quarta-feira, 4 de julho de 2018

VAMOS BRINCAR DE QUE?


VAMOS BRINCAR DE QUE?
(actualizada para Portugal e com jogos tradicionais portugueses)

Personagens:
RITA             
CARLITOS

ATO ÚNICO
(RITA e CARLITOS são duas crianças entre sete e dez anos. No centro do palco há um baú ou uma caixa cheia de brinquedos. RITA entre em cena segurando uma boneca de pano. Parece impaciente.)

RITA: 

- Há! Assim não dá. É cada vez mais difícil ser criança! Que chato! Olha... Tenho um monte de brinquedos, mas não tenho quem brinque comigo. Olha só... Hoje liguei pra Bia, pra Lu, pra Aninha, pra Tuca... E  nada. Uma tem que ir ao cabelereiro... Cabelereiro?! Era só o que faltava. Crianças no cabelereiro! A outra ia ao shopping... É o cúmulo do absurdo. Uma criança deixar de brincar, pra fazer coisas que deveriam ser de adultos. Claro que eu podia chamar o Carlitos, se não fosse um viciado em tecnologia, só quer saber desses jogos eletrônicos. Ah, que chatice! Que adianta tantos brinquedos se não tenho com quem brincar?

CARLITOS: 

- Caraças! Estava a chegar ao terceiro nível. Irra!

RITA: 

- Carlitos...     
  
CARLITOS: 

- Peraí...



RITA: 

- Ora! Estou a falarcontigo.

CARLITOS: 

- Tás a ver? Por causa de ti perdi. Tenho que começar tudo de novo.

RITA: 

- Ah! É que eu queria muito brincar.


CARLITOS: 

- Então brinca, ora!

RITA: 

- Então brinca comigo.

CARLITOS: 

- Não querias mais nada? Não?

RITA:

- É que brincar sozinha não tem graça.

CARLITOS: 

- Eu brincosozinho.

RITA: 

- É por isso que não tens graça nenhuma.  
  
CARLITOS:

- Tás com dor de cotovelo... Por eu me estar a divertirà brava.

RITA: 

- Ah, Carlitos... Brinca comigo, anda...

CARLITOS: 

- Só se for um de cada vez a escolher a brincadeira.

RITA: 

- Não quero brincar com esse game boy.      
     
CARLITOS: 

- É pena. Não sabes o que perdes.

RITA: 

- Tenho outra ideia.

CARLITOS: 
- Uuii! Meninas com ideias...

RITA: 

- Podemos brincar a outra coisa.

CARLITOS: 

- Vamos brincar a quê?

RITA: 

- Tás a ver aquele baú?      

CARLITOS: 

- Tô.

RITA: 

- Vem cá. Olha aqui este monte de brinquedos.




CARLITOS: 

- Isso!? Achas mesmo que vou brincar com isso?

RITA: 

- Por que não?

CARLITOS: 

- Isso são brinquedos da treta.

RITA: 

- Palermice tua.

CARLITOS: 

- Que coisas mais antigas.

RITA:

 - Sabias que brincar faz bem? E brincar com brinquedos estimula a criatividade.

CARLITOS:

- Prefiro a minha PlayStation, o meu Ipad, o meu Tablet...

RITA: 
- Não sabes o que estás a perder. A minha mãe disse-me, que quando era criança, ela e os amigos dela, faziammuitas brincadeiras divertidas. Pena é que estão a ficar esquecidas.

CARLITOS: 

- Que tipo de brincadeiras? Se eram... tãodivertidas... Por que estão a ser esquecidas?



RITA: 

- Por que hoje as crianças já não têm tanto espaço para brincar. SabesCarlitos, vivemos trancados em pequenos espaços e por causa da violência já não podemos brincar na rua.    
                  
CARLITOS: 

- É isso mesmo! Minha mãe não me deixa brincar na rua.

RITA: 

- A minha mãe contou-me que quando ela era criança brincava muito com seus amigos na rua, e que era muito bom, tinham montes de brincadeiras que faziam e divertiam-secom prazer.
     
CARLITOS: 

- Então deviam ter muitos brinquedos.

RITA:

- Tinham poucos... E por isso inventavam.

CARLITOS: 

- Inventavam!?

RITA: 

- É... criavam suas próprias brincadeiras,os seus brinquedos. Vem cá....olha bem pra este baú... Tás a ver? Tá cheio de brinquedos da época dos meus pais.

CARLITOS: 

- Parece um monte de bugigangas!


RITA: 

- Só parecem. Mas são na verdade um tesouro muito raro.

CARLITOS: 
- Não sei por quê?!

