Personagens:
DONANA: (Mãe de Rosinha)
CORONEL FELICIANO: (Pai de Rosinha)
ROSINHA
CHICA: (Amiga de Rosinha)
DONA MAZÉ: (Mãe de Chica)
PADRE INÁCIO:
CREMILDES: (Empregada de Donana)
TONHO:
JUCA: (Amigo de Tonho)
MAXIMILIANO: (Recém Chegado na Cidade)
CENA I
DONANA: (Mãe de Rosinha)
CORONEL FELICIANO: (Pai de Rosinha)
ROSINHA
CHICA: (Amiga de Rosinha)
DONA MAZÉ: (Mãe de Chica)
PADRE INÁCIO:
CREMILDES: (Empregada de Donana)
TONHO:
JUCA: (Amigo de Tonho)
MAXIMILIANO: (Recém Chegado na Cidade)
CENA I
PADRE INÁCIO:
- Ô dê casa...
CREMILDES:
- Sua benção padinho!
PADRE INÁCIO:
- Deus a abençoe minha filha!
CREMILDES:
- Amém!
PADRE INÁCIO:
- Donana está?
CREMILDES:
- Sim senhor. Tá
lá dentro deitada. Diz ela que ta com dô de cabeça. Mai sabe como é Donana...
Cada dia inventa uma duença! É dô aqui, dô acula. Mai qué sabê? Aquilo tem
priguiça que geme!
PADRE INÁCIO: - Cremildes... Fofoca é coisa do demo. Isto não é bem visto pelos olhos de Deus!
PADRE INÁCIO: - Cremildes... Fofoca é coisa do demo. Isto não é bem visto pelos olhos de Deus!
CREMILDES:
- Se Deus
prestar bem atenção padre, vai vê cada coisa que num é bom aozóios. Que só por
Jesui e Maria José!
PADRE INÁCIO:
- Vá chamar sua
patroa.
CREMILDES:
- Tô indo... E o
senhô fica a vontade vice! (Sai)
PADRE INÁCIO:
- Misericórdia!
Ô língua!
CENA II
DONANA:
- Padre Inácio! Quanta
honra nos dá sua visita.
PADRE INÁCIO:
- A honra é
sempre minha Donana.
DONANA:
- Senta seu
padre. Fique a vontade! A casa é pobre mais o coração é nobre.
DONANA:
- Cremildes,
Cremildes, Cremildes! (Grita)
CREMILDES:
- Vôlte! Tem
moca aqui não! Eu aqui do lado a mulé não me vê. É priguiça de olhar pro lado
é?
DONANA:
- Deixa de mal
criação estrupício!
CREMILDES:
- Mai oia!
Dispois respondo a artura, acha rim!
DONANA:
- Vá buscar um
café preto pro padre...
PADRE INÁCIO:
- Não precisa se
incomodar.
CREMILDES:
- Se é café só
pode ser preto! Oxém! (Donana olha
fulminante) Já seio, já seio... Cuzinha. Fui! (Sai)
DONANA:
- O que fazer
com uma creatura dessas?
PADRE INÁCIO:
- Conversei com
Rosinha
DONANA: - Seus conselhos são sempre bem vindos...
DONANA: - Seus conselhos são sempre bem vindos...
PADRE INÁCIO:
- É uma grande
honra para nossa paróquia ter uma jovem com inclinação para a vida no
convento... (Entra Cremildes e permanece
na sala)
DONANA:
- Eu e José
Feliciano também estamos muito satisfeitos com esse dom que Deus deu a nossa
SANTA filha.
CREMILDES:
- Mai no é o
cão?! Agora seja! (Donana olha severamente) Já seio... Cuzinha! Fui! (Sai)
PADRE INÁCIO:
- É preciso
agilizar a ida de Rosinha para o convento de São Bento o quanto antes.
DONANA:
- Claro. O
senhor sabe como é... Não podemos vacilar...
PADRE INÁCIO:
- Já está tudo
acertado. A madre superiora já aguarda a nova noviça.
