SEGUNDO ATO
CENA I
(Augusto entra em cena feliz com um
envelope na mão)
AUGUSTO:
- Bia...
BIA:
- Senhor?
AUGUSTO:
- Maíra, onde está?
BIA:
- Saiu senhor.
AUGUSTO:
- Disse onde iria?
BIA:
- Não senhor.
AUGUSTO:
- Que pena!
BIA:
- Mas acho que já deve está voltando. Faz algum tempo que saiu...
AUGUSTO:
- Desejava tanto encontrá-la.
BIA:
- O senhor quer que eu lhe prepare um drinque?
AUGUSTO:
- Não. Obrigado Bia. Embora hoje eu deseje comemorar.
BIA:
- Comemorar?
AUGUSTO:
- É. Depois de vinte anos, tenho em minhas mãos algo que mudará
completamente as nossas vidas.
BIA:
- Se é uma boa notícia... Que seja bem vinda a esta casa então.
AUGUSTO:
- Depois de vinte anos... Vou poder proporcionar a minha querida Maíra a
tão esperada felicidade... (Sente uma pontada no coração)
AUGUSTO:
- Ai meu Deus! (Cai)
BIA:
- Que foi? Seu Augusto... O senhor está bem?
AUGUSTO:
- Não...
BIA:
- Ai meu Deus! O
senhor está ficando pálido. Senhor... (Desespero) Senhor...
Meu Deus! Ai... Não faz isso comigo, não.
MAÍRA:
- Bia?
BIA:
- Senhora...
MAÍRA:
- Que está acontecendo aqui?
BIA:
- É o senhor Augusto.
MAÍRA:
- Que foi?
BIA:
- Não sei. Deu um troço nele e desabou...
AUGUSTO:
- Maíra...?
MAÍRA:
- Sim, meu querido.
BIA:
- Que faço senhora?
MAÍRA:
- Não fique ai feito uma estátua! Chame uma ambulância.
BIA:
- Sim senhora.
AUGUSTO:
- Maíra...
MAÍRA:
- Calma meu querido, tudo vai ficar bem...
AUGUSTO:
- Maíra... O envelope...
MAÍRA:
- Não se esforce tanto! Logo a ambulância estará aqui.
AUGUSTO:
- Chegou a minha hora.
MAÍRA:
- Não diga bobagem.
BIA:
- Já estão vindo.
MAÍRA:
- Graças a Deus!
AUGUSTO:
- Quero que saiba...
MAÍRA:
- Psiu! Não se esforce... Onde estão que não chegam?
BIA:
- Calma senhora!
MAÍRA:
- Como posso ter calma? Cada minuto que perdemos...
AUGUSTO:
- Maíra?
MAÍRA:
- Estou aqui.
AUGUSTO:
- Sempre te amei...
MAÍRA:
- Sei disso meu querido.
AUGUSTO:
- Você me fez um homem muito feliz...
MAÍRA:
- Não fale assim. Não fale como estivesse despedindo-se de mim.
AUGUSTO:
- Foi Deus que a pôs em minha vida. Você me trouxe alegria devolvendo-me
a razão de viver.
MAÍRA:
- Não meu querido. Você é que foi, é e sempre será o anjo que veio pra
me proteger. E por isso eu te ordeno que aguente firme.
AUGUSTO:
- Eu... Consegui...
MAÍRA:
- O que?
AUGUSTO:
- Seu filho...
MAÍRA:
- Meu filho? (Piora)
AUGUSTO:
- Seu filho...
MAÍRA:
- Psiu! Calma... Depois... Você... (Augusto falece no colo de
Maíra)- Augusto? Augusto... (Desespero) Não! Não...
BIA:
- Senhora... Está morto. Seu Augusto, está morto. Sinto muito. Não há o
que fazer.
MAÍRA:
- Não pode ser. Isso não pode está acontecendo. Meus Deus! Por que? Por
que ele? Augusto sempre foi um homem tão bom.
BIA:
- Venha senhora. Não há mais o que fazer. Logo os paramédicos chegarão.
Enquanto isso, vou lhe preparar um calmante.
MAÍRA:
- Não. Vou ficar aqui, ao lado dele. É o mínimo que posso fazer por ele
neste momento. (Coloca -o em seu colo e caricia seus cabelos
carinhosamente) Meu querido... Adeus! Você foi a melhor pessoa que
conheci.