RITA: 

- Por que neste baú se encontra a magia do brincar.

CARLITOS: 

- Magia do brincar!? Por quê a magia do brincar?

RITA: 

- Porque a matéria prima destes brinquedos é a criatividade.

CARLITOS: 

- Olha! Um pião.

RITA: 

- É um pião. Até parece que nunca viste. 
       
CARLITOS: 

- Assim de perto não.

RITA: 

- Queres experimentar?

CARLITOS: 

- Como se faz para ele rodar?




RITA: 

- O meu pai ensinou-me. Esperaque eu mostro-te como é.

CARLITOS: 

- Tu sabes?

RITA: 

- Claro. É assim,enrola-se a baraça em voltado pião, segura-se firme e atiras... E ele gira. (Mostra)    

CARLITOS: 

- Que fixe! Mas parece muito difícil.

RITA: 

- Não. É treino. Quando mais vezes atirares, mais craque ficas.
Deixa-me mostrar-te uma coisa. (Pega um saco com berlindes)     
    
CARLITOS: 

- Berlindes! Isso eu sei jogar... É fácil. É só acertar...

RITA:

- Nada disso. Precisamos desenhar no chão um triângulo e no meio desse triângulo uma dúzia de berlindes, seis de cada e quem conseguir tirar mais do triângulo leva todos.

CARLITOS: 

- Entendi.




RITA: 

- Quando brincamos a jogar ao berlinde estamos a desenvolver a concentração e a estratégia, além dos conhecimentos de matemáticos. (Jogam)

CARLITOS: 

- Tu ganhaste.

RITA: 

- Isso é treino meu amigo.

CARLITOS: 

- (vai mexer no baú) Pra que serve estas pedrinhas e estes pauzinhos?

RITA: 

- Pra brincar ao pedreiro e carpinteiro.

CARLITOS: 

- Pedreiro e carpinteiro!?

RITA: 

- Isso. Porque se joga com três pedras e três paus.

CARLITOS: 

- É um jogo?

RITA:

 - Exatamente. Vou mostrar-te. 

(Cada criança procura ser o primeiro a realizar uma linha recta (“três em linha” ou “três seguidos”), com os três paus ou com as três pedras e quem primeiro o conseguir é o vencedor deste jogo. Este jogo realiza-se num local plano, de preferência de terra, sobre o qual se desenha um quadrado, dividido em quatro partes iguais. Um dos jogadores tem três pedras na mão, designando-se por “pedreiro”, enquanto que o outro tem três paus, assumindo o papel de “carpinteiro”. Depois de se sortear quem começa primeiro, vão jogando cada um, de sua vez, colocando um pau ou uma pedra numa das junções das linhas desenhadas no interior do quadrado. Numa primeira fase, vence quem conseguir realizar os “três em linha” utilizando somente as linhas verticais e horizontais. Numa segunda fase, se os jogadores já dominam o jogo, podem também utilizar-se as linhas diagonais.)

CARLITOS: 

- Tu ganhas todas!

RITA: 

- É que eu conheço. Torna-se mais fácil. Isto é a prática. Vamos brincar à macaca?    
     
CARLITOS: 

- Macaca?

RITA: 

- É,já vais ver, primeiro desenha-se aqui com este giz…..agora vamos precisar de uma “patela” “malha” …..

(Todas as casas terão que ser percorridas a pé-coxinho. Inicialmente, a malha é lançada para a casa 1. Então, é preciso saltar para a casa 2 e depois percorrer todas as casas, sempre em pé-coxinho, excepto nas casas 4 e 5, 7 e 8 onde os dois pés devem ser colocados em simultâneo. Depois de saltar as últimas casas, é necessário efectuar o percurso contrário. Quando se regressa à casa 1, apanha-se a malha sem colocar os dois pés no chão e em seguida, joga-se a malha para a casa 2 e começa-se o jogo saltando, em pé-coxinho para a casa 1 e de seguida para a casa 3, continuando depois todo o percurso.)


CARLITOS: - Boa! Boa! (Brincam)  E agora, vamos brincar a quê?

RITA: - Que tal brincar à... colher com batata?   
      
CARLITOS: - A quê!!?

RITA: 
- Colher com batata, já te explico…, então é assim vamos precisar de

( vai ao baú tira duas colheres e duas batatas explica o jogo e brincam - A colher só pode ser segura, pelo cabo e com a boca - Descrição do jogo: Os jogadores estão alinhados à partida e correm através de um percurso que é determinado. Cada jogador segura uma colher pelo cabo, com a boca, e nessa colher encontra-se uma batata. O jogador que deixar cair a batata é desde logo eliminado, vencendo aquele que primeiro chegar à meta, sem nunca deixar cair a batata.)