DONANA:
- É que tem um
monte de bodes soltos por ai... Então é bom prender logo essa cabrita pelo
cabresto!
PADRE INÁCIO:
- Tem toda razão!
Prevenir nunca é demais!
DONANA:
- Sabe como é...
Aqui em Buraco Fundo, moça falada, família desgraçada!
PADRE INÁCIO:
- Bom
Donana...Só passei pra dar as boas novas.Agora tenho que ir.
DONANA:
- Mas já? A
conversa estava tão agradávi! É tão boa a sua companhia.
PADRE INÁCIO:
- Então até mais
vê!
DONANA:
- Inté Padre!
Que Deus o acompanhe.
PADRE INÁCIO:
- Amém! Que Deus
permaneça com a senhora. (Sai)
DONANA:
- Cremildes,
Cremildes, Cremildes! (Grita)
CREMILDES:
- Oxê! Precisa
gritar tanto? Qué que eu fique moca de veiz é? Voltê! Credo em cruz na missa!
DONANA:
- Leve as
xícaras pra cozinha. (Sai)
CREMILDES:
- Diacho! Inté
parece que num tem mão. Mai pêrai... Como Deus pode ir cum padre e ao mermo
tempo ficar com Donana? Vai entender! Agora fique... Quem agüenta esse intojo?!
(Sai)
CENA III
JUCA:
- Mai donde vai
assim tão avexado?
TONHO:
- Tô ino na
fazenda do coroné Feliciano...
JUCA:
- Fazê o que?
TONHO:
- Num disse?
JUCA:
- Não que me
alembre.
TONHO:
- É que o Coroné
Feliciano ta precisano de um home lá no roça dele.
JUCA:
- E quem é esse
home?
TONHO:
- Tá aqui na tua
frente.
JUCA:
- E é! Tu? (Risos) Contra outra homi.
TONHO:
- Se num fô eu
cegue! Dos dois oios.
JUCA:
- Priguiçoso
como tu é... Capai de cegá!
TONHO:
- Resoví mudá.
JUCA:
- Mai home deixa
de cunvesa... E que milagre foi esse?
TONHO:
- Quero comprar
uma muda de roupa nova pra eu i a festa de Nossa senhora dos Afritos.
JUCA:
- O coroné
Feliciano é o cão em pessoa. Num gosta de seuviço de pôico não visse!
TONHO:
- Bem que ocê
podia me ajudá.
JUCA:
- Deus seja
louvado! Sai de reto... Quero sombra e água fresca. Dispois seio dá meus pulo.
TONHO:
- Num vai me
dizê que vai se fingir de cego dinovo na porta da igraja... Toma tento home!
Vai acabar no xilindró. Isso se antes num levar uma pisa desgraçada.
JUCA:
- Quem tem
cabeça, neste mundo, não padece! (Sai)
TONHO:
- É... Apodrece.
(Sai)
CENA IV
CHICA:
- Que fudunço é
esse?
ROSINHA:
- Se contá cê
num vai acreditá.
CHICA:
- Então diga logo
de uma vez!
ROSINHA:
- Ah, num seio
se tenho curagem...
CHICA:
- Deixa de
conversa! Desde quando cê tem segredo comigo? (Entra Cremildes que escondida ouve a conversa)
ROSINHA:
- Num é segredo
não! É que eu fico assim, assim... Sem jeito!
CHICA:
- Então
desembucha logo criatura! Começou, termina. Agora tô curiosíssima! E quando
fico assim sabe como é... Me dá uma gastura!
ROSINHA:
- Primeiro vai
me prometê que num vai dá com a língua nos dentes...
CHICA:
- Minha boca é
um túmulo! Que eu morra intitelada contá pra arguém.
ROSINHA:
- Ai, ai, ai!
Chica... (Severa) Eu beijei... (Doce)
CHICA:
- Que fubá é
esse? Você mué? Beijando algo além da mão do padre. Isso que é milagre
milagroso!
ROSINHA:
- Levei um beijo
bem aqui.
