quarta-feira, 4 de julho de 2018

DIREITO DE VIVER - ATO III

TERCEIRO ATO
CENA I

FABRÍCIO: 
- Agora és um doutor!

LUIS ROBERTO: 
- Ainda sem trabalho.

FABRÍCIO: 
- Mas pelo que me disse, as coisas estão no jeito pra dar certo.

LUIS ROBERTO: 
- É... Estão se acertando.

FABRÍCIO: 
- Mas sinto que estás, tanto quanto,  aéreo...
LUIS ROBERTO: 
- E estou.

FABRÍCIO: 
- Aposto que tem dedo de mulher.

LUIS ROBERTO: 
- Não consigo parar de pensar naquela mulher.

FABRÍCIO: 
- Hum! O jovem doutor apaixonado.

LUIS ROBERTO: 
- Não. Apenas perplexo.

FABRÍCIO: 
- É uma nova forma de interpretar uma possível paixão?

LUIS ROBERTO: 
- Sabe quando você vê uma pessoa pela primeira vez, e parece que você já a conhece a anos?

FABRÍCIO: 
- Amores de vidas passadas!


LUIS ROBERTO: 
- Não brinque. É sério.

FABRÍCIO: 
- Quem é esta deusa que lhe enfeitiçou?

LUIS ROBERTO: 
- Feitiço não. Apenas de deixou intrigado.

FABRÍCIO: 
- Quem é esta jovem dama?

LUIS ROBERTO: 
- Não é tão jovem assim.

FABRÍCIO: 
- Hum! Dizem que panela velha é que faz comida boa.

LUIS ROBERTO: 
- Você... Sempre levando as coisas pro lado da maldade.

FABRÍCIO: 
- Não estas atraído por essa... Jovem senhora?

LUIS ROBERTO: 
- Estou confuso.


FABRÍCIO: 
- Comum na nossa idade. Que deseja no máximo se divertir.

LUIS ROBERTO: 
- É tem razão.

FABRÍCIO: 
- Até que enfim! Ao menos uma vez me dar razão. Mas por hora tenho uma ideia melhor... Vamos comemorar a tua formatura. Doutor Luís Roberto, ilustríssimo advogada. Futuro maior jurista do país.

LUIS ROBERTO: 
- Que Deus lhe ouça meu amigo! (Saem)

CENA II

CONSUELO: 
- Você?

MAÍRA: 
- Posso entrar?

CONSUELO: 
- Não temos nada para conversar. Deixe-me em paz.


MAÍRA: 
- Esperei vinte anos por esse momento.

CONSUELO: 
- Fique longe da minha família.

MAÍRA: 
- Meu filho.

CONSUELO: 
- Teu filho? Que filho?

MAÍRA: 
- A criança com quem você desapareceu.
CONSUELO: 
- Ninguém vai acreditar numa história tão absurda dessas.

MAÍRA: 
- Luís Roberto é meu filho.

CONSUELO: 
- E como pretende provar?

MAÍRA: 
- Eu confiei em você naquele momento de desespero.




CONSUELO: 
- Que mãe confiaria a vida de seu filho nas mãos de uma estranha?

MAÍRA: 
- Farei o que for possível para ter meu filho de volta.

CONSUELO: 
- Luís Roberto é meu filho. Você entrou-lhe em meus braços. Eu o criei. Eu sou a única mãe que ele conhece.

MAÍRA: 
- Você foi cruel! Roubou de mim os melhores anos de vida que eu teria ao lado do meu filho...
CONSUELO: 
- Não... Eu dei a Luís Roberto que talvez você jamais seria capaz de dar-lhe. Amor!

MAÍRA: 
- Não diga uma sandice dessas! Entregar-lhe naquele momento foi um ato de amor.

CONSUELO: 
- Não. Foi covardia. Você foi covarde, omissa, negligente... E agora vinte anos depois que reparar seu erro destruindo a minha família?

MAÍRA: 
- Não. Eu só quero meu filho.

CONSUELO: 
- Não é seu filho. Entenda isto de uma vez... Você não tem um filho. Não há laço nenhum que a una a Luís Roberto.

MAÍRA: 
- Isto é ele que terá que decidir...

CONSUELO: 
- Não percebe que isto poderá destruir a vida dele. Por que está fazendo isto conosco? Se ama mesmo Luís Roberto, fique longe dele, deixe-o continuar sendo feliz. Deixo-o viver a vida dele... Seguir o seu destino em paz...

MAÍRA: 
- Há vinte anos a senhora modificou o destino de nossas vidas e não vou deixa-la fazer isto outra vez.


CONSUELO: 
- Não. Você que alterou o destino de nossas vidas. E não tenho culpa pelo seu arrependimento. Agora por favor, saia da minha casa.

MAÍRA: 
- Luís Roberto saberá toda verdade.

CONSUELO: 
- E jamais lhe perdoará. Agora sai, e nunca mais volte a esta casa. (Maíra sai)

CENA III
DIVA: 
- Maíra?

LISETE: 
- Saiu.

DIVA: 
- Será que demora?

LISETE: 
- Não sei.

DIVA: 
- Ah, meu Deus! Logo hoje.


LISETE: 
- Algum problema, Diva?

DIVA: 
- Pra variar...

LISETE: 
- Posso ajudar.

DIVA: 
- Maíra vai precisar muito de nós.

LISETE: 
- Ai, ai! Que foi? Outra desgraça?

DIVA: 
- A mãe dela está nas ultimas...

LISETE: 
- Coitada de Dona Maíra!

DIVA: 
- Vinte anos que não vê a mãe...

LISETE: 
- Nossa!



DIVA: 
- Agora a mãe deseja vê-la antes de bater as botas.

LISETE: 
- Quem sabe não quer pedir perdão.

DIVA: 
- Não sei se eu perdoaria. Pelo que Dona Maíra me contou... A mãe foi omissa no momento que a coitadinha mais precisou.

