PERSONAGENS:
MAÍRA
EVALDO (Pai de Maíra)
BERNADETE (Mãe
de Maíra)
CONSUELO (Florista)
CRISTINA (Filha
de Consuelo)
LUIS ROBERTO (Filho de Maíra
criado por Consuelo)
LISETE (Empregada
de confiança de Maíra)
LUIS ALBERTO
CONSTANZA (Mãe
de Luís Alberto)
DIVA (Empregada
de Constanza)
DR. AUGUSTO
SEGUNDO ATO
CENA I
(Augusto entra em cena feliz com um
envelope na mão)
AUGUSTO:
- Bia...
BIA:
- Senhor?
AUGUSTO:
- Maíra, onde está?
BIA:
- Saiu senhor.
AUGUSTO:
- Disse onde iria?
BIA:
- Não senhor.
AUGUSTO:
- Que pena!
BIA:
- Mas acho que já deve está voltando. Faz algum tempo que saiu...
AUGUSTO:
- Desejava tanto encontrá-la.
BIA:
- O senhor quer que eu lhe prepare um drinque?
AUGUSTO:
- Não. Obrigado Bia. Embora hoje eu deseje comemorar.
BIA:
- Comemorar?
AUGUSTO:
- É. Depois de vinte anos, tenho em minhas mãos algo que mudará
completamente a nossa vida.
BIA:
- Se é uma boa notícia... Que seja bem vinda a esta casa então.
AUGUSTO:
- Depois de vinte anos... Vou poder proporcionar a minha querida Maíra a
tão esperada felicidade... (Sente uma pontada no coração)
AUGUSTO:
- Ai meu Deus! (Cai)
BIA:
- Que foi? Seu Augusto... O senhor está bem?
AUGUSTO:
- Não...
BIA:
- Ai meu Deus! O
senhor está ficando pálido. Senhor... (Desespero) Senhor...
Meu Deus! Ai... Não faz isso comigo, não.
MAÍRA:
- Bia?
BIA:
- Senhora...
MAÍRA:
- Que está acontecendo aqui?
BIA:
- É o senhor Augusto.
MAÍRA:
- Que foi?
BIA:
- Não sei. Deu um troço nele e desabou...
AUGUSTO:
- Maíra...?
MAÍRA:
- Sim, meu querido.
BIA:
- Que faço senhora?
MAÍRA:
- Não fique ai feito uma estátua! Chame uma ambulância.
BIA:
- Sim senhora.
AUGUSTO:
- Maíra...
MAÍRA:
- Calma meu querido, tudo vai ficar bem...
AUGUSTO:
- Maíra... O envelope...
MAÍRA:
- Não se esforce tanto! Logo a ambulância estará aqui.
AUGUSTO:
- Chegou a minha hora.
MAÍRA:
- Não diga bobagem.
BIA:
- Já estão vindo.
MAÍRA:
- Graças a Deus!
AUGUSTO:
- Quero que saiba...
MAÍRA:
- Psiu! Não se esforce... Onde estão que não chegam?
BIA:
- Calma senhora!
MAÍRA:
- Como posso ter calma? Cada minuto que perdemos...
AUGUSTO:
- Maíra?
MAÍRA:
- Estou aqui.
AUGUSTO:
- Sempre te amei...
MAÍRA:
- Sei disso meu querido.
AUGUSTO:
- Você me fez um homem muito feliz...
MAÍRA:
- Não fale assim. Não fale como estivesse despedindo-se de mim.
AUGUSTO:
- Foi Deus que a pôs em minha vida. Você me trouxe alegria devolvendo-me
a razão de viver.
MAÍRA:
- Não meu querido. Você é que foi, é e sempre será o anjo que veio pra
me proteger. E por isso eu te ordeno que aguente firme.
AUGUSTO:
- Eu... Consegui...
MAÍRA:
- O que?
AUGUSTO:
- Seu filho...
MAÍRA:
- Meu filho? (Piora)
AUGUSTO:
- Seu filho...
MAÍRA:
- Psiu! Calma... Depois... Você... (Augusto falece no colo de
Maíra)- Augusto? Augusto... (Desespero) Não! Não...
BIA:
- Senhora... Está morto. Seu Augusto, está morto. Sinto muito. Não há o
que fazer.
MAÍRA:
- Não pode ser. Isso não pode está acontecendo. Meus Deus! Por que? Por
que ele? Augusto sempre foi um homem tão bom.
BIA:
- Venha senhora. Não há mais o que fazer. Logo os paramédicos chegarão.