CARLITOS: 

- Epá! E agora?

RITA: 

- Ao chinquilho...   
        
CARLITOS: 

- Tu mandas…

(Preparam o jogo do chinquilho ela vai explicando e jogam. - Uma bola (com 10 cm diâmetro) e seis paulitos (garrafas com areia). Descrição do jogo: Traça-se um risco no solo e, a cerca de 5 m, marca-se a posição das garafas, (colocados como se vê na figura). É conveniente pôr as garafas diante de uma parede, para não serem precisas longas caminhadas à procura da bola. À vez, cada jogador efectua três lançamentos, sendo atribuído um ponto por cada garrafa que conseguir derrubar. Durante estes lançamentos, só tornam a ser colocados os paulitos, após o jogador conseguir derrubá-los todos. Sempre que um dos jogadores conseguir derrubar todos os paulitos, ainda que o faça em vários lançamentos, ganha uma bola extra e soma cinco pontos à sua  classificação. É costume jogar este jogo, estabelecendo para cada partida, a atribuição de cinquenta pontos, sendo que é vencedor o primeiro jogador que os alcançar).

RITA: - Venci. Se venci posso escolher a próxima.     
    
CARLITOS: - Uiiii! Lá vem bomba!

RITA: - Vamos brincar ao Queimei.

CARLITOS: - Epá. Isso não é brincadeira de meninas?

RITA: - Não sejastolo. Com esta brincadeira agente desenvolve o equilíbrio.

CARLITOS: - Tá bom… quero ver isso…mas ninguém pode saber.

RITA: - Segredo, segredíssimo!
      
CARLITOS: - Juras?

RITA:
 - Juro.

(começa a preparar o jogo evai explicando.. –Brincam- A criança que está de olhos vendados tem de percorrer as casas sem as pisar, vencendo a criança que primeiro chegar à última casa.  Descrição do jogo: É necessário riscar no chão um rectângulo dividido em quadrados – “casas” -, que  terão sensivelmente a largura de dois ou três pés, sendo que o número de casas é  variável, mas nunca deve ser superior a dez.  O primeiro jogador coloca-se com os pés na casa inicial, com os olhos vendados.  Salta para a segunda casa e pergunta: “Queimei, queimei?”, ao que os outros  jogadores respondem: “queimou” ou “não  queimou” (isto é, se pisou ou não os  riscos dos quadrados).  Se não queimou, o jogador continua a jogar, voltando a saltar, desta vez para a  terceira casa e assim sucessivamente. “Queima-se” se ao saltar, pisar algum dos  riscos do rectângulo ou dos quadrados, cedendo depois o seu lugar ao próximo  jogador. Quando voltar a jogar, após os  outros jogadores, este recomeça no sítio  onde estava.  Vence o jogo a criança que primeiro chegar à última casa.)

    



CARLITOS: 

- Sabes que ate gostei?! Mas já estou cansado.

RITA: 

- Mas já? 
         
CARLITOS: 

- É... Já.

RITA: 

- Mas só agora começamos. Há muitas outras brincadeiras...

CARLITOS: 

- Ainda há mais!?

RITA: 

- Muito mais.

CARLITOS: 

- Então….Vamos brincar a quê agora?

RITA:

 - Que tal de Perna de pau?  

CARLITOS: 

- Perna de pau!? 

RITA:

- É. (Pega as latas de leite) 

CARLITOS: 

- Mas com essas latas?

RITA: 

- É só fazer um furo aqui passar o cordão e amarrar num prego por dentro... Pronto. Temos uma perna de pau.

CARLITOS: 
- Fixe, bora lá! 
( ela explica o jogo e Brincam - As crianças tem que percorrer o percurso em cima das latas sem cair ou colocar o pé no chão. Descrição do jogo: No chão, marca-se um percurso com partida e chegada. Os jogadores colocam-se em cima das latas no local de partida, e ao sinal, iniciam a corrida por todo o percurso, tentando não cair ao chão ou não se desequilibrar. Se o jogador se desequilibrar ou colocar um pé no chão regressa atrás e inicia o percurso de novo. O jogador que conseguir percorrer todo o percurso sem cair, chegando em primeiro lugar, ganha.)
RITA: 

- Vamos brincar de corrida de sacos?  
     
CARLITOS: 

- Aposto que vou vencer. (Estabelece as regras e brincam) Venci.

RITA:

- Por que eu deixei.  
       
