quarta-feira, 4 de julho de 2018

BETH E LOW 3


Episódio 3:  TUDO PASSA...



CENA I

        Interna Noite / Pensão de Dadá / Quarto.

Dadá pega um álbum de fotografias já amareladas. Com olhos marejados, relembra momentos de sua carreira com Chacrete. Entra Jajá ainda maquiado e com roupas extravagantes, do show que fez em casa noturna como drag queem.

JAJÁ: 
- Ainda acordada, minha musa inspiradora?
DADÁ: 
- O sono não vem...
JAJÁ: 
- Ou as lembranças que não vão?
DADÁ: 
- As duas coisas...
JAJÁ: 
- Oh, minha diva! O que foi, não volta.
DADÁ: 
- (Olha a foto) Era tão bonita.
JAJÁ: 
- Ainda é. No seu tempo. (retira o álbum) Agora dê cá, isso... aqui, enxugue essas lágrimas que não combina com você. Sorria!... Vamos... Isso. Assim... Essa é a verdadeira Dadá Quarterão, a maior musa que o Brasil já conheceu. E agora vamos dormir que a noite é uma criança, porém o dia... ah o dia! Esse é cruel. E eu bicha, não quero que acorde com cara amassada, toda amarrotada... Ah, que horror! Só de pensar fico bege.
DADÁ: 
- Ah, se todos fossem iguais a você...
JAJÁ: 
- Ai credo, seria um horror! Desaquenda que quero! Sou velcro! Mulher? Sarta fora!
DADÁ: 
- Obrigada Jajá.
JAJÁ: 
- Pandora Lewis! Mas pode me chamar de Lady Pan, soa melhor. Eu que tenho que agradecer... se sou, quem sou, foi inspirado em você. Agora vamos dormir... Se não amanhã vou acordar um bagaço! Vamos mulher, animo... (Saem)

CENA II

Externa Dia / Rua.

Rosa caminha pela rua, pouco a pouco a câmera vai revelando-a a começas pelos pés e pernas que vai subindo. Rosa está carregada de bolsas. Segue em direção ao prédio onde reside Beth e Low, atrapalhada toca o interfone. Valdir vai em sua direção com intuito de ajudá-la.

Valdir: 
- Posso ajudar a moça?
ROSA: 
- Hum, gostei do “moça”!
Valdir: 
- Deixa que eu seguro pra senhora.
ROSA: 
- Senhorita. (Pega algumas bolsas) Obrigada! Gentil. E o senhor?
Valdir: 
- Valdir, seu criado, o novo porteiro, começando hoje...
ROSA: 
- Ah... Bem vindo então... (Solta os cabelos) Prazer. Rosa.
Valdir: 
- Todo meu.
ROSA: 
- Cuidado! Sem muita confiança, seu Valdemar, se não recramo com o síndico. Não sou pra qualquer um. Respeito é bom e eu gosto. (Ajeita os seios)
Valdir: 
- Sim senhora, quer dizer, perdão, senhorita.

ROSA: 
- Vai ficar ai parado olhando pras minhas pernas?
Valdir: 
- Ah! O elevador...
ROSA: 
- Sobe! (Sussurra, sensualiza e entra)
Valdir: 
- Ual! Mais que pequena!
CENA III

Interna Dia / Apartamento: Sala.

Beth procura desesperada pelas chaves do carro. Rosa entra carregada de sacolas.

BETH: 
- Definitivamente, desisto! Parece que tenho um triangulo das bermudas bem no centro da minha sala... Não sei como pode as coisas sumirem assim?
ROSA: 
- Dona Beth?! Cheguei. As coisas estão os olhos da cara. Mais deu pra comprar tudo conforme esta na sua lista.
BETH: 
- Parece que estou no olho do de um furacão! Você não viu?
ROSA: 
- Menina! Mais que homem é aquele?
BETH: 
- Que homem criatura?
ROSA: 
- O novo porteiro, dona Beth...
BETH: 
- Estou falando das minhas chaves... Estou atrasada!
ROSA: 
- Ah, as chaves!
BETH: 
- É, as chaves...
ROSA: 
- Seu Low saiu com elas...
BETH: 
- Ah, não! Isso é completamente irritante. Low sabia que eu ia precisar do carro hoje o dia todo. Mas, faz de propósito... Só pode ser! É sempre a mesma coisa. Parece um dejavu!
ROSA: 
- Tadinho mulher! Tava todo animado... Disse que tinha uma entrevista. Vou até acender uma vela pra São Judas Tadeu...
BETH: 
- Cuidado pra não botar fogo na casa. Bom, só me resta chamar um ubes... (Retira o celular) Como assim?
ROSA: 
- Que foi?
BETH: 
- Low. Pra variar... Sem crédito. Vou esganar Low!
ROSA: 
- Calma! Usa o meu.
BETH: 
- Ah, você é um anjo!
ROSA: 
- Pegue!
BETH: 
- Depois te pago.
ROSA: 
- Vixi mulher! Esquenta não... Tenho bônus!
CENA IV

Externa Dia / Bar.

Low está sentado, Paulo chega com uma bolsa de viagem que não solta um só momento.

