terça-feira, 21 de junho de 2016

ALGO EM COMUM

Personagens:
CAIO
SABRINA

{ouve-se a campainha, as luzes ascende-se. O público vê uma sala com decora moderna e de bom tom. Na parede central uma tela ilustrando um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo)

CAIO:
-Pois não?

SABRINA:
- Boa noite?

CAIO:
- Boa.

SABRINA:
- Me desculpe, mas será que eu poderia falar com você? (Há um certo nervosismo na voz dela)

CAIO:
- Nos conhecemos?

SABRINA:
- Acredito que não!

CAIO:
- O que você deseja então?

SABRINA:
- Ah, desculpe-me! É que estou tão, nervosa...

CAIO: (Ele não entende)

SABRINA:
- Você é o Caio...

CAIO:
- Como sabe meu nome?

SABRINA:
- Ah, que falta de educação a minha! Sou Sabrina.

CAIO:
- Não estou entendendo.

SABRINA:
- Posso entrar?

CAIO:
- Talvez você esteja me confundindo com outra pessoa.

SABRINA:
- Pode está certo que não.

CAIO:
- Algum tipo de brincadeira?

SABRINA:
- Esteja certo que não.

CAIO:
- Me desculpe mas...

SABRINA:
- Temos alguém em comum.

CAIO:
- Como é que é?

SABRINA:
- Posso entrar?

CAIO:
- Acho melhor não!

SABRINA:
- Não seria conveniente conversamos aqui na porta.

CAIO:
- Acho que não temos o que conversar.

SABRINA:
- Será que não mesmo? Você não tem nenhum interesse em saber quem sou?

CAIO:
- Por que deveria?

SABRINA:
- Sempre quis saber quem era.

CAIO:
- Por favor. (Mostra o caminho)

SABRINA:
- Obrigada.

CAIO:
- Bebe algo?

SABRINA:
- Uma soda por gentileza.

CAIO:
- Com gelo?

SABRINA:
- Por favor.

CAIO: (prepara a soda e faz para si um whisky)

SABRINA: (Observando a tela na parede)

- Um bonito quadro.

CAIO:
- Gosto de arte.

SABRINA:
- Este é diferente.

CAIO:
- Gosto de coisas diferentes...

SABRINA:
- Ousadas...

CAIO:
- Ás vezes.

SABRINA:
- Você que escolheu a decoração?

CAIO:
- Tive ajuda.

SABRINA:
- É um estilo inconfundível.

CAIO:
-Olha...

SABRINA: (Pega um porta retrato com a foto de Caio e seu amor)

-Onde foi tirada essa foto?

CAIO:
- Numa viagem a Natal.

SABRINA:
- É um lugar encantador. Lua de Mel?

CAIO:
- Talvez.

SABRINA:
- Minha Lua de mel foi incrível. Você o ama?

CAIO:
- No que mudaria?

SABRINA:
- No que mudaria?! Seria tão mais fácil se as pessoas fossem honestas umas com as outras. Não acha?

CAIO:
- Acredito que primeiro é preciso que sejamos honestos com nós mesmo.

SABRINA:
- Uma questão de escolha?

CAIO:
- Talvez de opinião...

SABRINA:
- Nem sempre podemos escolher o que desejamos.

CAIO:
- E isso causa sofrimento.

SABRINA:
- Contentamento. Aprendemos a aceitar a vida como ela é...

CAIO:
- Não seria como a fazemos?

SABRINA:
- Medo da solidão...

CAIO:
- Nem sempre está no meio da multidão é esta acompanhado.

SABRINA:
-Dói!

CAIO:
- O que?

SABRINA:
- A solidão a dois.

CAIO:
- Acredito que sim.

SABRINA:
- Não sente?

CAIO:
- O que?

SABRINA:
- Solidão...

CAIO:
- Não quando tenho certeza que vai voltar.

SABRINA:
- É constante?

CAIO:
- O que?

SABRINA:
- Esta certeza?

CAIO:
- Acredito no amor.

SABRINA:
- Nas juras?

CAIO:
- No olhar.

SABRINA:
- O olhar é fogo que queima, arde, sem tocar.

CAIO:
- Nos gestos simples, mais verdadeiros.