CHICA:
- Na boca é?!
ROSINHA:
- Hum, hum!
CHICA:
- Hum! Que
massa! Mas pêra aí... Quem foi o galante, galantioso?
ROSINHA:
- Maxi.
CHICA:
- Não! O metido
a carioca? Aquele que só porque passou uns dia La nas bandas do Rio dê Janeiro
se acha carioca da gema. Não!
ROSINHA:
- Hum, hum!
CHICA:
- Que xique,
xique, xique! Que tudo! É mió que chita, é ceda!
ROSINHA:
- Ó, ninguém
pode sabê. Por tudo que é mais sagrado!
CHICA:
- Oxê! Tá me
estranhando é? Num prometi? Então?! Mai agora me conta... Nus mínimos detalhes...
Como foi? Ele beija bem?
ROSINHA:
- Tá bom, eu ti
conto. Mai vamo pro meu quarto... Aqui é muito arriscado. Deus me livre que
alguém escute!
CHICA:
- Vamo... Me
conta tudo!
CREMILDES:
- Eitá lelê! Mai
quem diria! A santinha? Mai num tô dizeno? Agora seja! Se isso é santa, eu só
virgi Maria!
CENA V
FELICIANO:
- Cremildes...
CREMILDES:
- Sinhô? Ai! Que
susto homi...
FELICIANO:
- Passi um
cafezinho bem frequinho...
CREMILDES:
- Sim senhô. Oi
Tonho?! (Se derrete toda) Licencinha. (Sai)
FELICIANO:
- Respeito é
tudo. E nesta casa respeito é palavra de ordem. Entendeu?
TONHO:
- Sim sinhô.
FELICIANO:
- Então quer
trabaiá aqui na fazenda...
TONHO:
- Sim sinhô.
FELICIANO:
- O cabra, já
pegou numa enxada antes?
TONHO:
- Pegá,
peguei...
FELICIANO:
- Não gosto de
serviço de porco não.
TONHO:
- Vou fazê tudo
direitinho.
FELICIANO:
- Assim espero.
Ganha conforme o trabalho. Pagamento aqui é por merecimento. Entendeu? Cinco
vintém por hora.
TONHO:
- Cinco vintém?
FELICIANO:
- Que foi, acha
pouco? (Coloca a mão na bainha da
peixeira)
TONHO:
- Não sinhô.
Afiná, cinco vintém é cinco vintém. Num é?
FELICIANO:
- E nada de
conversinha com a criada. Tenho uma filha donzela e não quero falta de vergonha
em minha casa.
TONHO:
- Sim sinhô.
FELICIANO:
- Cremildes! O
café?
CREMILDES:
- Afê Maria! Tô
ino... Que homi mai avexado! Inté parece que num sabe que tem esperá água
feuvê. Osxen!
FELICIANO:
- Tonho... Tá
contratado!
TONHO:
- E quando
começo?
FELICIANO:
- Hoje.
TONHO:
- Hoje?
FELICIANO:
- Hoje. Algum
probrema?
TONHO:
- Probrema não
sinhô!
FELICIANO:
- Então se
avexe... Pode começar. Lá está a enxada ti esperano.
TONHO:
- Sim sinhô.
Diacho! (A parte)
FELICIANO:
- Tonho... Fique
longe da minha filha Rosinha. Não vá bancar o abestalhado! Rosinha é para mim
meu maior tesoro. E sabe que acontece com o cabra que tentar se meter a besta
com minha filha? (Puxa o facão) Eu capo o safado!
TONHO:
- Mai homi... Se
precupe não! (Tonho sai)
CREMILDES:
- Seu café
patrãozinho! Quentinho como o sinhô gosta. (Feliciano sai sem responder) Oxê! Parece que bebe. Me avexa e
dispois nem toca no café. Ê gentinha estranha! Voltê! (Bebe o café. Sai).
CENA VI
CENA VI
MAXIMILIANO:
- (Faz som para
chamar Rosinha) Hu, hu, há, há!
