Personagens:
CAIO
SABRINA
{ouve-se a campainha, as luzes ascende-se. O público vê uma sala com decora moderna e de bom tom. Na parede central uma tela ilustrando um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo)
CAIO
SABRINA
{ouve-se a campainha, as luzes ascende-se. O público vê uma sala com decora moderna e de bom tom. Na parede central uma tela ilustrando um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo)
CAIO:
-Pois não?
SABRINA:
- Boa noite?
CAIO:
- Boa.
SABRINA:
- Me desculpe, mas será que eu poderia falar com você? (Há um certo nervosismo na voz dela)
CAIO:
- Nos conhecemos?
SABRINA:
- Acredito que não!
CAIO:
- O que você deseja então?
SABRINA:
- Ah, desculpe-me! É que estou tão, nervosa...
CAIO: (Ele não entende)
SABRINA:
- Você é o Caio...
CAIO:
- Como sabe meu nome?
SABRINA:
- Ah, que falta de educação a minha! Sou Sabrina.
CAIO:
- Não estou entendendo.
SABRINA:
- Posso entrar?
CAIO:
- Talvez você esteja me confundindo com outra pessoa.
SABRINA:
- Pode está certo que não.
CAIO:
- Algum tipo de brincadeira?
SABRINA:
- Esteja certo que não.
CAIO:
- Me desculpe mas...
SABRINA:
- Temos alguém em comum.
CAIO:
- Como é que é?
SABRINA:
- Posso entrar?
CAIO:
- Acho melhor não!
SABRINA:
- Não seria conveniente conversamos aqui na porta.
CAIO:
- Acho que não temos o que conversar.
SABRINA:
- Será que não mesmo? Você não tem nenhum interesse em saber quem sou?
CAIO:
- Por que deveria?
SABRINA:
- Sempre quis saber quem era.
CAIO:
- Por favor. (Mostra o caminho)
SABRINA:
- Obrigada.
CAIO:
- Bebe algo?
SABRINA:
- Uma soda por gentileza.
CAIO:
- Com gelo?
SABRINA:
- Por favor.
CAIO: (prepara a soda e faz para si um whisky)
SABRINA: (Observando a tela na parede)
- Um bonito quadro.
CAIO:
- Gosto de arte.
SABRINA:
- Este é diferente.
CAIO:
- Gosto de coisas diferentes...
SABRINA:
- Ousadas...
CAIO:
- Ás vezes.
SABRINA:
- Você que escolheu a decoração?
CAIO:
- Tive ajuda.
SABRINA:
- É um estilo inconfundível.
CAIO:
-Olha...
SABRINA: (Pega um porta retrato com a foto de Caio e seu amor)
-Onde foi tirada essa foto?
CAIO:
- Numa viagem a Natal.
SABRINA:
- É um lugar encantador. Lua de Mel?
CAIO:
- Talvez.
SABRINA:
- Minha Lua de mel foi incrível. Você o ama?
CAIO:
- No que mudaria?
SABRINA:
- No que mudaria?! Seria tão mais fácil se as pessoas fossem honestas
umas com as outras. Não acha?
CAIO:
- Acredito que primeiro é preciso que sejamos honestos com nós mesmo.
SABRINA:
- Uma questão de escolha?
CAIO:
- Talvez de opinião...
SABRINA:
- Nem sempre podemos escolher o que desejamos.
CAIO:
- E isso causa sofrimento.
SABRINA:
- Contentamento. Aprendemos a aceitar a
vida como ela é...
CAIO:
- Não seria como a fazemos?
SABRINA:
- Medo da solidão...
CAIO:
- Nem sempre está no meio da multidão é esta acompanhado.
SABRINA:
-Dói!
CAIO:
- O que?
SABRINA:
- A solidão a dois.
CAIO:
- Acredito que sim.
SABRINA:
- Não sente?
CAIO:
- O que?
SABRINA:
- Solidão...
CAIO:
- Não quando tenho certeza que vai voltar.
SABRINA:
- É constante?
CAIO:
- O que?
SABRINA:
- Esta certeza?
CAIO:
- Acredito no amor.
SABRINA:
- Nas juras?
CAIO:
- No olhar.
SABRINA:
- O olhar é fogo que queima, arde, sem tocar.