LISETE: 
- Mas eu acho que deve perdoar. Guardar mágoas não faz bem. Dizem até que causa câncer. (Bate na boca três vezes e se benze) Ave Maria, ave Maria, Ave Maria!

DIVA: 
- O que Maíra vai decidir... Não sei. Mas seja lá qual decisão tomar vou apoiar.

LISETE: 
- Diva, bom será que ela vá vê a mãe. Se ela morrer e dona Maíra não for, mais tarde ela poderá se arrepender.

DIVA: 
- É... Vamos vê. Ate logo... Pede a Maíra pra me ligar com urgência.

LISETE: 
- Tudo bem... Darei o recado. (Sai)

CENA IV

MAÍRA: 
- Mãe...

BERNADETE 
– Maíra, é você?

MAÍRA: 
- Sim sou eu.

BERNADETE 
– Minha filha... Chegue mais perto.

MAÍRA: 
- Oi mãe?

BERNADETE 
– Dei-me tua mão.

MAÍRA: 
- Que houve com a senhora, mãe?

BERNADETE 
– Estou morrendo filha.

MAÍRA: 
- Diga bobagem... A senhora ainda vai viver muito.

BERNADETE 
– Não filha. Sei que estou chegando ao fim.

MAÍRA: 
- A senhora é forte.

BERNADETE 
– Não filha. Sempre fui uma fraca. Nunca me perdoei por...

MAÍRA: 
- Não vamos falar disso...

BERNADETE 
– Esperei vinte anos...

MAÍRA: 
- Já passou mãe.

BERNADETE 
– Me perdoa filha?

MAÍRA: 
- Não sei se posso fazer isso mãe...
BERNADETE 
– Perdoa essa velha idiota que abriu mão da própria filha por medo.

MAÍRA: 
- Seu medo, sua covardia... Fez com que eu perdesse meu filho.

BERNADETE 
– Sinto muito.

MAÍRA: 
- Você podia ter ficado ao meu lado... Podia ter pedido pra ele parar... Mas não. Preferiu ficar ali, parada, calada, assistindo a tudo feito uma pedra.


BERNADETE 
– Perdão filha! Perdão...

MAÍRA: 
- Como posso perdoa-la, se a cada vez que fecho meus olhos aquela imagem me vem à cabeça como se fosso um pesadelo que se repete por todas as noites nestes vinte anos?


BERNADETE 
– Oh, minha filha! Se soubesse o quanto tenho sofrido.

MAÍRA: 
- Então não sofra mais. Saber que eu sou a causa deste teu sofrimento me faz sofrer.

BERNADETE 
– Ah, você... É tão ranzinza quanto teu pai!

MAÍRA: 
- Não me fale dele. Por favor, mãe.

BERNADETE 
– Minha filha... Tire este ódio do teu coração. Apesar de tudo, de tudo que fiz de errado, e do que deixei de fazer... Em todo esse tempo, eu nunca deixei de te amar.

MAÍRA: 
- Apesar da minha raiva, de toda essa mágoa mãe. Também nunca deixei de ama-la. Claro que nunca concordei com sua submissão ao papai, mas sabia que a senhora o amava e por isso aceitava calada todas suas barbaridades.

BERNADETE 
– Então perdoa a esta velha mãe...

MAÍRA: 
- Claro, mãe. Claro que lhe perdoo.

BERNADETE 
– Agora sim. Posso morrer em paz.

MAÍRA: 
- Não diga isso. Vou lhe pagar o melhor tratamento...

BERNADETE 
– Não. Poupe teu dinheiro minha filha. Minha doença está num estágio bem avançado, não tem mais jeito.

MAÍRA: 
- Terás tudo que for preciso para ter um maior conforto.

BERNADETE 
– Você virá me visitar?


MAÍRA: 
- Sim, mãe. Virei. Sua benção.

BERNADETE 
– Que Deus a proteja e abençoe, minha filha! (Bernadete beija a mão de Maíra, que lhe retribui com um beijo na testa. Bernadete dorme num sono profundo. Maíra chora, sai. Apaga-se as luzes)

CENA V

CRISTINA: 
- Mãe?

CONSUELO: 
- Oh, filha!

CRISTINA: 
- Vim o mais rápido que pude.  Que foi? Me pareceu aflita.

CONSUELO: 
- Aquela mulher...

CRISTINA: 
- A mãe do Bebeto...

CONSUELO: 
- A mãe de Luís Roberto sou eu.
CRISTINA: 
- Desculpe-me. Fui infeliz em meu comentário. Claro! A senhora é a verdadeira mãe do Bebeto.

CONSUELO: 
- Esteve aqui.

CRISTINA: 
- E agora mãe?

CONSUELO: 
- Está ameaçando contar tudo ao Luís Roberto.

CRISTINA: 
- E agora mãe?

CONSUELO: 
- Estou desesperada.

CRISTINA: 
- Não acha que chegou a hora de contar-lhe...

CONSUELO: 
- Não. Nunca. Teu irmão não pode conhecer esta história.

CRISTINA: 
- Mãe...

CONSUELO: 
- Cristina, não suportarei perder meu filho pra aquela mulher inconsequente.

CRISTINA: 
- Não acha que se ele tenha que saber, melhor será que seja através da senhora.

CONSUELO: 
- Teu irmão não irá saber...

CRISTINA: 
- Com esta mulher rondando a nossa casa... Uma hora dessas...

CONSUELO: 
- Ela não nos encontrará. Venderei esta casa e iremos para bem longe. Não vou perder meu filho pra esta mulher.

CRISTINA: 
- Já lhe passou pela cabeça que Bebeto é adulto que entenderá tudo que se passou? Desta forma não necessariamente irá morar com aquela senhora.

CONSUELO: 
- É rica. Jovem...
CRISTINA: 
- Meu irmão tem caráter.

CONSUELO: 
- Morreria só de pensar que eu preferiria ela a mim.

CRISTINA: 
- Oh, mãe! Isso não vai acontecer.

