que carro Low?

LOW: - Calma. Não é com o seu.

BETH: - E onde você arrumou um carro?

LOW: - Vou alugar.

BETH: - Low, você não um bom motorista.

LOW: - Nossa! Obrigado pelo apoio, pelo grande incentivo... (Sai)

BETH: - Low... Calma. Eu só me preocupo com você. Termina o lanche! Meu Deus! E mais essa.

CENA X

CÂMERA FAZ PANORAMA DA CIDADE, É EXIBIDA A FAXADA DE UM HOSPITAL COM MOVIMENTOS DO DIA A DIA.

DIA – HOSPITAL – SALA DE ESPERA

SUNAMITA: - Obrigada por vim. Não sabia a quem recorrer...

BETH: - Que isso...

MÉDICO: - Dona Sunamita, preciso do seu consentimento para realizar a cirurgia...

BETH: - Sunamita, o caso é sério. Você tem que autorizar.

SUNAMITA: - Não posso! Não posso fazer isto sem que meu marido concorde.

BETH: - Se ele não concordar... Você pode decidir por ele.

SUNAMITA: - Não... Não posso, não é certo. Devo obediência ao meu marido.

BETH: - Vai obedecê-lo e deixar sua filha morrer?

SUNAMITA: - Com licença... eu... preciso orar. Tenho que orar. (sai)

BETH: - Não há nada que possam fazer? Afinal, é uma vida que está em risco, e por pura ignorância...

MÉDICO: - Veja bem, nosso código de ética e a Lei nos possibilita a realizar esse procedimento mesmo sem o consentimento da família.

 

BETH: - E por que não faz?

 

MÉDICO: - Tentamos todas as formas de que a família autorizem de livre e espontânea vontade... Mas enfrentamos problemas com pessoas de determinada religião, que proíbe 

a transfusão de sangue por considerá-lo impuro, ainda que seja para salvar a própria vida.

 

BETH: - Isso é um absurdo!

 

MÉDICO: - Os seguidores destas religiões não consentem que o médico intervenha. Neste caso, em particular, Infelizmente nem sempre é possível tal conciliação. E neste caso nos amparamos nos artigos do código penal artigo 135 e 141, que exclui da categoria de delito a intervenção médica ou cirúrgica, mesmo sem consentimento do paciente ou de seu responsável legal, se justificada por iminente perigo der vida.

 

CENA XI

CAMERA FAZ PANORÂMICA DO CENTRO DE SÃO PAULO, CORTANDO PARA FÁRIOS TAKES DO COTIANO DO BAIRRO CENTRAL ATÉ FECHAR NO PRÉDIO DE BETH.

DIA – APARTAMENTO – SALA

ROSA: - Oi?!

TONHÃO: - Tonhão, seu criado.

ROSA: - Rosa.

TONHÃO: - O nome condiz com sua total beleza, minha flor.

ROSA: - Obrigada. Entre, fique a vontade.

TONHÃO: - Menina! Não diga isso...

ROSA: - Vou chamar seu Low.

TONHÃO: - (Observa a sala)

LOW: - E ai cara, beleza?

TONHÃO: - Beleza meu irmão. Mas, me diz uma coisa... Quem é a pequena? Tem jeito?

LOW: - Rosa?

TONHÃO: - É a flor mais bonita que já vi...

LOW: - Rosa é boa moça.

TONHÃO: - Oh! Põe boa nisso! Um pitel.

LOW: - Mas vamos ao negócio...

TONHÃO: - O aluguel já discutimos...

LOW: - Mas, está um pouco alto demais...

TONHÃO: - A caranga é coisa de muita catigoria. É pegar ou largar!

LOW: - Bom, vou ficar.

TONHÃO: - Então beleza... É só acerta o adiantamento do aluguel, e te passo a chave.

LOW: - Ainda não estou com o dinheiro...

TONHÃO: - Pô meu camarada, assim você me quebra.

