quarta-feira, 17 de maio de 2023

BETH & LOW 4

 

BETH & LOW 4

epsódio: Vício fatal

Série de: Marcondys França

Direção: Marcondys França e Dill França

Texto de: Marcondys França

Direção Geral: Marcondys França

Produção de Marcondys França, Dill França e Patrícia Gauger

Cena I

Interna – Stúdio Fotográfico


(YASMIN POSA ESPONTANEAMENTE PARA AS LENTES DO FOTÓGRAFO, BERNARDO ACOMPANHA ATENTAMENTE E DEMONSTRA UMA CERTA PREOCUPAÇÃO)


FOTÓGRAFO:

- Isso aí garota! Virá o rosto um pouquinho pra esquerda, perfeito. Agora faz aquele carão, isso aí… um olhar mais fatal, boa… segura. Aquela leve levantada no queixo...


YASMIM:

- Dá pra dá um time?

FOTÓGRAFO:

- Só mais alguns cliques e fechamos a sessão.

YASMIN:

- Uma pausa rapidinha e prometo retornar mais inspirada que nunca.

BERNARDO:

- Yasmim, já está terminando, e Serginho tem horário…

YASMIN:

- Que é Bernardo? Querem que fiquem boas… Então?! Preciso de um tempo. Cinco minutinhos…

FOTÓGRAFO:

- Tudo bem. Uma pausa. (O fotógrafo sai conferindo os clicks)

BERNARDO:

- Veja bem que vai fazer...

YASMIN:

- Que papo mais careta! Só vou ao banheiro. Coisa de mulher. Que desconfiança!

BERNARDO:

- Yasmim…

YASMIN:

- Fala Bernardo.

BERNARDO:

- A coisa está ficando fora de controle.

YASMIN:

- Eu tô aqui, num tô? Tô dando conta do meu trabalho, não tô? Então não enche. (Sai)

(Câmera fecha em Bernardo apreensivo)

CENA 2

APATAMENTO DE BETH – INTTERNA / DIA

(Rosa entra com uma revista e mostra pra Beth que está na sala pintando uma tela)

ROSA:

- Olha Dona Beth, essa que é minha prima.

BETH:

- Nossa... Bonita a moça!

ROSA:

- Bonita que só ela… Sempre foi. 


(CORTA PARA O STUDIO YASMIN ESTÁ TRANCADA NO BANHEIRO).

BERNARDO:

- Yasmim… Yasmim, abra a porta.

YASMIN:

- Me deixa velho, me deixa. (Yasmin está completamente alterada)

BERNARDO:

- Não acredito nisso.

YASMIN:

- Por que não vai Á merda?!

BERNARDO:

- Se drogando de novo. (Discreto) Que é? Tá querendo se destruir? Acabar com tua carreira?

YASMIN:

- Que saco Bebê! Tô aqui no tô? E modesta parte, o cara tá adorando meu ensaio. Aqui não é pouca coisa não… Me garanto.

FOTÓGRAFO:

- Podemos continuar?

BERNARDO:

- Só mais um minutinho...

YASMIN:

- Podemos sim. Tô pronta meu amor, prontíssima! (Vai para o Stúdio)

FOTÓGRAFO:

- Escuta aqui cara, isso pega mal… Nada contra, mas aqui não rola.

BERNARDO:

- Desculpa. Yasmim é super profissional, só tá passando por uma fase emocional difícil...

FOTÓGRAFO:

- Numa boa cara, já vi essa história antes, é o final não é feliz…

(CENA RETORNA AO APARTAMENTO DE BETH)

ROSA:

- Sempre quis essas coisas de ser artista.

BETH:

- Então conseguiu, está na capa da revista.

ROSA:

- Ih, já fez até comercial. A família toda ficou toda, toda… só vendo.

LOW:

- Beth, empresta o carro?

BETH:

- De novo Low?

LOW:

- Quebra essa, vai…

ROSA:

- Bom, vou terminar meu serviço. (Sai)

BETH:

- Vai sim… Então Low, vou precisar do carro a tarde.