CONSUELO: 
- Vamos embora e pronto. Venderei esta casa e recomeçaremos a vida em outro lugar.

CRISTINA: 
- Mãe...

CONSUELO: 
- Está decidido.

CENA VI

DIVA: 
- Fique calma. Beba essa água.

MAÍRA: 
- Mesmo depois de tudo que aconteceu. Era minha mãe. Não deseja um fim como este...

DIVA: 
- Fez o que pode.

MAÍRA: 
- Mas no fundo nunca a perdoei.

DIVA: 
- Como não? Você custeou todo tratamento...

MAÍRA: 
- Isso é o de menos.

DIVA: 
- Foi até lá. Conversou com ela... Se fez presente.

MAÍRA: 
- Dizem que perdoar é esquecer e eu nunca consegui esquecer...


DIVA: 
- Isso não é verdade. Se for verdade, não há face da Terra um ser que consiga perdoar.

MAÍRA: 
- Minha mãe, morta!

DIVA: 
- Sinto muito minha amiga.

MAÍRA: 
- Será que morrerei sem o perdão do meu filho?

DIVA: 
- Maíra... Você não tem que perdão. Conhecemos está história, e nela você é a maior vítima.

MAÍRA: 
- Mas não é assim que meu filho poderá entender.

DIVA: 
- Tenha fé. Você sempre acreditou que um dia encontraria seu filho. Agora que o encontrou...

MAÍRA: 
- Posso ser apenas uma estranha pra ele.

DIVA: 
- Teu amor... Esse grande amor que traz em teu peito, esse amor de mãe... Irá te ajudar a conquistar o amor de seu filho.

MAÍRA: 
- E se isso não for possível?

DIVA: 
- Não perca a fé. Acredite!

MAÍRA: 
- Aquela mulher está disposta a tudo pra que meu filho acredite que foi por mim abandonado.

DIVA: 
- Aproxime-se dele. E com cuidado, aos pouco, vai conquistando sua confiança.

MAÍRA: 
- Tem razão. Não devo ficar aqui lamentando. Logo agora que estou tão perto do que sempre almejei.

DIVA: 
- Isso mesmo! Agora sim. Está é Maíra que eu conheço.

MAÍRA: 
- Vou ligar pra Luís Roberto. Ele me deu cartão com telefone...

DIVA: 
- Isso mesmo amiga. Faça isso. Agora tenho que ir...


MAÍRA: 
- Obrigada por tudo.

DIVA: 
- Que isso! Se precisar... Sabe onde me encontrar. (Saem)

CENA VII

LUIS ROBERTO: 
- Isso não está certo!

CRISTINA: 
- Não julga a atitude de nossa mãe.

LUIS ROBERTO: 
- Vender nossa casa? Casa que conquistou com tanto trabalho? Ir pro interior? Que está havendo com nossa mãe?


CRISTINA: 
- Tem os motivos dela.

LUIS ROBERTO: 
- Que motivos são esses?

CRISTINA: 
- Talvez nossa mãe queira descansar.

LUIS ROBERTO: 
- Me parece está fugindo de alguma coisa.

CRISTINA: 
- Impressão sua. A única fuga que nossa mãe pretende... É desta agitação da cidade grande.

LUIS ROBERTO: 
- Sei não... Desde do dia da minha formatura percebi que ela tem agido de forma estranha...

CRISTINA: 
- Impressão sua. Acredito que ela acredite que em uma cidade menor você tenha mais chance de se estabelecer profissionalmente.

LUIS ROBERTO: 
- Aqui as chances são maiores. Há mais possibilidades.

CRISTINA: 
- Meu irmão... Confie em nossa mãe. Ela só deseja o melhor para nós.



LUIS ROBERTO: 
- Sinto muito minha irmã. Mas se nossa mãe decidir partir... Creio que terei que escolher...

CRISTINA: 
- Está querendo dizer que não irá?

LUIS ROBERTO: 
- Preciso me estabelecer profissionalmente. E não há lugar melhor que este.

CRISTINA: 
- Isso há deixará muito triste.

LUIS ROBERTO: 
- Não a minha felicidade que deseja? Então entenderá.

CRISTINA: 
- É por sua felicidade que está fazendo este sacrifício.

LUIS ROBERTO: 
- O que está sabendo que eu não sei?

CRISTINA: 
- Nada. Apenas sei que tudo que nossa mãe faz, faz por nossa felicidade. Agora tenho que ir... Tchaú! (Sai)

LUIS ROBERTO: 
- Está acontecendo algo muito estranho aqui. Mas o que será?

CENA XVIII

FABRÍCIO: 
- Mas que loucura mãe...Então depois de vinte anos, madrinha conseguiu enfim localizar seu filho.

DIVA: 
- Pois é. O que parecia ser o passo mais difícil... Perto desta nova realidade agora é fichinha.

FABRÍCIO: 
- De um jeito ou de outro, ela terá que procura-lo e contar-lhe a verdade.
DIVA: 
- A mãe adotiva dele está disposta a envenenar a cabeça do filho contra sua verdadeira mãe.



FABRÍCIO: 
- Mas a verdade sempre prevalece.

DIVA: 
- Este caso é muito mais complicado que imagina.

FABRÍCIO: 
- Não entendo. Madrinha entregou o filho por necessidade, não foi?

DIVA: 
- Claro. Mas mesmo assim não deixa de ser visto como um abandono. O que todos vão pensar, mesmo diante de toda história, é que uma mãe passe o que passar jamais abandone seu filho.

FABRÍCIO: 
- Então, a mãe adotiva vai alegar que a madrinha quis se livrar do problema o entregando a uma estranha...

DIVA: 
- Exatamente.



FABRÍCIO: 
- Coitada da madrinha! Desde criança que acompanho esse sofrimento!

DIVA: 
- É meu filho... De um jeito ou de outro, não há pra onde fugir, a verdade tem que ser contada.

FABRÍCIO: 
- E qual o medo dela em procura-lo e contar esta verdade?

DIVA: 
- Ser rejeitada.