CAIO:
- Nos gestos simples, mais verdadeiros.
SABRINA:
- E a velhice? Sabe algo sobre Amsterdã?
CAIO:
- Projetos!
SABRINA:
- União?
CAIO:
- Respeito.
ABRINA:
- Sente-se inseguro.
CAIO:
- Me previno.
SABRINA:
- Da vida?
CAIO:
- A vida é cheia de incertezas. Mesmo não sabendo quando, a única
certeza que temos é que um dia temos que partir.
SABRINA:
- Seguro?
CAIO:
- Previdência.
SABRINA:
- Ah! Negócios...
CAIO:
- Investimento.
SABRINA:
- É sábio de sua parte.
CAIO:
- Acordo comum.
SABRINA:
- Sente-se amado?
CAIO:
- O amor é uma renovação.
SABRINA:
- Gostaria de me sentir como nos conhecemos.
CAIO:
- Não podemos freiar o tempo.
SABRINA:
- Éramos tão jovens.
CAIO:
- O tempo passa.
SABRINA:
- E com ele tudo mudou.
CAIO:
- Você sabia.
SABRINA:
- Nunca tive certeza! O amor me cegou.
CAIO:
- Ou fechou os olhos para não enxergar o que via.
SABRINA:
- Medo de perder.
CAIO:
- É preciso recuar para permanecer.
SABRINA:
- Faço isso todos os dias.
CAIO:
- Um campo minado!
SABRINA:
- Por isso não enfrento.
CAIO:
- E sofre outros tipos de retaliações.
SABRINA:
- Este é o preço que tenho que pagar. Precisa de ajuda.
CAIO:
- Precisa de ajuda.
SABRINA:
- Eu preciso de amor.
CAIO:
- Não se é amado quando se omite...
SABRINA:
- A omissão é uma forma de permanecer bem, diante de todos.
CAIO:
- É pior...
SABRINA:
- No começo falávamos de filhos...
CAIO:
- E por que não tiveram?
SABRINA:
- Medo.
CAIO:
- Medo?
SABRINA:
- Medo.
CAIO:
- Do que?
SABRINA:
- Queríamos um casal.
CAIO:
- Talvez vocês não se sentissem preparados!
SABRINA:
- Nunca soube dividir meus sentimentos com mais de uma pessoa.
CAIO:
- Talvez sua vida tivesse outro sentido.
SABRINA:
- O medo não deixou.
CAIO:
- Se não enfrentamos nossos medos não sairemos do lugar.
SABRINA:
- Me sinto imóvel!
CAIO:
- É preciso estímulo para se chegar a algum lugar.
SABRINA:
- É uma coisa interna.
CAIO:
- Que precisa é de uma força interna.
SABRINA:
- Tinha medo que meu filho fosse igual ao pai.
CAIO:
- Seria íntegro.
SABRINA:
- Mas faria alguém sofrer como sofro.
CAIO:
- Nem todos agem da mesma forma.
SABRINA:
- Questão de modelos.
CAIO:
- Temos o livre arbítrio.
SABRINA:
- Nem sempre. Escolhas trazem consequências.
CAIO:
- Comodismo também. É preciso tentar.
SABRINA:
- Só sei o que é sofrer.
CAIO:
- Então não seria a hora de saber o que é ser feliz.
SABRINA:
- Vê-lo voltando pra casa todas as noites.
CAIO:
- Mesmo sabendo que é pela metade?
SABRINA:
- Um gota de água no deserto faz milagres.
CAIO:
- Quando não mata.
SABRINA:
- É melhor morrer com a sensação de saciada, que está a sede que sinto.
CAIO:
- Procure ajuda profissional.
SABRINA:
- Nunca quis uma filha. A rejeição é um sentimento que castiga nossa
alma.
CAIO:
- Medo de que passasse por isso?
SABRINA:
- Ou que fosse mais feliz que eu...
CAIO:
- Esse é o desejo de toda mãe.
SABRINA:
- Não sei.
CAIO:
- Ainda é tempo.
SABRINA:
- Como ser
mãe sem nem mesmo saber o que é ser mulher.
CAIO:
- Encontre alguém que lhe desperte esta sensação.
SABRINA:
- Sexo...
CAIO:
- Desculpe?...
SABRINA:
- Tem uma vida ativa?