LOW: 
- Que bolsa é essa?
PAULO: 
- Nada, não... bobagem.
LOW: 
- Um copo... Bebe ai...
PAULO: 
- Obrigado!
LOW: 
- Vai viajar?
PAULO: 
- Não. É só umas coisas... E ai? Como foi a entrevista?
LOW: 
- Puts! O de sempre. Aguarde... Caso seja aprovado entraremos em contato... Blá, blá, blá...
PAULO: 
- É meu amigo... A crise está brava! A coisa está feia... Mais de 10 milhões de desempregados no Brasil! Só que eu conheço, têm uns cinco amigos desempregados.
LOW: 
- Cara, cansei de te ligar ontem...
PAULO: 
- Ontem?
LOW: 
- É. Ontem! E só dava caixa postal. Por onde andava?
PAULO: 
- Fui fazer um bico.
LOW: 
- Oh, vê se descola uma boquinha dessa ai pra mim.
PAULO: 
- Ih! Não está no seu perfil... Não mesmo...


LOW: 
- Do jeito que as coisas estão... Que menos me importa é o tipo de trabalho. Preciso de grana. Todas minhas reservas se esgotaram. Cara, estou no vermelho. E em desespero. Beth que está segurando a barra toda sozinha lá em casa.
PAULO: 
- É melhor não...
LOW: 
- Que amigo é você? Por que não? Não é honesto? Você não está metido com algo ilegal, não é?
PAULO: 
- Claro que não. Tá bom, vou vê o que consigo. (Sem convicção)
LOW: 
- (olha para Paulo faz gesto com as sobrancelhas)
PAULO: 
- Já sei... Pode deixar. Eu pago!
LOW: 
- Puts! Valeu... (Se levanta) Você é o cara! O cara! Bom, fui... Tenho que devolver o carro pra Beth antes que ela me trucide. Até lá vista!
PAULO: 
- Até! Vai sim... (Paulo abraça a mochila com força) É Paulo... Muito cuidado! (Bebe o último gole). Segredos!
CENA V

Externa - Dia / Shopping
BETH: 
- Vim o mais rápido que pude... (se cumprimentam)
JAJÁ: 
- Que bom...
BETH: 
- Nossa! Que cara é essa?
JAJÁ: 
- Estou a flor da pele, em brotoejas...
BETH: 
- E por que?
JAJÁ: 
- Sabe a Dalva?
BETH: 
- Dalva...
JAJÁ: 
- A Dadá Quarterão, mona?!
BETH: 
- Ah... a ex chacrete.
JAJÁ: 
- Isso!
BETH: 
- Aconteceu alguma coisa de ruim com ela? Pelo amor de Deus, não vai dizer bateu os saltos e que cantou pra subir?
JAJÁ: 
- Isola! Ai amapoa... Bate na francesinha três vezes! Ah, Coitadinha... Tá entrando numa deprê, que só vendo, é de cortar o coração... Acredita menina, que ela não aceita que a fama já passou e junto com ela o tempo também. A idade vem pra todas... por isso não abro mão dos meus cremes importados! E umas aplicações de botox...
BETH: 
- Acho que pior que nunca ser famosa, é um dia conhecer a fama, e por ela ser esquecida...
JAJÁ: 
- É... Tem que ter cabeça. Nem todo mundo tem estrutura pra lhe dar com isso... Mas, Dadá, foi uma Diva... Uma verdadeira deusa... A mais famosa das chacretes, e quando o close vinha pra ele, não tinha pra mais ninguém! Eita mulherão e olha que não sou chegado?! Babava!
BETH: 
- Disse certo. Foi. Agora tem que se contentar com Dalva.
JAJÁ: 
- Tenho medo...
BETH: 
- De que?
JAJÁ: 
- Que ela faça uma loucura.
BETH: 
- Você acha...?
JAJÁ: 
- Do jeito que anda melancólica... Acho! Depressão é uma merda. Dizem que é a doença do século.
BETH: 
- Meu Deus! Está assim é?
JAJÁ: 
- Ih! Pois é... Benzinho, depois de um certo tempo, nem o retoque de um bom editor da jeito, deforma!
BETH: 
- Depressão é uma doença séria, e que deve ser tratada.
JAJÁ: 
- Madona Minha! Tarja, preta? Oh, my god! Sabe Beth, acho que você pode ajudar...
BETH: 
- Eu? Tudo bem que eu goste de dar um pitaco na vida do povo, seja uma mulher analisada... Mas não sou terapeuta! Não sei como posso ajudar.
JAJÁ: 
- Conversando com ela. Batendo um papo...
BETH: 
- Mas, que eu posso falar? Não sei nada de fama, nunca fui famosa...
JAJÁ: 
- Mas é mulher... E com esse coração imenso, e iluminado, que sei que você tem... Quem sabe né? De mulher pra mulher, entende?
BETH: 
- Quem sabe... Posso pensar em algo. Acho que tive uma ideia...
JAJÁ: 
- É? Ligeirinha você. Adoro!
BETH: 
- É. Deixa comigo.
JAJÁ: 
- Me conta, mona...
BETH: 
- Segura a onda! Vamos circular?
JAJÁ: 
- Circular?
BETH: 
- Sim, circular... Comprinhas amiga!

JAJÁ: 
- Adoro!(Retoca o baton e saem de braços dados)
CENA VI

Interna Dia / Apartamento /Sala.

Low entra joga as chaves no sofá e se assusta por perceber a presença de sua mãe na cadeira de balanço.