ROSINHA:
- Senhô Maxi...
MAXIMILIANO:
- Minha bela
Rosinha...
ROSINHA:
- Num posso me
demorá... Tenho que vortá antes que meu painho e minha mainha dê por farta de
mim.
MAXIMILIANO:
- Depois daquele
beijo Rosinha num pensei em mais nada.
ROSINHA:
- Upâ! Num se achegue
muito não! Sou uma moça de família viu. E aquele beijo foi um acidente. Um
momento de fraqueza! Fraqueza essa que não se repetirá.
MAXIMILIANO:
- Pensei que
tinha gostado.
ROSINHA:
- Gostá, Gostei.
Mas num divia! Aposto que o senhô tem um monte de moça correndo atrái de ocê.
MAXIMILIANO:
- Mais só tenho
olhos para uma única... (Ela rir)
Você corou gata!
ROSINHA:
- Num tô
acostumada com tantos galanteios!
MAXIMILIANO:
- Uma moça tão
bonita... O que não deve faltar é pretendentes.
ROSINHA:
- O sinhô fala
tão bonito Seu Maxi!
MAXIMILIANO:
- Ah! Que isso?
Sinhô? Gata, me chamar de você.
ROSINHA:
- É questão de
respeito.
MAXIMILIANO:
- Não é falta de
respeito chamar quem agente gosta de você. Agora poderíamos repetir a dose. Que
acha?
JUCA: - (Escondido) Hum! Mai quem diria! Santa? Agora seja! Essa é sonsa.
JUCA: - (Escondido) Hum! Mai quem diria! Santa? Agora seja! Essa é sonsa.
ROSINHA:
- Não! Eu não.
Vôltê! Não devo, num posso!
MAXIMILIANO:
- Por que?
ROSINHA:
- E se alguém
vê?
MAXIMILIANO:
- Num vai ver...
Só estamos nós.
ROSINHA:
- Mermo assim!
Num tá certo. Deus ta veno! Dispois num seio qual a sua intenção com a minha
pessoa.
MAXIMILIANO:
- A melhor
possível. Rosinha... É só um beijo.
ROSINHA:
- Minha mãe
disse que só deve beijar dispois de casada.
MAXIMILIANO:
- Mais beijar
antes também é bom. E não é pecado.
ROSINHA:
- Não?
MAXIMILIANO:
- Não. (Prepara para beijar)
CHICA:
- Rosinha...
ROSINHA:
- Ah! Que susto!
CHICA:
- Acabou a
novena. Donana está voltando pra casa.
ROSINHA:
- Então tenho
que ir.
CHICA:
- Anda... Se
avexe.
ROSINHA:
- Tichau! Eu
vorto.
MAXIMILIANO:
- Quando?
ROSINHA:
- Breve.
CHICA:
- Vamo...
MAXIMILIANO:
- Vou esperar. (Saem)
JUCA:
- Isso vai mal!
Deixa o coroné Feliciano sabê que a sua filhinha está de xamego com o
forastero. É morte na certa. (Sai)
CENA VII
DONANA:
- Onde se enfiou
essa menina!
MAZÉ:
- Te acarma
mulé. Vai vê que foi na casa de uma amiga.
DONANA:
- Sem avisá?
Rosinha num é de fazê isso.
MAZÉ:
- Vai vê que que
Cremildes sabe de arguma coisa.
DONANA:
- Cremildes...
Cremildes...
CREMILDES:
- Sinhora? Que
avoroço é esse?
DONANA:
- Quantas vezes vou
tê que ti chamá estrupício? Sabe do paradero de Rosinha?
CREMILDES:
- Sei não
sinhora.
DONANA:
- É mermo uma
mocoronga! Não serve pra nada.
CREMILDES:
- (A parte) Quando escuto cunvesa recrama
que ouço... (Pra patroa) E alguém
aqui me diz arguma coisa? Oxê! Parece que bebe!
DONANA:
- Cremildes...
CREMILDES:
- Já seio.