Enquanto isso, vou lhe preparar um calmante.
MAÍRA:
- Não. Vou ficar aqui, ao lado dele. É o mínimo que posso fazer por ele
neste momento. (Coloca -o em seu colo e caricia seus cabelos
carinhosamente) Meu querido... Adeus! Você foi a melhor pessoa que
conheci.
(Barulho de ambulância. Apagam-se as
luzes)
CENA II
(Entram Luís Alberto, Cristina e
Consuelo)
LUIS ALBERTO:
- Vamos mãe...
CRISTINA:
- Desse jeito vamos chegar no final da festa!
CONSUELO:
- Calma crianças. Não quero chegar feito uma marmota! Afinal, hoje é um
dia muito especial pra você meu filho.
LUIS ALBERTO:
- De qualquer jeito você é linda mãe.
CONSUELO:
- Nossa! Olha que eu acredito.
CRISTINA:
- Concordo com meu irmão. Você está maravilhosa!
CONSUELO:
- Opinião de filhos não vale.
LUIS ALBERTO:
- Posso saber por quê?
CONSUELO:
- Jamais vocês me diriam se estivesse feia.
CRISTINA:
- Querendo ganhar mais elogios!
LUIS ALBERTO:
- Mãe... Estou tão feliz de poder compartilhar com vocês, minha família,
este dia tão especial.
CONSUELO:
- Você merece, meu filho.
LUIS ALBERTO:
- Se não fosse a senhora... Jamais teria conseguido.
CONSUELO:
- Filho... Este é o resultado dos seus esforços. Sua dedicação lhe
trouxe aqui.
CRISTINA:
- Vamos parar com essa rasgação de seda... Assim não vamos chegar a
tempo de vê meu querido irmão receber o tão desejado canudo.
LUIS ALBERTO:
- Meninas! Então vamos... Damas? (Oferece os braços e saem)
CENA III
(Maíra está sentada, abatida veste preto. Entra
Lisete com uma bandeja)
BIA:
- Senhora...
MAÍRA:
- Desculpe-me Bia. Não percebi sua presença.
BIA:
- Trouxe um lanchinho.
MAÍRA:
- Obrigada! Mas vamos deixar para uma outra hora.
BIA:
- Senhora, precisa se alimentar.
MAÍRA:
- Não sinto vontade.
BIA:
- Se continuar assim ficará doente.
MAÍRA:
- Por que tem que ser assim?
BIA:
- Não temos como impedir a vontade de Deus.
MAÍRA:
- Toda minha vida é uma sequência de desgraças.
BIA:
- Não diga isso senhora. Deus sabe o que faz. Não cai uma só folha que
não seja pela vontade de Dele.
MAÍRA:
- Não entendo. Por que Deus me tirou Augusto?
BIA:
- Chegou a hora dele senhora. E quando chega a hora, temos que ir.
MAÍRA:
- Por que ele e não eu?
BIA:
- Não era seu momento. Seu marido está em um bom lugar.
MAÍRA:
- São tantas perdas...
BIA:
- Muitos ganhos também. A senhora mesmo me contou o quanto sofreu. Mas
Deus colocou em seu caminho doutor Augusto e sua vida mudou.
MAÍRA:
- Que adianta todo esse dinheiro se o vazio que me invade a alma é
imensa?
BIA:
- Não diga isso!
MAÍRA:
- Perdi meu filho. Nunca mais o vi. Nem sei como ele é... Meu maior
desejo é encontrar meu filho e abraçá-lo.
BIA:
- Ninguém melhor que eu sabe disso.
MAÍRA:
- Meu pai nunca me perdoo, morreu de desgosto. Minha mãe me tem como
morta e agora Deus me tira o homem que amo, a única pessoa que foi generosa
comigo.
BIA:
- Ele se foi. Mas a vida continua. E seu sonho de encontrar esse seu
filho? Vai desistir?
MAÍRA:
- Tem razão... Preciso reagir. Encontrar meu filho é minha motivação
para viver.
BIA:
- Beba ao menos o suco.
MAÍRA:
- Obrigada! (Bebe. Se Levanta)
BIA:
- Vai sair?
MAÍRA:
- Preciso respirar um pouco.
BIA:
- Senhora... Seu Augusto, antes de morrer... Disse que tinha algo a lhe
dizer, e que isto irá lhe trazer muita alegria.
MAÍRA:
- E o que era?
BIA:
- Isso eu não sei não senhora... Mas pelo que percebi, tem a haver com
este envelope.
MAÍRA:
- Um envelope? Que será?