(Barulho de ambulância. Apagam-se as
luzes)
CENA II
(Entram Luís Alberto, Cristina e
Consuelo)
LUIS ALBERTO:
- Vamos mãe...
CRISTINA:
- Desse jeito vamos chegar no final da festa!
CONSUELO:
- Calma crianças. Não quero chegar feito uma marmota! Afinal, hoje é um
dia muito especial pra você meu filho.
LUIS ALBERTO:
- De qualquer jeito você é linda mãe.
CONSUELO:
- Nossa! Olha que eu acredito.
CRISTINA:
- Concordo com meu irmão. Você está maravilhosa!
CONSUELO:
- Opinião de filhos não vale.
LUIS ALBERTO:
- Posso saber por quê?
CONSUELO:
- Jamais vocês me diriam se estivesse feia.
CRISTINA:
- Querendo ganhar mais elogios!
LUIS ALBERTO:
- Mãe... Estou tão feliz de poder compartilhar com vocês, minha família,
este dia tão especial.
CONSUELO:
- Você merece, meu filho.
LUIS ALBERTO:
- Se não fosse a senhora... Jamais teria conseguido.
CONSUELO:
- Filho... Este é o resultado dos seus esforços. Sua dedicação lhe
trouxe aqui.
CRISTINA:
- Vamos parar com essa rasgação de seda... Assim não vamos chegar a
tempo de vê meu querido irmão receber o tão desejado canudo.
LUIS ALBERTO:
- Meninas! Então vamos... Damas? (Oferece os braços e saem)
CENA III
(Maíra está sentada, abatida veste preto. Entra
Lisete com uma bandeja)
BIA:
- Senhora...
MAÍRA:
- Desculpe-me Bia. Não percebi sua presença.
BIA:
- Trouxe um lanchinho.
MAÍRA:
- Obrigada! Mas vamos deixar para uma outra hora.
BIA:
- Senhora, precisa se alimentar.
MAÍRA:
- Não sinto vontade.
BIA:
- Se continuar assim ficará doente.
MAÍRA:
- Por que tem que ser assim?
BIA:
- Não temos como impedir a vontade de Deus.
MAÍRA:
- Toda minha vida é uma sequência de desgraças.
BIA:
- Não diga isso senhora. Deus sabe o que faz. Não cai uma só folha que
não seja pela vontade de Dele.
MAÍRA:
- Não entendo. Por que Deus me tirou Augusto?
BIA:
- Chegou a hora dele senhora. E quando chega a hora, temos que ir.
MAÍRA:
- Por que ele e não eu?
BIA:
- Não era seu momento. Seu marido está em um bom lugar.
MAÍRA:
- São tantas perdas...
BIA:
- Muitos ganhos também. A senhora mesmo me contou o quanto sofreu. Mas
Deus colocou em seu caminho doutor Augusto e sua vida mudou.
MAÍRA:
- Que adianta todo esse dinheiro se o vazio que me invade a alma é
imensa?
BIA:
- Não diga isso!
MAÍRA:
- Perdi meu filho. Nunca mais o vi. Nem sei como ele é... Meu maior
desejo é encontrar meu filho e abraçá-lo.
BIA:
- Ninguém melhor que eu sabe disso.
MAÍRA:
- Meu pai nunca me perdoo, morreu de desgosto. Minha mãe me tem como
morta e agora Deus me tira o homem que amo, a única pessoa que foi generosa
comigo.
BIA:
- Ele se foi. Mas a vida continua. E seu sonho de encontrar esse seu
filho? Vai desistir?
MAÍRA:
- Tem razão... Preciso reagir. Encontrar meu filho é minha motivação
para viver.
BIA:
- Beba ao menos o suco.
MAÍRA:
- Obrigada! (Bebe. Se Levanta)
BIA:
- Vai sair?
MAÍRA:
- Preciso respirar um pouco.
BIA:
- Senhora... Seu Augusto, antes de morrer... Disse que tinha algo a lhe
dizer, e que isto irá lhe trazer muita alegria.
MAÍRA:
- E o que era?
BIA:
- Isso eu não sei não senhora... Mas pelo que percebi, tem a haver com
este envelope.
MAÍRA:
- Um envelope? Que será?
BIA:
- Abra senhora...
MAÍRA:
- (Abre) Ah, meus Deus! (Emoção) Bia...
É o endereço. Augusto encontrou meu filho.
BIA:
- Que bom senhora! (Se abraçam)
MAÍRA:
- Meu Deus! Que felicidade.