LOW: - Bem que podia quebra essa pra mim. Eu ir pra praça, levantar uma grana e depois te pagar.

ROSA: - Seu Low, seu amigo aceita uma lanche?

TONHÃO: - De suas mãos até um copo com dágua me satisfaz!

ROSA: - Fiz um suquinho natural. Espero que o senhor goste. (Dá o suco para os dois)

TONHÃO: - Tem mãos de fadas meu anjo! Bom, agora tenho que ir. Low, espero você amanhã... Sabe que tem minha preferência.

LOW: - A tarde passo lá.

TONHÃO: - Com o dinheiro! Vou nessa. (Rosa o acompanha) Aceitaria tomar um chopp comigo?

ROSA: - Mas nem te conheço.

TONHÃO: - Boa oportunidade pra conhecer... Eu estou louco para lhe conhecer. Sai que horas?

ROSA: - As sete.

TONHÃO: - Te pego na frente do prédio. (Sai. Fecha a porta)

ROSA: - (Expira) Ai! Que homem!

CENA XII

CÂMERA FAZ PANORAMA DA CIDADE, É EXIBIDA A FAXADA DE UM HOSPITAL COM MOVIMENTOS DO DIA A DIA.

INTERNA - DIA – HOSPITAL

SUNAMITA: - Vou autorizar a transfusão...

EZEQUIEL: - Não pode fazer isso.

SUNAMITA: - O que não posso é deixar minha filha morrer.

EZEQUIEL: - Vai contra nossa religião.

SUNAMITA: - Então por causa da nossa religião, devo deixar minha filha morrer?

EZEQUIEL: - Está querendo interferir na vontade de Deus.

SUNAMITA: - Não. Estou pedindo com todas as minhas forças, para que ele permita que minha filha viva.

EZEQUIEL: - Não pode me desobedecer. Sou seu marido.

SUNAMITA: - E eu sou mãe. Entre mulher e mãe, não há dúvida no que escolher.

EZEQUIEL: - Não pode autorizar sem meu consentimento, sou pai.

SUNAMITA: - Basta uma assinatura.

EZEQUIEL: - Se fizer isso, além de atentar contra nosso Deus, não será mais minha mulher.

SUNAMITA: - Mas continuarei sendo mãe. E terei a consciência tranquila. Aconteça o que acontecer, e terei feito de tudo pra salvar minha filha. (sai)

EZEQUIEL: - Está possuída pelo demônio. Mas, está repreendido em nome de Jesus! (Levanta a bíblia) Repreendido!

SUNAMITA: - Quero minha filha viva. Viva!

CENA XIII

CÂMERA FAZ PANORAMA DA CIDADE, É EXIBIDA A FAXADA DE UM HOSPITAL COM MOVIMENTOS DO DIA A DIA.

INTERNA - DIA – HOSPITAL

SUNAMITA: - Pela primeira vez enfrentei meu marido.

BETH: - Se Sente melhor?

SUNAMITA: - Sabe, nunca pensei que o enfrentaria...

BETH: - Seu marido é muito machista. E fanático. A fé é coerente, o fanatismo radical.

SUNAMITA: - Ele foi criado pra liderar...

BETH: - Escuta Sunamita, eu sei que não devia me intrometer na sua relação com seu marido. Mas, é que eu sou assim mesmo, não consigo ver uma injustiça e ficar calada.

SUNAMITA: - É que a senhora tem um outro estilo de vida. Eu fui criada na palavra, orientada para ser uma boa esposa, cuidar da casa, dos filhos e acima de tudo ser obediente ao marido, temente a Deus.

BETH: - Sabe o que Deus mais quer? É que a gente seja feliz. Você está feliz?

SUNAMITA: - (Escorre uma lágrima) Vou autorizar a cirurgia.

BETH: - Como fico feliz! Agora, neste momento, ouvido você me dizendo isto, sinto a presença de Deus.

