PERSONAGENS:
PAI
FILHO
LOBINHO (Amigo)
POLICIAL 1
POLICIAL 2
PEÇA EM 1 ATO
CENA
I
PAI: - Acorda! Escola...
FILHO: - Ah,
pai!
PAI: - Vai
se atrasar.
FILHO: - Só
mais um pouco, vai...
PAI: -
Filho...
FILHO: - Tá
bom pai.
PAI: -
Joga uma água nesse rosto que esta horrível.
FILHO: -
Também... Que queria? Acabo de acordar.
PAI: - Fiz
um café reforçado.
FILHO: -
Belê.
PAI: - Que isso... Belê? Dá pra usar o português correto? Sabe que detesto
gírias. Basta pedir: Obrigado, por exemplo.
FILHO: -
Brigado.
PAI: -
Obrigado.
FILHO: -
obrigado!
PAI: -
Está vendo? Assim é bem melhor, e não dói nada. Agora é melhor se apressar.
FILHO: - Tô
indo.
PAI: -
Estou indo. Hei? Não toma mais a benção?
FILHO: -
Benção.
PAI: - Que
Deus abençoe.
FILHO: -
Fui. (Sai)
PAI: - E
te proteja.
CENA
II
OBINHO: - Tô ligado que cê é novo na escola.
FILHO: - É.
LOBINHO: - Tô
ligado truta. Cê vem de buzão?
FILHO: -
Não. Na caminhada.
LOBINHO: -
Maneiro. Ah, já ia me esqueceno... Sou Lobinho.
FILHO: - Legal.
Eu sou Robson.
LOBINHO: - Que
vai fazê depois da aula?
FILHO: - Vou
pra casa.
LOBINHO: - Nem
pensá.
FILHO: - Se
eu não chegar, meu pai me mata.
LOBINHO: - Oh,
camarada! Tá comigo, tá com Deus! Esquenta a cuca não. O mano aqui tem um
esquema da hora...
FILHO: -
Esquema?
LOBINHO: - Num
vai me dizê que é de dá pra trás...
FILHO: - Que
isso!
LOBINHO: - Tu
tá veno aquela loja ali?
FILHO: - Tô
LOBINHO: - E
lá que será teu batismo. Só quero vê se tu passa no teste.
FILHO: -
Teste?
LOBINHO: - É.
Teste. Pra fazê parte da turma tem que passá no teste.
FILHO: - E
como é esse teste?
LOBINHO: -
Hei, calma! No tempo certo vai sabê.
CENA III
FILHO: - Pai... Cheguei.
PAI: - Que bom filho. Como foi a aula?
FILHO: - Normal.
PAI: - Hei, que boné é esse?
FILHO: - Essa bombeta? Achei...
PAI: - Procurou o dono?
FILHO: - Tá brincano, né pai?
PAI: - Não.
FILHO: - Se eu perguntasse de que é, sabe quantos donos apareceria?
PAI: - Se metem o problema é deles. Você tem que fazer a sua parte. Esse boné é novo. Olha só... Está até com a etiqueta.
FILHO: - Pega leve pai. Alguém perdeu, e eu achei, pronto... O senhor tem que complicar sempre.
PAI: - Escuta aqui... Amanha você vai devolver esse boné, não é seu, e não o quero aqui. (Campainha)
LOBINHO: - E ai coroa?!
FILHO: - Ah, pai... Esse é o Lobinho.
PAI: - Lobinho?
LOBINHO: - A seu dispô!
FILHO: - Meu colega de escola.
LOBINHO: - Caraça! Cheguei na hora boa... Rango! Dá pra descolar um suco pra nós?
FILHO: - Pai...
PAI: - Vou pegar. (Sai)
LOBINHO: - Ai carinha, tenho um esquema pra manhã.
FILHO: - Depois agente fala sobre isso... Aqui é sujeira.
LOBINHO: - É teu velho?
FILHO: - É. Tá desconfiado.
LOBINHO: - A parada é quente...
FILHO: - Sujou...
LOBINHO: - Foi mal.
PAI: - Suco...
LOBINHO: - Valeu coroa. Hum! Muito bom. Agora tenho que ir... Te vejo amanha, lá na escola. Falô coroa. (Sai)
PAI: - Não te quero na companhia desse garoto.
FILHO: - Por que não?
PAI: - Não me parece boa influencia pra você.
FILHO: - O senhor tem que parar com essa mania de achar que sou melhor que os outros. (Sai)
PAI: - Tem algo de errado com esse moleque. (Sai)
CENA
IV
LOBINHO: - E ai mano, belê?
FILHO: - Belê.
LOBINHO: - Está pronto?
FILHO: - Se meu velho descobrir que cabulei aula...
LOBINHO: - Esquece teu veio. Hoje tu vai sabê o que é adrenalina.