LOW: 
- Mãe?!
MIRIAN: 
- Que cara é essa, meu filho? Parece até que viu um fantasma...
LOW: 
- Não... É que estou espantado...
MIRIAN: 
- Ora, mas, por quê?
LOW: 
- Nada mãe... Mas, o que, que a senhora faz aqui assim, ainda mais sem avisar que vinha...
MIRIAN: 
- E uma mãe precisa avisar, ainda mais quando vem ver, o seu filho predileto?!

LOW: 
- Único. Filho único!

MIRIAN: 
- Por isso predileto, exclusivo! Se Maomé não vai a montanha, a montanha vem até ele.
LOW: 
- Péssima hora, mãe...
MIRIAN: 
- Que foi? Estou incomodando?
LOW: 
- Que isso mãe. A senhora é sempre bem vinda. E Rosa?
MIRIAN: 
- A serviçal? Aquela mocinha folgada?
LOW: 
- Não começa mãe...
MIRIAN: 
- Já que pagam uma empregada, ao menos, que seja uma competente.
LOW: 
- Mãe..
MIRIAN: 
- Filho, olha pra essa sala...
LOW: 
- Mãe, por favor... Não implica com a empregada e muito menos com Beth.
MIRIAN: 
- Beth? Adoro Beth.

LOW: 
- (Câmera fecha nele) Hum, hum, hum...
CENA VIII

(Externa Dia / Rua entrando na pensão)

Beth está com umas bolsas e Jajá também.

BETH: 
- Pan, sobre o filho de Dadá?
JAJÁ: 
- Fala baixo mona! Esse assunto é proibido, vedado nessa pensão, censura total! Que tem ele?
BETH: 
- Sabe por onde anda?
JAJÁ: 
- Há um tempo atrás, tentei me aproximar... Mas, bicha... foi um desastre. Fui colocada pra fora a ponta pés pelo bofe, uma graça, mas grosso feito o diabo. Me esculhambou de tudo que é nome, só não me chamou de santa! Pensei que ia virar purpurina! Vi a luz minha filha se não fosse em outra direção, hoje tava aqui não pra contar a história!
BETH: 
- E como é?
JAJÁ: 
- Ai papai!
BETH: 
- Não bi... Digo como pessoa...
JAJÁ: 
- E tem dúvida depois de tudo que acabei de contar? Tá com a cabeça onde? Nas nuvens? É um grosseirão, preconceituoso, homo fóbico e intolerante. Um horror de ser humano! Se é que gente assim possa ser chamada de ser humano, não basta essa rejeição a mãe.
BETH: 
- Pelo jeito será um duelo de titãs!
JAJÁ: 
- Não vai me dizer que...
BETH: 
- Hum, hum! Isso mesmo. Vou!
JAJÁ: 
- Péssima ideia, menina!
BETH: 
- Os desafios me excitam!
JAJÁ: 
- Pelo amor! Que não saibam que estou por trás disso. Já que não pode ser na frente, dele, também atrás, não quero... (Caem na gargalhada)


CENA IX

Interna Dia / Apartamento /Sala.

Low desconcertado tenta manter a calma.

MIRIAN: 
- Muito indigesta essa empregada? Em que que buraco a encontraram?
LOW: 
- Não começa mãe. Rosa é uma boa moça.
MIRIAN: 
- Folho?! Você?
LOW: 
- Não.
MIRIAN: 
- Ah, que alívio! Errar duas vezes é o cumulo!
LOW: 
- Não esperava a senhora...
MIRIAN: 
- Resolvi fazer uma surpresa. Faz séculos que meu filho não vai me ver.
LOW: 
- Que exagero mãe. Nos vimos há dois meses...
MIRIAN: 
- Pra quem te carregou nove, e te aturou por mais uns 19 anos... Que são três meses, não é mesmo? Incomodo Lourival?
LOW: 
- Low, mãe. Pelo amor de Deu Lourival não...
MIRIAN: 
- Não seja ingrato. Nome herdado de seu avô. Vamos deixar de cerimonias, afinal sou de casa. Tomei a liberdade de trazer umas coisinhas básicas... (Aponta pra mala)Só não quero atrapalhar...
LOW: 
- De forma alguma. Rosa?!
MIRIAN: 
- Que horror! Precisa gritar?
ROSA: 
- Oi?!
MIRIAN: 
- Isso são modos menina? Que horror!
LOW: 
- Acomode minha mãe...
ROSA: 
- Já se acomodou faz tempo... (Mirian passa os dedos pelos móveis verificando as poeiras e olha tudo com olhar de reprovação) E o senhor que se prepare, dona Beth não vai gostar nada disso. (Sai puxando a mala)


MIRIAN: 
- Hei, cuidado! Que horror, pare uma selvagem. Como podem contratar uma criaturinha vulgar, completamente sem modos?! (Low olha feio) Está bom. Não está aqui quem falou. Enquanto estiver hospedada nesse apartamento que não é lá grande coisas, fingirei cega, surda e muda. Vou descansar um pouco... Só espero que tenha trocado aquele colchão, é horrível... (Sai)
LOW: 
- É hoje!
CENA X

(Interna Tarde / Pensão / Quarto)
Dadá está toda maquiada veste roupas que remetem a sua época de chacrete, de frente ao espelho dança ao som da música do programa, parece hipnotizada como voltasse ao passado. Desperta ao som do telefone.
DADÁ: 
- Pensão Quarterão, boa tarde?! Sim... Temos, sim. Pra quantos dias? E quantas pessoas? Claro, querido... Reserva feita. (Desliga)

Anota numa agenda a reserva. Volta para o espelho, cai na realidade, sente desespero misturado com raiva e bruscamente retira toda maquiagem, e com violência rasga sua fantasia, cai no chão aos prantos.