CAIO:
- Fulgas.
SABRINA:
- Quem é?...
CAIO:
- Não entro em detalhes. Esta é minha intimidade.
SABRINA:
- Desculpe-me. Você me acha interessante?
CAIO:
- Um prato cheio pra quem tem fome.
SABRINA:
- Isso responde a minha pergunta?
CAIO:
- Acredito que sim.
SABRINA:
- Se não... Você se sentiria atraído por mim.
CAIO:
- Talvez Como posso saber!
SABRINA:
- Ele tem um bom gosto.
CAIO:
- Obrigado.
SABRINA:
- Você também.
CAIO:
- Acredito que sim.
SABRINA:
- Ah meu Deus! O que há de errado comigo. (CHORA)
(Caio levanta-se e pegar um copo com água)
CAIO:
- Beba.
SABRINA:
- Obrigada. Desculpe-me. Me descontrolei.
CAIO:
- Todos perdemos o controle de vez enquanto.
SABRINA:
- Você parece uma boa pessoa.
CAIO:
- Tento.
SABRINA:
- É cheguei a te odiar.
CAIO:
- Talvez em seu lugar me odiaria também.
SABRINA:
- Que alívio! Pensei que fosse o começo da loucura.
CAIO:
- Está passando por um momento difícil.
SABRINA:
- Ás vezes sinto que me ama.
CAIO:
- Talvez não queira magoa-la.
SABRINA:
- Proteger?
CAIO:
- Muitas vezes na tentativa de proteger acabamos ferindo, pessoas
queridas.
SABRINA:
- Mentir.
CAIO:
- Omitir.
SABRINA:
- A mentira passa a ser uma verdade,
quando a verdade é uma mentira.
CAIO:
- Mas o sofrimento é real.
SABRINA:
- Num mundo de lágrimas falsas.
CAIO:
- E o futuro?
SABRINA:
- Então não pensa.
CAIO:
- Vivo o presente. Projeto o futuro. É algo tão longe que as vezes foge
entre nossos dedos antes mesmo de chegar.
SABRINA: (Vê outra foto)
- Posso?
CAIO:
- Claro.
SABRINA:
- É muito bonita!
CAIO:
- Minha ex.
SABRINA:
- Você a amava?
CAIO:
- Sim...
SABRINA:
- Então por que a deixou?
CAIO:
- Foi preciso.
SABRINA:
- Honestidade?
CAIO:
- Carinho.
SABRINA:
- Como soube?
CAIO:
- Por mim.
SABRINA:
- Soube sozinha.
CAIO:
- Sofre?
SABRINA:
- Tento compreender.
CAIO:
- Por isso se sente perdida.
SABRINA:
- Talvez.
CAIO:
- Não conseguiria salvar.
SABRINA:
- Não quero salvar. Não é isso que me motiva.
CAIO:
- Alta piedade?
SABRINA:
- Amor.
CAIO:
- Amor sem paixão é amizade.
SABRINA:
- É contentamento.
CAIO:
- Até quando?
SABRINA:
- Até que volte.
CAIO:
- E se não voltar?
SABRINA:
- Irei junto.
CAIO:
- Se o caminho não for o mesmo?
SABRINA:
- Sempre voltou. Precisa de mim.
CAIO:
- E você do que precisa?
SABRINA:
- Da certeza.
CAIO:
- Um contrato.
SABRINA:
- É temos.
CAIO:
- Pode ser rescindido.
SABRINA:
- A multa seria alta.
CAIO:
- Consequências.
SABRINA:
- Sei a hora de avançar.
CAIO:
- Sente dificuldades de recuar?
SABRINA:
- Não sou mulher de desistir.
CAIO:
- Por isso sofre.
SABRINA:
- Todos sofremos. Até mesmo os mais fortes como você.
CAIO:
- Como pode saber?
SABRINA:
- Amor e egoísmo andam lado-a-lado.
CAIO:
- Existem situações que temos ceder.
SABRINA:
- O medo de quem cede é o da perda
total.
CAIO:
- Muitas vezes depois de uma grande perda, reconstruímos nossas vidas
com grande vitória.
SABRINA:
- Ás vezes as incertezas nos paralisa.
CAIO:
- Bebe mais?
SABRINA:
- Por favor. whisky.