FABRÍCIO: 
- Mas esse é um risco que tem que correr.

DIVA: 
- Inevitável!

FABRÍCIO: 
- Diga a madrinha que o que precisar pode contar comigo.

DIVA: 
- Ah, filho! Que orgulho tenho de você.
FABRÍCIO: 
- Temos muito que agradecer. Se não fosse ela...

DIVA: 
- Nem sei o que seria de nós. Esta casa, sua faculdade...

FABRÍCIO: 
- Ela merece ser feliz.

DIVA: 
- Sempre generosa.

FABRÍCIO: 
- Bom, agora tenho que ir... Me deseje sorte. Tenho uma entrevista muito importante.

DIVA:
- Boa sorte meu querido.

FABRÍCIO: 
- Beijo!

DIVA: 
- Vai com Deus!  (Saem)

CENA IX

LUIS ALBERTO: 
- Bom dia senhora!

MAÍRA: 
- Bom dia.

LUIS ALBERTO: 
- Desculpe-me o atraso.

MAÍRA: 
- Tudo bem.

LUIS ALBERTO: 
- No telefone a senhora me pareceu aflita...

MAÍRA: 
- Sim, estava um pouco aflita.

LUIS ALBERTO: 
- É estranho...

MAÍRA: 
- O que?

LUIS ALBERTO: 
- Sempre que há vejo, é como já lhe conhecesse há muito tempo.

MAÍRA: 
- Mesmo?

LUIS ALBERTO: 
- É.
MAÍRA: 
- E isso é bom?
LUIS ALBERTO: 
- Talvez. Não sei bem... Não sou místico.

MAÍRA: 
- Quem sabe no passado já tivemos alguma relação... Parentesco.

LUIS ALBERTO: 
- Não... Não creio. Não acredito muito em superstições.

MAÍRA: 
- Por falar em passado... Me parece ter sido uma criança muito feliz.

LUIS ALBERTO: 
- E fui. Uma pestinha! Mas feliz. Minha mãe conta cada coisa que eu aprontava!

MAÍRA: 
- Deve amar muito sua mãe...

LUIS ALBERTO: 
- Uma mulher extraordinária! A senhora credita que nos criou simplesmente lavando roupas pra fora?


MAÍRA: 
- Acredito. Uma coisa não dá pra negar. O criou muito bem.

LUIS ALBERTO: 
- Somos muito unidos. Tenho muito orgulho de ter uma família como a minha.

MAÍRA: 
- E por uma hipótese você descobrisse que a tua mãe, este mulher, que a vida inteira acreditou ser sua mãe, não fosse sua mãe?

LUIS ALBERTO: 
- Impossível! Somos muito parecidos.

MAÍRA: 
- Num faz de conta. Só imagine...

LUIS ALBERTO: 
- É como minha vida não tivesse existido. De repente eu seria um ser que viveu uma vida de mentirinha. Acho que isso acabaria com minha vida. Já pensou... Não ser quem acredita que seja uma vida inteira?

MAÍRA: 
- É... Seria muito complicado!

LUIS ALBERTO: 
- Ficaria pinel Mas em que possa ajuda-la?

MAÍRA: 
- Há! É que meu falecido marido me deixou uns bens... E eu penso em vende-los...

LUIS ALBERTO: 
- Então o correto seria procurar um bom e confiável corretor de imóveis. Eu sou apenas um recém formado advogado.

MAÍRA: 
- É ai que entra seu trabalho. Quero fundar uma ONG...

LUIS ALBERTO: 
- Uma ONG?

MAÌRA: 
- Isso. Que dar apoio suporte a mães que perderam seus filhos...



LUIS ALBERTO: 
- É um projeto bonito. Audacioso, mas bonito!

MAÌRA: 
- E, eu preciso de alguém que me ajude nessa parte legal... Então pensei em você.

LUIS ALBERTO: 
- Me sinto lisonjeado. Mas sou apenas um recém saído da faculdade.

MAÍRA: 
- E eu uma sonhadora que deseja colocar em prática um desejo muito antigo.

LUIS ALBERTO: 
- por que a senhora que fazer isso?

MAÌRA: 
- Há vinte anos perdi um filho...

LUIS ALBERTO: 
- Sinto muito!

MAÌRA: 
- Não... Está vivo.

LUIS ALBERTO: 
- Há!
MAÍRA: 
- E esta ONG é a chance que tenho de tê-lo de volta.

LUIS ALBERTO: 
- Entendo.

MAÍRA: 
- Então, aceita?

LUIS ALBERTO: 
- Bom... O que dizer? Preciso do trabalho.

MAÍRA: 
- Não sabe o quanto fico feliz.

LUIS ALBERTO: 
- Obrigado senhora. Lhe agradeço a oportunidade e a confiança.

MAÍRA: 
- Eu que lhe sou grata por aceitar.

LUIS ALBERTO: 
- Então... Tenha um bom dia.

MAÍRA: 
- Obrigada! (Saem)

CENA X

CRISTINA: 
- Quem era?

FABRÍCIO: 
- Teu irmão... Arranjou um emprego.

CRISTINA: 
- Que maravilha!

FABRÍCIO: 
- vai trabalhar para uma ONG.

CRISTINA: 
- Uma ONG?

FABRÍCIO: 
- É... Que procura crianças desaparecidas.

CRISTINA: 
- Crianças desaparecidas...

FABRÍCIO: 
- Diz ele quem o convidou foi aquela senhora que ele encontrou no dia da festa de formatura...


CRISTINA: 
- Ah, não!

FABRÍCIO: 
- Que foi?

CRISTINA: 
- Não, nada... É que lembrei de uma coisa.

FABRÍCIO: 
- Algo que eu possa ajudar?

CRISTINA: 
- Infelizmente não.

FABRÍCIO: 
- Você ficou pálida assim de repente.

CRISTINA: 
- Impressão tua.

FABRÍCIO: 
- Não. Calma... Senta ai. Cristina o que está acontecendo?

