quarta-feira, 22 de junho de 2016

DIREITO DE VIVER - SEGUNDO ATO

SEGUNDO ATO

CENA I

(Augusto entra em cena feliz com um envelope na mão)

AUGUSTO: 
- Bia...

BIA: 
- Senhor?

AUGUSTO: 
- Maíra, onde está?

BIA: 
- Saiu senhor.

AUGUSTO: 
- Disse onde iria?

BIA: 
- Não senhor.

AUGUSTO: 
- Que pena!

BIA: 
- Mas acho que já deve está voltando. Faz algum tempo que saiu...

AUGUSTO: 
- Desejava tanto encontrá-la.

BIA: 
- O senhor quer que eu lhe prepare um drinque?

AUGUSTO: 
- Não. Obrigado Bia. Embora hoje eu deseje comemorar.

BIA: 
- Comemorar?

AUGUSTO: 
- É. Depois de vinte anos, tenho em minhas mãos algo que mudará completamente as nossas vidas.

BIA: 
- Se é uma boa notícia... Que seja bem vinda a esta casa então.

AUGUSTO: 
- Depois de vinte anos... Vou poder proporcionar a minha querida Maíra a tão esperada felicidade... (Sente uma pontada no coração)

AUGUSTO: 
- Ai meu Deus! (Cai)

BIA: 
- Que foi? Seu Augusto... O senhor está bem?

AUGUSTO: 
- Não...

BIA: 
- Ai meu Deus! O senhor está ficando pálido. Senhor... (Desespero) Senhor... Meu Deus! Ai... Não faz isso comigo, não.

MAÍRA: 
- Bia?

BIA: 
- Senhora...

MAÍRA: 
- Que está acontecendo aqui?

BIA: 
- É o senhor Augusto.

MAÍRA: 
- Que foi?

BIA: 
- Não sei. Deu um troço nele e desabou...

AUGUSTO: 
- Maíra...?

MAÍRA: 
- Sim, meu querido.

BIA: 
- Que faço senhora?



MAÍRA: 
- Não fique ai feito uma estátua! Chame uma ambulância.

BIA: 
- Sim senhora.

AUGUSTO: 
- Maíra...

MAÍRA: 
- Calma meu querido, tudo vai ficar bem...

AUGUSTO: 
- Maíra... O envelope...

MAÍRA: 
- Não se esforce tanto! Logo a ambulância estará aqui.

AUGUSTO: 
- Chegou a minha hora.

MAÍRA: 
- Não diga bobagem.

BIA: 
- Já estão vindo.

MAÍRA: 
- Graças a Deus!

AUGUSTO: 
- Quero que saiba...

MAÍRA: 
- Psiu! Não se esforce... Onde estão que não chegam?

BIA: 
- Calma senhora!

MAÍRA: 
- Como posso ter calma? Cada minuto que perdemos...

AUGUSTO: 
- Maíra?

MAÍRA: 
- Estou aqui.

AUGUSTO: 
- Sempre te amei...

MAÍRA: 
- Sei disso meu querido.

AUGUSTO: 
- Você me fez um homem muito feliz...

MAÍRA: 
- Não fale assim. Não fale como estivesse despedindo-se de mim.
AUGUSTO: 
- Foi Deus que a pôs em minha vida. Você me trouxe alegria devolvendo-me a razão de viver.

MAÍRA: 
- Não meu querido. Você é que foi, é e sempre será o anjo que veio pra me proteger. E por isso eu te ordeno que aguente firme.

AUGUSTO: 
- Eu... Consegui...

MAÍRA: 
- O que?

AUGUSTO: 
- Seu filho...

MAÍRA: 
- Meu filho? (Piora)

AUGUSTO: 
- Seu filho...

MAÍRA: 
- Psiu! Calma... Depois... Você... (Augusto falece no colo de Maíra)- Augusto? Augusto... (Desespero) Não! Não...

BIA: 
- Senhora... Está morto. Seu Augusto, está morto. Sinto muito. Não há o que fazer.

MAÍRA: 
- Não pode ser. Isso não pode está acontecendo. Meus Deus! Por que? Por que ele? Augusto sempre foi um homem tão bom.


BIA: 
- Venha senhora. Não há mais o que fazer. Logo os paramédicos chegarão. Enquanto isso, vou lhe preparar um calmante.

MAÍRA: 
- Não. Vou ficar aqui, ao lado dele. É o mínimo que posso fazer por ele neste momento. (Coloca -o em seu colo e caricia seus cabelos carinhosamente) Meu querido... Adeus! Você foi a melhor pessoa que conheci. 