LOW:

- Fica tranquila. Vou demorar não.

BETH:

- Assim espero. E você vai onde?

LOW:

- Vê um trampo. Acho que dessa vez vai...

BETH:

- Espero viu… Deus te ouça.

LOW:

- E esse quadro aí?

BETH:

- Vai nos render uma boa grana.

LOW:

- Olha! Então deixa eu fazer meus corres, antes que minha mulherzinha fique famosa.

BETH:

- Besta!

Cena III

(Apartamento de Yasmin - Interna)

BERNARDO:

- Que pensa que está fazendo?

YASMIN:

- Qual é a tua? Que foi Bernardo, vai querer controlar minha vida pessoal, é?

BERNARDO:

- Escuta aqui garota...

YASMIN:

- Escuta você. Eu não admito que você se intrometa em minha vida pessoal… O que faço ou deixo de fazer, isso é lá comigo.

BERNARDO:

- Será que não percebe que a coisa está ficando fora de controle?

YASMIN:

- Já furei algum compromisso, já? Então não enche.

BERNARDO:

- Cara, que merda é essa? Que tá fazendo com tua vida? Não percebe que está entrando tua vida...

YASMIN:

- Que papo mais careta!

BERNARDO:

- Você tem uma carreira brilhante pela frente. Não estraga tudo.

YASMIN:

- Tenho controle. Paro quando quiser…

BERNARDO:

- Mesmo? Conheço bem essa história, e te garanto que esse script é tão conhecido que chega ser um bordão. Quer saber Yasmim, não é a mim que você terá que convencer… (Saindo)

YASMIN:

- Amanhã que horas?

BERNARDO:

- As nove. 

YASMIN:

- Em ponto. Saco! (Retira do bolso um pacotinho com cocaína e sai de cena)

CENA IV

EXTERNA – SALÃO DR DANÇA – TARDE

(Low procura um preparador artístico)

LOW:

- Bom dia?

KEN:

- Oi?!... Posso ajudá-lo?

LOW:

- Sou Low.

KEN:

- Low? Ah! O amigo do Paulo.

LOW:

- Isso mesmo. Paulo me disse que você poderia me ajudar... (Entrega o jornal) Lê…

KEN:

- Uma audição...

LOW:

- Então, que me diz?

KEN:

- Já dança?

LOW:

- Modesta parte tenho uma certo molejo. Apenas preciso que me ajude a montar uma coreografia impactante para impressionar os selecionadores.

KEN:

- Musical... Não é brinquedo não! Um puta desafio.

LOW:

- Tô prontinho pra enfrentar esse desafio.

KEN:

- Acho que não se atentou a esta parte. Dançarinos profissionais.

LOW:

- Danço bem. Modesta parte sou um pé de valsa. Ganhei até concurso no colegial.

KEN:

- Profissionais.

LOW:

- Aí que você entra.  Me preparando pra essa audição.

KEN:

- Low...

LOW:

- Pensa assim, numa coreografia bem moderna pra eu apresentar nesta audição. De preferência que deixe, todos de boca aberta.

KEN:

- Low...

LOW:

- Sabia que podia contar contigo. O Paulo disse que você é o melhor. (Sai)

KEN:

- Então Low...

LOW:

- Legal, começo amanhã. Que horas?

KEN:

- Tá certo, vamos tentar... As três.

LOW:

- É nós. Valeu meu brother!

CENA V

INTERNA – APARTAMENTO DE BETH

(Beth chega com os quadros)

ROSA:

- E aí dona Beth, como foi?

 

BETH:

- Péssimo!

ROSA:

- Que foi?

BETH:

- Não consegui expor meus quadros na galeria daquele meu amigo...

ROSA:

- Mas seus quadros são tão lindos.

BETH:

- Não basta. Tem que ter nome.

ROSA:

- E agora dona Beth?

BETH:

- Vou expor na feira de artes… Antes isso que ficar com os quadros encalhados. Você pega um suco pra mim?

ROSA:

- Claro.

(Rosa vê um quatro que tem apenas um ponto preto com um pingo de tinta no centro)

- Que isso?