Cusinha! Tô indo. Fui! (Sai)
MAZÉ:
- Fica assim não
Donana. Num aconteceu nada demai. Notícia rim é como o vento, ta em todo lugá.
DONANA:
- Num devia ter
deixado ela. Devia tê arrastado Rosinha comigo...
MAZÉ:
- Vai vê que
está se preocupando atoa.
DONANA:
- Deus te ouça
Mazé! E Feliciano que num chega...
MAZÉ:
- Num é o cavalo
do coroné que vem aculá?
DONANA:
- Louvado seja
ao Nosso Senhor Jesus Cristo!
FELICIANO:
- Que agoro é
esse? Morreu argum conhecido?
DONANA:
- Ainda não.
Mais eu tô teno um presintimento.
MAZÉ:
- Credo em cruz!
(Benze)
FELICIANO:
- Que aperreio é
esse?
DONANA:
- É Rosinha.
FELICIANO:
- Que aconteceu
com minha filha?
DONANA: - Só Deus sabe. Só Deus! Mazé... Vá na paróquia chamá o padre aqui...
DONANA: - Só Deus sabe. Só Deus! Mazé... Vá na paróquia chamá o padre aqui...
MAZÉ:
- Vô lá. (Sai)
FELICIANO:
- Que ta
acontecendo Donana?
DONANA:
- Espero que o
pió num tenha acontecido.
FELICIANO:
- Você não está
achano...
DONANA:
- Se aconteceu
que tô pensano. Ah, Feliciano! A honra terá que ser lavada.
FELICIANO:
- Num diga uma
desgraça dessa!
CENA VIII
PADRE INÁCIO:
- Bons dias!
DONANA:
- Padre Inácio!
Que bom que o senhor veio.
PADRE INÁCIO:
- Calma Donana!
DONANA:
- Como posso tê
carma? Minha fiinha sumiu... Disapariceu, escafedeu!
MAZÉ:
- Ainda acho que
nada demai aconteceu.
FELICIANO:
- Que Deus te
ouça Mazé! Com todo respeito padre. Se tiver acontecido alguma disgraça com minha
Rosinha, a coisa vai fedê!
PADRE INÁCIO:
- Calma! Vamos
esperar um pouco.
DONANA:
- Cada tempo que
ficamos aqui esperano o pior pode tá aconteceno.
CREMILDES:
- Café? (Entra)
TODOS:
- Não!
CREMILDES:
- Eu hein!
Vôltê! Que horró! Se num ofereço num presto, se ofereco num presto! O gente
abilolada!
DONANA:
- Cremildes...
CREMILDES:
- Já seio...
Cuzinha! Inferno. Perdão seu padre! (Sai)
FELICIANO:
- Mai donde
estará essa menina? (Entra Rosinha e
Chica)
CENA IX
ROSINHA:
- Mainha... Painho...
Sua benção padre.
PADRE INÁCIO:
- Deus a abençoe
filha!
DONANA:
- Mazé...
Obrigada por tudo...
MAZÉ:
- É... É mió
ir... Amanha agente se fala. Vamos Chica.
CHICA:
- Vamo mainha. (Saem)
PADRE INÁCIO:
- Já que a moça
apareceu... Acho que não precisam mais de mim.
DONANA:
- Padre
Inácio... Fique.
FELICIANO:
- Por favor
padre o sinhô fique.
PADRE INÁCIO:
- Sendo assim...
Agradeço a confiança!
DONANA:
- Agora estamos
só nós. Confessa sua descarada...
PADRE INÁCIO:
- Calma! Não
vamos nos exaltar!
ROSINHA:
- Mainha...
DONANA:
- Conta pro teu
pai que andou fazêno.
ROSINHA:
- Juro que num
fiz nada...
DONANA:
- Tá desgraçada!
Num ta? Perdida? Oiá como ta toda maramanhada!
ROSINHA:
- Não! Num fiz
nada.
DONANA:
- Bombardeada!
Agora que rapaz de bem vai querer casar com uma moça bulida, amassada feito
banana na feira! Quem?