CRISTINA: 
- Se essa mulher for quem estou pensando...


FABRÍCIO: 
- Qual o problema com esta mulher?

CRISTINA: 
- Bebeto, não pode se aproximar dela.

FABRÍCIO: 
- Por que?

CRISTINA: 
- Nada.

FABRÍCIO: 
- Calma! Confie em mim...

CRISTINA: 
- É uma longa história.

FABRÍCIO: 
- Tenho todo tempo do tempo.

CRISTINA: 
- Não posso. Não é um segredo meu. Se lhe conto. Traiu a confiança da minha mãe. Agora tenho que ir. (Sai)

FABRÍCIO: 
- Que loucura.


CENA XI

LUIS ALBERTO: 
- Mãe!

CONSUELO: 
- Hei, calma! Que euforia é esta?

LUIS ALBERTO: 
- É felicidade!

CONSUELO: 
- É? E qual o motivo desta felicidade?

LUIS ALBERTO: 
- Arrumei um emprego! Ué? Não vai ficar feliz pelo filhão?

CONSUELO: 
- Claro. Mas quanto a ir...

LUIS ALBERTO: 
- Mãe... Escuta, eu não jogar fora esta oportunidade. Se a senhora quiser ir pro interior... Posso fazer visitas...

CONSUELO: 
- Meu filho...

LUIS ALBERTO: 
- Não me impeça de ser feliz mãe. É minha vida. E este emprego caiu do céu. Dona Maíra...

CONSUELO: 
- Maíra?

LUIS ALBERTO: 
- É. A senhora a conhece? Aquela senhora...

CONSUELO: 
- Não.

LUIS ALBERTO: 
- Me pareceu conhece-la.

CONSUELO: 
- Mas não há conheço. E quero que fique longe dela.

LUIS ALBERTO: 
- Por que? Qual seu medo? Tudo bem que apesar de ser alguns anos mais velha ela seja ainda atraente...

CONSUELO: 
- Não seja tolo. Não diga bobagens.

LUIS ALBERTO: 
- Tem medo que eu possa me apaixonar?

CRISTINA: 
- Mãe...

CONSUELO: 
- Oi filha.

CRISTINA: 
- Preciso falar com a senhora.

CONSUELO: 
- Claro. Depois continuaremos essa conversa Luís Roberto.

LUIS ALBERTO: 
- Tá bom.

CRISTINA: 
- Já está sabendo

CONSUELO: 
- Já.

CRISTINA: 
- E agora?

CONSUELO: 
- Não sei.


CRISTINA: 
- Conte lhe a verdade.

CONSUELO: 
- Não posso.

CRISTINA: 
- Uma dessas, ele saberá. E jamais irá lhe perdoar por esconder.

CONSUELO: 
- Isso é o que eu mais temo.

CRISTINA: 
- O círculo está se fechando... Mãe, não tem como fugir. Conte a verdade.

CONSUELO: 
- Não vou perder meu filho pra esta mulher... Não vou! (Se abraçam e saem)

CENA XII

LISETE: 
- Nossa! Da gosto de vê... A senhora está tão animada.

MAÍRA: 
- Faz tempo que não me sentia assim...

LISETE: 
- Que bom senhora. A senhora merece.

MAÍRA: 
- Esperei tanto tempo por isso.

LISETE: 
- E eu não sei... Sou testemunha de parte de sua luta. Mas Deus é pai e não é padrasto.

MAÍRA: 
- É muita felicidade poder ter meu filho perto de mim.

LISETE: 
- Deve ser difícil pra senhora, não é? Ter seu filho ali, do seu ladinho... E não poder dizer nada.

MAÍRA: 
- Verdade. Mas só de esta próxima dele... Já me basta.

LISETE: 
- Deve está um homenzarrão.



MAÍRA: 
- Não é por que é meu filho não... Mas é um belo pedaço de homem. Lembra... Deixa pra lá.

LISETE: 
- Diva disse que o pai era muito bonito.

MAÍRA: 
- Ah, não Lisete... Não vai querer acabar com meu dia. Não me fale daquele traste. Se não fosse por sua covardia, eu e meu filho não teríamos nos separados.

LISETE: 
- É passado senhora. Esquece isso... Perdoe.

MAÍRA: 
- Tem razão. Ficar remoendo passado é sofrer duas vezes. E agora eu quero é ser feliz.

LISETE: 
- Está certa.

MAÍRA: 
- Sabe que me deu fome...


LISETE: 
- Ah, então vou lhe preparar um lanchinho bem caprichado.

MAÍRA: 
- Obrigada minha querida! (Sai Lisete)

CENA XIII

FABRÍCIO: 
- Ah, cara! Você tirou a sorte grande.

LUÍS ROBERTO: 
- Quem diria que o emprego iria bater em minha porta?!

FABRÍCIO: 
- Cara, você é o cara mais sortudo do mundo.

LUÍS ROBERTO: 
- Calma ai... Não é só sorte não... Vou ter que ralar pra caramba. Tenho que estudar tudo sobre ONG.

FABRÍCIO: 
- Então essa coroa deve está montada na grana.


LUÍS ROBERTO: 
- Isso é verdade... Mas como vou cuidar da parte jurídica dessa ONG, tenho que estar preparado. Afinal, não posso decepcionar...

FABRÍCIO: 
- Toma cuidado cara...

LUÍS ROBERTO: 
- Que está dizendo?

FABRÍCIO: 
- Vai acabar se apaixonando por essa coroa... Se é que já não está.

LUÍS ROBERTO: 
- Hei, para com isso! Mas respeito pra falar de dona Maíra.

FABRÍCIO: 
- Maíra?

LUÍS ROBERTO: 
- É Maíra. Por que essa cara de espanto?

FABRÍCIO: 
- Será?


LUÍS ROBERTO: 
- Será o que?

FABRÍCIO: 
- Que... Estamos falando da mesma pessoa?

LUÍS ROBERTO: 
- Não... Não vai me dizer que conhece dona Maíra?