SUNAMITA: - Sinto minha fé, se renovar. Jamais me perdoaria se algo acontecesse com minha filha, sem que eu nada fizesse.

BETH: - Vai dar tudo certo. Já deu, em nome de Jesus!

SUNAMITA: - Amem! (Se abraçam)

CENA XIV

PANORÂMICA DA CIDADE EM MOVIMENTO, TAKES DE VÁRIOS PONTOS DA VILA MARINA.

EXTERNA - NOITE – BAR

TONHÃO: - Deixa eu te ajudar... (Puxa a cadeira)

ROSA: - Nossa! Que cavalheiro...

TONHÃO: - Trato bem as damas...

ROSA: - Com todo esse jeitão... e solteiro?

TONHÃO: - Diremos que estava esperando a mulher certa.

ROSA: - Estava?

TONHÃO: - Sim. Já encontrei.

ROSA: - É?

TONHÃO: - É.

ROSA: - Então deve ser de muita sorte essa mulher...

TONHÃO: - Eu que sou um hombre de muita sorte! Pois essa pequena está bem aqui, na minha frente...

ROSA: - Hu, lalá! Tà quente, né?

TONHÃO: - Só tá começando a esquentar.

ROSA: - Mesmo? Ah,senhor! Ufa!

TONHÃO: - Tenho uma proposta...

ROSA: - Qual?

TONHÃO: - Que tal ir pra um cantinho mais tranquilo?

ROSA: - Hoje, ficamos na breja.

TONHÃO: - Então temos uma chance.

ROSA: - Por que, não? (fecha nela)

CENA XV

PANORAMICA DA CIDADE EM MOVIMENTO COM IMAGENS NOTURNAS.

NOITE – INTERNA – APARTAMENTO

LOW: - E ai minha fofucha!

BETH: - Low vamos conversar...

LOW: - Tem que ser agora? (Saindo)

BETH: - É sério Low...

LOW: - Tá bom... Fala Beth.

BETH: - É sobre esse trabalho Low...

LOW: - Que há de errado com meu trabalho, Beth? Por quê essa implicância?

BETH: - Tá tudo errado. Low você não percebe que você está pagando pra trabalhar?

LOW: - A única coisa que esperava de você, era seu apoio. (sai parcialmente)

BETH: - Low... Espera. (Ele para) Te apoio em tudo, você sabe disso. Só não quero que você seja mais um na estatística da violência nesta cidade. Ainda mais arriscando sua vida, dando lucro a outra pessoa.

LOW: - Tô cansado Beth...

BETH: - Imagino. Tua situação não é das melhores, nem tão pouco, das piores. Você não está sozinho Low. Você tem a mim.

LOW: - Obrigado Beth! Bom saber.

BETH: - Você é, e sempre será meu tudo.

LOW: - E você o meu. (Beijam-se)

CENA XVI

INTERNA - DIA - APARTAMENTO

ROSA: - Dona Beth, tô te achando tão xoxinha...

BETH: - E tô mesmo Rosa.

ROSA: - E que foi mulher?

BETH: - É que não consigo entender...

ROSA: - Ah, eu também não… mesmo porque nem sei do que a senhora está falando.

BETH: - Onde já se viu um pai ser tão tapado, tão cego por causa da religião, que é capaz de colocar em risco a vida da própria filha.

ROSA: - Ele é pedólogo?

BETH: - Não, ele não é pedófilo.

ROSA: - Aí, que susto. Então não entendi.

ROSA: - Deixa pra lá… Dona Beth. Assim… O Betão qué, que eu vá com ele… sabe né? Lá… numa dessas casa de repouso...

BETH: - Tem algum parente idoso internado?

ROSA: - Não Dona Beth. (Coloca a mão cobrindo o rosto) Tenho vergonha!

BETH: - Fala logo criatura.

ROSA: - Chamo de casa de repouso, porque a gente vai lá e sai bem relaxadinha… Com a pele boa.

BETH: - Nem sempre, né rosa?