SABRINA:
- E a velhice? Sabe algo sobre Amsterdã?

CAIO:
- Projetos!

SABRINA:
- União?

CAIO:
- Respeito.

ABRINA:
- Sente-se inseguro.

CAIO:
- Me previno.

SABRINA:
- Da vida?

CAIO:
- A vida é cheia de incertezas. Mesmo não sabendo quando, a única certeza que temos é que um dia temos que partir.

SABRINA:
- Seguro?

CAIO:
- Previdência.

SABRINA:
- Ah! Negócios...

CAIO:
- Investimento.

SABRINA:
- É sábio de sua parte.

CAIO:
- Acordo comum.

SABRINA:
- Sente-se amado?

CAIO:
- O amor é uma renovação.

SABRINA:
- Gostaria de me sentir como nos conhecemos.

CAIO:
- Não podemos freiar o tempo.

SABRINA:
- Éramos tão jovens.

CAIO:
- O tempo passa.

SABRINA:
- E com ele tudo mudou.

CAIO:
- Você sabia.

SABRINA:
- Nunca tive certeza! O amor me cegou.

CAIO:
- Ou fechou os olhos para não enxergar o que via.


SABRINA:
- Medo de perder.


CAIO:
- É preciso recuar para permanecer.

SABRINA:
- Faço isso todos os dias.


CAIO:
- Um campo minado!

SABRINA:
- Por isso não enfrento.

CAIO:
- E sofre outros tipos de retaliações.

SABRINA:
- Este é o preço que tenho que pagar. Precisa de ajuda.

CAIO:
- Precisa de ajuda.

SABRINA:
- Eu preciso de amor.

CAIO:
- Não se é amado quando se omite...

SABRINA:
- A omissão é uma forma de permanecer bem, diante de todos.

CAIO:
- É pior...

SABRINA:
- No começo falávamos de filhos...



CAIO:
- E por que não tiveram?

SABRINA:
- Medo.

CAIO:
- Medo?

SABRINA:
- Medo.

CAIO:
- Do que?


SABRINA:
- Queríamos um casal.

CAIO:
- Talvez vocês não se sentissem preparados!

SABRINA:
- Nunca soube dividir meus sentimentos com mais de uma pessoa.

CAIO:
- Talvez sua vida tivesse outro sentido.

SABRINA:
- O medo não deixou.

CAIO:
- Se não enfrentamos nossos medos não sairemos do lugar.

SABRINA:
- Me sinto imóvel!

CAIO:
- É preciso estímulo para se chegar a algum lugar.

SABRINA:
- É uma coisa interna.


CAIO:
- Que precisa é de uma força interna.

SABRINA:
- Tinha medo que meu filho fosse igual ao pai.



CAIO:
- Seria íntegro.

SABRINA:
- Mas faria alguém sofrer como sofro.

CAIO:
- Nem todos agem da mesma forma.

SABRINA:
- Questão de modelos.

CAIO:
- Temos o livre arbítrio.

SABRINA:
- Nem sempre. Escolhas trazem consequências.

CAIO:
- Comodismo também. É preciso tentar.

SABRINA:
- Só sei o que é sofrer.

CAIO:
- Então não seria a hora de saber o que é ser feliz.

SABRINA:
- Vê-lo voltando pra casa todas as noites.

CAIO:
- Mesmo sabendo que é pela metade?

SABRINA:
- Um gota de água no deserto faz milagres.

CAIO:
- Quando não mata.

SABRINA:
- É melhor morrer com a sensação de saciada, que está a sede que sinto.

CAIO:
- Procure ajuda profissional.

SABRINA:
- Nunca quis uma filha. A rejeição é um sentimento que castiga nossa alma.


CAIO:
- Medo de que passasse por isso?

SABRINA:
- Ou que fosse mais feliz que eu...

CAIO:
- Esse é o desejo de toda mãe.

SABRINA:
- Não sei.

CAIO:
- Ainda é tempo.

SABRINA:
- Como ser mãe sem nem mesmo saber o que é ser mulher.

CAIO:
- Encontre alguém que lhe desperte esta sensação.

SABRINA:
- Sexo...



CAIO:
- Desculpe?...

SABRINA:
- Tem uma vida ativa?

CAIO:
- Fulgas.