FABRÍCIO: 
- Se for a mesma pessoa... Estamos falando da minha madrinha.

LUÍS ROBERTO: 
- Madrinha?

FABRÍCIO: 
- É. Minha Madrinha. Foi ela que custeou meus estudos do começo até o fim. Até a casa que temos foi graças a sua ajuda. Uma pessoa maravilhosa.

LUÍS ROBERTO: 
- Então essa senhora é gente fina.



FABRÍCIO: 
- Finíssima e de muito respeito. E ai de você se magoar a minha madrinha.

LUÍS ROBERTO: 
- Meu relacionamento com sua madrinha meu caro é puramente profissional.

FABRÍCIO: 
- Acho bom...

LUÍS ROBERTO: 
- Se é tua madrinha, por que você não pede pra trabalhar nesta nova ONG?

FABRÍCIO: 
- Sei não... Não pega bem se oferecer.

LUÍS ROBERTO: 
- Então meu amigo, deixa comigo...

FABRÍCIO: 
- Que você vai fazer?

LUÍS ROBERTO: 
- Me aguarde! (Sai)


FABRÍCIO: 
- Vê lá o que vai fazer... (Saem)

CENA XIV

CONSUELO: 
- Tem que haver uma maneira de fazer teu irmão a desistir dessa ideia de ir trabalhar nesta ONG.

CRISTINA: 
- Mas como vamos convencê-lo? Pra ela está é apenas a sua grande chance.

CONSUELO: 
- Essa mulher dos inferno veio pra destruir nossa família.

CRISTINA: 
- Bebeto não vai querer ir pro interior. Isso é uma coisa fora de questão.

CONSUELO: 
- Não vou deixar essa mulherzinha tirar meu filho de mim.

CRISTINA: 
-  Oh, mãe!

CONSUELO: 
- Será que não percebe o que ela está fazendo? Está seduzindo teu irmão. E aos poucos vai conquistando a confiança dele, pra depois, contar uma história triste... Comover teu irmão...

CRISTINA: 
- Por isso ainda acho que a senhora deva contar-lhe toda verdade sobre o passado dele.

CONSUELO: 
- E se ele preferi ela?

CRISTINA: 
- Bebeto lhe amo mãe.

CONSUELO: 
- Será que vale mesmo apena contar a verdade, mesmo que está verdade destrua nossas vidas?

CRISTINA: 
- Por mais que isso traga sofrimentos, é preciso que seja dito. Mãe, acabe com esse sofrimento. Sofrer por sofrer, a senhora já está sofrendo.

CONSUELO: 
- Isso está acabando comigo.
CRISTINA: 
- Então mãe?! Conte a verdade antes que seja tarde demais.

CONSUELO: 
- Prometo que vou pensar...

CRISTINA: 
- Sabe que pode contar comigo

CONSUELO: 
- Sei filha. Sei.

CRISTINA: 
- Lembra que sempre nos dizia? O amor transforma...

CONSUELO: 
- Por que liberta...

CRISTINA: 
- Liberte.

CONSUELO: 
- Tenho medo...

CRISTINA: 
- Mãe...

CONSUELO: 
- No que vai se transformar.
CRISTINA: 
- Bebeto é adulto. Vai suportar.

CONSUELO: 
- Eu sei. Só não sei se eu suportarei.

CRISTINA: 
- Sim, suportará. E eu estarei aqui. (Saem abraçadas)

CENA XV

LISETE: 
- Bom dia!

LUÍS ROBERTO: 
- Bom dia. Sou Luís Roberto. Dona Maíra me aguarda...

LISETE: 
- Claro. Por favor, entre. Fique a vontade... (Sai)

MAÍRA: 
- Bom dia. Não... Fique sentado.

LUÍS ROBERTO: 
- Bom dia Dona Maíra.


MAÍRA: 
- Que bom que aceitou a trabalhar comigo.
LUÍS ROBERTO: 
- Dei uma lida sobre o assunto... Na verdade andei me informando...

MAÍRA: 
- isso é bom.

LUÍS ROBERTO: 
- Dentro do seguimento que a senhora quer... pensei em um nome para a ONG...

MAÍRA: 
- É? E em quem nome pensou?

LUÍS ROBERTO: 
- Aqui... Veja.

MAÍRA: 
- Anjos da Cidade... É um belo nome. Será que já não há alguma ONG com esse nome?

LUÍS ROBERTO: 
- Fiz uma pesquisa preliminar. E pra minha surpresa não encontrei nenhuma.


MAÍRA: 
- Eu adorei. Esse nome expressa bem a ideia do que pretendemos...
LUÍS ROBERTO: 
- Ser uma espécie de anjo para quem precisa?

MAÍRA: 
- Sabe Luís Roberto, você não pode imaginar o que significa pra quem mais necessita uma mão estendida, alguém disposto a nos ajudar.

LUÍS ROBERTO: 
- Falou como se tivesse passado por isso.

MAÍRA: 
- Busco apostar no que acredito. Acredito em anjos. E pra mim anjos são pessoas iluminadas por Deus, dispostas a ajudar a seu próximo, mesmo que estes muitas vezes não possa lhes pagar por isso...

LUÍS ROBERTO: 
- Isso tem a ver com a história do seu filho.


MAÍRA: 
- Meu filho? De certa forma sim.

LUÍS ROBERTO: 
- Desculpa meu atrevimento... Mas como foi que a senhora perdeu seu filho? Está morto?

MAÍRA: 
- Não. Graças a Deus não. Está bem. E é um homem brilhante.

LUÍS ROBERTO: 
- Então tem contato com ele.

MAÍRA: 
- Podemos dizer que sim. Eu sei que ele é meu filho, ele não.

LUÍS ROBERTO: 
- Deve ser muito difícil pra senhora.

MAÍRA: 
- Era mais difícil quando eu não sabia onde estava.

LUÍS ROBERTO: 
- Por que não se aproxima e o diz que a senhora é sua mãe.