(Barulho de ambulância. Apagam-se as luzes)

CENA II

(Entram Luís Alberto, Cristina e Consuelo)

LUIS ALBERTO: 
- Vamos mãe...

CRISTINA: 
- Desse jeito vamos chegar no final da festa!

CONSUELO: 
- Calma crianças. Não quero chegar feito uma marmota! Afinal, hoje é um dia muito especial pra você meu filho.

LUIS ALBERTO: 
- De qualquer jeito você é linda mãe.

CONSUELO: 
- Nossa! Olha que eu acredito.

CRISTINA: 
- Concordo com meu irmão. Você está maravilhosa!

CONSUELO: 
- Opinião de filhos não vale.

LUIS ALBERTO: 
- Posso saber por quê?

CONSUELO: 
- Jamais vocês me diriam se estivesse feia.

CRISTINA: 
- Querendo ganhar mais elogios!

LUIS ALBERTO: 
- Mãe... Estou tão feliz de poder compartilhar com vocês, minha família, este dia tão especial.

CONSUELO: 
- Você merece, meu filho.

LUIS ALBERTO: 
- Se não fosse a senhora... Jamais teria conseguido.

CONSUELO: 
- Filho... Este é o resultado dos seus esforços. Sua dedicação lhe trouxe aqui.

CRISTINA: 
- Vamos parar com essa rasgação de seda... Assim não vamos chegar a tempo de vê meu querido irmão receber o tão desejado canudo.

LUIS ALBERTO: 
- Meninas! Então vamos... Damas? (Oferece os braços e saem)


CENA III

(Maíra está sentada, abatida veste preto. Entra Lisete com uma bandeja)

BIA: 
- Senhora...

MAÍRA: 
- Desculpe-me Bia. Não percebi sua presença.

BIA: 
- Trouxe um lanchinho.

MAÍRA: 
- Obrigada! Mas vamos deixar para uma outra hora.

BIA: 
- Senhora, precisa se alimentar.

MAÍRA: 
- Não sinto vontade.

BIA: 
- Se continuar assim ficará doente.

MAÍRA: 
- Por que tem que ser assim?

BIA: 
- Não temos como impedir a vontade de Deus.


MAÍRA: 
- Toda minha vida é uma sequência de desgraças.

BIA: 
- Não diga isso senhora. Deus sabe o que faz. Não cai uma só folha que não seja pela vontade de Dele.

MAÍRA: 
- Não entendo. Por que Deus me tirou Augusto?

BIA: 
- Chegou a hora dele senhora. E quando chega a hora, temos que ir.

MAÍRA: 
- Por que ele e não eu?

BIA: 
- Não era seu momento. Seu marido está em um bom lugar.

MAÍRA: 
- São tantas perdas...

BIA: 
- Muitos ganhos também. A senhora mesmo me contou o quanto sofreu. Mas Deus colocou em seu caminho doutor Augusto e sua vida mudou.

MAÍRA: 
- Que adianta todo esse dinheiro se o vazio que me invade a alma é imensa?

BIA: 
- Não diga isso!

MAÍRA: 
- Perdi meu filho. Nunca mais o vi. Nem sei como ele é... Meu maior desejo é encontrar meu filho e abraçá-lo.

BIA: 
- Ninguém melhor que eu sabe disso.

MAÍRA: 
- Meu pai nunca me perdoo, morreu de desgosto. Minha mãe me tem como morta e agora Deus me tira o homem que amo, a única pessoa que foi generosa comigo.

BIA: 
- Ele se foi. Mas a vida continua. E seu sonho de encontrar esse seu filho? Vai desistir?

MAÍRA: 
- Tem razão... Preciso reagir. Encontrar meu filho é minha motivação para viver.

BIA: 
- Beba ao menos o suco.

MAÍRA: 
- Obrigada! (Bebe. Se Levanta)

BIA: 
- Vai sair?

MAÍRA: 
- Preciso respirar um pouco.

BIA: 
- Senhora... Seu Augusto, antes de morrer... Disse que tinha algo a lhe dizer, e que isto irá lhe trazer muita alegria.

MAÍRA: 
- E o que era?

BIA: 
- Isso eu não sei não senhora... Mas pelo que percebi, tem a haver com este envelope.


MAÍRA: 
- Um envelope? Que será?

BIA: 
- Abra senhora...

MAÍRA: 
(Abre) Ah, meus Deus! (Emoção) Bia... É o endereço. Augusto encontrou meu filho.

BIA: 
- Que bom senhora! (Se abraçam)

MAÍRA: 
- Meu Deus! Que felicidade.