PADRE INÁCIO:
- Calma Donana.
Vai vê que tudo não passa de um mal entendido. Deixa Rosinha se explicar.
FELICIANO:
- E não minta
mocinha.
ROSINHA:
- Mai painho...
DONANA:
- Que será de
nós agora? Nosso nome na boca desse povinho. Minha filha falada! Comentada nas
rodas dessas desocupadas!
PADRE INÁCIO:
- Filha, o que
aconteceu? Se tem algo a dizer este é o momento. (Entra Tonho)
ROSINHA:
- Foi ele...
FELICIANO:
- Ele quem?
ROSINHA:
- Ele... (Aponta)
TONHO:
- Foi. Comecei e
terminei o selviço. (Donana desmaia)
PADRE INÁCIO:
- Cremildes...
CREMILDES:
- Sinhô...
PADRE INÁCIO:
- Traga uma
garapa. (Cremildes sai)
FELICIANO:
- E pelo jeito
fez bem feito. Num foi?
TONHO:
- O mio que pudi
sinhô coroné.
ROSINHA:
- Ela morreu?
(Arregala os olhos)
PADRE INÁCIO:
- Não foi só um
passamento.
CREMILDES:
- Garapa!
FELICIANO:
- Ah, me
segura... Antes que eu mato esse cabra safado! Esse infeliz!
PADRE INÁCIO:
- Calma homem! O
mal já tá feito.
TONHO: - Afê Maria! Segura! Segura... Segura esse homem. (Donana Levanta)
TONHO: - Afê Maria! Segura! Segura... Segura esse homem. (Donana Levanta)
FELICIANO:
- Deixa eu
colocar as mãos nesse desinfeliz...
TONHO:
- Se acha que
num fiz dêreito posso fazê tudo de novo.
DONANA:
- Eu... eu...
vou...
CREMILDES:
- Se pensa que
vou segurá a sinhora tá enganada. Oxé! Já virou frescura!
DONANA:
- Desde de
quando o sinhô vem fazeno esta pouca vergonha?
TONHO:
- Desde de cedo.
Num é atoa que tô suado.
FELICIANO:
- Eu mato esse
desgraçado! Isso eu resolvo na pexeira...
PADRE INÁCIO:
- Calma homem! E
vai deixar sua filha desgraçada e sem marido?
FELICIANO:
- Podia é capar
esse cabra!
TONHO:
- Que isso! Seu
Feliciano? O coroné num faça uma disgraça desssa comigo não!
ROSINHA:
- Não painho...
Num faça isso cum o bixinho não.
FELICIANO:
- Então me dê um
bom motivo para não fazer. (Puxa a
peixeira)
ROSINHA:
- (Confusa) Eu amo ele!
TONHO:
- Etá lasqueira!
Mai que diacho ta acunteceno aqui? Já num tô entendeno mai nada! Tô fivano é
abilolado.
PADRE INÁCIO:
- O mal já está
feito. Agora só nos resta consertar.
DONANA:
- Num sei como.
PADRE INÁCIO:
- Casando.
CREMILDES:
- Ih! Coitado de
Tonho! Se lascô todinho.
FELICIANO:
- E ter uma
derrota dessa na família como genro?
DONANA:
- Melhor que uma
filha falada.
FELICIANO:
- Padre... Avexe
este casamento. Pra o quanto antes.
TONHO:
- Ô derrota!
Onde foi que me meti.
CREMILDES:
- Na hora
errada, no lugar errado... Visse!
PADRE INÁCIO:
- Então vamos
para a igreja marcar logo este casamento. (Saem)
CENA X
CHICA:
- Juca....
JUCA:
- Que é?
CHICA:
- Ocê precisa
ajudá teu amigo.
JUCA:
- Oxê! Tá doida
mué? Me deixa aqui quetinho no meu canto. Tô cum uma priguiça!
CHICA:
- Pensei que
fosse o mió amigo de Tonho.