BIA:
- E agora, que vai fazer?
MAÍRA:
- Estranho... Esperei tanto por este momento, e agora não sei o que
fazer.
BIA:
- É... Mesmo porque a senhora precisa chegar com cuidado...
MAÍRA:
- Tem razão. Por mais que eu seja a mãe dele, meu filho não me conhece.
Preciso pensar... Bia, peça pra tirar meu carro da garagem.
BIA:
- Mas pra onde vai assim?
MAÍRA:
- Vou procurar a Diva. Quem sabe ela não pode me ajudar.
BIA:
- Claro senhora. Com licença.
MAÍRA:
- Ah, meu filho! Meu bebe... Hoje deve está um homem. (Sai)
CENA III
CONSUELO:
- Não vejo a hora de chegar em casa, meus pés estão me matando.
CRISTINA:
- Espera. Gente! Esqueci minha bolsa...
CONSUELO:
- Ah, meu Deus! Então vamos voltar!
CRISTINA:
- Mas a senhora disse que seus pés...
CONSUELO:
- Nada que não consiga suportar.
LUIS ROBERTO:
- Se não se importam vou esperar aqui. Confesso que meus pés também
estão me matando.
CRISTINA:
- Não nos importamos. Vamos mãe... (Saem)
(Entra Maíra e senta-se ao lado de Luis
Alberto)
LUIS ROBERTO:
- Aceita? (Dar um lenço)
MAÍRA:
- Obrigada!
LUIS ROBERTO
- A senhora está bem?
MAÍRA:
- Não se preocupe. Vai passar.
LUIS ROBERTO
- Posso lhe ajudar?
MAÍRA:
- Infelizmente não.
LUIS ROBERTO
- Sinto muito.
MAÍRA:
- Não quero lhe incomodar.
LUIS ROBERTO
- Sou bom ouvinte.
MAÍRA:
- Não é uma boa história.
LUIS ROBERTO
- Só pelo fato de ser uma história já merece minha atenção.
MAÍRA:
- Quem sabe em, um outro momento.
LUIS ROBERTO
- Isto quer dizer que lhe verei outra vez. Com todo respeito.
MAÍRA:
- Quem sabe. Tudo é possível.
LUIS ROBERTO
- Engraçado... Tenho a impressão que já nos conhecemos.
MAÍRA:
- Também tive esta impressão. Mas creio que seja apenas uma
coincidência.
LUIS ROBERTO
- Perdão. Mas não acredito em coincidências.
(Entra Consuelo e Cristina)
CONSUELO:
- Luís Alberto, vamos...
LUIS ROBERTO
- Ah, essa é...?
MAÍRA:
- Maíra.
CONSUELO:
- Maíra?
MAÍRA:
- Consuelo!
LUIS ROBERTO
- Vocês se conhecem?
MAÍRA:
- Meu Deus! Esperei tanto por esse momento.
CONSUELO:
- Está me confundindo senhora.
MAÍRA:
- Não. Tenho certeza que é você quem tanto procurava.
CONSUELO:
- Sinto muito. Mas não sou quem pensa.
MAÍRA:
- Meu filho?
CONSUELO:
- Não diga uma só palavra. Estás louca.
LUIS ROBERTO
- Mãe!
CONSUELO:
- Fique longe dos meus filhos.
MAÍRA:
- E meu filho? Onde está? Por favor... Onde está meu filho?
CONSUELO:
- Não sei do que está falando.
MAÍRA:
- Por favor... Me diga! Onde está meu filho?
CRISTINA:
- Mãe o que está acontecendo? Conhece essa mulher?
CONSUELO:
- Não. Nunca lhe vi antes. É uma louca. Louca! Vamos. (Sai com
Cristina)
LUIS ROBERTO
- Senhora, Este é meu cartão.
CONSUELO:
- Vamos Luís Alberto. (Saem)
MAÍRA:
- Meu filho! Meu Deus! É meu filho. Posso sentir. Obrigado Deus!
Obrigado.
CENA VII
(Entra Luis Alberto Consuelo e
Cristina)
LUIS ROBERTO
- Vou tomar um banho. (Sai)
CRISTINA:
- Mãe...
CONSUELO:
- Se for falar daquela louca é melhor desistir.
CRISTINA:
- Por que está com tanto medo?
CONSUELO:
- Medo? Eu? Do que teria medo?
CRISTINA:
- Aquela mulher não me parecia louca.
CONSUELO:
- Vamos esquecer essa história.