BIA:
- Abra senhora...
MAÍRA:
- (Abre) Ah, meus Deus! (Emoção) Bia...
É o endereço. Augusto encontrou meu filho.
BIA:
- Que bom senhora! (Se abraçam)
MAÍRA:
- Meu Deus! Que felicidade.
BIA:
- E agora, que vai fazer?
MAÍRA:
- Estranho... Esperei tanto por este momento, e agora não sei o que
fazer.
BIA:
- É... Mesmo porque a senhora precisa chegar com cuidado...
MAÍRA:
- Tem razão. Por mais que eu seja a mãe dele, meu filho não me conhece.
Preciso pensar... Bia, peça pra tirar meu carro da garagem.
BIA:
- Mas pra onde vai assim?
MAÍRA:
- Vou procurar a Diva. Quem sabe ela não pode me ajudar.
BIA:
- Claro senhora. Com licença.
MAÍRA:
- Ah, meu filho! Meu bebe... Hoje deve está um homem. (Sai)
CENA III
CONSUELO:
- Não vejo a hora de chegar em casa, meus pés estão me matando.
CRISTINA:
- Espera. Gente! Esqueci minha bolsa...
CONSUELO:
- Ah, meu Deus! Então vamos voltar!
CRISTINA:
- Mas a senhora disse que seus pés...
CONSUELO:
- Nada que não consiga suportar.
LUIS ROBERTO:
- Se não se importam vou esperar aqui. Confesso que meus pés também
estão me matando.
CRISTINA:
- Não nos importamos. Vamos mãe... (Saem)
(Entra Maíra e senta-se ao lado de Luis
Alberto)
LUIS ROBERTO:
- Aceita? (Dar um lenço)
MAÍRA:
- Obrigada!
LUIS ROBERTO
- A senhora está bem?
MAÍRA:
- Não se preocupe. Vai passar.
LUIS ROBERTO
- Posso lhe ajudar?
MAÍRA:
- Infelizmente não.
LUIS ROBERTO
- Sinto muito.
MAÍRA:
- Não quero lhe incomodar.
LUIS ROBERTO
- Sou bom ouvinte.
MAÍRA:
- Não é uma boa história.
LUIS ROBERTO
- Só pelo fato de ser uma história já merece minha atenção.
MAÍRA:
- Quem sabe em, um outro momento.
LUIS ROBERTO
- Isto quer dizer que lhe verei outra vez. Com todo respeito.
MAÍRA:
- Quem sabe. Tudo é possível.
LUIS ROBERTO
- Engraçado... Tenho a impressão que já nos conhecemos.
MAÍRA:
- Também tive esta impressão. Mas creio que seja apenas uma
coincidência.
LUIS ROBERTO
- Perdão. Mas não acredito em coincidências.
(Entra Consuelo e Cristina)
CONSUELO:
- Luís Alberto, vamos...
LUIS ROBERTO
- Ah, essa é...?
MAÍRA:
- Maíra.
CONSUELO:
- Maíra?
MAÍRA:
- Consuelo!
LUIS ROBERTO
- Vocês se conhecem?
MAÍRA:
- Meu Deus! Esperei tanto por esse momento.
CONSUELO:
- Está me confundindo senhora.
MAÍRA:
- Não. Tenho certeza que é você quem tanto procurava.
CONSUELO:
- Sinto muito. Mas não sou quem pensa.
MAÍRA:
- Meu filho?
CONSUELO:
- Não diga uma só palavra. Estás louca.
LUIS ROBERTO
- Mãe!
CONSUELO:
- Fique longe dos meus filhos.
MAÍRA:
- E meu filho? Onde está? Por favor... Onde está meu filho?
CONSUELO:
- Não sei do que está falando.
MAÍRA:
- Por favor... Me diga! Onde está meu filho?
CRISTINA:
- Mãe o que está acontecendo? Conhece essa mulher?
CONSUELO:
- Não. Nunca lhe vi antes. É uma louca. Louca! Vamos. (Sai com
Cristina)
LUIS ROBERTO
- Senhora, Este é meu cartão.
CONSUELO:
- Vamos Luís Alberto. (Saem)
MAÍRA:
- Meu filho! Meu Deus! É meu filho. Posso sentir. Obrigado Deus!
Obrigado.
CENA VII
(Entra Luis Alberto Consuelo e
Cristina)
LUIS ROBERTO
- Vou tomar um banho. (Sai)
CRISTINA:
- Mãe...
CONSUELO:
- Se for falar daquela louca é melhor desistir.
CRISTINA:
- Por que está com tanto medo?