BIA: 
- E agora, que vai fazer?

MAÍRA: 
- Estranho... Esperei tanto por este momento, e agora não sei o que fazer.

BIA: 
- É... Mesmo porque a senhora precisa chegar com cuidado...

MAÍRA: 
- Tem razão. Por mais que eu seja a mãe dele, meu filho não me conhece. Preciso pensar... Bia, peça pra tirar meu carro da garagem.

BIA: 
- Mas pra onde vai assim?

MAÍRA: 
- Vou procurar a Diva. Quem sabe ela não pode me ajudar.

BIA: 
- Claro senhora. Com licença.

MAÍRA: 
- Ah, meu filho! Meu bebe... Hoje deve está um homem. (Sai)

CENA III

CONSUELO: 
- Não vejo a hora de chegar em casa, meus pés estão me matando.

CRISTINA: 
- Espera. Gente! Esqueci minha bolsa...

CONSUELO: 
- Ah, meu Deus! Então vamos voltar!


CRISTINA: 
- Mas a senhora disse que seus pés...

CONSUELO: 
- Nada que não consiga suportar.

LUIS ROBERTO: 
- Se não se importam vou esperar aqui. Confesso que meus pés também estão me matando.

CRISTINA: 
- Não nos importamos. Vamos mãe... (Saem)

(Entra Maíra e senta-se ao lado de Luis Alberto)

LUIS ROBERTO: 
- Aceita? (Dar um lenço)

MAÍRA: 
- Obrigada!

LUIS ROBERTO 
- A senhora está bem?

MAÍRA: 
- Não se preocupe. Vai passar.

LUIS ROBERTO 
- Posso lhe ajudar?

MAÍRA: 
- Infelizmente não.

LUIS ROBERTO 
- Sinto muito.

MAÍRA: 
- Não quero lhe incomodar.

LUIS ROBERTO 
- Sou bom ouvinte.

MAÍRA: 
- Não é uma boa história.

LUIS ROBERTO 
- Só pelo fato de ser uma história já merece minha atenção.

MAÍRA: 
- Quem sabe em, um outro momento.

LUIS ROBERTO 
- Isto quer dizer que lhe verei outra vez. Com todo respeito.

MAÍRA: 
- Quem sabe. Tudo é possível.



LUIS ROBERTO 
- Engraçado... Tenho a impressão que já nos conhecemos.

MAÍRA: 
- Também tive esta impressão. Mas creio que seja apenas uma coincidência.

LUIS ROBERTO 
- Perdão. Mas não acredito em coincidências.

(Entra Consuelo e Cristina)

CONSUELO: 
- Luís Alberto, vamos...

LUIS ROBERTO 
- Ah, essa é...?

MAÍRA: 
- Maíra.

CONSUELO: 
- Maíra?

MAÍRA: 
- Consuelo!

LUIS ROBERTO 
- Vocês se conhecem?

MAÍRA: 
- Meu Deus! Esperei tanto por esse momento.

CONSUELO: 
- Está me confundindo senhora.

MAÍRA: 
- Não. Tenho certeza que é você quem tanto procurava.

CONSUELO: 
- Sinto muito. Mas não sou quem pensa.

MAÍRA: 
- Meu filho?

CONSUELO: 
- Não diga uma só palavra. Estás louca.

LUIS ROBERTO 
- Mãe!

CONSUELO: 
- Fique longe dos meus filhos.

MAÍRA: 
- E meu filho? Onde está? Por favor... Onde está meu filho?


CONSUELO: 
- Não sei do que está falando.

MAÍRA: 
- Por favor... Me diga! Onde está meu filho?

CRISTINA: 
- Mãe o que está acontecendo? Conhece essa mulher?

CONSUELO: 
- Não. Nunca lhe vi antes. É uma louca. Louca! Vamos. (Sai com Cristina)

LUIS ROBERTO 
- Senhora, Este é meu cartão.

CONSUELO: 
- Vamos Luís Alberto. (Saem)

MAÍRA: 
- Meu filho! Meu Deus! É meu filho. Posso sentir. Obrigado Deus! Obrigado.

CENA VII

(Entra Luis Alberto Consuelo e Cristina)

LUIS ROBERTO 
- Vou tomar um banho. (Sai)
CRISTINA: 
- Mãe...

CONSUELO: 
- Se for falar daquela louca é melhor desistir.

CRISTINA: 
- Por que está com tanto medo?

CONSUELO: 
- Medo? Eu? Do que teria medo?

CRISTINA: 
- Aquela mulher não me parecia louca.