JUCA:
- E sô. Mai num
é por ilsso que tenho que ajudá ele lá no pesado.
CHICA:
- Num é disso
que to falano. Num tá sabeno?
JUCA:
- De que?
CHICA:
- Tá com a
mulesta do cachorro não... A cidade toda de Buraco fundo num fala em outra
coisa. De Rosinha e...
JUCA:
- Oxê! Esse povo
fala dimai. E no mai, Num vi nada, num ouvi nada e num seio de nada. É bem mió
assim! Imagina se vou me meter com o Coroné Feliciano.
CHICA:
- Eu seio que
ocê tava lá. E viu tudo.
JUCA:
- Fuxico é coisa
de fresco. E eu sou cabra macho!
CHICA:
- É deixa o
coroné sabê que foi ocê que espalhou o fuxico sobre a filha dele e o
taozinho... O carioca.
JUCA:
- Êrra! Ai já
pegô pesado.
CHICA:
- Teu amigo
Tonho é que ta levando a fama. O coroné pensa que foi ele que buliu com a fiá
dele. Tá arrastano o coitado pra igreja pra casá a força.
JUCA:
- Mai menina,
moça, mué... Num diga uma derrota dessa!
CHICA:
- Já que você é
amigo dele disfais essa confusão contano o que viu.
JUCA:
- Que tem essa
moça na cabeça? Titica de galinha é? E ocê Chica? Porque diacho num conta? Sabe
o mermo que eu...
CHICA:
- Sou amiga de
Rosinha, e prometi num contá nada, pra ninguém.
JUCA:
- O Cabra? Ô
taozinho... O carioca?
CHICA:
- Deu o pé.
Fugiu. Se mandou. Escafedeu. Quando soube da confusão, se borrou todo. Arrumou
os pano de bunda e saiu por esse mundão de meu Deus!
JUCA:
- Frouxo!
CHICA:
- Você é o único
que pode sarvar Tonho.
JUCA:
- Num sei como.
CHICA:
- Vai lá e conta
toda verdade.
JUCA:
- Enfrentar o
coroné Feliciano?
CHICA:
- É.
JUCA:
- Mai eu me
borro todo!
CHICA:
- Se esse
casamento acontecê, Rosinha será infeliz. E sabe que vai acontecer com teu
amigo? (Faz sinal que ele será capado)
JUCA:
- Ui!
CHICA:
- Agora vamo...
Não temo tempo a perdê!
JUCA:
- Oh, derrota!
CENA XI
PADRE INÁCIO:
- Sejam bem
vindos meus filhos!
CREMILDES: (Choro)
DONANA:
- Deixa de teu
agoro, sua agorenta!
CREMILDES:
- É que eu to
muito emocionada num sabe!? Todo casamento é assim... Eu... (Choro)
MAZÉ:
- Cremildes!
Oxê!
FELICIANO:
- (Com Rosinha) Por que está chorano?
ROSINHA:
- É emoção
painho!
FELICIANO:
- Essa mascara
na cara?
ROSINHA:
- É maquilagem!
FELICIANO:
- Então trate de
tirá isso da cara que num to levando uma palhaça ao artá.
ROSINHA:
- Ô Mainha!?
DONANA:
- Só por hoje
Feliciano. É o casamento dela. Não vamos mais dá motivo pra essa gentinha falá.
FELICIANO:
- Agora espere
aqui que vou buscá o cabra safado. (Sai)
ROSINHA:
- Mainha...
DONANA:
- E ocê... Num
diga uma só palavra.
FELICIANO: - (Entra com Tonho sobre a pontaria de uma peixeira)
FELICIANO: - (Entra com Tonho sobre a pontaria de uma peixeira)
PADRE INÁCIO:
- Então vamos
dar início a cerimônia. Em nome do pai, do filho e do espírito santo...
TODOS:
- Amem!
PADRE INÁCIO:
- Hoje estamos
aqui reunidos para... (Donana desmaia)
ROSINHA:
- Mainha...
CREMILDES:
- Ih! Começou
com a frescura!