CONSUELO:
- Medo? Eu? Do que teria medo?
CRISTINA:
- Aquela mulher não me parecia louca.
CONSUELO:
- Vamos esquecer essa história.
CRISTINA:
- Por que? Nunca teve segredos conosco.
CONSUELO:
- Não há segredos. Não sei quem é aquela mulher. (Chora)
CRISTINA:
- Mãe!
CONSUELO:
- Não posso com isso!
CRISTINA:
- Divida comigo. Será mais fácil.
CONSUELO:
- Aquela mulher tem o poder de destruir nossa família.
CRISTINA:
- Como mãe?
CONSUELO:
- Se o que guardei durante vinte anos for revelado... Eu não suportarei.
CRISTINA:
- Ela falou de um filho. Que filho é esse?
CONSUELO:
- Há vinte anos atrás me entregou o seu filho.
CRISTINA:
- Luís Alberto não é seu filho?
CONSUELO:
- É. Sempre foi e sempre será.
CRISTINA:
- Ela dele que ela estava falando, não é?
CONSUELO:
- Por favor, não vamos falar disso agora. Teu irmão não pode saber dessa
história. Me prometa que não vai comentar esse assunto com ele.
CRISTINA:
- Mãe, ele tem o direito de saber.
CONSUELO:
- Saber o que? Que foi abandonado por aquela mulher? Entregue a uma
estranha? E se eu não fosse quem sou? Se eu fosse uma bandida, mau caráter?
CRISTINA:
- Mesmo assim. É direito dele saber!
CONSUELO:
- Você vai me prometer que não vai comentar este assunto perto dele.
CRISTINA:
- Tá bom. Prometo! Mas depois vamos continuar esta conversa. (Saem)
CENA VII
(Entra Maíra)
MAÍRA:
- Bia... Bia?
BIA:
- Que foi senhora?
MAÍRA:
- Meu filho.
BIA:
- Que tem seu filho.
MAÍRA:
- Encontrei meu filho.
BIA:
- Graças a Deus! Como foi isso senhora?
MAÍRA:
- Um milagre! Por um milagre. Estive lado a lado com ele.
BIA:
- Como sabe que é seu filho?
MAÍRA:
- Desde o começo senti. Mas, só tive a certeza quando reencontrei aquela
mulher.
BIA:
- A Consuelo?
MAÍRA:
- É. Consuelo. A mulher que esteve com meu filho todos estes anos. E ele
é lindo.
BIA:
- E onde está ele senhora?
MAÍRA:
- Aqui está o endereço. (Mostra o cartão)
BIA:
- Então ele já sabe.
MAÍRA:
- Ainda não. Mas agora tenho o endereço e não mais o perderei.
BIA:
- Que bom senhora. Mas a outra concorda em contar a verdade?
MAÍRA:
- Acredito que não. Mas vou procurá-la. Sou mãe. Tenho o direito.
BIA:
- Tem que ir com cuidado. Talvez seu filho não conheça a verdadeira
história da vida dele.
MAÍRA:
- Tem razão. Devo me aproximar aos poucos. Por favor Bia, prepare um
banho bem relaxante.
BIA:
- Sim senhora. (Sai)
MAÍRA:
- Meu filho! Meu filho... (Beija o cartão)
CENA VIII
LUIS ROBERTO:
– Cristina, o que há com nossa mãe?
CRISTINA:
- Como assim? Não entendi.
LUIS ROBERTO:
– Não percebeu que está agindo de modo estranho?
CRISTINA:
- Não mano. Acho que é impressão sua.
LUIS ROBERTO:
– Será que você não está me escondendo nada?
CRISTINA:
- Eu? O que estaria escondendo de você?
LUIS ROBERTO:
– Sei lá.
CRISTINA:
- Acho que você é que está estranho. Nossa mãe está como sempre. Só
pensa em trabalho.
LUIS ROBERTO:
– Já disse que quando eu começar advogar nossa mãe irá se aposentar.
CRISTINA:
- Ih! Então a coitadinha vai precisar trabalhar mais uns dez anos.
LUIS ROBERTO:
– Tenho uma entrevista.
CRISTINA:
- Não diga.
LUIS ROBERTO:
– E se quer saber, está vaga é minha!
CRISTINA:
- é assim que se fala.
LUIS ROBERTO:
– Bom maninha... Fui!
CRISTINA:
- Boa sorte!
LUIS ROBERTO:
– Obrigado. (Sai)
CRISTINA:
- Acordou?