SABRINA:
- Quem é?...



CAIO:
- Não entro em detalhes. Esta é minha intimidade.

SABRINA:
- Desculpe-me. Você me acha interessante?

CAIO:
- Um prato cheio pra quem tem fome.

SABRINA:
- Isso responde a minha pergunta?

CAIO:
- Acredito que sim.

SABRINA:
- Se não... Você se sentiria atraído por mim.

CAIO:
- Talvez Como posso saber!

SABRINA:
- Ele tem um bom gosto.

CAIO:
- Obrigado.

SABRINA:
- Você também.

CAIO:
- Acredito que sim.

SABRINA:
- Ah meu Deus! O que há de errado comigo. (CHORA)

(Caio levanta-se e pegar um copo com água)

CAIO:
- Beba.

SABRINA:
- Obrigada. Desculpe-me. Me descontrolei.

CAIO:
- Todos perdemos o controle de vez enquanto.

SABRINA:
- Você parece uma boa pessoa.

CAIO:
- Tento.


SABRINA:
- É cheguei a te odiar.

CAIO:
- Talvez em seu lugar me odiaria também.

SABRINA:
- Que alívio! Pensei que fosse o começo da loucura.

CAIO:
- Está passando por um momento difícil.

SABRINA:
- Ás vezes sinto que me ama.

CAIO:
- Talvez não queira magoa-la.



SABRINA:
- Proteger?

CAIO:
- Muitas vezes na tentativa de proteger acabamos ferindo, pessoas queridas.

SABRINA:
- Mentir.

CAIO:
- Omitir.

SABRINA:
- A mentira passa a ser uma verdade, quando a verdade é uma mentira.

CAIO:
- Mas o sofrimento é real.

SABRINA:
- Num mundo de lágrimas falsas.

CAIO:
- E o futuro?

SABRINA:
- Então não pensa.

CAIO:
- Vivo o presente. Projeto o futuro. É algo tão longe que as vezes foge entre nossos dedos antes mesmo de chegar.

SABRINA: (Vê outra foto)

- Posso?

CAIO:
- Claro.

SABRINA:
- É muito bonita!

CAIO:
- Minha ex.

SABRINA:
- Você a amava?

CAIO:
- Sim...

SABRINA:
- Então por que a deixou?

CAIO:
- Foi preciso.



SABRINA:
- Honestidade?

CAIO:
- Carinho.

SABRINA:
- Como soube?

CAIO:
- Por mim.

SABRINA:
- Soube sozinha.

CAIO:
- Sofre?

SABRINA:
- Tento compreender.

CAIO:
- Por isso se sente perdida.

SABRINA:
- Talvez.

CAIO:
- Não conseguiria salvar.

SABRINA:
- Não quero salvar. Não é isso que me motiva.



CAIO:
- Alta piedade?

SABRINA:
- Amor.

CAIO:
- Amor sem paixão é amizade.

SABRINA:
- É contentamento.

CAIO:
- Até quando?

SABRINA:
- Até que volte.

CAIO:
- E se não voltar?

SABRINA:
- Irei junto.

CAIO:
- Se o caminho não for o mesmo?

SABRINA:
- Sempre voltou. Precisa de mim.

CAIO:
- E você do que precisa?

SABRINA:
- Da certeza.

CAIO:
- Um contrato.

SABRINA:
- É temos.

CAIO:
- Pode ser rescindido.

SABRINA:
- A multa seria alta.



CAIO:
- Consequências.

SABRINA:
- Sei a hora de avançar.

CAIO:
- Sente dificuldades de recuar?

SABRINA:
- Não sou mulher de desistir.

CAIO:
- Por isso sofre.

SABRINA:
- Todos sofremos. Até mesmo os mais fortes como você.

CAIO:
- Como pode saber?

SABRINA:
- Amor e egoísmo andam lado-a-lado.

CAIO:
- Existem situações que temos ceder.

SABRINA:
- O medo de quem cede é o da perda total.

CAIO:
- Muitas vezes depois de uma grande perda, reconstruímos nossas vidas com grande vitória.

SABRINA:
- Ás vezes as incertezas nos paralisa.

CAIO:
- Bebe mais?

SABRINA:
- Por favor. whisky.