ROSA: - Credo! (Bate na madeira) Jogo esse tipo de energia pro universo se livrar, pra bem longe de mim. Agora deixa eu ir fazer minhas coisas, quero que me sobre um tempo pra ficar diva. (Sai)

CENA XVII

CÂMERA FAZ PANORAMA DA CIDADE, É EXIBIDA A FAXADA DE UM HOSPITAL COM MOVIMENTOS DO DIA A DIA.

INTERNA - DIA - HOSPITAL

EZEQUIEL: - Onde está minha filha?

SUNAMITA: - Está bem.

EZEQUIEL: - Você não fez o que eu estou pensando... Meu Deus mulher?! Você profanou nossa fé.

SUNAMITA: - Não! Eu salvei nossa filha.

EZEQUIEL: - Quem você pensa que é? Que há de errado com você? Você está com a mente contaminada por essas pessoas do mundo. Você se deixou contaminar... Sentou na roda dos escarnecedores... O inimigo se possou de sua alma... Renegaste teu Deus.

SUNAMITA: - Não! Não... Homem, porque tem essa cabeça tão dura? Eu permiti que salvassem nossa filha. É nossa filha Ezequias...

EZEQUIEL: - Tenho pena de você quando as mãos de Deus pesar contra seu pecado, será implacável.

SUNAMITA: - Implacável é sua ignorância, sua estupidez, sua intolerância... Eu sou mãe. E não nada mais importante que a vida da minha filha. Nem mesmo você.

EZEQUIEL: - Bom saber. Você não tem mais um marido. Não precisa voltar para casa, lá você não mais entra. (Sai)

CENA XVIII

INTERNA - NOITE - MOTEL

(ROSA FAZ UMA CENA DE STRIP COM CAMISOLA AO SOM DE RUMBA. BETÃO ESTÁ SÓ DE SAMBA-CANÇÃO GRAVATA E MEIA SOCIAL)

TONHÃO: - Hum! Meu pitelzinho!

ROSA: - Gosta?

TONHÃO: - Se gosto? Murcho.

ROSA: - Si, si yo tabie mi hombre

TONHÃO: - hermosa chica sexy

ROSA: - Também não esculhamba!

TONHÃO: - Não minha flor.

ROSA: - Rosa.

TONHÃO: - Rosa. Só quis fazer um elogio.

ROSA: - Me chamando de Chica?

TONHÃO: - (Ri)

ROSA: - Que foi? Tá tirando onda com minha cara?

TONHÃO: - Imagina! Não é nada disso. Chica sexy significa: garota sexy. (Beija o ombro dela) A altura de sua beleza.

ROSA: - Olha lá, hein...

TONHÃO: - Por que não continua… (Ela continua ao som de fundo da pantera cor de rosa) Aí Meu Deu! Minha Deusa!

ROSA: - Gatinho, fala nada nao, fica quentinho, vai...

TONHÃO: - Então vem cá que vou te mostrar como um homem de verdade age. (Ela deita e ele se dirige a seus pés) Posso?

ROSA: - Que? (Fecha a cena no rosto de decepção de Rosa)

 

CENA XIX

CÂMERA FAZ PANORAMA DA CIDADE, É EXIBIDA A FAXADA DE UM HOSPITAL COM MOVIMENTOS DO DIA A DIA.

INTERNA - DIA - HOSPITAL

BETH: - (Chegando) E ai, como foi?

SUNAMITA: - Segundo os médicos, tudo bem.

BETH: - E por que essa tristeza?

SUNAMITA: - Ezequiel...

BETH: - Está chateado, né?

SUNAMITA: - Me pós pra fora de casa...

BETH: - Que absurdo! Você não vai deixar isso barato, né?

SUNAMITA: - Que posso fazer?

BETH: - As leis estão a seu favor. Você não fez nada. E tem uma filha. Ainda mais agora, ela vai precisar de resguardo pra se recuperar.

SUNAMITA: - Ele julgou que estou endemoniada.