FELICIANO:
- Donana?
DONANA:
- Onde estou?
CREMILDES:
- No casamento
de sua fia.
MAZÉ:
- Na igreja
Donana!
DONANA:
- Eu... eu...
FELICIANO:
- Se desmaia de
novo vai ficar no chão.Num tô pronto pra segurá esse saco de batata não...
PADRE INÁCIO:
- Então vamos
continuar. É com o poder sagrado que me é concedido que hoje eu tenho aqui
estes dois jovens...
CREMILDES: - (Crise de choro)
DONANA:
- Cremildes!
FELICIANO:
- Controle-se! (Bofetada)
MAZÉ:
- Deixa disso! (Bofetada)
ROSINHA:
- Pare já com
isso! (Bofetada)
TONHO:
- Me perdoe! (Bofetada)
PADRE INÁCIO:
- Em nome de
Jesus chega! (Bofetada)
CREMILDES:
- (Controla-se) Ocês me discupe, é que tô
emocionada num sabe?!
PADRE INÁCIO: - Continuando... Hoje uniremos...
PADRE INÁCIO: - Continuando... Hoje uniremos...
FELICIANO:
- Pula toda essa
babozeira e vamos logo para o que interessa.
PADRE INÁCIO:
- Rosinha,
aceita Tonho Chilapo como seu legítimo esposo?
ROSINHA:
- (Baixo) Sim.
PADRE INÁCIO:
- Senhor Tonho
Chilapo aceita senhorita Rosinhs como sua legítima esposa? (Feliciano mostra o facão)
TONHO:
- Ô vida
ingrata! Sim.
PADRE INÁCIO:
- Se há alguém
que possa protestar contra esse casamento que fale agora ou cale-se para
sempre...
CENA XII
JUCA:
- Eu!
TODOS:
- OH!
FELICIANO:
- Como se
atreve?
MAZÉ:
- Chica!
CHICA:
- Fala logo.
CREMILDES:
- Ê casamento
animado!
DONANA:
- Que isso
agora?
JUCA:
- Tonho é
inocente de todas as acusações. É tão inocente que não consegue se defender.
CHICA:
- Verdade!
PADRE INÁCIO:
- Mais que isso
agora? Explique-se!
JUCA:
- Sinhô coroné.
Sua filha mentiu.
FELICIANO:
- Que conversa é
essa?
JUCA:
- Tonho num é o
homi que devia está neste artá.
FELICIANO:
- Perdeu o juízo
cabra?
CHICA:
- Rosinha conte
a seus pais a verdade.
ROSINHA:
- Painho...
Mainha... Eu menti. Tonho é inocente.
FELICIANO:
- Então quem foi
o cabra que te bombardiô?
ROSINHA:
- Não estou
disgraçada painho.
DONANA:
- Não?
ROSINHA:
- Foi só um
beijo.
FELICIANO:
- Um beijo?
ROSINHA:
- É. Um beijo. E
num foi Tonho que deu. Foi o Maximiliano. O carioca...
FELICIANO:
- Cabra safado
vai se vê comigo!
CHICA:
- Ih! Esse Já
deu o pé.
PADRE INÁCIO:
- Então já que
esta tudo resolvido. Tudo não passou de um mal entendido. Vamos anular toda
essa cerimônia. E vocês podem voltar pra suas casas.
CREMILDES:
- Não! O
casamento pode inté num acuntecê. Mai festa vai tê! Trabalhei feito uma
condenada... Não vou jogar toda aquela comilança fora não. E o buquê pode dá
pra eu, que eu sou a próxima a casá.
FELICIANO:
- Tonho...
TONHO:
- Sinhô?
FELICIANO:
- Como posso me
desculpar? Se quiser pode continuar trabalhando em minha fazenda.
TONHO:
- Vamo deixá o
dito pelo num dito! E a dispois de hoje, num quero sabê do cabo de uma enxada
nunca mai!
CREMILDES:
- Então vamo a
festa!
F I M
Nenhum comentário:
Postar um comentário