BETH:

-Profundo né?

ROSA:

- É... Mas, num entendi bem, não...

BETH:

- Que vê?

ROSA:

- Uma tela branca, com ponto preto e um pingo vermelho.

BETH:

- A busca pelo preenchimento da satisfação nos leva ao vazio infinito e a mais profunda solidão, transbordando em nós o sentimento de sofrimento, num ciclo vicioso que se repete incessantemente...

ROSA:

- (Confusa) Ah!

BETH:

- Low já voltou?

ROSA:

- Ainda não. (Da cozinha)

BETH:

- Se possa do carro e desaparece.

ROSA:

- Amanhã, posso chegar um pouco mais tarde? Sabe que é, minha tia, Tia Maria, mãe daquela moça, a Yasmin…

BETH:

- A modelo?

ROSA:

- Essa mesmo. Quer falar comigo… Parece que tá acontecendo alguma coisa. E não é coisa boa não. E sabe como é, né dona Beth? Tenho que fazer a social.

BETH:

- É isso aí Rosa, não custa nada dar uma força.

ROSA:

- Eu vou por que sou muito boa. Que essa minha prima, é toda, toda… Te olha assim, torto. 

BETH:

- Mas vai lá. Faz tua parte.

ROSA:

- Então?! Dona Beth, que a senhora acha do porteiro?

BETH:

- Educado...

ROSA:

- Me convidou pra sair…

BETH:

- E você?

ROSA:

- Não que dê confiança. Mas como não tenho nenhum compromisso, aceitei. E por falar nisso estou atrasada. Fui. (Sai)


CENA VI

CASA DE DERCI – COMUNIDADE

(Bernardo vai à casa da mãe de Yasmin na comunidade)

BERNARDO:

- Dona Derci?

DERCI:

- Oi Bernardo. Entra! Que faz aqui? 

BERNARDO:

- Quero conversar com a senhora.

 

DERCI:

- Claro.

BERNARDO:

- Estou muito preocupado com Yasmin...

DERCI:

- Também. Dá última vez que há vi, não me pareceu bem.

BERNARDO:

- Faz um tempinho que não aparece na agência… e antes disso tinha faltado a muitos compromissos. Vou lhe ser sincero, dá última vez que há vi, não parecia a mesma.

DERCI:

- Anda fazendo uso daquelas porcarias…

BERNARDO:

- Precisa de ajuda.

DERCI:

- E o que posso fazer?

BERNARDO:

- Convencê-la a se tratar.

DERCI:

- Se me ouvisse…

Cena VII

(INTERNA - APARTAMENTO - NOITE)

LOW:

- Beth...

BETH:

- Agora Low?

 

LOW:

- Estava resolvendo umas paradas aí… (Joga o jornal no sofá)

BETH:

- Olha, eu já jantei. Te esperei, mas você nunca chegava.

LOW:

- Tudo bem, fiz um lanche na rua.

BETH:

- Lanche na rua Low?

LOW:

- Hey calma! Tô bem. 

BETH:

- Fica comendo essas porcarias na rua… Vou esquentar algo pra você.

LOW:

- Precisa não… só preciso mesmo é de um bom banho, e cama. (Abraça Beth)

BETH:

- E, nem vem que hoje não tem…

LOW:

- Negando fogo, é?

BETH:

- Que fogo? (Pega o isqueiro)

LOW:

- Para com isso… Para Beth… Isso queima… (Corre para o banheiro)

BETH:

- Claro, é fogo! (Olha o jornal) Amanhã nem pense em sair com meu carro, vou precisar dele.

LOW:

- (Barulho de água) Seu desejo é uma ordem.

BETH:

- (Abre o jornal e vê o classificado marcado) Ah, não! Que merda é essa? De novo não.

CENA VIII

INTERNA NOITE - COMUNIDADE CASA DE DERCI
ROSA:

- Tia?

DERCI:

- Oi Rosa! Entra filha…

ROSA:

- Sua benção...

DERCI:

- Que Deus lhe abençoe.