MAÍRA: 
- Aconteceram coisas que ele desconhece.

LUÍS ROBERTO: 
- então conte-o.

MAÍRA: 
- Tenho medo de afasta-lo outra vez.

LUÍS ROBERTO: 
- A senhora é uma mulher tão incrível... Não creio que ele não aceite.

MAÍRA: 
- Você acha?

LUÍS ROBERTO: 
- Claro senhora. Olha só, a coisa maravilhosa que a senhora está preste a fazer. Vai investir seu dinheiro em ajudar ao próximo.

MAÍRA: 
- Apenas vou retribuir com o que a vida me fez.

LUÍS ROBERTO: 
- Seu filho foi sequestrado?

MAÍRA: 
- Não exatamente.

LUÍS ROBERTO: 
- Como assim?

MAÍRA: 
- É uma longa história.

LUÍS ROBERTO: 
- Tenho todo tempo do mundo. Afinal, agora o que mais vou ouvir através desta ONG, são histórias...

MAÍRA: 
- Isso é verdade.

LUÍS ROBERTO: 
- Que tal começar pela sua.

MAÍRA: 
- Faz tanto tempo...

LUÍS ROBERTO: 
- Sinto que deseja compartilhar esta história.

MAÍRA: 
- Eu era muito jovem, sonhadora... Ingênua demais... Acreditei em algumas palavras... Também, era tudo encantador. Cai feito um patinho nas lábias dele...

LUÍS ROBERTO: 
- O pai do seu filho?

MAÍRA: 
- É. Eu trabalhava numa mansão maravilhosa, mais parecia um palacete... Imagine só... Uma pobre caiçara, dentro daquele mundão de luxo. E como todo conto, havia um príncipe, o homem mais lindo que havia visto em toda minha vida.

LUÍS ROBERTO: 
- E então se apaixonou.

MAÍRA: 
- Exato. Vivemos uma intensa história de amor. Com juras e promessas de amor eterno. O príncipe e a plebeia. A história perfeita onde o amor vence a barreira da diferença social. Mas como em todo conto, havia uma bruxa... Capaz de qualquer coisa para afastar o casal de apaixonados...

LUÍS ROBERTO: 
- E ela conseguiu?
MAÍRA: 
- Ele teve que escolher, entre a posição social ou o amor da jovem que daria tudo que não tinha por amor a ele.

LUÍS ROBERTO: 
- E ele escolheu...

MAÍRA: 
- abandoná-la, mesmo sabendo que ela esperava um filho dele.

LUÍS ROBERTO: 
- Que canalha.

MAÍRA: 
- Ele partiu. Ela foi demitida. Seu pai a pós pra fora de casa como se escorraça um cachorro sarnento.

LUÍS ROBERTO: 
- Nossa!

MAÍRA: 
- Depois que o bebe nasceu, sem ter pra onde ir, encontrou uma senhora em quem confiou, e pra salvar a vida de seu filho, protegendo-o da fome e do frio, o entregou nas mãos dessa senhora...
LUÍS ROBERTO: 
- E depois, que aconteceu?

MAÍRA: 
- Nunca mais eu vi meu filho.

LUÍS ROBERTO: 
- Sinto muito.

MAÍRA: 
- Foram vinte anos de procura. E agora que o encontrei... Não posso dizer-lhe: Eu sou sua mãe!

LUÍS ROBERTO: 
- Calma senhora. Eu não queria que se sentisse mal.

MAÍRA: 
- Eu sou vítima... Mas temo que ele não entenda.

LUÍS ROBERTO: 
- Tenho certeza que ele a entenderá.

MAÍRA: 
- como pode ter certeza?

LUÍS ROBERTO: 
- Eu entenderia.

MAÍRA: 
- Jura?

LUÍS ROBERTO: 
- Verdade.

MAÍRA: 
- Você é um bom rapaz.

LUÍS ROBERTO: 
- Obrigado. Sou um admirador de sua coragem. Poucas mulheres tem sua determinação. Muitas teriam desistido. Bom, acho que preciso ir. Vou dar entrada nas papeladas.

MAÍRA: 
- Obrigada. Não sabe o quanto me fez bem me abrir pra você.

LUÍS ROBERTO: 
- senhora, conte sempre comigo.

MAÍRA: 
- Eu o acompanho...

LUÍS ROBERTO: 
- Bom dia senhora.

MAÍRA: 
- Bom dia, Luís Alberto.

LISETE: 
- Por que não aproveitou a oportunidade e contou toda verdade. Devia ter dito que a senhora é a mãe dele.

MAÍRA: 
- Acha que não tive vontade? Me segurei pra não contar. Mas preciso ser cautelosa. Uma parte da história ele já conhece... Agora só falta...

LISETE: 
- A senhora dizer que é sua mãe.

MAÍRA: 
- Exatamente. E esta é a parte mais difícil.

LISETE: 
- Ah, senhora! Venha, vou lhe preparar um suco.

CENA XVI

FABRÍCIO: 
- Que coisa mais louca... A madrinha, contratando o Bebeto pra trabalhar com ela...


DIVA: 
- Calma ai... O Bebeto, é o Luís Roberto?
FABRÍCIO: 
- Claro! Que outro Bebeto conhecemos?

DIVA: 
- Meu Deus! Que ironia do destino... O tempo todo esteve aqui, bem debaixo do meu nariz... E eu nunca percebi.

FABRÍCIO: 
- Que tá pegando? Pirou mãe?

DIVA: 
- Filho... O Bebeto, o Luís Roberto... É o filho perdido da sua madrinha.

FABRÍCIO: 
- Caraca mãe! Que isso? Como pode isso? A vida inteira procurando esse filho... E ele esteve sempre aqui.

DIVA: 
- Bem debaixo do nosso nariz.

FABRÍCIO: 
- Caramba! Que coisa de louco.

DIVA: 
- Filho... Agora temos que ajudar a tua madrinha a se aproximar do filho...

FABRÍCIO: 
- Mas ele vai trabalhar com ela...