CENA XI

(Externa Tarde / Apartamento / Sala)

ROSA: 
- Seu Low...
LOW: 
- Fala Rosa...
ROSA: 
- Já tô indo...
LOW: 
- E a fera?
ROSA: 
- Parece domada. Reclamou, reclamou, colou defeito em tudo. Mas depois tomou um daqueles comprimidos, creio eu que seja tarja preta, um sossega leão, e, capotou... (Riem)
LOW: 
- Deus queira que durma por um longo tempo.
ROSA: 
- Cedo ou tarde ela e dona Beth se enfrentam, e o senhor que se prepare pra ficar de juiz nesse ringue de MMA. Graças a Deus vou está bem longe, lá no meu cafofo...
LOW: 
- Tá, vai nessa. Dou meu jeito.

ROSA: 
- Seu Low, boa sorte!
LOW: 
- Vou precisar.
CENA XII

(INTERNA TARDE / PENSÃO)

JAJÁ: 
- Dadá?
DADÁ: 
- Oi?!
JAJÁ: 
- Que foi isso? Um tsunami?  
DADÁ: 
- Nada. Lixo, apenas lixo.
JAJÁ: 
- Tá tudo bem?
DADÁ: 
- Ótimo.
JAJÁ: 
- Temos visita!
DADÁ: 
- Beth?! Querida... Quanto tempo!
JAJÁ: 
- Vou guardar essas coisitas lá em cima e já volto, bye!
BETH: 
- Como está?
DADÁ: 
- Vivendo!
BETH: 
- Que bom, né? O fato de estarmos vivas, já é uma grande felicidade...
DADÁ: 
- O corpo resiste a viver, mas, a alma...
BETH: 
- Dadá...
DADÁ: 
- Não me olhe assim.
BETH: 
- Assim como?
DADÁ: 
- Como se eu estivesse falando uma loucura. Algo sem sentido.
BETH: 
- E não faz sentido, sentir-se assim... Tem uma história, muitas mulheres gostariam de ter tido uma história tão intensa e tão glamorosa pra contar.
DADÁ: 
- Sabe Beth, tem tantas coisas que já fiz nessa vida...
BETH: 
- Só quem viveu intensamente tem o que contar.
DADÁ: 
- Verdade. Se fosse contar tudo que vivenciei aos longos desses... tantos anos... daria um livro.
BETH: 
- E por que não pensa nisso?
DADÁ: 
- O que? Um livro?
BETH: 
- Sim. Por que não?
DADÁ: 
- Enlouqueceu, mulher?! Minha vida, meu passado, não só pertence a mim, envolve muitas pessoas e acontecimentos que muitas vezes, é melhor ficar lá... Bem escondidinhos no passado.
BETH: 
- seria uma forma de você compartilhar com seus fãs, um pouquinho de sua história, de sua intimidade.
DADÁ: 
- Não faltariam processos! Intima idade!... Melhor, não. Nos bastidores da vida, tem certas coisas que é bem melhor ficar na coxia. Há muitas coisas Beth, que acontecem nos bastidores que o público nem imaginam, e que é melhor nem ser reveladas. Coisas que não me orgulho nada de ter feito, hora por prazer, hora por necessidade, ou mesmo por vaidades...
BETH: 
- Se fez, fez por que foi preciso fazer, e ninguém pode te julgar. Só você é capaz de saber o que a levou a executar cada ato.
DADÁ: 
- Nem todos pensam assim minha querida. É melhor a ilusão das capas das revistas, e olha que foram muitas; que a realidade nua e crua, cruel como ela é. Nas capas, os sorrisos se eternizam encobrindo a tristeza do olhar, o vazio da alma e a solidão dos bastidores...
BETH: 
- Compartilha sua história, troca nomes, fantasia, mas mostre que por trás da personagem, há uma mulher, uma grande mulher. (Se abraçam) Pense nisso Dadá. Tenho um amigo que é um jornalista muito talentoso e poderá lhe ajudar a organizar suas memórias.
DADÁ: 
- Obrigada querida. Pensarei...

BETH: 
- Bom, preciso ir...
DADÁ: 
- Ah, mas já? Vou chamar... (Grita) Jajá?!
BETH: 
- Não, não... Diz que deixei um beijinho. Depois falo com ele.

A Noite cai
Cena da cidade em movimento

CENA XIII

(INTERNA NOITE / APARTAMENTO / SALA)
BRENDA: 
- Ai Bi... Sossega!
PAULO: 
- Tô tenso...
BRENDA: 
- Não sei porque... Ninguém sabe de nada, continua tudo em extremo segredo. Na caixinha de Pandora.
PAULO: 
- Low é meu amigo.
BRENDA: 
- Amigo? Sei não... Será que não sente uma quedinha por esse bofe?
PAULO: 
- Pirou bicha?
BRENDA: 
- Fala tanto nesse homem...
PAULO: 
- Low como um irmão. O irmão que nunca tive.
BRENDA: 
- Numa boa Paulete... Conte, a verdade e livre-se desta culpa, desse medo... Se realmente for seu amigo, vai aceita-lo, assim, como verdadeiramente é, sem essa identidade secreta. Que cá entre nós é o oh! Agora vamos à transformação, afinal Bi, a boate o espera.
CENA XIV