CAIO:
- Com gelo?

SABRINA:
- Sim.

(levanta e olha novamente o quadro. Caio se aproxima com o copo)

CAIO:
- Tesão?

SABRINA:
- Passa.

CAIO:
- Sintonia. Quando se sabe sintonizar...

SABRINA:
- Odeio...

CAIO:
- Eu sei.

SABRINA:
- Não sabe.

CAIO:
- Odeia o amor que sente.

SABRINA:
- Dizem que tem alma feminina.

CAIO:
- Nem todos os lados opostos se atraem.

SABRINA:  
- O mal e o bem.

CAIO:
- Controle.

SABRINA:
- Nunca se descontrola?

CAIO:
- Temos nosso dia ruim.

SABRINA:
- Quando percebo o descontrole, me tranco no banheiro e passo horas me maquiando.

CAIO:
- Máscara!

SABRINA:
- E o que vejo é um estranho no banheiro.

CAIO:
- Fuja.

SABRINA:
- Fecho os olhos e penso. É uma fase, assim como esta maquiagem, logo que lavada, some.

CAIO:
- Some?

SABRINA:
- Eu fico.

CAIO:
- E por que não vai?

SABRINA:
- Não sei o caminho.

CAIO:
- Medo.

SABRINA:
-Vingança.

CAIO:
- Preferi sofrer ao deixar partir?

SABRINA:
- O ódio é alimentado pela presença.

CAIO:
- A ausência pode ser a cura.

SABRINA:
- Existem feridas que são incuráveis.

CAIO:
- E o que quer?

SABRINA:
- O que tem.

CAIO:
- Não percebe a diferença.


SABRINA:
- Não me importaria de ser igual.

CAIO:
- É um mundo à parte.

SABRINA:
- Dentro do meu.

CAIO:
- Sinto muito.

SABRINA:
- Deixe-o.

CAIO:
- Para outro?

SABRINA:
- Seria menos um.

CAIO:
- E você teria mais um.

SABRINA:
- Sou incansável.

CAIO:
- Nem todas batalhas podemos vencer.

SABRINA:
- Se não posso vencer posso ao menos me aliar.

CAIO:
- É loucura.

SABRINA:
- Todos somos.

CAIO:
- Não te ama.

SABRINA:
- Não importa. Eu o amo.


CAIO:
- Isto é doença.

SABRINA:
- É amor.

CAIO:
- Ilusão.

SABRINA:
- Somos felizes mesmo distantes!

CAIO:
- A distância é um m protesto para manter a paz.

SABRINA:
- O inferno está aqui!

CAIO:
- É por isso que há fogo. O paraíso te incomoda.

SABRINA:
- É monótono.

CAIO:
- Converse.

SABRINA:
- Sei a resposta.

CAIO:
- Por que foge?



SABRINA:
- Pra não mais me ferir.

CAIO:
- Prefiro o sonho. Surge sem programação.

SABRINA:
- Pesadelos também.

CAIO:
- A luz espanta a escuridão.

SABRINA:
- A novidade expulsa o amor. (Pega a bolsa, levanta-se)

CAIO:
- O perdão reconstrói uma vida.

SABRINA:
- Deixe-o.

CAIO:
- Se quiser ficar...

SABRINA:
-É meu.

CAIO:
- Não é propriedade.

SABRINA:
- Você é como o tempo...

CAIO:
- Pretendo deixar boas marcas.

SABRINA:
- Não te quero mau.

CAIO:
- Nem eu a você. Por que veio?

SABRINA:
- Pra pedir.




CAIO:
- O que há fez pensar que seria atendida.

SABRINA:
- Mais de dois passos me motivaram.

CAIO:
- Um só bastaria para entender que não há acordo.

SABRINA:
- Negociações.

CAIO:
- Não a vida não é um contrato.

SABRINA:
- Passa.

CAIO:
- O que é bom e real fica.

SABRINA:
- Ruim e frustrante também.

CAIO:
- Procura não cultivar.

SABRINA:
- É como mato, nasce sem permissão. (Sabrina saindo)

CAIO:
- Por favor... (ela vira-se em direção a ele) Não volte mais aqui. (Ela sai, ele tranca a porta, respira fundo).


FIM


DIREITOS RESERVADOS

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