CRISTINA:
- Por que? Nunca teve segredos conosco.
CONSUELO:
- Não há segredos. Não sei quem é aquela mulher. (Chora)
CRISTINA:
- Mãe!
CONSUELO:
- Não posso com isso!
CRISTINA:
- Divida comigo. Será mais fácil.
CONSUELO:
- Aquela mulher tem o poder de destruir nossa família.
CRISTINA:
- Como mãe?
CONSUELO:
- Se o que guardei durante vinte anos for revelado... Eu não suportarei.
CRISTINA:
- Ela falou de um filho. Que filho é esse?
CONSUELO:
- Há vinte anos atrás me entregou o seu filho.
CRISTINA:
- Luís Alberto não é seu filho?
CONSUELO:
- É. Sempre foi e sempre será.
CRISTINA:
- Ela dele que ela estava falando, não é?
CONSUELO:
- Por favor, não vamos falar disso agora. Teu irmão não pode saber dessa
história. Me prometa que não vai comentar esse assunto com ele.
CRISTINA:
- Mãe, ele tem o direito de saber.
CONSUELO:
- Saber o que? Que foi abandonado por aquela mulher? Entregue a uma
estranha? E se eu não fosse quem sou? Se eu fosse uma bandida, mau caráter?
CRISTINA:
- Mesmo assim. É direito dele saber!
CONSUELO:
- Você vai me prometer que não vai comentar este assunto perto dele.
CRISTINA:
- Tá bom. Prometo! Mas depois vamos continuar esta conversa. (Saem)
CENA VII
(Entra Maíra)
MAÍRA:
- Bia... Bia?
BIA:
- Que foi senhora?
MAÍRA:
- Meu filho.
BIA:
- Que tem seu filho.
MAÍRA:
- Encontrei meu filho.
BIA:
- Graças a Deus! Como foi isso senhora?
MAÍRA:
- Um milagre! Por um milagre. Estive lado a lado com ele.
BIA:
- Como sabe que é seu filho?
MAÍRA:
- Desde o começo senti. Mas, só tive a certeza quando reencontrei aquela
mulher.
BIA:
- A Consuelo?
MAÍRA:
- É. Consuelo. A mulher que esteve com meu filho todos estes anos. E ele
é lindo.
BIA:
- E onde está ele senhora?
MAÍRA:
- Aqui está o endereço. (Mostra o cartão)
BIA:
- Então ele já sabe.
MAÍRA:
- Ainda não. Mas agora tenho o endereço e não mais o perderei.
BIA:
- Que bom senhora. Mas a outra concorda em contar a verdade?
MAÍRA:
- Acredito que não. Mas vou procurá-la. Sou mãe. Tenho o direito.
BIA:
- Tem que ir com cuidado. Talvez seu filho não conheça a verdadeira
história da vida dele.
MAÍRA:
- Tem razão. Devo me aproximar aos poucos. Por favor Bia, prepare um
banho bem relaxante.
BIA:
- Sim senhora. (Sai)
MAÍRA:
- Meu filho! Meu filho... (Beija o cartão)
CENA VIII
LUIS ROBERTO:
– Cristina, o que há com nossa mãe?
CRISTINA:
- Como assim? Não entendi.
LUIS ROBERTO:
– Não percebeu que está agindo de modo estranho?
CRISTINA:
- Não mano. Acho que é impressão sua.
LUIS ROBERTO:
– Será que você não está me escondendo nada?
CRISTINA:
- Eu? O que estaria escondendo de você?
LUIS ROBERTO:
– Sei lá.
CRISTINA:
- Acho que você é que está estranho. Nossa mãe está como sempre. Só
pensa em trabalho.
LUIS ROBERTO:
– Já disse que quando eu começar advogar nossa mãe irá se aposentar.
CRISTINA:
- Ih! Então a coitadinha vai precisar trabalhar mais uns dez anos.
LUIS ROBERTO:
– Tenho uma entrevista.
CRISTINA:
- Não diga.
LUIS ROBERTO:
– E se quer saber, está vaga é minha!
CRISTINA:
- é assim que se fala.
LUIS ROBERTO:
– Bom maninha... Fui!
CRISTINA:
- Boa sorte!
LUIS ROBERTO:
– Obrigado. (Sai)
CRISTINA:
- Acordou?
CONSUELO:
- Estou com minha cabeça estourando. Não preguei os olhos!
CRISTINA:
- Beto está desconfiado.