ROSA:

- Que tá rolando tia?

DERCI:

- Yasmin...

ROSA:

- Que foi tia?

DERCI:

- Tá envolvida com coisas erradas.

ROSA:

- Com que tia?

DERCI:

- Essas porcarias… Drogas.

ROSA:

- Que tipo de drogas, tia?

DERCI:

- E eu sei? Quem disse que sei. Só sei que tá acabando com a vida dela. Já nem trabalha direito.

ROSA:

- Que merda tia! Desculpa.

DERCI:

- Que nada filha. Rosa, quero te pedir pra ir comigo lá no apartamento dela…

ROSA:

- Claro. Mas, será que ela não ficará chateada por eu aparecer assim...

DERCI:

- Ainda sou mãe dela. 

ROSA:

- Sendo assim, te acompanho tia. (Pega na mão da tia) Fica tranquila, vai dá tudo certo.

CENA IX

EXTERNA – CENTRO DA CIDADE

(Yamim caminha feito andarilho pelo centro da cidade, está má vestida e suja, com seus cabelos desalinhados, pouco lembra a bela modelo)

 

CENA XI

INTERNA – TARDE – GALPÃO

(Low se encontra com KEN para o primeiro dia de ensaio)

 

CENA XII

EXTERNA – TARDE – FEIRA DE ARTES

(Beth expõe seus quadros na feira de artes)

CENA XIII

INTERNA – TARDE - BAR

(Yamin usa drogas num banheiro insalubre)


CENA XIV

(Low dança desengonçadamente e Ken demonstra preocupação)


CENA XV

EXTERNA – TARDE – CENTRO DA CIDADE

(Beth corre pela rua com seus quadros com o rapa em sua cola)

POLICIAL:

- Parada aí dona… 

BETH:

- Quê que é? Com tantos bandidos soltos por aí, você sai em busca de gente trabalhadora… 

POLICIAL:

- Perdeu dona, perdeu… 

BETH:

- Pois tente me tirar meus quatros, tente! Aí sim vou presa, mas vou com todo prazer. Isto é, se você conseguir se levantar.

POLICIAL:

- A senhora está me ameaçando?

 

 

BETH:

- Avisando… Nos meus quadros você não toca. Aí, todo mundo está vendo, espero que filmem, isso é uma arbitrariedade… É assim que nossas autoridades, os que deveriam nos defender, nos trata. Correm atrás de quem trabalha, enquanto isso, os bandidos fazem a festa…

POLICIAL:

- Posso lhe prender por desacato.

BETH:

- Desacato é essa arbitrariedade que o senhor está tentando cometer.

POLICIAL:

- Beth?

BETH:

- Como sabe meu nome?

POLICIAL:

- Sou eu, Paulão.

BETH:

- Paulão?

POLICIAL:

- É Paulão do berimbau.

BETH:

- Meu Deus! Que mundo pequeno! Paulão… Quem diria! Aí meu Deus! Que mico.
POLICIAL:

- Que isso! Me desculpa aí… Só estou fazendo meu trabalho. (Riem)

BETH:

- Não vai me prender?

POLICIAL:

- Só se for...

BETH:

- Paulão, cuidado… Sou uma mulher casada. E bem casada.

POLICIAL:

- Mas bebe uma cerveja comigo?

BETH:

- Um suco.

CENA XVI

EXTERNA – COMUNIDADE – CASA DE DERCI

DERCI:

- Como está minha filha Bernardo? Por favor, não minta pra mim, não esconda a verdade.

BERNARDO:

- vou lhe ser honesto. A coisa está feia. Está completamente fora de controle.

DERCI:

- Meus Deus! Temos que fazer alguma coisa… Do jeito que está, não pode ficar… tô vendo a hora é chegar aqui a notícia ruim.

BERNARDO:

- Também tenho esse medo. Tenho medo de abrir aquela porta, e encontra-la….

DERCI:

- Não diga isso meu filho…

BERNARDO:

- Desculpe-me, não foi minha intenção.

DERCI:

- Preciso fazer alguma coisa pra ajudar minha filha...