CONSUELO:
- Estou com minha cabeça estourando. Não preguei os olhos!
CRISTINA:
- Beto está desconfiado.
CONSUELO:
- Escuta aqui, teu irmão, não deve e não pode saber dessa história.
CRISTINA:
- Mãe... É melhor a senhora conta-lhe a verdade.
CONSUELO:
- Pra que? Pra destruir a vida dele?
CRISTINA:
- Já parou pra pensar que ele gostaria de conhecer a história da vida
dele. É um direito dele.
CONSUELO:
- Pare com isso! O que quer? Me torturar, é isso?
CRISTINA:
- Oh, mãe... Calma. Perdão.
CONSUELO:
- Me prometa que não vai mais tocar neste assunto.
CRISTINA:
- Tá bom mãe. Eu prometo.
CONSUELO:
- Melhor assim.
CRISTINA:
- Agora, tenho que ir. Beijos!
CONSUELO:
- Vai com Deus, filha.
CENA X
MAÍRA:
- O que faz aqui?
CONSTANZA:
- Quanto tempo não?
MAÍRA:
- A senhora não é bem vinda a esta casa...
LISETE:
- Perdão senhora, se soubesse...
MAÍRA:
- Tudo bem Lisete. Deixe-nos a sós.
CONSTANZA:
- Obrigada.
MAÍRA:
- Sabe que não é bem vinda a esta casa...
CONSTANZA:
- É... Tenho que reconhecer. Se deu bem.
MAÍRA:
- Diga logo o que deseja.
CONSTANZA:
- Maíra... Vim conhecer meu neto.
MAÍRA:
- Conhecer seu neto? Que nato? O neto que você insistiu que eu
abortasse?
CONSTANZA:
- Sinto muito.
MAÍRA:
- Não. A senhora não sabe um terço do mal que me causou.
CONSTANZA:
- É passado. Pelo que vejo estás bem.
MAÍRA:
- Bem estaria se não tivesse me separado do meu filho há vinte anos
atrás.
CONSTANZA:
- Meu neto não mora com você?
MAÍRA:
- A senhora não tem neto. Meu filho não é seu neto.
CONSTANZA:
- Você não sabe o quanto me arrependo.
MAÍRA:
- Arrependimentos não cicatrizam as dores do passado.
CONSTANZA:
- Vou morrer...
MAÍRA:
- Todos morremos um dia.
CONSTANZA:
- O câncer está me matando.
MAÍRA:
- Gostaria de dizer-lhe que sinto muito. Mas não posso. Não sou fingida!
CONSTANZA:
- Não lhe culpo. Há muita mágoa em teu coração.
MAÍRA:
- Não me venha com essa... Não adianta dar uma de pobre arrependida. Não
acredito na senhora. Então diga logo por que veio.
CONSTANZA:
- Tudo bem. É a verdade que deseja, não é? Então... Perdi meu filho. Luís
Alberto...
MAÍRA:
- Luís Alberto morreu?
CONSTANZA:
- Há quinze anos. Desde então minha vida terminou. Nunca superei a
perda...
MAÍRA:
- E o que quer de mim?
CONSTANZA:
- Não me deixou nenhum neto com a mulher com quem se casou.
MAÍRA:
- Então, provavelmente a senhora lembrou-se do filho bastardo da
empregadinha que a senhora enxotou da sua casa.
CONSTANZA:
- Meu único herdeiro.
MAÍRA:
- Meu filho não precisa do seu dinheiro sujo.
CONSTANZA:
- Não seja egoísta. É direito dele.
MAÍRA:
- Não precisamos do seu dinheiro. Perdeu seu tempo. Meu filho e eu nos
separamos a vinte anos atrás e desde então, nunca mais soube notícias.
CONSTANZA:
- Então... Você não sabe onde está meu neto?
MAÍRA:
- Que ironia, não é? A senhora desejou tanto que ele sumisse...
CONSTANZA:
- Lamentável!
MAÍRA:
- Mesmo com tanto dor por não tê-lo aqui ao meu lado. Sabe que em vinte
anos, nunca senti tanta felicidade de dizer a alguém que perdi meu filho.
CONSTANZA:
- Também o que esperar de uma irresponsável...
MAÍRA:
- Não admito que me ofenda dentro de minha casa. Dona Constaza, é com
muita honra que hoje a coloco para fora da minha casa. Fora! Rua... Rua.
CONSTANZA:
- Você pode ter toda fortuna do mundo. Mas nunca deixará de ser o que
sempre foi, uma empregadinha! (Sai)
MAÍRA:
- Diabo de saia!
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