CONSUELO:
- Escuta aqui, teu irmão, não deve e não pode saber dessa história.
CRISTINA:
- Mãe... É melhor a senhora conta-lhe a verdade.
CONSUELO:
- Pra que? Pra destruir a vida dele?
CRISTINA:
- Já parou pra pensar que ele gostaria de conhecer a história da vida
dele. É um direito dele.
CONSUELO:
- Pare com isso! O que quer? Me torturar, é isso?
CRISTINA:
- Oh, mãe... Calma. Perdão.
CONSUELO:
- Me prometa que não vai mais tocar neste assunto.
CRISTINA:
- Tá bom mãe. Eu prometo.
CONSUELO:
- Melhor assim.
CRISTINA:
- Agora, tenho que ir. Beijos!
CONSUELO:
- Vai com Deus, filha.
CENA X
MAÍRA:
- O que faz aqui?
CONSTANZA:
- Quanto tempo não?
MAÍRA:
- A senhora não é bem vinda a esta casa...
LISETE:
- Perdão senhora, se soubesse...
MAÍRA:
- Tudo bem Lisete. Deixe-nos a sós.
CONSTANZA:
- Obrigada.
MAÍRA:
- Sabe que não é bem vinda a esta casa...
CONSTANZA:
- É... Tenho que reconhecer. Se deu bem.
MAÍRA:
- Diga logo o que deseja.
CONSTANZA:
- Maíra... Vim conhecer meu neto.
MAÍRA:
- Conhecer seu neto? Que nato? O neto que você insistiu que eu
abortasse?
CONSTANZA:
- Sinto muito.
MAÍRA:
- Não. A senhora não sabe um terço do mal que me causou.
CONSTANZA:
- É passado. Pelo que vejo estás bem.
MAÍRA:
- Bem estaria se não tivesse me separado do meu filho há vinte anos atrás.
CONSTANZA:
- Meu neto não mora com você?
MAÍRA:
- A senhora não tem neto. Meu filho não é seu neto.
CONSTANZA:
- Você não sabe o quanto me arrependo.
MAÍRA:
- Arrependimentos não cicatrizam as dores do passado.
CONSTANZA:
- Vou morrer...
MAÍRA:
- Todos morremos um dia.
CONSTANZA:
- O câncer está me matando.
MAÍRA:
- Gostaria de dizer-lhe que sinto muito. Mas não posso. Não sou fingida!
CONSTANZA:
- Não lhe culpo. Há muita mágoa em teu coração.
MAÍRA:
- Não me venha com essa... Não adianta dar uma de pobre arrependida. Não
acredito na senhora. Então diga logo por que veio.
CONSTANZA:
- Tudo bem. É a verdade que deseja, não é? Então... Perdi meu filho. Luís
Alberto...
MAÍRA:
- Luís Alberto morreu?
CONSTANZA:
- Há quinze anos. Desde então minha vida terminou. Nunca superei a
perda...
MAÍRA:
- E o que quer de mim?
CONSTANZA:
- Não me deixou nenhum neto com a mulher com quem se casou.
MAÍRA:
- Então, provavelmente a senhora lembrou-se do filho bastardo da
empregadinha que a senhora enxotou da sua casa.
CONSTANZA:
- Meu único herdeiro.
MAÍRA:
- Meu filho não precisa do seu dinheiro sujo.
CONSTANZA:
- Não seja egoísta. É direito dele.
MAÍRA:
- Não precisamos do seu dinheiro. Perdeu seu tempo. Meu filho e eu nos
separamos a vinte anos atrás e desde então, nunca mais soube notícias.
CONSTANZA:
- Então... Você não sabe onde está meu neto?
MAÍRA:
- Que ironia, não é? A senhora desejou tanto que ele sumisse...
CONSTANZA:
- Lamentável!
MAÍRA:
- Mesmo com tanto dor por não tê-lo aqui ao meu lado. Sabe que em vinte
anos, nunca senti tanta felicidade de dizer a alguém que perdi meu filho.
CONSTANZA:
- Também o que esperar de uma irresponsável...
MAÍRA:
- Não admito que me ofenda dentro de minha casa. Dona Constaza, é com muita
honra que hoje a coloco para fora da minha casa. Fora! Rua... Rua.
CONSTANZA:
- Você pode ter toda fortuna do mundo. Mas nunca deixará de ser o que
sempre foi, uma empregadinha! (Sai)
MAÍRA:
- Diabo de saia!
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