CAIO:
- Com gelo?
SABRINA:
- Sim.
(levanta e olha novamente o quadro. Caio se aproxima com o copo)
CAIO:
- Tesão?
SABRINA:
- Passa.
CAIO:
- Sintonia. Quando se sabe sintonizar...
SABRINA:
- Odeio...
CAIO:
- Eu sei.
SABRINA:
- Não sabe.
CAIO:
- Odeia o amor que sente.
SABRINA:
- Dizem que tem alma feminina.
CAIO:
- Nem todos os lados opostos se atraem.
SABRINA:
- O mal e o bem.
CAIO:
- Controle.
SABRINA:
- Nunca se descontrola?
CAIO:
- Temos nosso dia ruim.
SABRINA:
- Quando percebo o descontrole, me
tranco no banheiro e passo horas me maquiando.
CAIO:
- Máscara!
SABRINA:
- E o que vejo é um estranho no
banheiro.
CAIO:
- Fuja.
SABRINA:
- Fecho os olhos e penso. É uma fase, assim como esta maquiagem, logo
que lavada, some.
CAIO:
- Some?
SABRINA:
- Eu fico.
CAIO:
- E por que não vai?
SABRINA:
- Não sei o caminho.
CAIO:
- Medo.
SABRINA:
-Vingança.
CAIO:
- Preferi sofrer ao deixar partir?
SABRINA:
- O ódio é alimentado pela presença.
CAIO:
- A ausência pode ser a cura.
SABRINA:
- Existem feridas que são incuráveis.
CAIO:
- E o que quer?
SABRINA:
- O que tem.
CAIO:
- Não percebe a diferença.
SABRINA:
- Não me importaria de ser igual.
CAIO:
- É um mundo à parte.
SABRINA:
- Dentro do meu.
CAIO:
- Sinto muito.
SABRINA:
- Deixe-o.
CAIO:
- Para outro?
SABRINA:
- Seria menos um.
CAIO:
- E você teria mais um.
SABRINA:
- Sou incansável.
CAIO:
- Nem todas batalhas podemos vencer.
SABRINA:
- Se não posso vencer posso ao menos me aliar.
CAIO:
- É loucura.
SABRINA:
- Todos somos.
CAIO:
- Não te ama.
SABRINA:
- Não importa. Eu o amo.
CAIO:
- Isto é doença.
SABRINA:
- É amor.
CAIO:
- Ilusão.
SABRINA:
- Somos felizes mesmo distantes!
CAIO:
- A distância é um m protesto para
manter a paz.
SABRINA:
- O inferno está aqui!
CAIO:
- É por isso que há fogo. O paraíso te incomoda.
SABRINA:
- É monótono.
CAIO:
- Converse.
SABRINA:
- Sei a resposta.
CAIO:
- Por que foge?
SABRINA:
- Pra não mais me ferir.
CAIO:
- Prefiro o sonho. Surge sem programação.
SABRINA:
- Pesadelos também.
CAIO:
- A luz espanta a escuridão.
SABRINA:
- A novidade expulsa o amor. (Pega
a bolsa, levanta-se)
CAIO:
- O perdão reconstrói uma vida.
SABRINA:
- Deixe-o.
CAIO:
- Se quiser ficar...
SABRINA:
-É meu.
CAIO:
- Não é propriedade.
SABRINA:
- Você é como o tempo...
CAIO:
- Pretendo deixar boas marcas.
SABRINA:
- Não te quero mau.
CAIO:
- Nem eu a você. Por que veio?
SABRINA:
- Pra pedir.
CAIO:
- O que há fez pensar que seria atendida.
SABRINA:
- Mais de dois passos me motivaram.
CAIO:
- Um só bastaria para entender que não há acordo.
SABRINA:
- Negociações.
CAIO:
- Não a vida não é um contrato.
SABRINA:
- Passa.
CAIO:
- O que é bom e real fica.
SABRINA:
- Ruim e frustrante também.
CAIO:
- Procura não cultivar.
SABRINA:
- É como mato, nasce sem permissão. (Sabrina saindo)
CAIO:
- Por favor... (ela vira-se em direção a ele) Não volte mais aqui. (Ela sai, ele tranca a porta, respira fundo).
FIM
DIREITOS RESERVADOS
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