BETH: - Endemoniado está o... Deixa pra lá. Escuta aqui, vai dar tudo certo. Deixa comigo que resolvo isso.

SUNAMITA: - Mas como?

BETH: - Esquenta com isso não... Vamos comer algo?

SUNAMITA: - Não quero lhe dar trabalho.

BETH: - Trabalho algum. Será um prazer ter sua companhia. (Saem)

CENA XX

PANORAMICA DA CIDADE DE SÃO PAULO E CORTA PARA VILA MARIANA.

EXTERNA - DIA - BAR

ROSA: - Quando falo, ninguém acredita. Tem coisa que parece uma coisa, só acontece comigo.

BERENICE: - Por que essa revolta toda mulher?

FATINHA: - É que Rosa teve um homem a seus pés…

ROSA: - Nossa! Que boca aberta você…

FATINHA: - Que foi? Tô mentindo?

ROSA: - Era melhor ter postadodo no meu perfil...

CARMEM: - Conta logo que já tô é curiosa.

FATINHA: - Maior presepada!

BERENICE: - Mas é aquele que foi na casa da tua patroa e deu em cima de tu?

FATINHA: - Maior partidão. Eu pego!

ROSA: - Pode ficar. Ligo não! E seu. E sem devolução.

CARMEM: - Pra tá dispensando assim… É que a pegada não é boa...

FATINHA: - No pé? Hum!

BERENICE: - Que história de pé é essa?

FATINHA: - Conta Rosa. Fala a tara do cabra.

ROSA: - Cala a boca...

CARMEM: - Agora conta. Dizem que fazem horrores com os pés.

BERENICE: - Que menos me importa num homem, é o pé... Não sou pedicure.

ROSA: - Fui sair com o cara, eu lá toda, toda… comprei uma combinação de langerie, fiz uma bela maquiagem. E pensei com todas minhas forças, é hoje!

BERENICE: - E pelo jeito não foi...

FATINHA: - O cara só queria o pé dela.

CAMEM: - Não creio! Vixi! Assim não dar.

FATINHA: - Não deu.

BERENICE: - Mas me conta essas história direito menina. Me interessei.

CAMEM: - Eu também.

FATINHA: - Então ela entrou no quarto…

ROSA: - Dá licença que a história é minha e eu que quero contar

FATINHA: - Aí credo! Ele te nega fogo e eu que pago?

BERENICE: - Fica quetinha bem. Fica.

FATINHA: - Não abro mais a boca.

ROSA: - Ótimo. Então, aí nós foi pro motel, aí chegando lá, menina...

CENA XXI

PANORÂMICA DA CIDADE, MUITO MOVIMENTO...

EXTERNA - DIA - ESTACIONAMENTO

TONHÃO: - Grande Low! Toca aqui pai...

LOW: - Fala ai Betão.

TONHÃO: - Meu brother, que mulher é aquela pequena!

LOW: - Que pequena?

TONHÃO: - Aquela flor, chamada Rosa que habita sua casa.

LOW: - Ah, a Rosa?

TONHÃO: - Com aquela meu irmão, eu danço até lambada! Só assim ô... No rala, rala.

LOW: - A coisa é séria.

TONHÃO: - Basta ela querer. Mas e ai? Que o trás aqui em hora de expediente? Tempo é dinheiro.

LOW: - Exatamente, vim aqui por esse motivo.

TONHÃO: - Eh... Já não tô gostano.

LOW: - Bom, vim aqui pra dizer que não continuarei, pago o dia, devolvo as chaves, que está aqui. E a vida que segue.

TONHÃO: - Amarelando pai?

LOW: - Não. Caindo na real. Não tá virando!

TONHÃO: - Tem que ralá mano!

LOW: - Bom, pra mim não dá.

TONHÃO: - mas, isso não vai interferir na minha relação com a pequena, vai?

LOW: - Isso é entre vocês.