DIVA: 
- Eu sei. Mas temos que ajudar a preparar o terreno para esse reencontro entre mãe e filho.

FABRÍCIO: 
- Que barra! E quanto a mãe dele? A outra mãe?

DIVA: 
- Essa mulher tirou da Maíra o que ela tinha de mais precioso, o filho. E agora ela tem que prestar contas.

FABRÍCIO: 
- Deus! Não queria está na pele do meu amigo.

DIVA: 
- Nem eu.



FABRÍCIO: 
- A vida inteira acreditando que uma pessoa é sua mãe... E depois... Escuta aqui dona Diva, você é minha verdadeira não é?

DIVA: 
- Não... Não... Não. Te encontrei na lata de lixo. Claro seu moleque. E não duvide nunca disso.

FABRÍCIO: 
- Eu sei mãe. Que bom que você é minha mãe.

DIVA: 
- E você meu filho. Agora vamos... É hora do trabalho. (Saem)

CENA XVII

CONSUELO: 
- Que faz aqui?

MAÍRA: 
- Precisamos conversar...

CONSUELO: 
- Já disse que não tenho nada a falar com você.
MAÍRA: 
- Prefere que eu converse com Luís Roberto?

CONSUELO: 
- Entre. Mas por favor seja breve.

MAÍRA: 
- Vinte anos não foram breves.

CONSUELO: 
- O que você quer?

MAÍRA: 
- Consuelo, sei que está sofrendo, por que sei que ame meu filho como se fosse seu...

CONSUELO: 
- É meu filho.

MAÍRA: 
- De certa forma sim. Você o criou. Apesar de tudo que sofri com a ausência do meu filho, lhe sou grata pelo homem de caráter que você tornou meu filho.

CONSUELO: 
- Deixo-nos em paz.

MAÍRA: 
- Paz? Paz é uma coisa que não tenho há vinte anos.

CONSUELO: 
- Você me deu seu filho.

MAÍRA: 
- Não... Eu o entreguei para cuidar dele até que eu voltasse para pegá-lo.

CONSUELO: 
- Não... Apenas me entregou. E eu o amei desde o primeiro momento.

MAÍRA: 
- Você não imagina o quanto sofri.

CONSUELO: 
- O que que de mim.

MAÍRA: 
- Não podemos voltar o tempo... Não terei mais como viver os momentos que uma mãe pode vivenciar ao ver cada fase de seu filho, os primeiros passos, as primeiras palavras, cuidar quando doente, levar ao parquinho, o primeiro dia de aula, a primeira namorada, essas coisas simples e importantes... Que toda mãe vive ao lado de seu filho.

CONSUELO: 
- Você abriu mão disso quando o entregou em meus braços.

MAÍRA: 
- Isso não é verdade... Você desapareceu com meu filho.

LUIS ROBERTO: 
- Dona Maíra? Mãe, o que está acontecendo aqui?

CONSUELO: 
- Nada meu filho. Está mulher é uma louca.

MAÍRA: 
- Conta ou eu conto.

LUIS ROBERTO: 
- Contar o que?

CONSUELO: 
- Não dê ouvidos a está destrambelhada.



MAÍRA: 
- Lembra aquela história que lhe contei?

LUIS ROBERTO: 
- Sobre seu filho...

CONSUELO: 
- Não... Não a ouça filho. Esta mulher é uma mentirosa.

MAÍRA: 
- A verdade? Conte-o.

LUIS ROBERTO: 
- Mãe, você sabe onde está o filho dela?

CONSUELO: 
- Sei.

LUIS ROBERTO: 
- Mãe...

CONSUELO: 
- Meu filho... Esta mulher abandonou seu filho com poucos dias de nascido...

MAÍRA: 
- Mentira. Eu entreguei meu filho a está mulher, e ela desapareceu com ele.
LUIS ROBERTO: 
- Mãe, por que fez isso?

CONSUELO: 
- Por que ela me deu o seu filho e eu o criei com todo amor, carinho e dedicação...

LUIS ROBERTO: 
- Meu Deus! Que diabo está acontecendo aqui? Não... Vocês não estão fazendo isto comigo...

MAÍRA: 
- Calma meu filho!

LUIS ROBERTO: 
- Meu filho? Afinal, quem é minha mãe?

CONSUELO: 
- Eu sou tua mãe, filho.

MAÍRA: 
- Ela te criou. Mas sua mãe sou eu. Acho que precisa saber toda verdade. E de certa forma, já sabe. Não quero força-lo a nada, nem mesmo que me ame, apenas quero que saiba que vinte anos não foram capazes de apagar o amor que sinto por você meu filho.
CONSUELO: 
- Luís Roberto...

MAÍRA: 
- Bom... Acho melhor ir. Creio que vocês tem muito que conversar. Luís Roberto, espero que não me odeie. Mas a verdade tem que ser dita, sempre. Você sabe onde me encontrar. Até breve, meu filho... Tua mãe te ama, muito. (Sai)

CONSUELO: 
- Meu filho...

LUIS ROBERTO: 
- Como pode fazer isto?

CONSUELO: 
- Não... Será que não entende meu filho, eu o salvei... Se eu não tivesse feito o que fiz, talvez nem estaria vivo.

LUIS ROBERTO: 
- Você me separou da minha mãe...

CONSUELO: 
- Eu sou tua mãe.
LUIS ROBERTO: 
- Não, não é... A minha vida inteira não passou de uma grande mentira.

CONSUELO: 
- Por favor, não fale assim...

LUIS ROBERTO: 
- O que quer que eu diga? Que acho admirável sua atitude...(Bofetada)

CONSUELO: 
- Vai atrás de sua mãe. Ela não é a mocinha e eu a vilã? Então? Vai... Vai atrás dela.

LUIS ROBERTO: 
- É exatamente isso que vou fazer. (Sai)

CONSUELO: 
- Não! Não... Não... Não... 
(Prantos) Meu filho! (Apagam-se as luzes).


F I M

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