(Bernardo olha penalizado).

CENA XVII

INTERNA APARTAMENTO DE BETH - NOITE
(Rosa se abre com Beth)

ROSA:

- Dona Beth, sabe aquela minha prima!?

BETH:

- A modelo?

ROSA:

- Então menina… E não tá envolvida com coisa errada. 

BETH:

- Não diga Rosa. Uma moça tão bonita.

ROSA:

- Então?!...

BETH:

- Droga é mesmo uma droga. Destrói qualquer vida. O pior de tudo que além de se afundar, ainda acaba levando a família junto.

ROSA:

- Dá até do de ver o sofrimento da minha tia. Tá arrasada.

BETH:

- Não é fácil mesmo. Mas sua prima Rosa, não está passando por isso por desejo próprio não…

 

ROSA:

- Mais procurou…

BETH:

- Muitas vezes por curiosidade Rosa. Mas o vício é uma doença. E como todas graves doenças, vencer é grande batalha, nem sempre vitoriosa.

ROSA:

- E o que se deve fazer?

BETH:

- Buscar tratamento, ajuda.

ROSA:

- Mas como? A menina está de cabeça virada.

BETH:

- Pra isso, precisa que sua prima queira ajuda.

ROSA:

- Sei não viu…

CENA XVIII

Interna – Dia - Galpão

KEN:

- Ah meu Deus! Desisto.

LOW:

- Calma cara, tô quase lá...

KEN:

- Lá onde? Desde que começamos, não saímos do ponto de partida Low… Uma porta se movimenta melhor que você.

LOW:

- Também não esculhamba não… Tô bem melhor.

KEN:

- Cara, estamos falando de uma audição… Lá vai está os melhores bailarinos do país querendo uma vaga...

LOW:

- Tá querendo dizer que não consigo? É isso Ken?

KEN:

- Isso não é tua praia Low...

LOW:

- Ah, não é?

KEN:

- Como profissional sou obrigado a ser honesto contigo.

LOW:

- Puts! Boa forma de me colocar pra cima!

KEN:

- Low...

LOW:

- Ken, confio no meu taco. Me mostra a coreografia, e deixa comigo.

KEN:

- Cada uma! Então bora lá, solta a música… Um, dois, três, quatro… (Reiniciam o ensaio)

CENA XIX

(BERNARDO ENCONTRA YASMIM DEBAIXO DE UM VIADUTO SUJA E MALTRATADA)

BERNARDO:

- Yasmin?

 

YASMIN:

- Que você que? Veio conferir minha desgraça?

BERNARDO:

- Então reconhece que...

YASMIN:

- Tô bem, tô ótima! Nunca estive melhor…

BERNARDO:

- Olha pra você? 

YASMIN:

- Não gosto que me olhe assim… Vai pra merda com tua piedade… Sou bem mais feliz aqui, que lá… Não passava de uma vaquinha de presépio.

BERNARDO:

- Uma modelo bem sucedida...
YASMIN:

- Infeliz!

BERNARDO:

- Isso não é vida...
YASMIN:

- Quem diz o que é vida ou não pra mim, sou eu. Eu escolho a minha vida.

BERNARDO:

- Vai continuar se afundando? 

YASMIN:

- Paro quando quiser.

BERNARDO:

- Você está doente Yasmin… Precisa de ajuda.

 

YASMIN:

- Doente?!… Doente está você. Se precisar de sua ajuda eu peço.

BERNARDO:

- Nem preciso te perguntar que faz para conseguir…

YASMIN:

- Que papo mais careta.

(Pega ela pelos braços e a leva na frente de uma vitrine)

BERNARDO:

- Olha pra você. Veja no que se tornou.

YASMIN:

- Não, Não… (Desaba) Essa não sou eu… não, sou eu.

CENA XX

(Low pega uma bolsa e sai apressado. Rosa entra acompanhada de Derci, Beth está pintando outro quadro)

LOW:

- Bom dia, bom dia… (Beija)

BETH:

- Onde vai assim tão apressado?