TONHÃO: - Ai sim, disso tudo. Fico até mais leve.

LOW: - valeu.

TONHÃO: - Valeu! (Sai)

CENA XXII

PANORÂMICA DA CIDADE, MUITO MOVIMENTO...

INTERNA - DIA - APARTAMENTO

BETH: - (Percebe Rosa pensativa) Tá nas nuvens Rosa?

ROSA: - Antes fosse viu...

BETH: - E por que está assim tão aérea?

ROSA: - Ah dona Beth, nem te conto...

BETH: - Conta.

ROSA: - Então conto. Sabe aquele moço?

BETH: - Qual?

ROSA: - O amigo do seu Low... Aquele, o dono do carro.

BETH: - Sei...

ROSA: - sai com ele ontem...

BETH: - E ai?

ROSA: - Ai dona Beth... Foi um perrengue.

BETH: - Não diga!

ROSA: - Digo. E conto mais... Tava lá, toda-toda, até espanhol eu falei.

BETH: - E você sabe falar espanhol?

ROSA: - Aprendi nos filmes. Adoro!

BETH: - E ai?

ROSA: - La tica pra cá, lasca pra lá... De repente, o cara em vez de aproveitar, “tudo isso!” se interessou pelo meu pé. Vê que coisa?

BETH: - E ai?

ROSA: - E ai nada, né? E eu vou querê um homem pra ficar agarrado no meu pé?

BETH: - Você se mete em cada uma.

ROSA: - acho que tenho dedo podre pra homem.

BETH: - você acha? Tenho certeza. Agora desce das nuvens, e aterrissa que tem muita coisa pra arrumar. Agora vou...

ROSA: - Vai, vai lá. (Canta um trecho da música sonho de amor) Se você é real, por que você não vem, sonho de amor.

CENA XXIII

PANORÂMICA DA CIDADE, MUITO MOVIMENTO...

INTERNA - NOITE - CORREDOR

FATINHA: - Conto com você amanhã...

BERENICE: - Aí, pelo amor de Deus! Isso não vai dar bode?

FATINHA: - Só se você se acovardar. Já está tudo acertado. Todas deram o ok. Só falta a Rosa.

BERENICE: - Sei não, capaz da Rosa não querer ir…

CARMEM: - (Saindo do elevador)Oi meninas!?

FATINHA: - Oi Carmem... Pronta pra amanhã?

CARMEM: - Ih minha filha, se depender de mim... Vai ter panelaço!

FATINHA: - É isso ai...

CARMEM: - Tô doida pra aparece na televisão.

FATINHA: - Domésticas unidas jamais serão vencidas.

BERENICE: - E se mandam a gente embora?

FATINHA: - A gente faz o escarcel. Saímos de andar a andar fazendo panelaço e protestando. Quem essas madames pensam que é? Vamos botar pra quebrar. Ou vão conhecer a nossa força. Vamos entrar pra história como a Revolta das panelas.

(Rosa sai do elevador)

ROSA: - Oi meninas? Que isso? Rebelião?

BERENICE: - Como cê tá?

ROSA: - Bebedeira desgraçada aquela…

FATINHA: - Também misturaram tudo.

ROSA: - Tô de porre até agora. E vocês que fazem no corredor?

BERENICE: - Amanhã é dia de reunião na A. D. D.

ROSA: - Que?

CARMEM: - Associação das domésticas.

ROSA: - Ah, tá!

FÁTINHA: - Contamos com você.

BERENICE: - Você vai, não vai?

ROSA: - Olha gente, de boa, acho legal lutar por seus direitos...

CARMEM: - Nossos direitos, inclusive o seu.

ROSA: - Bom, eu não vou.

FATINHA: - Ih... Vai dar pra trás.

CARMEM: - Isso é traição. Como pode ficar a favor da patroa e contra nós companheiras de causa?

ROSA: - É que eu não tenho o que reclamar. Dona Beth me pega direitinho, me trata bem… As vezes me sinto de casa.