CARLITOS: 

- Ésmesmo mazinha, hein?! Sabe mais brincadeiras?

( a Rita vai ao baú e tira um iô-iô)

CARLITOS: 

- Que isso?

RITA: 

- Foi do meu pai. É um io ió.

CARLITOS: 

- Como se brinca?

RITA: 

- Assim oh. (Mostra)  

RITA: 

- E olha que ainda há muitas outras brincadeiras a serem exploradas... Como adivinhar objetos…, por falar em objectos, vamos brincar ao anel?

CARLITOS: 

- Como é?

RITA: 

- Vou passar este anel na plateia e tu tens que adivinhar com quem ficou. Se acertares eu dou-te uma prenda...

CARLITOS: 

- Prenda?

RITA: 

- É... Um… mico.  (Brincam)




CARLITOS: 

- O meu pai disse que quando era criança gostava de brincar com carrinhos, mas o pai dele não tinha dinheiro pra os comprar. Então ele mesmo fazia os carrinhos com caixa de papelão com rodas de tampinhas de garrafas.

RITA: 

- A minha mãe fazia suas próprias bonecas com retalhos de pano. E por falar nisso ela ensinou-me a fazer uma bola de trapos. Posso-te ensinar? Só precisamos de jornal, retalhos de tecidos e cordel. 

CARLITOS: 
- Sabe o que é engraçado Rita?

RITA: 

- O quê?
           
CARLITOS: 

- Hoje temos tudo e brincamos tão pouco.

RITA: 

- Pois é Carlitos. Brincar é muito importante para o desenvolvimento de toda a criança. E uma criança que brinca, vive sua infância intensamente, cresce e torna-se um adulto feliz, igual ao meu pai e a minha mãe.    

CARLITOS: 

- Sabes Rita... Devíamos brincar mais. Eu estava enganado... Esses brinquedos são bem divertidos. Mas sabes o que é bem melhor? É poder compartilhar essas brincadeiras com outras pessoas… Vamos brincar ao “Bom Barqueiro”?

RITA: - Podemos brincar. Vamos convidar meninos na plateia para jogar connosco…
(jogo cénico ao convidar os meninos para o palco e jogamAs crianças são colocadas em coluna, dispostas de forma a que cada um possa apoiar os braços nos ombros da criança da frente. A primeira criança de cada coluna é a “mãe”. Fora desta coluna, duas crianças são os “barqueiros”, que se colocam um em frente ao outro, com os braços levantados, e as mãos dadas, formando uma ponte ou arco. Descrição do jogo: Os barqueiros combinem entre si os seus nomes, sem que os outros jogadores os escutem. Podem utilizar-se nomes de fruta, flores, cores, etc. Os outros jogadores passam em coluna, por baixo da ponte dos barqueiros, enquanto cantam:“Bom barqueiro, bom barqueiro, Deixai-me passar, Tenho filhos pequeninos, Não os posso criar”. (Ou, em substituição dos dois últimos versos: “Tenho muitos filhinhos para acabar de criar”. Ao que os dois barqueiros respondem, cantando: “Passarás, passarás, Mas algum ficará, Se não for o da frente, Há-de ser o de trás” Quando passa a última criança da coluna, esta fica presa entre os braços dos barqueiros, que os baixam para a prender por cima dos ombros. Os barqueiros perguntam ao jogador preso, em voz baixa, qual de dois nomes é que este escolhe (correspondendo estes aos nomes escolhidos pelos barqueiros) não mencionando, qual o barqueiro correspondente a cada nome. Consoante a escolha, o jogador vai para trás do barqueiro a que corresponde o nome que mencionou. O jogo continua até que todos os jogadores da coluna sejam colocados atrás dos barqueiros, formando assim dois grupos. Após esta fase, desenha-se um risco no chão, entre os dois barqueiros. Os dois agarram-se, pelos pulsos, enquanto os outros jogadores, que estão atrás de si, agarram-se pela cintura. Cada barqueiro e os seus companheiros puxam o outro grupo, tentando que este passe o risco, para o seu lado. Ganha o jogo, o grupo do barqueiro que não transpôs o risco.)
RITA: 

- Hoje não há mais... Mas se quiseres... Amanhã. 
         
CARLITOS: 

- Amanhã?

RITA: 

- É, podes voltar. E poderemos brincar muito mais. 

CARLITOS: 

- Claro,eu volto,brincar é sempre bom, então até logo. amanhã eu volto.

RITA: 

- Combinado.

CARLITOS: 

- (ao sair) Rita, amanhã vamos brincara quê?

RITA: 

- Amanhã, vamos brincar de brincar. 

    
F I M

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