(INTERNA NOITE / APARTAMENTO / SALA DE JANTAR)

MIRIAN: 
- Mas que coisa!
LOW: 
- Que foi mãe?
MIRIAN: 
- Marido em casa, mulher na rua... Onde já se viu uma coisa dessas!
LOW: 
- São os novos tempos.
MIRIAN: 
- Que tempos! Que horror! Isso não está certo, está tudo errado... E essa moça que vocês contrataram não sabe cozinhar?
LOW: 
- Não é paga pra cozinhar...
MIRIAN: 
- Percebe-se. No meu tempo não era assim... Empregada faziam tudo, além de lavar, passar, cuidar da casa, ainda eram boas de forno e fogão...
LOW: 
- Praticamente escravas. O tempo passa, as coisas mudam...
MIRIAN: 
- Parece uma lavagem... Vulgar e tem linguajar!
LOW: 
- Chega mãe, chega! Se não está do seu gosto, a cozinha fica logo ali... (Se levanta) Fique a vontade.
MIRIAN: 
- Não fale assim comigo. E não se atreva a levantar dessa mesa. Como pode levantar a vóz pra mim, não te eduquei pra agir feito essa gentinha... Ainda sou sua mãe.
LOW: 
- Será que dar pra parar de reclamar, por um só segundo?
MIRIAN: 
- As coisas estão difíceis, não é meu filho? Sei que estão... Mas que culpa tenho? Tenho culpa de seu fracasso? Oh, filho, meu filho, tanto que te avisei... Mas você não, insistiu em levar adiante essa história com essazinha, que estava na cara que não ia dar certo...
LOW: 
- Chega mãe. Amo Beth, e somos muito felizes juntos.
MIRIAN: 
- Uma mulher seca, que em dez anos, não consegue te dar um filho...
LOW: 
- Como a senhora é cruel...

Centro da cidade
CENA XV

(EXTERNA NOITE / PRAÇA DA REPÚBLICA)
Beth caminha distraída e esbarra em Paulo.

BETH: 
- Ah, desculpa...
PAULO: 
- Hei, mapoa... Olha por onde anda. (Se abaixa pra pegar a bolsa)
BETH: 
- Deixa, eu ajudar...
PAULO: (Percebe Beth)
- Tudo bem. Não precisa...
BETH: 
- Não, eu ajudo... Sua bolsa.
PAULO: 
- Obrigado!
BETH: (Percebe que Paulo está vestido de mulher)
- Paulo?
PAULO: 
- Beth?!
BETH: 
- Que significa isso? Quer dizer... Tô confusa!
PAULO: 
- Posso explicar...
BETH: 
- Não tenho nada contra isso não... Cada um vive, como quer...
PAULO: 
- Esse é meu outro trabalho...
BETH: 
- Nada contra. Low não sabe disso, sabe?
PAULO: 
- Não. E Te peço, não conta pra ele não...
BETH: 
- Fique tranquilo. Eu não contarei nada. A vida é sua. Faz dela o que bem entender.

PAULO: 
- Nem sei como agradecer. Low é meu melhor amigo.
BETH: 
- Por isso mesmo, você contará.
PAULO: 
- Beth...
BETH: 
- Ele tem o direito de saber. Conte. (Sai)
PAULO: 
- Merda!
 CENA XVI

(INTERNA NOITE / APARTAMENTO / QUARTO)

JAJÁ: 
- Hei? Revendo seu álbum...
DÁDA: 
- Quantas saudades! Não consigo me livrar delas... Eu era tão bonita. E nesse tempo, tínhamos que ser... Não tinha nada disso, não... Retoques, Botox, silicone...  
JAJÁ: 
- Sim, era mesmo. A mais bonita de todas. E com corpito de deixar qualquer homem extasiado e as concorrentes em desespero, no chinelo! A ponto de cortar os pulsos com s próprias unhas...
DÁDA: 
- Não soube aproveitar... Joguei minha felicidade fora.
JAJÁ: 
- Não, não diga isso! Você foi tão feliz...
DÁDA: 
- E hoje vivo atormentada pelos fantasmas do meu passado.
JAJÁ: 
- Pensa assim não... Vamos lembrar, daqueles momentos glamorosos que você, linda e maravilhosa, reinava plena, e quando davam o close, não tinha pra ninguém, era você, só você, em tela cheia, e com efeito e tudo. Ah, bicha, eu ficava em plumas! Louquinha pra ser você, nem que fosse só, por um segundo. Mas, como nunca fui, e nem sou... Deixa eu ir trabalhar... É hora de dar vida a Pandora Lewis.
DÁDA: 
- Maravilhosa! Você é o melhor transformista que já conheci. Vai sim. Bom espetáculo!
JAJÁ: 
- Vindo de você, é um prêmio de reconhecimento a meu talento. Talento esse inspirado em você. Fica bem minha Deusa. Tô indo! Vou, fui... (Sempre joguinho de ombros)
DÁDA: (Senta-se e continua a olhar seu álbum)
CENA XVII

(INTERNA NOITE / APARTAMENTO / SALA DE JANTAR)

(Beth entra)
MIRIAN: 
- Te disse tantas vezes... Essa mulherzinha, não é pra você.
BETH: 
- Atrapalho?
MIRIAN: 
- Boa noite pra você também... (Muda o tom) Beth, querida! Estávamos lhe aguardando.
LOW: 
- Minha mãe veio nos fazer uma visita.
BETH: 
- Uma visita?
LOW: 
- É.
MIRIAN: 
- Senti tanta falta de meu único filho...
LOW: 
- Senta Beth.