CONSUELO: 
- Vamos esquecer essa história.

CRISTINA: 
- Por que? Nunca teve segredos conosco.

CONSUELO: 
- Não há segredos. Não sei quem é aquela mulher. (Chora)

CRISTINA: 
- Mãe!

CONSUELO: 
- Não posso com isso!
CRISTINA: 
- Divida comigo. Será mais fácil.

CONSUELO: 
- Aquela mulher tem o poder de destruir nossa família.

CRISTINA: 
- Como mãe?

CONSUELO: 
- Se o que guardei durante vinte anos for revelado... Eu não suportarei.

CRISTINA: 
- Ela falou de um filho. Que filho é esse?

CONSUELO: 
- Há vinte anos atrás me entregou o seu filho.

CRISTINA: 
- Luís Alberto não é seu filho?

CONSUELO: 
- É. Sempre foi e sempre será.

CRISTINA: 
- Ela dele que ela estava falando, não é?

CONSUELO: 
- Por favor, não vamos falar disso agora. Teu irmão não pode saber dessa história. Me prometa que não vai comentar esse assunto com ele.

CRISTINA: 
- Mãe, ele tem o direito de saber.

CONSUELO: 
- Saber o que? Que foi abandonado por aquela mulher? Entregue a uma estranha? E se eu não fosse quem sou? Se eu fosse uma bandida, mau caráter?

CRISTINA: 
- Mesmo assim. É direito dele saber!

CONSUELO: 
- Você vai me prometer que não vai comentar este assunto perto dele.

CRISTINA: 
- Tá bom. Prometo! Mas depois vamos continuar esta conversa. (Saem)

CENA VII
(Entra Maíra)

MAÍRA: 
- Bia... Bia?

BIA: 
- Que foi senhora?

MAÍRA: 
- Meu filho.

BIA: 
- Que tem seu filho.

MAÍRA: 
- Encontrei meu filho.

BIA: 
- Graças a Deus! Como foi isso senhora?

MAÍRA: 
- Um milagre! Por um milagre. Estive lado a lado com ele.

BIA: 
- Como sabe que é seu filho?

MAÍRA: 
- Desde o começo senti. Mas, só tive a certeza quando reencontrei aquela mulher.
BIA: 
- A Consuelo?

MAÍRA: 
- É. Consuelo. A mulher que esteve com meu filho todos estes anos. E ele é lindo.

BIA: 
- E onde está ele senhora?

MAÍRA: 
- Aqui está o endereço. (Mostra o cartão)

BIA: 
- Então ele já sabe.

MAÍRA: 
- Ainda não. Mas agora tenho o endereço e não mais o perderei.

BIA: 
- Que bom senhora. Mas a outra concorda em contar a verdade?

MAÍRA: 
- Acredito que não. Mas vou procurá-la. Sou mãe. Tenho o direito.



BIA: 
- Tem que ir com cuidado. Talvez seu filho não conheça a verdadeira história da vida dele.

MAÍRA: 
- Tem razão. Devo me aproximar aos poucos. Por favor Bia, prepare um banho bem relaxante.

BIA: 
- Sim senhora. (Sai)

MAÍRA: 
- Meu filho! Meu filho... (Beija o cartão)

CENA VIII

LUIS ROBERTO: 
– Cristina, o que há com nossa mãe?

CRISTINA: 
- Como assim? Não entendi.

LUIS ROBERTO: 
– Não percebeu que está agindo de modo estranho?

CRISTINA: 
- Não mano. Acho que é impressão sua.

LUIS ROBERTO: 
– Será que você não está me escondendo nada?

CRISTINA: 
- Eu? O que estaria escondendo de você?

LUIS ROBERTO: 
– Sei lá.

CRISTINA: 
- Acho que você é que está estranho. Nossa mãe está como sempre. Só pensa em trabalho.

LUIS ROBERTO: 
– Já disse que quando eu começar advogar nossa mãe irá se aposentar.

CRISTINA: 
- Ih! Então a coitadinha vai precisar trabalhar mais uns dez anos.

LUIS ROBERTO: 
– Tenho uma entrevista.

CRISTINA: 
- Não diga.

LUIS ROBERTO: 
– E se quer saber, está vaga é minha!

CRISTINA: 
- é assim que se fala.

LUIS ROBERTO: 
– Bom maninha... Fui!

CRISTINA: 
- Boa sorte!

LUIS ROBERTO: 
– Obrigado. (Sai)

CRISTINA: 
- Acordou?

CONSUELO: 
- Estou com minha cabeça estourando. Não preguei os olhos!

CRISTINA: 
- Beto está desconfiado.