FILHO: - Qual é a parada?
LOBINHO: - Tá veno aquela loja?
FILHO: - Tô. E daí?
LOBINHO: - Artigos de primeira.
FILHO: - E a segurança?
LOBINHO: - Vai medrar meu irmão?
FILHO: - Claro que não.
LOBINHO: - Trouxe a bombeta?
FILHO: - Trouxe.
LOBINHO: - Põe. E evita olhar pras câmeras.
FILHO: - Então vamos...
LOBINHO: - Hei... Calma ai. Relaxa! Trouxe uma coisinha pra nós.
FILHO: - Como conseguiu?
LOBINHO: - Eu sou o cara. Esse é teu. (Passa um baseado)
(Acendem e saem fumando)
CENA
V
PAI: - De onde veio esse casaco?
FILHO: - Ah, é do meu amigo. É do Lobinho. Ele me emprestou.
PAI: - Já conversamos sobre isso.
FILHO: - Tá pai. Vou pro quarto. Tenho que estudar.
PAI: - Hei, espera ai. Escuta aqui rapazinho... Estou falando com você.
FILHO: - Dá pra me deixar em paz só por um minuto? Que saco! (Sai)
PAI: - Tem algo de errado com esse garoto. (Sai. Entra o filho falando no celular)
FILHO: - Belê... Vou dá um perdido velho e daqui a mais ou menos uns vinte minutos tô ai. Mas me diz uma coisa... A parada é quente? Então tá. Falo. (Escreve um bilhete e sai) Pai, fui pra casa de uns amigos fazer um trabalho de escola e já volto.
PAI: - Pra onde foi esse moleque? (Encontra o bilhete) Pai fui pra casa de uns amigos fazer um trabalho de escola e já volto. (Pega o celular e liga) Fora de área. Esse menino está aprontando alguma. Não sei por que, mas sinto isso. Queira Deus que eu esteja enganado. (Telefone) Alô... O que? Não... Não pode ser. Polícia? Há algum engano. Sim. É meu filho. Está bem, já estou indo para aí. (Sai).
CENA VI
POLICIAL: - Senhor posso ajudar?
PAI: - Estou procurando meu filho... Recebi uma ligação...
POLICIAL: - Há, o senhor deve ser pai de uns dos moleques que furtavam uma loja de departamentos aqui no centro...
PAI: - Furto?
POLICIAL: - É... Furto. E como não é difícil de imaginar... Um dia a casa cai e a dele caiu. Oh, Juarez... Trás o elemento. (O policial trás Robson)
FILHO: - Não fiz nada pai. Foi tudo um engano. Eu juro que ia pagar.
PAI: - Estou decepcionado com você Robson.
POLICIAL: - O senhor conhece isto?
FILHO: - É meu pai.
PAI: - Não.
POLICIAL: - E isto?
PAI: - Também não.
POLICIAL: - E isto?
PAI: - Não identifico nada dessas coisas. Não são do meu filho.
POLICIAL: - É que imaginei. Dá pra vê que o senhor é uma pessoa honesta e não compartilhar com as coisas erradas que seu filho anda fazendo. Mas sinto muito em dizê-lo, seu filho foi pego em flagrante ao lado de um já velho conhecido nosso e será encaminhado a Fundação Casa.
FILHO: - Pai... Por favor, me tira daqui, pai...
PAI: - Por favor...
POLICIAL: - Infelizmente, há uma queixa formal... Seu filho foi pego em flagrante e há imagens das câmeras de segurança que comprovam o delito.
FILHO: - Pai...
PAI: - Há Robson...
POLICIAL: - Leve-no.
FILHO: - Pai...
PAI: - Por que?
FILHO: - Pai... Pai... Desculpa, pai!?
PAI: - Desculpa? Desculpa... Só isso tem a me dizer?
Você é filho de homem, um homem... Filho de um trabalhador. Olha pra você...
Meu Deus! Tanto que te avisei, se afasta das más amizades... E olha agora pra
você. Olha!? Cadê seus amigos, cadê? Onde estão agora? Quem está aqui, sou eu
meu filho, teu pai. Teu pai! Um homem de bem, honesto trabalhador. Passando por
essa humilhação sendo obrigado a vê seu filho, filho que foi criado com tanto
amor, cuidados, ser levado pra uma jaula, sendo preso feito animal. E eu aqui,
sem nada poder fazer, sabe por quê? Porquê você meu filho, está errado. E
infelizmente tem que pagar por seu erro. (Chora
feito criança)
FILHO: - Desculpa pai.
POLICIAL: - Recolhe o elemento. Sinto muito senhor. O que
tem a fazer é procurar um bom advogado, o quanto antes melhor. De preferência
antes que o transferimos para Fundação Casa. (O pai sai desnorteado)