LOW:

- Negócios...

BETH:

- Posso saber que negócios são esses?

LOW:

- Surpresa.

BETH:

- Tenho até medo.

LOW:

- Esquenta cabeça não… Você vai ter muito orgulho desse teu maridinho...

BETH:

- Que está aprontando Low?

LOW:

- No tempo certo saberá… (A beija e sai)

ROSA:

- Dona Beth… 

BETH:

- Oi Rosa?!

ROSA:

- Essa é minha tia Derci.

BETH:

- Oi, tudo bom?

DERCI:

- Com sua licença…
BETH:

- Fique a vontade. Rosa já é de casa. Sente.

DERCI:

- Obrigado.

ROSA:

- Então dona Beth, sobre aquele assunto… A senhora havia me dito que tem um amigo que ajuda pessoas com problemas com drogas...

BETH:

- Sim, sim...

 

 

DERCI:

- A senhora não pode imaginar o quanto lhe serei grata se puder me ajudar.

BETH:

- Mas é claro que lhe ajudo. Só que conforme expliquei a Rosa, pra que possamos fazer é algo, como buscar ajuda, é preciso que sua filha aceite ajuda.

DERCI:

- Olha dona Beth…

BETH:

- Pega uma água ou suco, pra sua tia Rosa.

DERCI:

- Minha menina já saiu da rua. Agora voltou lá pra casa dela… Mas ainda…

BETH:

- Não é fácil. Mas, já é um grande passo.

DERCI:

- Eu só queria que ela ficasse longe dessas drogas…

ROSA:

- Aqui a água.

BETH:

- Um passo de cada vez. O primeiro passo já deu. E se ela estiver disposta...

DERCI:

- Mas eu vi uma vez na tevê, que a família pode internar a força…

BETH:

- Sim, a família pode interditar e internar uma pessoa mesmo contra a vontade dela, isso num caso extremo. 

DERCI:

- Então minha filha?

BETH:

- Mas isso na maioria dos casos, não garante a reabilitação das pessoas… 

DERCI:

- Não quero perde minha menina pras drogas. Por favor, me ajude dona Beth.

BETH:

- Eu vou tentar. Prometo que vou...

ROSA:

- Tia, podemos levar Dona Beth lá no apartamento de Yasmin...

BETH:

- Eu converso com ela e se ela topar, consigo um lugar pra ela se tratar.

DERCI:

- Jura?
ROSA:

- Dona Beth conhece uma pessoa que faz um trabalho social com pessoas drogadas.

BETH:

- É uma ONG ligada a igreja… 

DERCI:

- Nem sei como agradecer dona Beth.

BETH:

- Agradeça enxugando essas lágrimas (Derci abraça Beth)

CENA XXI

NOITE – APARTAMENTO DE YASMIN

(Yasmin tem crise de abstinência)

BERNARDO:

- Hey, espera aí..

YASMIM:

- Me deixe… (Revira as coisas)

BERNARDO:

- Que está procurando?

YASMIM:

- Tava aqui. Aqui...

BERNARDO:

- Joguei aquela porcaria fora.

YASMIN:

- Não, não… você não fez isso. Não fez… cadê, cadê? Onde você enfiou a merda do bagulho cara? Eu preciso… onde está, onde? Só um tecido, só um… Por favor...

BERNARDO:

- Não, não precisa… 

YASMIN:

- Por favor… me diz onde. Eu preciso. Preciso!

BERNARDO:

- Não Yasmim… Não precisa. Tá limpa a dois dias.

YASMIM:

- Mas não aguento mais. Eu quero. Quero agora. (Fica violenta) Me dá a porta desse pó cara, me dá...

 

 

 

 

BERNARDO:

- Que vai fazer? (Ela em direção a porta, ele chega primeiro e tranca tirando a chave)

YASMIM:

- Abre essa merda! Abre essa porra, abre logo abre. (Esmurra aos prantos, descontrolada. Bernardo a abraça forte tentando controla-la ao mesmo tempo que a conforta)

CENA XX

(LOW CHEGA AO LOCAL DE ENSAIO)
KEN:

- Demorou...