FATINHA: - Aí é que está. Vai se lembrar que não é de casa quando ela te dê um chute e te colocar pra fora. Vamos Fatinha, não se misture que essa gentalha, traidora.

FATINHA: (Se aproxima de Rosa)

ROSA: - Nem pense nisso! Te dou uma vida, que você vai sair rolando esses escadas. (Elas saem) Só o que faltava! Bando de loucas. Nunca ouviram falar em justiça do trabalho!? Será que ainda existe? (Entra)

CARMEM: - Calma gente! Detesto violência!

CENA XXIV

INTERNA - DIA – CASA OU IGREJA

BETH: - Deve ter muitos pecados pra se redimir...

EZEQUIEL: - Oro por pessoas como você...

BETH: - Não preciso de suas orações. Quando eu quiser falar com Deus, eu mesmo oro. Não preciso de intermediários pra falar com Deus. Ainda mais hipócritas, intolerantes, preconceituosos e a cima de tudo, sem um pingo de amor no coração. Você não é nenhuma referência de compaixão ou amor ao próximo. Tenho certeza que Deus não está nada satisfeito com suas atitudes.

EZEQUIEL: - O inimigo lhe usa, coloca palavras em sua boca para deferir tantas ofensas a mim e a minha religião.

BETH: - Você não passa de um imbecil, marxista e arrogante. Mas fique sabendo que sua mulher vai voltar pra casa com sua filha, e se há alguém que tem que sair, é você, se eu souber que você a impediu de retornar a casa que é dela, ai sim você vai precisar orar muito, porque as leis dos homens vão pesar sobre você.

EZEQUIEL: - Sua Jezebel!

BETH: - Ore. (Sai)

DIAS DEPOIS...

CENA XXV

PANORÂMICA DA CIDADE, MUITO MOVIMENTO...

 

EXTERNA - DIA – PRAÇA

MENINA BRINCA NUM BALANÇO, SUNAMITA OBSERVA.

BETH: - Nasceu de novo, né?

SUNAMITA: - É. Graças a Deus Beth...

BETH: - E a você, que fez a sua parte.

SUNAMITA: - Você foi um anjo...

BETH: - E seu marido?

SUNAMITA: - Está um cordeiro... Estou até impressionada!

BETH: - Eu não. Deus! É assim que se manifesta quando Fazendo o bem.

SUNAMITA: - Verdade Beth.

CENA XXVI

PANORÂMICA DA CIDADE, MUITO MOVIMENTO...

EXTERNA - NOITE – APARTAMENTO

LOW: - Beth, onde você tava?

BETH: - Que empolgação é essa?

LOW: - Preparei umas coisas aqui...

BETH: - Que tem nessa cesta?

LOW: - Se eu disser, perde a graça.

BETH: - Um piquenique?

LOW: - Que sem graça! É uma surpresa.

BETH: - Amei. Cada dia que passa, te amo mais Low

LOW: - E eu a você.

BETH: - Que acha da religião?

LOW: - Acho que sou meio ateu. Sabe, prefiro acreditar num Deus mais flexível, que pode mudar de opinião conforme a situação, que é justo, sem tirania. E que diferente de nós, é capaz de perdoar ainda que aplique o castigo compatível ao erro.

BETH: - Uma vez ouvi uma historia, onde um menino foi conhecer uma região da Ásia, e lá um outro garoto o levou pra vários lugares onde havia muitos templos e ritos de varias religiões. Ao fim do dia o outro menino intrigado revelou: não entendi por que você me levou a todos esses luares. Então outro respondeu. Te trouxe a todos esses lugares para que você percebesse que não importa onde você vá, desde que encontre Deus.

LOW: - Que bonita! A história é tão linda quanto você. , generoso e tão grande, quanto o teu. É raro vê alguém como você,que se importa com o outro, e que age em favor do próximo. Minha heroína, meu tudo!

BETH: - Meu tudo! (Beijo)

FIM

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