BETH: 
- Estou sem fome, fiz um lanche na rua... Vou tomar um banho, com licença.
MIRIAN: 
- Claro querida. Fique a vontade. Também, não perde grande coisa...
LOW: 
- Mãe?!
MIRIAN: 
- Estou sendo honesta!
LOW: 
- Só um minuto... (Sai)
MIRIAN: 
- Vai lá... Vai feito um carneirinho... Foi-se o tempo que os homens tinham pulsos firmes.
CENA XVIII

(INTERNA NOITE / APARTAMENTO / QUARTO)

LOW: 
- Beth...
BETH: 
- O que, que ela está fazendo aqui Low?
LOW: 
- Apareceu.
BETH: 
- Ah, apareceu?
LOW: 
- Fala baixo...
BETH: 
- Estou na minha casa...
LOW: 
- Por favor Beth, seja razoável...
BETH: 
- Com ela me provocando o tempo todo, jogando piadinhas... Como se fosse a dona da verdade absoluta, a “senhora perfeição”, e ainda mais na minha casa? Faça-me o favor!
LOW: 
- Será por pouco tempo.
BETH: 
- Não vai prestar! Não vamos conseguir sobreviver juntas nesse mesmo espaço por mais de 24 horas...
LOW: 
- Calma Beth, calma!
BETH: 
- Como não bastassem todos nossos problemas, e essa múmia tem que posar na minha casa com sarcógrafo e tudo?
LOW: 
- É minha mãe Beth.
BETH: 
- Desculpa! É que estou tensa. É demais pra mim. Sabe que sua mãe nunca me aceitou...
LOW: 
- Vamos tentar resolver isso de uma maneira mais tranquila... Farei de tudo pra despacha-la o mais rápido possível.
BETH: 
- Acho bom. E ela que não me provoque Low... (Sai)
LOW: (Volta pra cozinha)

MIRIAN: 
- Sua mulher está bem?
LOW: 
- Ótima.
MIRIAN: 
- Menos mal. Ao menos um cafezinho ela tomará conosco, não é meu filho? Não é educado virar as costas para as visitas.

(Low Passa o guardanapo na boca. Câmera fecha nele)
CIDADE NOITE...
Cena da cidade em movimento
DIA SEGUINTE...
CENA XIX

(INTERNA DIA / APARTAMENTO / SALA DE JANTAR)


LOW: 
- Bom dia.
MIRIAN: 
- Só se for pra você... Tive uma noite horrorosa! Que colchão é aquele, meu filho? Parece uma pedra de mármore!
LOW: 
- Está um dia tão bonito!(Abre a cortina)
MIRIAN: 
- Deve está mesmo. Sua mulher já saiu...
LOW: 
- Eu sei.
MIRIAN:   
- A empregada ainda não chegou.
LOW: 
- Hoje não vem. Rosa é diarista.
MIRIAN: 
- E quem fará o almoço?
LOW: 
- Fique a vontade, mãe. (Aponta para a cozinha) Beijo! (Sai)
MIRIAN: 
- Low?! É o fim...
CENA XX

(EXTERNA DIA / FRENTE DA CASA DE CESAR)
BETH: (Toca campanhia)
- Cesar?

CESAR: 
- Eu.
BETH: 
- Passo falar com você?
CESAR: 
- E o que você quer comigo? Não te conheço... Conheço?
BETH: 
- Não. Sou Beth.
CESAR: 
- Desenrola logo o assunto que tenho mais que fazer...
BETH: 
- É sobre sua mãe.