LOW:

- Vim de busão. Hoje Beth, minha mulher precisava usar o carro.

KEN:

- Aqui está. (Entrega um pacote)

LOW:

- Que isso?

KEN:

- Teu figurino.

LOW:

- (Abre) Tá de brincadeira.

KEN:

- Quer dançar ou não?

LOW:

- Não só quero, como vou dançar e consegui uma vaga.

KEN:

- Deus te ouça e os anjos digam amém!

LOW:

- Só acho que deveríamos mudar aquela parte da coreografia…

KEN:

- De novo não! Já alterei umas cinco partes dessa coreografia.

LOW:

- Sem aquele “oito”, ficou muito melhor.

KEN:

- Hum! Dava toda uma graça na coreografia.

LOW:

- Só que aquela parte da cadeira me incomoda um pouco. É um tanto, estranha. A corridinha me incomoda também.

KEN:

- Preconceito não! É tudo inspirado nos anos 80.

LOW:

- Não é preconceito cara, juro que não. Só não me sinto confortável.

KEN:

- Não abro mão dessa parte da coreografia. Vai por mim… vai impressionar a banca julgadora. E vamos ensaiar que o tempo voa…

CENA XXIII

(BETH ACOMPANHA ROSA NO APARTAMENTO DE YASMIN)

BERNARDO:

- Oi?

 

ROSA:

- Sou Rosa e essa é dona Beth.

BERNARDO:

- Derci me avisou. Entrem.

ROSA:

- E Yasmim?

BETH:

- Licença.

BERNARDO:

- Toda. Olha, ela está meio agitada. Mas podem ficar a vontade.

ROSA:

- Viemos aqui pra conversar com ela.

BERNARDO:

- Foi um dia difícil… Peço que tenham paciência com ela.

YASMIN:

- Rosa?
ROSA:

- Como vai Yamin?

YASMIN:

- Já sabe como estou né?

ROSA:

- Sim, sei. Mas estamos aqui pra lhe ajudar.

YASMIN:

- E por que?

 

ROSA:

- Porque sou sua prima. Essa é dona Beth minha patroa. E ela sabe que pode nos ajudar.

BERNARDO:

- Bom, eu vou esperar lá dentro.

YASMIN:

- Não. Fica. 

BERNARDO:

- Então, que tal nos sentarmos?!

BETH:

- Acho uma boa ideia.

BERNARDO:

- E como a senhora pode nos ajudar?

BETH:

- Nossa! Me senti um dez anos mais velha. Pra começar prefiro que me tratem por você.

YASMIN:

- Você é o que psicóloga?

BETH:

- Todos nós somos meios psicólogos… Mas não. Sou não. Apenas uma amiga da família, tentando ajudar. Isto é, Yasmim, se você topar.

BERNARDO:

- E como você pode nos ajudar?

BETH:

- Podemos ter uma conversa franca e direta Yasmin?

YASMIN:

- Claro.

BERNARDO:

- Então Rosa, você vem comigo? (Saem)

BETH:

- Vou ser bem direta com Yasmim, posso te ajudar, tenho um amigo muito querido que trabalha com pessoas, que passam pelo mesmo problema que você enfrenta. Mas para que possamos te ajudar, preciso saber se você está realmente disposta a enfrentar o tratamento desintoxicação química.

YASMIN:

- Vão me internar?

BETH:

- Não. Você vai de livre e espontânea vontade passar o tempo que for preciso para se tratar e ficar livre do vício.

YASMIN:

- Não tenho como pagar. Já perdi quase tudo. Até esse ap, estou perdendo. Só não já perdi por causa da ajuda de Bernardo.

BETH:

- Quanto a isso não vai precisar se preocupar, essa clínica é super séria, e faz parte de uma ONG.

YASMIN:

- Tenho medo?

BETH:

- Ter medo é natural.

YASMIN:

- E se eu não consegui?

BETH:

- Ao menos tentou.

YASMIN:

- Por que está fazendo isso por mim, sem ao menos me conhecer?