CONSUELO: 
- Escuta aqui, teu irmão, não deve e não pode saber dessa história.

CRISTINA: 
- Mãe... É melhor a senhora conta-lhe a verdade.

CONSUELO: 
- Pra que? Pra destruir a vida dele?

CRISTINA: 
- Já parou pra pensar que ele gostaria de conhecer a história da vida dele. É um direito dele.

CONSUELO: 
- Pare com isso! O que quer? Me torturar, é isso?

CRISTINA: 
- Oh, mãe... Calma. Perdão.

CONSUELO: 
- Me prometa que não vai mais tocar neste assunto.

CRISTINA: 
- Tá bom mãe. Eu prometo.

CONSUELO: 
- Melhor assim.

CRISTINA: 
- Agora, tenho que ir. Beijos!

CONSUELO: 
- Vai com Deus, filha.

CENA X

MAÍRA: 
- O que faz aqui?

CONSTANZA: 
- Quanto tempo não?

MAÍRA: 
- A senhora não é bem vinda a esta casa...

LISETE: 
- Perdão senhora, se soubesse...

MAÍRA: 
- Tudo bem Lisete. Deixe-nos a sós.

CONSTANZA: 
- Obrigada.



MAÍRA: 
- Sabe que não é bem vinda a esta casa...

CONSTANZA: 
- É... Tenho que reconhecer. Se deu bem.

MAÍRA: 
- Diga logo o que deseja.

CONSTANZA: 
- Maíra... Vim conhecer meu neto.

MAÍRA: 
- Conhecer seu neto? Que nato? O neto que você insistiu que eu abortasse?

CONSTANZA: 
- Sinto muito.

MAÍRA: 
- Não. A senhora não sabe um terço do mal que me causou.

CONSTANZA: 
- É passado. Pelo que vejo estás bem.

MAÍRA: 
- Bem estaria se não tivesse me separado do meu filho há vinte anos atrás.

CONSTANZA: 
- Meu neto não mora com você?

MAÍRA: 
- A senhora não tem neto. Meu filho não é seu neto.

CONSTANZA: 
- Você não sabe o quanto me arrependo.

MAÍRA: 
- Arrependimentos não cicatrizam as dores do passado.

CONSTANZA: 
- Vou morrer...

MAÍRA: 
- Todos morremos um dia.

CONSTANZA: 
- O câncer está me matando.

MAÍRA: 
- Gostaria de dizer-lhe que sinto muito. Mas não posso. Não sou fingida!

CONSTANZA: 
- Não lhe culpo. Há muita mágoa em teu coração.

MAÍRA: 
- Não me venha com essa... Não adianta dar uma de pobre arrependida. Não acredito na senhora. Então diga logo por que veio.

CONSTANZA: 
- Tudo bem. É a verdade que deseja, não é? Então... Perdi meu filho. Luís Alberto...

MAÍRA: 
- Luís Alberto morreu?

CONSTANZA: 
- Há quinze anos. Desde então minha vida terminou. Nunca superei a perda...

MAÍRA: 
- E o que quer de mim?

CONSTANZA: 
- Não me deixou nenhum neto com a mulher com quem se casou.

MAÍRA: 
- Então, provavelmente a senhora lembrou-se do filho bastardo da empregadinha que a senhora enxotou da sua casa.

CONSTANZA: 
- Meu único herdeiro.

MAÍRA: 
- Meu filho não precisa do seu dinheiro sujo.

CONSTANZA: 
- Não seja egoísta. É direito dele.

MAÍRA: 
- Não precisamos do seu dinheiro. Perdeu seu tempo. Meu filho e eu nos separamos a vinte anos atrás e desde então, nunca mais soube notícias.

CONSTANZA: 
- Então... Você não sabe onde está meu neto?

MAÍRA: 
- Que ironia, não é? A senhora desejou tanto que ele sumisse...

CONSTANZA: 
- Lamentável!

MAÍRA: 
- Mesmo com tanto dor por não tê-lo aqui ao meu lado. Sabe que em vinte anos, nunca senti tanta felicidade de dizer a alguém que perdi meu filho.

CONSTANZA: 
- Também o que esperar de uma irresponsável...

MAÍRA: 
- Não admito que me ofenda dentro de minha casa. Dona Constaza, é com muita honra que hoje a coloco para fora da minha casa. Fora! Rua... Rua.

CONSTANZA: 
- Você pode ter toda fortuna do mundo. Mas nunca deixará de ser o que sempre foi, uma empregadinha! (Sai)

MAÍRA: 

- Diabo de saia!

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