CESAR: 
- Deve está havendo um engano. Não tenho mãe.
BETH: 
- Dalva.
CESAR: 
- Sei que não devia dar satisfação... Mas, minha mãe morreu.
BETH: 
- E quem a matou? Você?
CESAR: 
- Tenho mais o que fazer... Dá licença?
BETH: 
- Essa casa? Está em nome de quem?
CESAR: 
- Por que o interesse? Isso não é de sua conta.
BETH: 
- Ai que se engana meu caro. Estou a fim de compra-la. E posso lhe garantir, as negociações andam bem adiantadas.
CESAR: 
- Que você que?
BETH: 
- Apenas conversar.
CESAR: 
- Seja breve.
BETH: 
- Vai me deixar aqui plantada? Seria educado, me convidar para entrar.
CESAR: 
- Entra. (Beth entra)
BETH: 
- Serei breve. Prometo. (Ele aponta, ela entra)
CESAR: 
- Pode começar... (Ele abre uma cerveja)
BETH: 
- Já tentou ver o mundo com olhos do outro? Será que você é capaz de largar, nem que seja apenas por alguns segundos essa armadura, cravada de pré-conceito e intolerância?
CESAR: 
- Veio aqui só pra isso? Pra me passar um sermão moralista? Me insultar?
BETH: 
- Não. Vim aqui pra olhar nos teus olhos e te dizer tudo que você precisa ouvir...
CESAR: 
- E que a dona acha que preciso ouvir?
BETH: 
- Será que você tem a capacidade de compreender que entre erros e acertos, ela, sua mãe, fez o que fez, por causa das circunstâncias...
CESAR: 
- Uma prostituta, uma vadia, vagabunda!
BETH: 
- Que lhe deu a vida. Mesmo quando teve a opção de interromper a gravidez... Te criou com muitas dificuldades, te educou, e você até hoje, nunca recusou um só centavo desse dinheiro que provinha de quem considera uma prostituta... Contraditório não?
Sua mãe, Cesar, comeu o pão que o diabo amassou por ser simplesmente quem foi e ainda é...
CESAR: 
- Quem é? Nada. Não é nada.
BETH: 
- É sua mãe. Aceite você ou não. Isso não poderá mudar. É fato, não uma opção.
CESAR: 
- Não sabe quanto isso me perturbou e ainda perturba.
BETH: 
- Te ama, e sofre por sua rejeição.
CESAR: 
- O fato de ser minha mãe não apaga o passado devasso em que viveu.
BETH: 
- Mas muda o presente e constrói o futuro. Cesar, uma mulher que tira a roupa pra sobreviver, e pela sobrevivência de seu filho, não é indigna. Que todos a juguem, beleza... Mas você? Logo você, que mais se beneficiou com tudo que julga errado? Você não passou um terço do Dadá passou, pra tornar você o homem que é, mesmo sendo assim, um poço de intolerância e pré-conceito... Uma merdas de ser humano. Mas que ela nunca deixou de amar e protege-lo. É hora de deixar de ser um menino mimado e se tornar um homem adulto.
CESAR: 
- Cuidado moça... Não sabe do que sou capaz. Não imagina tudo que passei por ser filho dela que passei... A humilhação de ser apontado na rua como o filho da...
BETH: 
- Sei tudo que ela passou, e te garanto que não foi fácil. Nem as humilhações que a vida lhe proporcionou, a faz por um só segundo esquecer o filho, esse filho, mesmo sendo essa porcaria de pessoa que você é, ela nunca lhe virou as costas. É hora de crescer e retribuir tudo que essa mulher já lhe deu ao longo dessa vida. Pense nisso! (Sai)
CESAR: (Cesar bebe perturbado)
CENA XXI

(EXTERNA - DIA / RUA)

LOW: 
- E ai?
PAULO: 
- O que?
LOW: 
- Como o que? Pô, parece que tá aéreo... Se liga!
PAULO: 
- Estava distraído...
LOW: 
- Novidade! Então aterrissa.
PAULO: 
- Tenho uma coisa pra te contar.
LOW: 
- Fala ai...
PAULO: 
- É que eu...
LOW: 
- Êh, pela cara, já até sei.
PAULO: 
- Sabe?
LOW: 
- Já até imagino.
PAULO: 
- É?
LOW: 
- Tá na cara...
PAULO: 
- É que...
LOW: 
- Você não consegui a vaga. Pô Tá foda. Tô zicado. Mas amigão, sem problema... É só uma fase, vai passar. (vai andando na frente)
PAULO: 
- Oh, se vai!
CENA XXII

(INTERNA DIA / APARTAMENTO / SALA)

MIRIAN: 
- Até que enfim...
BETH: 
- Boa tarde pra senhora também.
MIRIAN: 
- Estou preocupada...
BETH: 
- Não diga.
MIRIAN: 
- Meu filho não parece filho não parece feliz...
BETH: 
- Tendo a mãe que tem, dá pra ser feliz?
MIRIAN: 
- Você deveria cuidar melhor do meu filho, desta casa...
BETH: 
- Tocou num assunto muito importante dona Miriam... Essa, é minha casa, mesmo porque sou casada em comunhão de bens com seu filho...

MIRIAN: 
- A pior burrada que na vida...
BETH: 
- Não me compare a senhora, que foi casada por 25 anos e nunca soube o que é a felicidade, ou o prazer...
MIRIAN: 
- mas dei um filho ao meu marido.
BETH: 
- Quero que saia da minha casa.
MIRIAN: 
- Que?
BETH: 
- Agora.
MIRIAN: 
- Tenho muita fé em deus que um dia, antes da minha morte, meu filho vai acordar, e perceber a burrada que fez. É homem, ainda jovem, e poderá me dar um neto. (Sai)
BETH: 
- Ah, que vontade de esganar essa víbora!

Cai à noite – Cidade em Movimento
CENA XXIV

(INTERNA DIA / APARTAMENTO / SALA)

LOW: 
- Beth?! Que foi?
BETH: 
- Ela se foi.
LOW: 
- Brigaram?
BETH: 
- Me disse coisas horríveis...
LOW: 
- Sinto muito.
BETH:
- Talvez tenha razão...(Abalada)
LOW: 
- De que está falando?
BETH: 
- Não posso te dar um filho...
LOW: 
- Hey...
BETH: 
- Ainda Há tempo, você poderá construir uma família...
LOW: 
- Para, Beth... Somos uma família. Te amo Beth! Muito, muito, muito...
BETH: 
- Você sempre quis ser pai...
LOW: 
- Podemos adotar, quando for o momento. Escuta, não consigo imaginar minha vida sem você. Você Beth, é meu tudo. Tudo! (Abraça Beth com força)
CENA XXVI

Mostra a cidade em movimento
Na frente de uma casa noturna Paulo recepciona pessoas na porta, câmera passa para a parte interna da casa noturna onde Pandora Lewis faz seu show.