BETH:

- Faço por você, o que gostaria que fizessem por mim se estivesse nesta situação.

YASMIN:

- Eu topo. Quero tentar. Já não aguento mais viver assim… Quero minha vida de volta.

BETH:

- Que bom! É isso que quero ouvir. Que não fique só nas palavras. Será uma grande batalha…

YASMIN:

- Sei disso. Mas, estou disposta a enfrentar.

BETH:

- Que bom! Não está sozinha nessa luta. Hoje mesmo falo com meu amigo e vamos providenciar tudo.

YASMIN:

- Obrigada, dona Beth. (Abraça Beth)

CENA XXIV

(HÁ UMA BANCA EXAMINADORA. TODOS MUITO SÉRIOS)

KEN:

- Você é próximo.

LOW:

- Tô tenso.

 

KEN:

- Eu mais ainda… (Tenta tranquilizar) Vai dá tudo certo, é só seguir a sequência coreográfica que tudo sairá bem.

ASSISTENTE:

- Próximo?!

LOW:

- Eu.

ASSISTENTE:

- Trouxe cd?

KEN:

- Esse aqui. Merda!

LOW:

- Merda.

DIRETOR:

- Podemos começar?

LOW:

- Sim.

(Diretor dar o sinal, ASSISTENTE solta a música. Low começar a sequência seriamente eles se entreolham. Paulo assiste por uma brecha)

KEN:

- Que isso? (A apresentação foi um desastre)

DIRETOR:

- Tá bom. Já deu.

LOW:

- Então? Fui aprovado?

 

 

ASSISTENTE:

- O senhor pode aguardar o resultado, caso seja aprovado entraremos em contato.

DIAS DEPOIS...

CENA XXVI

EXTERNA - APARTAMENTO - DIA

ROSA:

- Aí dona Beth, a senhora é danada, hoje Yasmim sai da clínica.

BETH:

- Esse é só o começo do tratamento. Um dependente químico precisa está sempre atento, um dia de cada vez, pois uma recaída não é impossível.

ROSA:

- Mais pelo que tia Derci disse, Yasmim tem reagido super bem. É Deus na Terra e a senhora no céu.

BETH:

- Que nada! Só fiz o que devia ter feito. Na vida é assim Rosa, tudo que fazemos de certa forma retorna pra gente.

ROSA:

- Verdade. E por falar nisso, amanhã ela volta a fazer fotos e mandou isso aqui...

(Beth ler, imagens de Yasmim posando para o fotografo)

YASMIN:

- (Off) Beth, muito obrigada por tudo, a vida segue, e graças a tua ajuda, hoje estou recuperada e retomando a minha vida. Deus coloca no mundo anjos, e esses anjos se apresentam para nós, em forma de seres humanos, prontos para nos ajudar, fazendo o bem, sem olhar a quem. Um dia de cada vez, mas, com a certeza e com o apoio dos que realmente nos amam, somos capazes de prosseguir essa longa caminhada.

BETH:

- E Low, hein? Que será que está aprontando? Não tem parado em casa…

ROSA:

- É tem andado todo borocochô. Bem, vou nessa! A caminhada é longa. Boa noite, dona Beth!

BETH:

- Boa.

CENA XXVII

EXTERNA - NOITE - CENTRO DE SÃO PAULO

(Low caminha meio desolado)


CENA XXVIII

INTERNA - APARTAMENTO - NOITE 
(Beth está deitada assistindo tv)

LOW:

- Oi?!

BETH:

- Oi!

(Low senta ao lado de Beth)

BETH:

- Dia difícil?

LOW:

- Mais um.

BETH:

- Amanhã será um novo dia.

LOW:

- É… Será.

BETH:

- Low, não está sozinho...

LOW:

- Sei que não. Não sei que seria da minha vida sem você.

BETH:

- E eu sem você. Você é sempre será meu tudo.

LOW:

- Tudo! É o que é pra mim.

BETH:

- Tudo.

LOW:

- Tudo!

 

Fim do episódio.

 

Sobe legendas...

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