Mostra o dia amanhecendo
CENA XXVII

(Dia – Pensão)
JAJÁ: 
- Gente! Então é isso?
BETH: 
- Que acha?
JAJÁ: 
- Perfeito. Não poderia ter uma ideia melhor...
BETH: 
- É uma forma de homenageá-la.
JAJÁ: 
- Claro! Reunir ex chacretes num show beneficente; que luxo! É uma cartada de mestre. Ah, Beth, vai ser lindo ver Dadá em cima do palco glamorosa dançando...
BETH: 
- Você fará o show, enquanto ela e as suas velhas amigas de programa dançam no fundo, como nos velhos tempos, e ainda ajudam a uma entidade de caridade.
JAJÁ: 
- Brilhante ideia. Mas temos que correr pra produzir tudo isso.
BETH: 
- Sei quem pode nos ajudar... (Celular toca) Só um minuto. Alô? Que? Quando foi isso? Meu Deus! Em que hospital? Estou indo praí... (Desliga)
JAJÁ: 
- Que foi Beth?
BETH: 
- Um amigo... Não dei bem... Foi hospitalizado... Eu...
JAJÁ: 
- Vai, vai sim... E dá notícias...
BETH: 
- Claro, dou sim... (Ela sai)
JAJÁ: 
- Pesado!
CENA XXVIII

(HOSPITAL – QUARTO)
LOW: 
- Por que não me contou?
PAULO: 
- Tive medo.
LOW: 
- Medo?
PAULO: 
- Medo.
LOW: 
- Medo de que?
PAULO: 
- Que não me aceitasse mais como seu amigo.
LOW: 
- Bobagem!
PAULO: 
- Low... A pior coisa que podia acontecer, e perder sua amizade.
LOW: 
- A sua e vida intima e particular, é exclusivamente sua. Você Paulo, é um cara incrível. Jamais deixaria de gostar de você, por você ser um transformista. A amizade é construída com base no respeito mutuo, e isto sempre houve e haverá entre nós. Saber de sua opção, se é que possa chamar de uma opção, não muda nada entre nós.  
PAULO: 
- Essa é minha condição. Sou assim. Amo muito e respeito você e Beth.
LOW: 
- E nós você. Agora descanse.
PAULO: 
- Low... Obrigado.
LOW: 
- Não por isso. Estamos juntos! (Abraça Paulo e sai)
No corredor encontra Beth

BETH: 
- E ai, como ele está?
LOW: 
- Vai ficar bem?
BETH: 
- Que houve?
LOW: 
- Foi atacado por um bando de homo fóbicos, quando saia de uma boate.
BETH: 
- O machucaram muito?
LOW: 
- Um pouco.
BETH: 
- Deviam meter esse tipo de gente na cadeia e nunca mais soltarem... Onde já se viu, as pessoas não terem o direitos de serem o que desejam?!
LOW: 
- Você sabia, não é?
BETH: 
- Foi por acaso.
LOW: 
- Por que não me contou?
BETH: 
- Ele deveria te contar.

A noite cai, vem o dia, e outra noite. Cidade sempre em movimento.

CENA XXIX - CENA FINAL

(CASA DE SHOW - EXTERNA)

Dadá sai do carro com olhos vendados, Beth a ajuda. Dada=a retira a venda dos olhos.

BETH: 
- Chegamos.
DADÁ: 
- Que lugar é esse, Beth?
BETH: 
- Hoje a noite é sua. Venha comigo. (Entra)
CENA XXX

(CASA DE SHOW – INTERNA - CAMARIM)

JAJÁ: 
- Bem vinda!
DADÁ: 
- Mas...
JAJÁ: 
- Shiiii! Não diga nada. Apenas confie.

BETH: 
- Hora da maquiagem.
JAJÁ: 
- Isso é comigo!
DADÁ: 
- Que estão aprontando?
JAJÁ: 
- Curiosidade matou o gato!
BETH: 
- Vou vê como estão às coisas já dentro...
JAJÁ: 
- Dadá Quarterão está de volta meu amor... Aproveite cada segundo, hoje a noite é sua. Faremos um show beneficente com o apoio da grande Dadá Quarterão.
BETH: 
- Olha quem esta aqui...
(Entra as ex Chacretes) Vamos meninas... Arrasem! (Elas entram)

(Beth sobe ao palco e anuncia).
Boa noite, senhoras e senhores, primeiro que tudo, agradeço a presença de todos aqui nesta noite festiva em prol da Casa de Repouso Imaculada Mãe de Todos, e para está festa, contamos com a presença vips das celebridades: Dadá Quarterão... para relembrar os bons tempos das musas da tv brasileira, que se eternizaram com sua beleza e sensualidade e que até hoje habitam o imaginário de toda uma geração...(Apresenta uma a uma, que dança no meio do palco) E agora vamos a nossa atração principal. Sucesso nas noites paulistanas e agora no Brasil: Pandora Levis.

Na plateia está Low. Aos poucos a câmera vai mostrando na plateia Rosa, o porteiro, e o filho de Dadá que aplaude. Ao termino da música ele segue em direção ao palco e abraça a mãe que chora emocionada.
LOW: 
- Como sempre, você, surpreendente!

 Todos se abraçam e a imagem é congelada. Sobe o letreiro.

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